Floresta
Atlântica.
É o terceiro e último bioma que o Rio São Francisco atravessa
antes de chegar ao seu descanso no mar. A floresta Atlântica é
encontrada na região do baixo São Francisco próximo ao litoral. A
Mata Atlântica era uma floresta localizada nas áreas mais úmidas
do clima tropical que se estendia do Rio Grande do Norte até o Rio
Grande do Sul. Essa floresta sofreu intensa intervenção humana, em
decorrência da exploração madeireira. No passado, a largura da
faixa de Mata Atlântica era de 200 km, desde o período colônia e
ela vem sendo destruída pelo homem. Nos dias atuais, restam apenas
cerca de 5% do total da vegetação que cobria essa área. Parte
dela, nos estados de Alagoas e Sergipe, fazia parte das matas
ciliares do rio São Francisco, mas hoje quase toda a área é
ocupada com a cana-de-açúcar e povoações.
Matas
Ciliares do rio São Francisco.
Ingazeira
As matas ciliares do rio são Francisco não constituem um bioma
separado, elas fazem parte dos três biomas cortados pelo rio. São
representadas por plantas perenes (não caducifólias) como em
qualquer outro curso d‘ água permanente distribuídas sabiamente
pela natureza. Nascimento (1998) com seu “Estudo Florístico
Fitossociológico de Um Remanescente de Caatinga à margem do rio São
Francisco, Petrolina Pernambuco”.
Somado
a um levantamento superficial da vegetação ainda existente que
fizemos em toda a margem do rio que vai da divisa com o municipio de
Petrolina com Casa Nova, próximo a Barragem de Sobradinho, até a
divisa do municipio de Petrolina com o municipio de Lagoa Grande na
foz do riacho do Pontal. Nos possibilitou incluir neste livro, dados
tão importantes sobre a vegetação das margens do “Tio Chico”.
Olhando a foto acima, dá -nos uma idéia de que temos uma boa faixa
de mata ciliar, tanto de um lado quanto do outro, mas como podemos
observar, é uma faixa estreita e só apresenta uma espécie, que é
a ingazeira.
A pesquisa de Nascimento, foi feita numa faixa de “0” aos 800m a
partir da água na margem do rio, dividindo a faixa conforme descrição
a seguir. Mas, aqui, vamos trabalhar apenas as faixas que formam a
área de preservação permanente, como amostragem, para que se
tenha uma idéia, de como se encontra o restante da bacia.rições
MR
– Margem: que é formada pela planície a partir da água até o
encontro com o dique em média 25m de largura. Considera-se essa
primeira faixa, a mata ciliar propriamente dita, cuja cobertura
vegetal os seguintes tipos de vegetação; – Rasteira: zozó,
mussambê, tiririca, junco, capim de burro, capim taquari, taboa,
capim amargoso, e outros. Nesse meio aparecem também as trepadeiras
dos tipos gitirana e chumbinho, sendo essas temporárias, ou seja, só
aparecem na época das chuvas; – Arbustivas: calumbí, velame,
unha-de-cabra, canafístula rasteira, São João da Barra e vários
tipos de cipó e canudo; – Arbóreas, ingá, alagadiço,
marizeiro, juazeiro, juaí, muquém, mangue de folha fina, turquia e
outros, sendo as mais presentes o ingá e o juaí. Foi constatado
agora com a regeneração espontânea que está ocorrendo
principalmente no segundo trecho que vai de Petrolina até a foz do
Pontal, a presença de mulungu e turquia, nessa faixa da margem.
Essas espécies são mais comuns nas faixas do dique e depressão
inundável. A faixa da margem onde está o cílio propriamente dito
do rio, ao contrário do primeiro trecho, ainda se encontra uma boa
quantidade de vegetação, nessa faixa podemos assegurar que pelo
menos 70% da vegetação nativa está conservada. Uns lugares
apresentam áreas mais largas, outros mais estreitas, mas está
melhor de que o primeiro. (Estou falando só da margem, primeiros
25m).
Área
de mata ciliar reflorestada
D
– Dique: formado pela parte mais alta da área que vai dos 25m aos
210m, normalmente, tem como limite em relação à margem uma elevação
com altura variada, como pequenos platores. A formação vegetal;
– Rasteira: Nessa faixa aparecem, em menor quantidade e a maioria
é do tipo temporário; – Arbustivas: moleque duro, bugí,
unha-de-cabra, xiquexique, canafístula rasteira, feijão brabo,
velame, São João e outros; – Arbóreas: jatobá, pau cachimbo,
mandacaru, muquém, coronha, alagadiço, jurema vermelha, jurema
preta, arapiraca, carnaubeira, juazeiro e juaí. Estas são as mais
freqüentes nessa faixa.
DI
– Depressão Inundável: vai dos 210m aos 590m formada pela
baixada paralela ao rio onde se formavam as lagoas marginais com as
grandes enchentes. Sua vegetação é mais rarefeita de que as
outras áreas; – Herbáceas e Gramíneas: são encontradas
comumente nos períodos de chuva por serem do tipo temporário; –
Arbustivas: essa faixa não encontramos quase vegetação arbustiva,
apenas algumas das mesmas espécies existentes nas outras faixas.
Como o velame e o canudo; – Arbóreas: Coronha, Alagadiço,
Turquia, e pode se encontrar uma ou outra Quixabeira, mas o que
predomina, mesmo em áreas ainda conservadas é o marizeiro. Não
havendo muito o que se registrar nessa faixa, até porque, é
área por natureza de pouca cobertura vegetal, principalmente no
primeiro trecho.
Nas faixas de dique e depressão inundável do segundo trecho, estão
um pouco melhor de que as mesmas faixas do primeiro, por causa de
alguns produtores que conservam em suas propriedades, faixas de
vegetação que ultrapassam os 25m, entrando no dique, e em poucos
casos na depressão inundável. Mais, nos dois trechos, hoje, boa
parte dessas faixas, estão ocupadas por frutíferas. Menos mal, porém,
onde não há frutíferas ou pequenas reservas conservadas, muitas
vezes, inconscientemente, até mesmo por falta de recurso para
desmatá-las, conforme um produtor nos revelou antes de ser
sensibilidade pelo nosso trabalho. As áreas são utilizadas
erradamente para outros tipos de cultura.
Essas três faixas compõem a área de preservação permanente, do
rio São Francisco, num trecho de 165km de margem e ilhas, da divisa
com município de Casa Nova, até a divisa com município de Lagoa
Grande na foz do riacho do Pontal. Como deu para perceber, algumas
das plantas aqui citadas, aparecem em mais de uma faixa. Devemos
salientar também que quase todas essas espécies de todas as faixas
são perenes, isso quer dizer que nunca ficam sem a folhagem.
Enquanto a maioria das outras espécies da caatinga são caducifólias.
Como por exemplo: a baraúna, o angico, a aroeira, o umbuzeiro, o
sete casca, a umburana e assim quase todas elas.
Como não temos um inventário mais apurado, quantitativamente, da
situação atual da margem do rio São Francisco, no município de
Petrolina. Em relação à mata ciliar, nos valemos aqui do nosso
conhecimento de causa, habilitado pela convivência com o problema há
mais de sete anos, com pequenas ações pessoais e projetos
municipais para a recomposição florestal em epígrafe. Vamos
tentar retratar a situação de degradação nesses 165m que seria
reserva permanente intocada se fosse obedecida a Lei Federal nº
4.771/65.
Erosão
por falta da mata ciliar
Se compararmos o primeiro trecho que vai da divisa do município de
Casa Nova até a cidade de Petrolina, com o segundo trecho, que vai
da cidade de Petrolina até a divisa com o município de Lagoa
Grande, na foz do riacho do Pontal, com certeza iremos encontrar uma
grande diferença, no tocante à faixa de mata ciliar propriamente
dita, constituída pelos primeiros 25m a partir da água. No
primeiro trecho praticamente não existe mais vegetação nativa,
apenas poucas manchas verdes são encontradas na beira d’ água.
Isso por conta dos desmatamentos que vêm ocorrendo há cerca de 500
anos, para plantio de pastagens, extração de minérios, cultivo da
agricultura, extração de lenha para fazer carvão para as siderúrgicas
do norte de Minas Gerais, extração de lenha para funcionar os
vapores que queimavam três caminhões de lenha numa única viagem,
de Pirapora a Juazeiro e vice-versa.E o que sobrou os donos das
terras continuam desmatando para fazer suas manções, abertura de
balneário e também plantar. E ainda juram de pés juntos que estão
preservando. Por estes e outros motivos, o processo erosivo continua
se agravando a cada dia que passa, causando assoreamentos
gigantescos, deixando o rio largo por causa dos desmoronamentos das
margens e das ilhas e, raso pelo acúmulo de areia no fundo da
calha. Por conseqüência acarretando outros problemas graves como o
aumento da evaporação, que por sinal já é muito acima da média
pluviométrica do semi-árido, e a extinção de muitas espécies da
fauna ictiológica entre outros inúmeros problemas.
As matas ciliares do rio são Francisco desapareceram, foram
transformadas em lenha para as fornalhas insaciáveis dos gaiolos
que transportaram durante anos no são Francisco mercadorias e
gente, foram cortadas para dar lugar às pastagens desde a introdução
da pecuária no vale, foram cortadas para fazer carvão para às
siderúrgicas de Minas Gerais e Bahia, muitas espécies do cerrado
foram derrubadas, anos após anos, para sustentar de madeira as
serrarias de Petrolina e Juazeiro. O que proporcionou beleza e
curiosidade naquela época, poucos sabiam que estavam promovendo a
morte do Velho Chico. O transporte da madeira do cerrado até chegar
as serrarias era uma verdadeira atração turística na época,
quando as balsas desciam formadas pelos troncos de madeira atraiam
os ribeirinhos para ver passar aqueles mosntrengos que desfilavam
dias e dias, descendo rio abaixo. Quando chegavam ao destino, eram
transformadas em tábuas e distribuídas para todo o Nordeste. A
devastação foi quase total, acabaram as matas, as serrarias
fecharam suas portas. Hoje até os cupins ribeirinhos passam fome.
Mas afinal de contas o que são matas ciliares? – São faixas de
vegetação nativa ou replantada formadas por árvores, arbustos,
herbáceas e gramíneas (foto ao lado) que fazem a cobertura vegetal das margens
dos rios dando beleza e a devida proteção aos cursos d‘ água.
As matas ciliares são constituídas de vegetação perene, ou seja,
jamais fica sem a folhagem. Por isso são “Não caducifólias”.
Caducifólia quer dizer: (as folhas caducam e caem). As faixas de
matas ciliares, também conhecidas como floresta ripária ou de
galeria, fazem parte das áreas de preservação permanente dos rios
e lagos, cuja serventia, determinado por lei, é proteger as margens
e as ilhas contra as ações erosivas provocadas pelas chuvas, pelos
ventos e pelo próprio curso d‘água. (1)
Essas faixas têm larguras determinadas de acordo com a largura do
curso d‘água (Lei nº 4.771/65 de 15 de setembro de 1965, Código
Florestal Brasileiro). Artigo 2º - “Considera-se de preservação
permanente, pelo só efeito desta lei, as florestas e demais formas
de vegetação natural situada ao longo dos rios ou de qualquer
curso d‘água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja
largura mínima será:
1)–
De 30 (trinta) metros para os cursos d‘água de menos de 10 (dez)
metros de largura;
2)–
De 50 (cinqüenta) metros para os cursos d‘água que tenham de 10
(dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura.
3)–
De 100 (cem) metros para cursos d‘água que tenham de 50 (cinqüenta)
a 200 (duzentos) metros de largura.
4)–
De 200 (duzentos) metros para cursos d‘água que tenham de 200 a
600 (seiscentos) metros de largura.
5)–
De 500 (quinhentos) metros para cursos d‘água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros. Este é o caso do Rio São
Francisco. (2)
A oferta de água para suprir a demanda do Vale do São Francisco,
vive constantemente ameaçada e os principais vilões são:
-
Desmatamento
das margens e das ilhas;
-
Crescimento
erosivo nas margens do rio principal e afluentes;
-
Decréscimo
da qualidade física e bioquímica dos recursos hídricos;
-
Problemas
na quantidade, na distribuição e disponibilidade dos recursos
hídricos;
-
Processo
de assoreamento nos reservatórios existentes com
comprometimento das estruturas de tomada d‘ água para irrigação
e abastecimento público;
-
Alteração
na calha do rio São Francisco com reflexos na navegacão;
-
Erosão
nas margens e nas ilhas afetando os diques de proteção das áreas
irrigadas do Vale;
-
Lançamento
de esgotos domésticos e industriais sem tratamento nos rios da
bacia;
-
Uso
indiscriminado de agrotóxicos nos solos da bacia;
-
Falta
de Educação Ambiental.
Tudo isso poderia ter sido evitado se não fossem as explorações
de minérios na parte superior do Vale sem nenhum critério técnico,
o desmatamento para produção de carvão e lenha, a ampliação sem
controle da fronteira agrícola, ocupação das áreas irrigáveis
dos afluentes do rio São Francisco e a concentração urbana
desenfreada nas margens dos rios sem, contudo, uma infra-estrutura
eficiente, com bons sistemas de tratamento de esgotos para minimizar
as agressões aos mananciais.
Ações
para recuperação
Em 1996, tivemos noticia que o Sr. Celito Kespering preocupado com a
ascensão do processo erosivo nas margens do rio, próximo à
Barragem de Sobradinho, havia iniciado um plantio de mudas de
arvores nativas. Fizemos uma visita ao local e constatamos que a idéia
era boa, o plantio estava sendo feito por estaquia das espécies Ingá
e Mangue. Mas infelizmente o projeto de kespering não foi à frente
mas nós copiamos sua idéia e iniciamos, já em 1997, uma pequena
produção de mudas em nossa casa, doávamos para as associações
ribeirinhas, principalmente a da Ilha do “Rodeador” e
Agrovila do Massangano. Tempos depois, a FFPP – Faculdade de Formação
de professores de Petrolina nos cedeu uma pequena área próxima ao
pavilhão de Geografia, onde continuamos a produzir nossas mudas de
plantas nativas, desta feita com a ajuda de um pequeno grupo de
alunos que faziam parte do Grupo GEOVIDA, grupo este, também criado
por nós.
Ainda em 1997, enquanto fazíamos este trabalho fizemos também um vídeo
(produção caseira), mostrando a degradação no trecho da Barragem
de Sobradinho até a foz do riacho Pontal, na divisa com o município
de Lagoa Grande. O referido vídeo, “produzido a facão” foi o
material que serviu de base para quatro dias de debate sobre o
assunto durante a realização da Semana do Geógrafo, que ocorreu
naquele ano, no período de 08 a 12 de setembro, no auditório
daquela Faculdade. Menos de meia dúzia de alunos e menos de três
professores se limitavam a criticar a qualidade da produção e
esqueciam a importância do conteúdo, enquanto isso, cerca de meio
auditório (400 pessoas) assistiam com atenção os 100 minutos de
filmagem, fazendo anotações, sem arredar pé. No final, para o
desatino dos “críticos” que não aceitavam sucesso para um
trabalho tão humilde, teve que ouvir o público fechar com uma
intensa salva de palmas. Nos três dias seguintes o mesmo público não
faltou para assistir aos debates.
Área
reflorestada pelo projeto mata ciliar
Durante as filmagens para a montagem do vídeo em epígrafe,
entrevistei o então Secretario de Agricultura do Município de
Petrolina (governo Guilherme Coelho), Ronaldo Carvalho quando ele
falou que a Prefeitura, através de sua secretaria, estaria
elaborando um projeto para o reflorestamento da margem esquerda do
rio São Francisco, nos 165 km, na jurisdição do nosso município.
Confesso que não acreditei muito que o tal projeto fosse à frente.
Tempos depois, descobrimos que quem estava fazendo o projeto era o
Dr. Paulo Cezar, na época, Diretor de Planejamento, que em seguida
assumiu a pasta de Agricultura com a saída de Ronaldo Carvalho.
Assim, entre 1998 e 2000 os recursos foram chegando do Ministério
do Meio Ambiente de maneira “pingada”, mas conseguimos executá-lo
cumprindo todas as etapas, 25.000 mudas foram plantadas, aliás,
excedendo que, no projeto era de 20.000. Quanto ao aproveitamento
foi em torno de 20 a 30% por causa dos fatores contra a este tipo de
trabalho como: animais soltos, alta temperatura nas ilhas, escassez
de chuva, erosões profundas e falta de educação ambiental de um
modo geral. De qualquer forma, diante de todos estes problemas
consideramos um resultado satisfatório. Este projeto teve
continuidade na administração seguinte do prefeito Fernando
Bezerra Coelho. Para nós o lado positivo desta história é
exatamente a continuidade de um projeto numa administração
seguinte de prefeitos de lados contrários, coisa que não é muito
comum se ver no Brasil, isso é muito bom, tomara que não pare e,
assim deveria ser com todos bons projetos. Esta é a verdadeira história
do surgimento da idéia de reflorestar a margem do rio São
Francisco, no município de Petrolina.
Queremos aqui registrar também o belíssimo trabalho de revitalização
da bacia do São Francisco desenvolvido pela senhora Marilia, na
região do Alto São Francisco, mais precisamente no municipio de
Lagoa da Prata e da ONG “Canoa de Tolda” na região do Baixo São
Francisco, onde as ações são verdadeiras e concretas, sem
mentiras e sem enganação. Em 2002/2003 surgiu o projeto “Mata
Ciliar”, da Secretaria de Ciências, Tecnologia e Meio Ambiente do
Estado de Pernambuco que também promete bons resultados. O projeto
prevê o plantio inicial de cerca de 130.000 mudas de plantas
nativas e exóticas, na margem esquerda do rio São Francisco, entre
Petrolina e Belém do São Francisco. Vamos aguardar os resultados.
A ação é ótima.
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1.
Estudo Fitossociologoca de um Remanescente de Caatinga à Margem do
Rio São Francisco – Petrolina, PE; Clovis Eduardo Nascimento.
2.
Lei 4.771/65 – Código Florestal Brasileiro.
SUMÁRIO