CAPITULO VII - BIÔMAS

Xique Xique

Foto: Rodrigo Feliciano

            O Vale do São Francisco está situado no Planalto brasileiro e proporciona vida em três biomas importantes, o cerrado no Alto são Francisco, a caatinga no Médio, Submédio e parte do baixo São Francisco e, Floresta atlântica na região próxima ao litoral. Todos eles já bastante degradados perto e longe das margens dos rios que compõem a bacia. Vamos descrever o que aconteceu com cada um deles no decorrer dos tempos.

Cerrado

            Lá pelos anos 80, o Cerrado Brasileiro foi contemplado com um projeto contra a sua própria existência quando o Governo Federal resolveu através do “finado” IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, financiar os fazendeiros para matarem a vegetação nativa para plantar pinos e eucalipto para a produção de celulose. O famigerado projeto não deu certo e os fazendeiros não devolveram o dinheiro e ainda por cima ficamos com o prejuízo ecológico. Hoje as áreas são ocupadas com pastagens para os rebanhos.

            A vegetação do cerrado é caracterizada pelo predomínio de gramíneas e árvores de pequeno porte retorcidas e espaçadas, distribuídas em áreas que formam o sudeste brasileiro onde estão as nascentes do Rio São Francisco e da maior parte de seus afluentes. O cerrado é um exemplo de vegetação de tropical com estações chuvosas bem definidas responsável por cerca de 70% das águas do são Francisco.

            “Até a década de 70, cerca de 300.000 hectares foram desmatados anualmente nos cerrados de Minas, para suprir o parque siderúrgico do estado. Posteriormente essa devastação chegou a atingir a 1.000.000 (um milhão) de hectares, até que já totalmente desnuda uma lei salvadora do (quase nada) foi promulgada no estado, impondo gradativa substituição do carvão proviniente de floresta nativa por aquele de floresta cultivada. Enquanto as inúmeras placas às margens das rodovias mineiras proclamavam: O AZUL SÓ EXISTE ENQUANTO O VERDE EXISTIR, a motosserra funcionava por traz delas, exatamente porque a população não estava consciente do que queria transmitir a frase de efeito”.(Zé Theodomiro - Memórias Sanfranciscanas)

Caatinga.

Flor de palma

            A caatinga é o segundo bioma cortado pelo “Velho Francisco”, caatinga quer dizer “mata branca”. Um tipo de vegetação, típica do Nordeste brasileiro, região de clima semi-árido. A caatinga é formada por cactáceas e vegetação espinhosa de troncos retorcidos, que seca no período de grande estiagem. São plantas xerófitas que perdem as folhas em tempos de seca para não perder reserva líquida. É por isso que as chamamos de “caducifólias”, quando termina o período de chuva as folhas caducam e caem.

            O termo caatinga é por natureza representante do semi-árido brasileiro, é uma palavra indígena (Caa=mata) + (tinga=branca, cinzenta, clara etc.), constituída de árvores, arbustos espinhosos com presença de plantas suculentas e extrato herbáceo estacional.

Mancambira

             O semi-árido brasileiro é caracterizado pelo bioma caatinga, sendo ele, o maior do mundo, ocupando cerca de 80% do território do Nordeste, em partes dos estados de Pernambuco, Bahia, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, norte de Minas Gerais e Espírito Santo e leste do Maranhão. Com uma área de 734.478 km2 é um bioma tipicamente brasileiro, muito rico em espécies vegetais, são dezenas de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas. Sua biodiversidade única no mundo, relativamente frágil apresenta amostra significativa de degradação, pela ação do homem na luta pela sobrevivência das populações. A caatinga é uma região extremamente heterogênea, incluindo diferentes tipos de paisagens únicas e espécies que ocorrem exclusivamente nesta região. A sua vegetação é diversificada, incluindo além das caatingas, vários outros ambientes associados, onde ocorrem pelo menos 932 espécies, sendo 380 exclusivas da caatinga”. (2)       

          Nas tabelas a seguir, veremos algumas dessas espécies que são encontradas na região do Vale do São Francisco, apresentando os nomes populares, científicos e respectivas famílias.

Tabela 01 – Arbóreas 

Família

Nome científico

Nome vulgar

Caesalpiniaceae

Anacardiaceae

Aracaceae

Anacardeaceae

Caesalpiniaceae

Rhaninaceae

Anacardiaceae

Minosaceae

Fabaceae

Bignoniaceae

Anacardiaceae

Papilionoideae

Caesalpiniacea

Caesalpinoideae

---------o--------

Burseraceae

Caesalpiniaceae

Palamaceae

Mimosaceae

Bignoniaceae

Rutaceae

Cactaceae

Rubiaceae

Anacardiaceae

Capparaceae

Eufhorbiaceae

Mimosaceae

Mimosaceae

Mimosaceae

Ulmaceae

Mimosaceae

Mimosaceae

Anacardiaceae

Arecaceae

Myrtaceae

Bignoniaceae

Eufhorbiaceae

Eufhorbiaceae

Sapotaceae

Annonaceae

Apocynaceae

Eufhorbiaceae

Mimosaceae

Mimosaceae

Papilionaceae

Bignoniaceae

 

 Cássia spectabilis

Mangifera indica

Cocos nucifera

Myracrodrum urundeuva

Hymenaea coubaril

Ziziphus joazeiro

Anacardium occidentalis

Anadenanthera macrocarpa

Torresea cearencis

Tabebuia caraíba

Spondias tuberosa

Erithrina velutina

Senna excelsa

Caesalpina férrea

Parkinsonia aculeata

Cammifera leptophloeos

Peoppígia procera

Copernicia cerifera

Piptadenia moniliformis

Tabebuia serratifolia

Citrus aurantium

Cereus jamacaru

Genipa americana

Schinopsis brasiliensis

Crataeva tapia

Manihot glaziovii

Piptadenia zehtneri

Ingá Vera subsp. Affinis

Pithecellobium parvifolium

Celtis membranacea

Acácia bahiensis

Mimosa gemmulata

Anacardium humile

Syagrus coronata

Psidium guajava

Tabebuia ovellanedeae

Phylanthus niruri

Cnidoscolus phyllacanthus

Bumelia sartorum

Annona squamosa

Aspidosperma pyrifolium

Sapium sp.

Mimosa tenuiflora

Mimosa arenosa

Geoffroea spinosa

Tabebuia spongiosa

 

 Canafístula rasteira

Mangueira

Coqueiro

Aroeira

Jatobarzeiro

Juazeiro

Cajueiro

Angico

Umburana de Cheiro

Caraibeira

Umbuzeiro

Mulungú

Canafístula Branca

Pau Ferro

Turquia

Umburana de Cambão

Muquém

Carnaubeira

Angico de Bezerro

Pau d‘arco Amarelo

Laranja

Mandacaru

Genipapo

Braúna/baraúna

Trapiá

Maniçoba

Angico Liso

Ingá

Arapiraca

Juaí

Jurema Branca

Jurema cor de rosa

Cajuí

Licurí/ouricurí

Goiaba

Pau d‘arco Roxo

Quebra Pedra

Favela

Quixaba

Pinha

Pereiro

Burra Leiteira

Jurema Preta

Jurema Vermelha

Marizeiro

Sete Cascas

 

Tabela 02 – Arbustivas/herbáceas 

Família

Nome científico

Nome vulgar

Cactaceae

Caesalpiniaceae

Caesalpiniaceae

Capparaceae

Bromeliaceae

Caesalpiniaceae

Astereceae

Lilliaceae

Chenopodiaceae

Cactaceae

Eufhorbiaceae

Loasaceae

Poaceae

------o--------

Mimosaceae

Eufhorbiaceae

Boraginaceae

Boraginaceae

Eufhorbiaceae

Myrtaceae

Erytroxylaceae

Eufhorbiaceae

Cactaceae

Bromeliaceae

Capparaceae

Caesalpiniaceae

Fabaceae

Passifloraceae

Caesalpiniaceae

Cactaceae

Capparaceae

Convolvulaceae

Eufhorbiaceae

Mimosaceae

Loasaceae

Malvaceae

Asclepiadaceae

Cyperaceae

Cyperaceae

Eufhorbiaceae

Eufhorbiaceae

Boroginaceae

Malvaceae

 

Harrisia adscendens

Bauhinia pentandra

Senna macronthera

Capparis cynophallophora

Bromélia antiacantha

Senna obtusifolia

Clonocliniopsis prasiifolia

Aloe barbadensis

Chenopodium ambrosioides

Opuntia fícus indica

Ricínius communis

Mentzelia áspera

Acácia langsdorfii

Cratilia mollis

Mimosa pigra

Cróton campestris

Cordia verbenácea

Cordia globosa

Jatropha curcas

Myreia sp.

Erytroxylum pungens

Cróton sonderianus

Pilosocereus gounellei

Neogloziovia variegata

Cleone spinasa

Caesalpina pyramidalis

Dioclea grandiflora

Passiflora  edulis

Bauhinia forficata

Melocatus zehtneri

Caparis jacobinae

Mabea occidentalis

Cróton conduplicatus

Acácia farnesiana

Loasa rupestris

Bogenhardia nemoralis

Calotropis procera

Ciperus lanceolatus

Eleocharis caribaca

Cnidoscolus urens

Jatropha molissima

Heliotropium indicum

Sida cordifolia

 

Bugí

Unha de Cabra

São João

Feijão Bravo

Macambira

Mata pasto

Rabo de raposa

Babosa

Mastruz

Palma

Carrapateira/mamona

Amorosa

Unha-de-gato

Camaratuba

Calumbí

Velame

Moleque Duro

Moleque Duro

Pinhão Bravo

Goiabinha

Rompe Gibão

Marmeleiro

Xique-xique

Caroá

Mussambê

Catingueira de Porco

Mucunã

Maracujá

Mororó

Coroa-de-frade

Icó

Pinhão Manso

Canudo

Quebra Faca

Coronha

Cansanção

Flor-de-seda

Tiririca

Junco

Urtiga

Malva de lavar pratos

Crista de galo

Malva branca (3)

 

 

1.Memória Sanfranciscana/1999 – produção de Carlos Laerte e Maria Izabel Muniz (Depoimento de José Theodomiro, pag 46,47 e 48);

2.Ministério do Meio  Ambient/ Secretaria Executiva por meio do Edital nº 1/2004 pg. 08.

3.Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco/2001-2002, pgs. 190, 191, 192, 194, 195, 197, 198, 204 e de 656 a 660, de 685 a 687.              

            Por tempos esquecida, e muito vulnerável, a caatinga vem mostrando o resultado desse abandono e uso indiscriminado. Os mamíferos estão em primeiro lugar, com cerca de 10 espécies ameaçadas de extinção, sem falar das aves e das espécies vegetais. Embora com seu aspecto xerófilo, garranchento e espinhento, nossa caatinga revela belezas, encantos, lendas, mitos e espiritualidades, com o privilégio de ser habitada por um povo cheio de fé e esperança.

            A fauna é rica com dezenas de espécies animais, endêmicas ou não, que encontramos nos diversos habitat’s. Na tabela a seguir, apresentamos várias dessas espécies encontradas no bioma caatinga.

 

Tamanduá Mirim

Tamanduá-mirim

Tabela 01 - Mamíferos 

Ordem

Família

Nome científico

Nome vulgar

 Carnívora

Carnívora

Carnívora

Carnívora

Carnívora

Carnívora

Carnívora

Chiroptera

Chiroptera

Rodentia

Rodentia

Rodentia

Rodentia

Rodentia

Rodentia

Rodentia

Rodentia

-----0------

Xenarthra

Xenarthra

Xenarthra

Xenarthra

Xenarthra

Didelphimorphia

Didelphimorphia

Artiodactyla

Artiodactyla

Artiodactyla

Artiodactyla

Primates

Primates

Carnívora

Carnívora

Carnívora

Carnívora

 

Felidae

Felidae

Canidae

Mustelidae

Mustelidae

Mustelidae

Prosciconidae

Mormoofidae

Mormoofidae

Caviidae

Caviidae

Dasyproctidae

Agoutidae

Agoutidae

Agoutidae

Agoutidae

Agoutidae

Cricetidae

Myrmecophagidae

Dasypodidae

Dasypodidae]

Dasypodidae

Dasypodidae

Didelphidae

Didelphidae

Cervidae

Cervidae

Cervidae

Tayssuidae

Callitrichidae

Cebidae

Felidae

Felidae

Felidae

Felidae

 

 Panthera onça

Puma concalor=Felis concolor

Cerdocyon thous azarae

Conepatus semistriatus

Eira barbara bárbara

Galictis vitalla

Proscion cancrivorus

Ptronotus dawyi

Ptronotus personatus

Gálea spixii

Kerodon ruprestes

Dasyprocta prymnonolopha

Oligoryzomis subflavos

Bolomis laziurus

Musculus

Rattus norvegicos

Rattus rattus

Colomis colossus

Tamanduá tetradactyla

Cabassus unicinctus

Dasypus novemcinctus

Eufphractus sexicinctus

Telypeutes trincinctus

Didelphis albiventris

Gracilinamus agilis

Mazama gouazopira namby

M. gouazopira superciliares

Ozoztecerus bezoarticus

Pecari= (Tayassu) tajacu

Callithrix jacchus

Cebus apella

Herpailurus yagouaroundi

Leopardus=(Felis) pardalis

Leopardus=(Felis) tigrina

Leopardus=(Felis) wedii

 

Onça pintada

Onça vermelha

Raposa

Gambá

Papa mel

Furão

Guaxinim

Morcego

Morcego

Preá

Mocó

Cotia

Rato-de-cana

Rato do chão

Camundongo

Ratazana/guabiru

Rato-de-casa

Rato seis gramas

Tamanduá mirim

Tatu-china

Tatu-verdadeiro

Tatu-peba

Tatu-bola

Saruê

Rato peq. da mata

Veado comum

Veado capoeiro

Veado campeiro

Caititu

Sauim

Macaco prego

Gato azul

Jaguatirica

Gato pintado

Gato-maracajá

 

 Tabela 02 – Aves 

Ordem

Família

Nome científico

Nome vulgar

Tinamiformis

Ciconiiformes

Anserifomes

Galiformes

Psittaciformes

Caprimulgiformes

Tinamiformes

Tinamiformes

Tinamiformes

Tinamiformes

Rheiformes

Ciconiifromes

Ciconiifromes

Ciconiifromes

Ciconiifromes

Ciconiifromes

Ciconiifromes

Falconiformes

Gruiformes

Gallformes

Gruiformes

Gruiformes

Gruiformes

Charadriiformes

Charadriiformes

Columbiformes

Columbiformes

Columbiformes

Columbiformes

Columbiformes

Columbiformes

Columbiformes

Psitaciformes

Psitaciformes

Psitaciformes

Psitaciformes

Cuculiformes

Psitaciformes

Psitaciformes

Psitaciformes

Strigiformes

Apodiformes

Apodiformes

Piciformes

Piciformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

Passeriformes

 

 

Tinamidae

Ardeidae

Anatidae

Cracidae

Psittacidae

Nyctiibidae

Tinamidae

Tinamidae

Tinamidae

Tinamidae

Rheidae

Ardeidae

Cochleriidae

Cathartidae

Cathartidae

Cathartidae

Cathartidae

Accipitfidae

Aramidae

Cracidae

Rallidae

Rallidae

Cariamidae

Jacanidae

Charadriidae

Columbidae

Columbidae

Columbidae

Columbidae

Columbidae

Columbidae

Columbidae

Psitacidae

Psitacidae

Psitacidae

Psitacidae

Cuculidae

Cuculidae

Crotophaginae sp

Neomorphinae sp

Tytonidae

Trochilidae

Trochilidae

Picidae

Picidae

Formicariidae

Formicariidae

Formicariidae

Tyraninae sp

Corvidae

Emberizinae sp

Emberizinae sp

Emberizinae sp

Emberizinae sp

Icterinae sp

Cardialinae sp

Icterinae Fringillidae

Fringillidae

Crypterullus noctivagus

Tigrisoma fascatum fasciatum

Mergus octosetaceus

Penélope ochrogaster

Anodorhinchus glaucus

Nyctibius leucopterus

Trypterellus strigulosus

Crypterellus parvirostris

Crypterellus tataupa

Rhinchotus rufenscens

Rhea americana

Egretta thula

Theristicus caudatus

Sarcoramphus papa

Coragyps atratus

Cathartes aura

Cathartes burrovianus

Elanus leucurus

Aramus guarauna

Ortalis guttata

Gallinula melanops

Porphyrio martinica

Cariama cristata

Jaçana jaçanã

Venellus chilensis

Columba lívia

Columba-picazuro

Zenaida auriculata

Columbina passerina

Columbina picui

Scardafella squammata

Leptotila verreauxi

Primolius maracanã

Aratinga leucophathlmus

Aratinga cactorum

Amazona aestiva

Cussysus melacoriphus

Piaya cayana

Protophaga ani

Tapera naevia

Tyto Alba

Phaethornis ruber

Eupetomena

Veniliornes passerinus

Campephilus melanoleucos

Furnarius rufus

Certhiaxis cinnamomea

Phacellodomus rufifrons

Pitangus sulphuratus

Cyanocorax cyanopogon

Sicallis flaveola

Coryphospingus pilleatus

Sporophiia albogularis

Paroaria dominicana

Icterus jamacaii

Passarina brissonii

Molothrus bonarlensis

Passer domesticus

Zabelê

Socó-boi

Mergulhão

Jacu

Arara azul de lear

Mãe-da-lua

Nhambu-relógio

Nhamb-esp-bioada

Nhamb-pé-roxo

Perdiz

Ema

Garça branca peq.

Curicaca

Urubu-rei

“ de-cabeça-preta

“ de-cab-vermelha

“ de-cab-amarela

Gavião peneira

Carão

Acauã

G. d’água-preta

G. d’água-azul

Seriema

Jaçanã

Tetéu

Pombo-doméstico

Asa-branca

Arribaçã

Rolinha-cinzenta

Rolinha-branca

Rolinha-fogo-pagô

Juriti

Maracanã

Periq-maracanã

Jandaia-gangarra

Papagaio-verdad.

Papa-lagarta

Alma-de-gato

Anu-preto

Peitica

C. rasga-mortalha

Beija-flor-besourinh

B.f.rabo-de-tesoura

Pica-pau-pequeno

P.p. de- top-vermel

João-de-barro

Casaca-de-couro

Ferreiro

Bem-te-vi

Canção

Canário-da-terra

Maria-fita

Patativa-golada

Galo-de-campina

Concriz (sofreu)

Azulão

Pássaro-preto

Pardal

Floresta Atlântica.

            É o terceiro e último bioma que o Rio São Francisco atravessa antes de chegar ao seu descanso no mar. A floresta Atlântica é encontrada na região do baixo São Francisco próximo ao litoral. A Mata Atlântica era uma floresta localizada nas áreas mais úmidas do clima tropical que se estendia do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Essa floresta sofreu intensa intervenção humana, em decorrência da exploração madeireira. No passado, a largura da faixa de Mata Atlântica era de 200 km, desde o período colônia e ela vem sendo destruída pelo homem. Nos dias atuais, restam apenas cerca de 5% do total da vegetação que cobria essa área. Parte dela, nos estados de Alagoas e Sergipe, fazia parte das matas ciliares do rio São Francisco, mas hoje quase toda a área é ocupada com a cana-de-açúcar e povoações.

Matas Ciliares do rio São Francisco.

Ingazeira

            As matas ciliares do rio são Francisco não constituem um bioma separado, elas fazem parte dos três biomas cortados pelo rio. São representadas por plantas perenes (não caducifólias) como em qualquer outro curso d‘ água permanente distribuídas sabiamente pela natureza. Nascimento (1998) com seu “Estudo Florístico Fitossociológico de Um Remanescente de Caatinga à margem do rio São Francisco, Petrolina Pernambuco”. Somado a um levantamento superficial da vegetação ainda existente que fizemos em toda a margem do rio que vai da divisa com o municipio de Petrolina com Casa Nova, próximo a Barragem de Sobradinho, até a divisa do municipio de Petrolina com o municipio de Lagoa Grande na foz do riacho do Pontal. Nos possibilitou incluir neste livro, dados tão importantes sobre a vegetação das margens do “Tio Chico”. Olhando a foto acima, dá -nos uma idéia de que temos uma boa faixa de mata ciliar, tanto de um lado quanto do outro, mas como podemos observar, é uma faixa estreita e só apresenta uma espécie, que é a ingazeira.

            A pesquisa de Nascimento, foi feita numa faixa de “0” aos 800m a partir da água na margem do rio, dividindo a faixa conforme descrição a seguir. Mas, aqui, vamos trabalhar apenas as faixas que formam a área de preservação permanente, como amostragem, para que se tenha uma idéia, de como se encontra o restante da bacia.rições

MR – Margem: que é formada pela planície a partir da água até o encontro com o dique em média 25m de largura. Considera-se essa primeira faixa, a mata ciliar propriamente dita, cuja cobertura vegetal os seguintes tipos de vegetação; – Rasteira: zozó, mussambê, tiririca, junco, capim de burro, capim taquari, taboa, capim amargoso, e outros. Nesse meio aparecem também as trepadeiras dos tipos gitirana e chumbinho, sendo essas temporárias, ou seja, só aparecem na época das chuvas; – Arbustivas: calumbí, velame, unha-de-cabra, canafístula rasteira, São João da Barra e vários tipos de cipó e canudo; – Arbóreas, ingá, alagadiço, marizeiro, juazeiro, juaí, muquém, mangue de folha fina, turquia e outros, sendo as mais presentes o ingá e o juaí. Foi constatado agora com a regeneração espontânea que está ocorrendo principalmente no segundo trecho que vai de Petrolina até a foz do Pontal, a presença de mulungu e turquia, nessa faixa da margem. Essas espécies são mais comuns nas faixas do dique e depressão inundável. A faixa da margem onde está o cílio propriamente dito do rio, ao contrário do primeiro trecho, ainda se encontra uma boa quantidade de vegetação, nessa faixa podemos assegurar que pelo menos 70% da vegetação nativa está conservada. Uns lugares apresentam áreas mais largas, outros mais estreitas, mas está melhor de que o primeiro. (Estou falando só da margem, primeiros 25m).

Área de mata ciliar reflorestada

 D – Dique: formado pela parte mais alta da área que vai dos 25m aos 210m, normalmente, tem como limite em relação à margem uma elevação com altura variada, como pequenos platores. A formação vegetal; – Rasteira: Nessa faixa aparecem, em menor quantidade e a maioria é do tipo temporário; – Arbustivas: moleque duro, bugí, unha-de-cabra, xiquexique, canafístula rasteira, feijão brabo, velame, São João e outros; – Arbóreas: jatobá, pau cachimbo, mandacaru, muquém, coronha, alagadiço, jurema vermelha, jurema preta, arapiraca, carnaubeira, juazeiro e juaí. Estas são as mais freqüentes nessa faixa.  

DI – Depressão Inundável: vai dos 210m aos 590m formada pela baixada paralela ao rio onde se formavam as lagoas marginais com as grandes enchentes. Sua vegetação é mais rarefeita de que as outras áreas; – Herbáceas e Gramíneas:  são encontradas comumente nos períodos de chuva por serem do tipo temporário; – Arbustivas: essa faixa não encontramos quase vegetação arbustiva, apenas algumas das mesmas espécies existentes nas outras faixas. Como o velame e o canudo; – Arbóreas: Coronha, Alagadiço, Turquia, e pode se encontrar uma ou outra Quixabeira, mas o que predomina, mesmo em áreas ainda conservadas é o marizeiro. Não havendo  muito o que se registrar nessa faixa, até porque, é área por natureza de pouca cobertura vegetal, principalmente no primeiro trecho.

          Nas faixas de dique e depressão inundável do segundo trecho, estão um pouco melhor de que as mesmas faixas do primeiro, por causa de alguns produtores que conservam em suas propriedades, faixas de vegetação que ultrapassam os 25m, entrando no dique, e em poucos casos na depressão inundável. Mais, nos dois trechos, hoje, boa parte dessas faixas, estão ocupadas por frutíferas. Menos mal, porém, onde não há frutíferas ou pequenas reservas conservadas, muitas vezes, inconscientemente, até mesmo por falta de recurso para desmatá-las, conforme um produtor nos revelou antes de ser sensibilidade pelo nosso trabalho. As áreas são utilizadas erradamente para outros tipos de cultura. 

           Essas três faixas compõem a área de preservação permanente, do rio São Francisco, num trecho de 165km de margem e ilhas, da divisa com município de Casa Nova, até a divisa com município de Lagoa Grande na foz do riacho do Pontal. Como deu para perceber, algumas das plantas aqui citadas, aparecem em mais de uma faixa. Devemos salientar também que quase todas essas espécies de todas as faixas são perenes, isso quer dizer que nunca ficam sem a folhagem. Enquanto a maioria das outras espécies da caatinga são caducifólias. Como por exemplo: a baraúna, o angico, a aroeira, o umbuzeiro, o sete casca, a umburana e assim quase todas elas.

            Como não temos um inventário mais apurado, quantitativamente, da situação atual da margem do rio São Francisco, no município de Petrolina. Em relação à mata ciliar, nos valemos aqui do nosso conhecimento de causa, habilitado pela convivência com o problema há mais de sete anos, com pequenas ações pessoais e projetos municipais para a recomposição florestal em epígrafe. Vamos tentar retratar a situação de degradação nesses 165m que seria reserva permanente intocada se fosse obedecida a Lei Federal nº 4.771/65.

 

Erosão por falta da mata ciliar

                Se compararmos o primeiro trecho que vai da divisa do município de Casa Nova até a cidade de Petrolina, com o segundo trecho, que vai da cidade de Petrolina até a divisa com o município de Lagoa Grande, na foz do riacho do Pontal, com certeza iremos encontrar uma grande diferença, no tocante à faixa de mata ciliar propriamente dita, constituída pelos primeiros 25m a partir da água. No primeiro trecho praticamente não existe mais vegetação nativa, apenas poucas manchas verdes são encontradas na beira d’ água. Isso por conta dos desmatamentos que vêm ocorrendo há cerca de 500 anos, para plantio de pastagens, extração de minérios, cultivo da agricultura, extração de lenha para fazer carvão para as siderúrgicas do norte de Minas Gerais, extração de lenha para funcionar os vapores que queimavam três caminhões de lenha numa única viagem, de Pirapora a Juazeiro e vice-versa.E o que sobrou os donos das terras continuam desmatando para fazer suas manções, abertura de balneário e também plantar. E ainda juram de pés juntos que estão preservando. Por estes e outros motivos, o processo erosivo continua se agravando a cada dia que passa, causando assoreamentos gigantescos, deixando o rio largo por causa dos desmoronamentos das margens e das ilhas e, raso pelo acúmulo de areia no fundo da calha. Por conseqüência acarretando outros problemas graves como o aumento da evaporação, que por sinal já é muito acima da média pluviométrica do semi-árido, e a extinção de muitas espécies da fauna ictiológica entre outros inúmeros problemas.

            As matas ciliares do rio são Francisco desapareceram, foram transformadas em lenha para as fornalhas insaciáveis dos gaiolos que transportaram durante anos no são Francisco mercadorias e gente, foram cortadas para dar lugar às pastagens desde a introdução da pecuária no vale, foram cortadas para fazer carvão para às siderúrgicas de Minas Gerais e Bahia, muitas espécies do cerrado foram derrubadas, anos após anos, para sustentar de madeira as serrarias de Petrolina e Juazeiro. O que proporcionou beleza e curiosidade naquela época, poucos sabiam que estavam promovendo a morte do Velho Chico. O transporte da madeira do cerrado até chegar as serrarias era uma verdadeira atração turística na época, quando as balsas desciam formadas pelos troncos de madeira atraiam os ribeirinhos para ver passar aqueles mosntrengos que desfilavam dias e dias, descendo rio abaixo. Quando chegavam ao destino, eram transformadas em tábuas e distribuídas para todo o Nordeste. A devastação foi quase total, acabaram as matas, as serrarias fecharam suas portas. Hoje até os cupins ribeirinhos passam fome.

            Mas afinal de contas o que são matas ciliares? – São faixas de vegetação nativa ou replantada formadas por árvores, arbustos, herbáceas e gramíneas (foto ao lado) que fazem a cobertura vegetal das margens dos rios dando beleza e a devida proteção aos cursos d‘ água. As matas ciliares são constituídas de vegetação perene, ou seja, jamais fica sem a folhagem. Por isso são “Não caducifólias”. Caducifólia quer dizer: (as folhas caducam e caem). As faixas de matas ciliares, também conhecidas como floresta ripária ou de galeria, fazem parte das áreas de preservação permanente dos rios e lagos, cuja serventia, determinado por lei, é proteger as margens e as ilhas contra as ações erosivas provocadas pelas chuvas, pelos ventos e pelo próprio curso d‘água. (1)

            Essas faixas têm larguras determinadas de acordo com a largura do curso d‘água (Lei nº 4.771/65 de 15 de setembro de 1965, Código Florestal Brasileiro). Artigo 2º - “Considera-se de preservação permanente, pelo só efeito desta lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situada ao longo dos rios ou de qualquer curso d‘água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:

1)– De 30 (trinta) metros para os cursos d‘água de menos de 10 (dez) metros de largura;

2)– De 50 (cinqüenta) metros para os cursos d‘água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura.

3)– De 100 (cem) metros para cursos d‘água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura.

4)– De 200 (duzentos) metros para cursos d‘água que tenham de 200 a 600 (seiscentos) metros de largura.

5)– De 500 (quinhentos) metros para cursos d‘água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros. Este é o caso do Rio São Francisco. (2) 

            A oferta de água para suprir a demanda do Vale do São Francisco, vive constantemente ameaçada e os principais vilões são:

  1. Desmatamento das margens e das ilhas;

  2. Crescimento erosivo nas margens do rio principal e afluentes;

  3. Decréscimo da qualidade física e bioquímica dos recursos hídricos;

  4. Problemas na quantidade, na distribuição e disponibilidade dos recursos hídricos;

  5. Processo de assoreamento nos reservatórios existentes com comprometimento das estruturas de tomada d‘ água para irrigação e abastecimento público;

  6. Alteração na calha do rio São Francisco com reflexos na navegacão;

  7. Erosão nas margens e nas ilhas afetando os diques de proteção das áreas irrigadas do Vale;

  8. Lançamento de esgotos domésticos e industriais sem tratamento nos rios da bacia;

  9. Uso indiscriminado de agrotóxicos nos solos da bacia;

  10. Falta de Educação Ambiental.

            Tudo isso poderia ter sido evitado se não fossem as explorações de minérios na parte superior do Vale sem nenhum critério técnico, o desmatamento para produção de carvão e lenha, a ampliação sem controle da fronteira agrícola, ocupação das áreas irrigáveis dos afluentes do rio São Francisco e a concentração urbana desenfreada nas margens dos rios sem, contudo, uma infra-estrutura eficiente, com bons sistemas de tratamento de esgotos para minimizar as agressões aos mananciais.

Ações para recuperação                     

      Em 1996, tivemos noticia que o Sr. Celito Kespering preocupado com a ascensão do processo erosivo nas margens do rio, próximo à Barragem de Sobradinho, havia iniciado um plantio de mudas de arvores nativas. Fizemos uma visita ao local e constatamos que a idéia era boa, o plantio estava sendo feito por estaquia das espécies Ingá e Mangue. Mas infelizmente o projeto de kespering não foi à frente mas nós copiamos sua idéia e iniciamos, já em 1997, uma pequena produção de mudas em nossa casa, doávamos para as associações ribeirinhas,  principalmente a da Ilha do “Rodeador” e Agrovila do Massangano. Tempos depois, a FFPP – Faculdade de Formação de professores de Petrolina nos cedeu uma pequena área próxima ao pavilhão de Geografia, onde continuamos a produzir nossas mudas de plantas nativas, desta feita com a ajuda de um pequeno grupo de alunos que faziam parte do Grupo GEOVIDA, grupo este, também criado por nós.

            Ainda em 1997, enquanto fazíamos este trabalho fizemos também um vídeo (produção caseira), mostrando a degradação no trecho da Barragem de Sobradinho até a foz do riacho Pontal, na divisa com o município de Lagoa Grande. O referido vídeo, “produzido a facão” foi o material que serviu de base para quatro dias de debate sobre o assunto durante a realização da Semana do Geógrafo, que ocorreu naquele ano, no período de 08 a 12 de setembro, no auditório daquela Faculdade. Menos de meia dúzia de alunos e menos de três professores se limitavam a criticar a qualidade da produção e esqueciam a importância do conteúdo, enquanto isso, cerca de meio auditório (400 pessoas) assistiam com atenção os 100 minutos de filmagem, fazendo anotações, sem arredar pé. No final, para o desatino dos “críticos” que não aceitavam sucesso para um trabalho tão humilde, teve que ouvir o público fechar com uma intensa salva de palmas. Nos três dias seguintes o mesmo público não faltou para assistir aos debates.

Área reflorestada pelo projeto mata ciliar

            Durante as filmagens para a montagem do vídeo em epígrafe, entrevistei o então Secretario de Agricultura do Município de Petrolina (governo Guilherme Coelho), Ronaldo Carvalho quando ele falou que a Prefeitura, através de sua secretaria, estaria elaborando um projeto para o reflorestamento da margem esquerda do rio São Francisco, nos 165 km, na jurisdição do nosso município. Confesso que não acreditei muito que o tal projeto fosse à frente. Tempos depois, descobrimos que quem estava fazendo o projeto era o Dr. Paulo Cezar, na época, Diretor de Planejamento, que em seguida assumiu a pasta de Agricultura com a saída de Ronaldo Carvalho. Assim, entre 1998 e 2000 os recursos foram chegando do Ministério do Meio Ambiente de maneira “pingada”, mas conseguimos executá-lo cumprindo todas as etapas, 25.000 mudas foram plantadas, aliás, excedendo que, no projeto era de 20.000. Quanto ao aproveitamento foi em torno de 20 a 30% por causa dos fatores contra a este tipo de trabalho como: animais soltos, alta temperatura nas ilhas, escassez de chuva, erosões profundas e falta de educação ambiental de um modo geral. De qualquer forma, diante de todos estes problemas consideramos um resultado satisfatório. Este projeto teve continuidade na administração seguinte do prefeito Fernando Bezerra Coelho. Para nós o lado positivo desta história é exatamente a continuidade de um projeto numa administração seguinte de prefeitos de lados contrários, coisa que não é muito comum se ver no Brasil, isso é muito bom, tomara que não pare e, assim deveria ser com todos bons projetos. Esta é a verdadeira história do surgimento da idéia de reflorestar a margem do rio São Francisco, no município de Petrolina.

            Queremos aqui registrar também o belíssimo trabalho de revitalização da bacia do São Francisco desenvolvido pela senhora Marilia, na região do Alto São Francisco, mais precisamente no municipio de Lagoa da Prata e da ONG “Canoa de Tolda” na região do Baixo São Francisco, onde as ações são verdadeiras e concretas, sem mentiras e sem enganação. Em 2002/2003 surgiu o projeto “Mata Ciliar”, da Secretaria de Ciências, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco que também promete bons resultados. O projeto prevê o plantio inicial de cerca de 130.000 mudas de plantas nativas e exóticas, na margem esquerda do rio São Francisco, entre Petrolina e Belém do São Francisco. Vamos aguardar os resultados. A ação é ótima.

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1. Estudo Fitossociologoca de um Remanescente de Caatinga à Margem do Rio São Francisco – Petrolina, PE; Clovis Eduardo Nascimento.

2. Lei 4.771/65 – Código Florestal Brasileiro.

 

 

SUMÁRIO

 
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