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O tigre sem dragão

 

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Sozinho, sem a ex-inseparável Sandy, Junior enfrenta seus monstros ao lado do motorista Carlão e da camareira Marili...

Maio/2001
 

No dia 26 de abril, com vinte minutos de atraso, Junior chega, assobiando. Sobe rapidinho os dois lances de escada , com quinze degraus cada. "Comecei a malhar hoje", explica ele. "Estou cheio de energia." Junior havia acordado às 8h15. "Tomei café e fiquei das 9h às 11h estudando literatura, vou ter uma prova complicada. Estudei modernismo, Fernando Pessoa, vanguarda européia. Depois é que fui malhar."

Atrás dele, vem Marili, a inseparável camareira que acompanha Sandy e Junior desde pequenos, e dois seguranças. Sandy, Xororó e Noely, os pais, estão no Rio de Janeiro, acompanhando as gravações de Estrela-Guia.

Junior pára na frente do guarda-roupa móvel da nossa produção. Pega uma regata vermelha e uma bandana oriental - mais tarde, depois de ser usada como bracelete nas fotos, a bandana seria levada pelo Junior, de lembrança. "Gosto de amarrar na cabeça", diz.

Antes de fazer uma foto para capa, a gente costuma tirar o excesso de brilho do rosto e arrumar o cabelo da pessoa escolhida. Junior já chegou com o cabelo espetado de gel. A maquiadora se concentrou no rosto dele - uma espinha minúscula do lado direito foi disfarçada com um corretivo. "Comi tanto ovo de Páscoa!" Vestido e maquiado, Junior começa a ser fotografado ao som de James Brown. Terminou com a cantora Macy Gray, de R&B. Ele tinha sugerido Madonna, mas não achamos um CD dela no estúdio.

Depois das fotos, Junior me convida para ir no carro dele até o compromisso seguinte, na avenida Paulista. "Mas a Paulista é aqui do lado, não vai dar tempo de conversar nada", respondo. "Vai dar tempo, sim", corta Marili. "O motorista disse que é no fim da Paulista."

Lá fomos nós, Marili, o motorista e segurança Carlão, eu, Junior e a assessora de imprensa, numa van preta, com vidros escuros, seguidos por outro carro com os dois seguranças. Junior disse que estava com fome.

 


» Capricho: Você começou a malhar com personal trainer? Em casa ou na academia?
Junior: Hoje eu fui à academia porque não tive aula. Fiz quarenta minutos de musculação. Mas vou malhar em casa também.

» Capricho: Tem academia na sua casa?
É uma academiazinha.


» Capricho: O que você quer? Ficar sarado?
[Risos] Quero aumentar a massa muscular. Sou magro e tenho facilidade para definir os músculos. A gente não pode descuidar do corpo também, né? Estou com 17 anos, uma fase em que a gente se desenvolve com facilidade. Se eu malhar só um pouco já vai ser bom.

» Capricho: Eu sei que você gosta de futebol. Tem dado para jogar?
Eu adoro. De vez em quando, eu jogo. Nos dias de folga, levo a galera para a chácara do meu tio Chitão, sempre marco um joguinho.

» Capricho: Quem joga no seu time?
Meus amigos. Eu, o Oscar, que é o meu melhor amigo, e outros amigos lá de Campinas (SP), do colégio, algum tio meu... De vez em quando, chamo o pessoal do programa, o Douglas [Douglas Aguillar], e às vezes o Paulinho [Paulo Vilhena].

» Capricho: Por que você aceitou participar de Estrela-Guia?
Ah, eu achei o personagem bacana, me daria a oportunidade de aprender circo, que eu adoro. Nossa origem é o circo. Meu pai e o tio Chitão cantavam em circo. Minha mãe também. Ela se apresentava com os pais dela. Ela e minha avó cantavam. Quando eu era pequeno, eu pintava a cara e entrava nos números do circo de uns amigos nossos fazendo o palhaço Pipoquinha. A Sandy dançava. Um dia, olha que engraçado, a Sandy cantou e dançou uma música da Xuxa. Um dos apresentadores disse: "Vocês ainda vão ver essa menina numa novela da Globo". Até arrepio, olha [ele mostra o braço arrepiado]. Antes da novela, eu já tinha subido em trapézio e aprendido a pular em cama elástica. Também quis aproveitar a chance de fazer uma novela, ganhar experiência... a gente tem o projeto de fazer o filme e é bom aprender um pouco.

» Capricho: Quando dizem que você é o maior ídolo do momento, o que vem à sua cabeça?
Eu penso: "Ah, não sou nada".

» Capricho: Você contou que era tanto assédio, que levou quarenta minutos para ir do seu carro até a mesa numa festa na semana passada. E aí?
[Pausa]. Pô, foi legal, todo mundo em cima da gente, né? Os fotógrafos, aqueles flashes. Agora, chega um momento em que quero comer e acho chato ser fotografado colocando um camarão na boca. Às vezes os fotógrafos não entendem que esse é um direito meu.

» Capricho: Você está numa fase de garantir espaços para você. Tem ido mais a festas, outro dia foi a uma boate lá em Campinas, onde vocês moram.
Eu acho que a gente tem de viver. As pessoas pensam que vivemos trancados, mas a gente sai, sim, vai ao cinema... Ontem à noite mesmo, eu fui. Estava gravando uma cena do programa num shopping de Campinas, acabou mais cedo e eu corri para o cinema. Fui ver A Mexicana [Junior comenta as cenas com Carlão. Diz que adorou a música e o cachorro que acompanha Brad Pitt]. Agora, muitas vezes a imprensa quer invadir a nossa privacidade quando a gente não está a fim de abri-la. E palpita sobre a nossa vida como se estivéssemos fazendo tudo errado. Dizem que nossa mãe nos tranca em casa. Que é isso? É o contrário, a gente não pára em casa. Toda vez que falam de uma gravação nossa, dizem que os pais corujas estavam perto. Esquecem que nossos pais estão ali trabalhando. Eles são nossos empresários. Faz dez anos que cuidam da nossa carreira.

» Capricho: E se eles não fossem empresários? A companhia seria um problema?
Lógico que é gostoso estar com eles. Mas eles não estão ali como pai e mãe. Estão para ver se a cena está legal, se é bom fazer daquele jeito, para administrar nossos horários. Eles dão palpites, nos ajudam. Até antes do show As Quatro Estações, minha mãe dirigia a gente. Nesse último show, ela falou: "Agora, não dá mais, vocês têm de chamar um profissional". Mas ela sempre fez direito. Tanto é que a gente está aí.

Você acha certo seus pais quererem proteger vocês de tudo?
Claro, eles são dedicados. E não é porque somos famosos. É porque somos filhos. A Thais Fersoza [a Gisela de Estrela-Guia] leva a mãe às gravações todo dia. No nosso programa, tem pessoas do elenco que estão sempre com a mãe. Ninguém fala nada. Por que têm de falar dos nossos pais?

» Capricho: Você já achou que seus pais exageraram nos cuidados?
Se eu achasse, teria falado para eles. Eles agem certo com a nossa carreira e com a nossa educação. Conversamos muito. Eu quero agir assim com os meus filhos. Quero ser um pai igual o meu é para mim. E espero que minha mulher seja como a minha mãe é para mim. É muito importante a presença dos pais, principalmente no mundo de hoje.

» Capricho: Como é que você conseguiu ir a uma boate em Campinas?
Sobra um tempinho e eu já peço para minha mãe me deixar sair. Às vezes, ela diz: "Não, amanhã você terá de acordar cedo". Ah, tá. Outras vezes, ela diz: "Hoje, tudo bem". E aí eu vou. A gente tem de sair para ter uma vida, senão fica só trabalho, trabalho, escola, escola.

» Capricho: Como foi sua noite na boate?
Fui com uns amigos e os seguranças. Fiquei num camarote com convidados. Algumas meninas pediam para subir e ficar comigo. Mas eu não fiquei com ninguém, tinha fotógrafos por lá. Mesmo assim, gostei e assim que tiver um tempinho quero sair de novo, em Campinas e onde mais der. Gosto muito de dançar.

» Capricho: De dançar o quê?
Adoro forró. Uma noite, lá em Pirenópolis [interior de Goiás], quando estávamos gravando a novela, tinha uma banda tocando e eu chamei uma das meninas que estavam conversando com a gente para dançar. Ela não queria, disse que não sabia. Falei que ensinava, ela dançou a primeira música e não quis mais parar. Eu me diverti muito lá. Ia para a piscina do hotel à noite com o pessoal do elenco.

» Capricho: Sua mãe teme que você se envolva com drogas?
Ela confia em mim, eu confio em mim. Quero chegar para o meu filho e dizer a ele que nunca usei drogas.

» Capricho: Você está namorando?
Não.

» Capricho: Ficando?
Aí já é diferente.

» Capricho: E como você fica?
Normalmente eu fico com uma pessoa várias vezes. Quando não estou ficando mais, fico com outra. Não saio tanto assim para ir ficando cada dia com uma.

» Capricho: Quando você fica, dá vontade de namorar?
Não. Quem fica com muitas expectativas acaba criando sentimentos que não são de verdade. Eu deixo rolar. Se pintar uma paixão, vou ver o que é.

» Capricho: Você prefere uma menina famosa ou uma desconhecida?
Desconhecida é melhor, não dá tanto boato.

» Capricho: As meninas se atiram?
Elas chegam, dão beijo na boca, apertam a minha bunda.

» Capricho: Algum garoto já cantou você?
Menino? Não, pelo amor de Deus.

» Capricho: Eles nunca assediaram você?
Não, eles me respeitam.

» Capricho: E o dia que acontecer, como você vai reagir?
Eu vou falar: "Sai fora, meu". "Ô, se liga, se enxerga, véio" [Junior vira para o motorista: "Já pensou, Carlão, só faltava eu começar a receber cantada de homem..." E os dois riem].

» Capricho: E de mulheres mais velhas, tipo mãe de fãs?
Isso já. Já teve até repórter dando em cima de mim.

» Capricho: Como?
Eu estava dando uma entrevista e ela começou... Mas não rolou. Ela tinha uns 20 anos. Agora, as cantadas mais ousadas chegam por carta.

» Capricho: O que você quer ser na vida?
Meu grande projeto é ser produtor musical. Já produzi algumas coisas da nossa dupla. Quando vamos botar voz no disco, eu dirijo a voz da Sandy e às vezes a minha também. Quero participar da produção dos nossos próximos CDs, o nacional e o inglês.

» Capricho: Quando será o lançamento?
A gente vai gravar agora em julho. O CD em português será lançado em outubro. No começo do ano, a gente lança o disco em inglês lá fora e aqui. Vamos começar o trabalho de divulgação na Inglaterra.

» Capricho: Qual é o seu maior sonho?
Comer. Chegando ao hotel [o Renaissance], vou pedir um sanduíche que eles têm lá. É um filé de frango com molho barbecue, bastante cebola... Huuummm, aquilo não é tudo, mas é 100. O segundo sonho é a carreira internacional. Quer dizer, se a gente conseguir manter o sucesso que tem aqui já está bom. Se vier o sucesso lá fora, melhor ainda.

» Capricho: Você tem medo de um dia deixar de ser famoso?
Do mesmo jeito que o público elege um ídolo, uma hora ele pode cansar. Já vimos isso acontecer muitas vezes. Então, eu estou preparado para isso, sei que não é para sempre.

» Capricho: Mas você se preocupa com isso?
Se eu ficar pensando no que pode acontecer de ruim, eu vou parar de curtir. Comigo é assim: está bom, vamos em frente e show de bola.

» Capricho: Como você se vê daqui a dez anos?
Cantando.

» Capricho: Em dupla?
Com certeza, com a mesma dupla.

» Capricho: O Casseta & Planeta foi censurado por causa do quadro Estrela Virgem, uma sátira a Sandy. O que achou?
Esse papo de virgindade não tem nada a ver com a novela. Tem a ver com a vida pessoal da Sandy. Eu, para perguntar a uma menina se ela é virgem ou não, vou demorar muito tempo. Não sei como foi a decisão de mudar o nome do quadro para Estrela Guria, quem pediu isso. Gosto dos cassetas, só não gostei do lance da virgindade. Quando eles disseram: "Estrela-Guia, a única novela de Sandy e Junior sem Junior", eu achei muito engraçado.

» Capricho: Você já fez terapia?
Nunca. Acho legal, mas quando sinto necessidade converso com minha mãe. Ela parece uma psicóloga. A Sandy também, ela até fez vestibular para psicologia.

» Capricho: E você vai prestar para quê?
Para música, no fim do ano, mas não vou cursar. Vou fazer para adquirir experiência. Quero fazer cursos especializados lá fora.

Texto: Fatima Cardeal
Foto: Marlos Bakker

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