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"Não sou santinha"

 

 

 

 

ÀS VÉSPERAS DE LANÇAR SEU 12° CD, SANDY, A CANTORA MAIS BEM-SUCEDIDA DO BRASIL, FALA DE NAMORADOS, ASSÉDIOS, DESEJOS E DA VEZ EM QUE FICOU PERDIDA EM ROMA – A ÚNICA EM QUE ESTEVE SOZINHA NA VIDA 

   

Sandy Leah Lima nasceu muito antes dos seus 18 anos. Tudo começou quando seu pai (Durval Lima, 44 anos, o sertanejo Xororó da dupla com Chitãozinho) e sua mãe (Noely Pereira Lima, 40 anos, ex-cantora de uma família circence, em que vovó se destacava no papel de Monga, a mulher-gorila) se conheceram, foram assistir ao filme Grease (musical de 1978, com Olívia Newton-John no papel de uma garota espevitada chamada Sandy) e ficaram de mãos dadas pela primeira vez. Desse amor nasceu, em Campinas, no interior paulista, uma espécie de boneca, daquelas que a gente poderia vestir de princesa. E que não só ganhou o nome da personagem como, desde cedo, foi ensinada, como sua intérprete, a cantar e cantar e cantar. Mais que isso, foi destinada a fazer muito dinheiro: são 10 milhões de discos vendidos em dez anos de carreira junto ao irmão mais novo, Junior – um rapazinho cativante, mas inevitavelmente ofuscado pelo carisma dela. Sintomaticamente, ela usa o nome; ele atende por um adjetivo Sandy, porém, ocupa no imaginário do público algo mais significativo do que o posto de a mais bem-sucedida cantora brasileira hoje. No país dos pagodes, das cachorras e da boquinha da garrafa, ela esparrama a doçura romântica da garota discreta e intocada. Em contraste com a superexposição erotizada da mulher, resgatou um certo glamour para a virgindade – esse estado natural que, até bem pouco tempo atrás, era tido quase como um defeito de nascença. Para surpresa geral, dobrou homens e meninos a seus pés. Entre as mulheres, umas a adoram, enquanto outras amam odiar Sandy, enxergando nela um recato pré-programado. "Não sou santinha", responde ela, calmamente Para saber o que ela quis dizer com isso, entre com a gente na suíte de um flat cinco-estrelas de São Paulo, onde fizemos a primeira rodada desta entrevista, a mais longa da carreira dela. Acompanhada por dois seguranças (que, antes da entrada da estrela, revistaram todos os aposentos), Sandy chegou quase cinco horas atrasada. Estava de pé desde as 6 horas da manhã, gravou o videoclipe de seu 11° CD até as 9 da noite e sentou-se para conversar com UMA as 22:30 horas. E isso como se fosse a coisa mais natural a fazer numa sexta-feira quente e estrelada.

Em um segundo de encontro, num hotel luxuoso de Campinas, depois de posar para o fotografo J.R. Duran, Sandy gastou o almoço e a tarde falando com a gente. Ambas as ocasiões, estava acompanhada: primeiro da assistente Marili Siqueira, de 33 anos; depois, dos pais, do empresário, do figurinista, do maquiador, do primo, num total de 15 pessoas que trabalham diretamente para ela. Número que sobe para 75 quando somam-se os técnicos de palco, os músicos e bailarinos do show. Sempre protegida, Sandy jamais vai ao shopping, nunca embarca em vôos de carreira. Férias, mesmo, só no exterior (em avião fretado pela família), um mês por ano, contadinho no calendário. Nos outros 11, cumpre uma agenda de 14 horas de trabalho por dia, inclusive nos fins de semana. Agora, pergunte se ela gostaria de ter uma vida diferente, e a resposta vem com um pequeno sobressalto: "Nunca!"

UMA Você declarou recentemente à revista Istoé que, quando perder a virgindade, ninguém vai ficar sabendo. Mas o que garante que o cara não vai sair contando?

SANDY [Risos] Ah, porque só vou fazer isso com alguém em quem eu confiar muito. Tem que ser uma pessoa especial.

UMA Mas você não corre o risco de achar uma pessoa que, por uma infelicidade, não seja tão legal assim?

SANDY  Não tenho medo disso. Posso até ver, muito tempo depois, que não era aquilo o que eu queria, que era uma ilusão. E pode ser que aconteça de terminar o namoro depois, sim. Mas, pelo menos eu saberei que...[Pausa] Eu acho que vou saber escolher a pessoa para fazer isso. E acho que só vou fazer quando eu tiver muita segurança, quando estiver com alguém que eu sei que não vai contar, mesmo se a gente terminar. [Pausa] Pelo menos, eu espero que isso não aconteça [Risos].

UMA Você não está namorando no momento. Sente falta de ter alguém, de dar uns beijinhos?

SANDY Eu tô numa boa, tô tranqüila. Não tô correndo atrás de namorado. [Pausa] Mas, se aparecer, também não vou achar ruim, não... [Risos]

UMA Você tem um ideal de homem? 

SANDY  Tenho um ideal de caráter, de personalidade. De coisas básicas, essenciais para todo mundo, como fidelidade, companheirismo. Acho também que ele deve ser atencioso, carinhoso. Com um namorado assim, não falta mais nada, né? Fiel, companheiro, carinhoso e ... O que mais que eu falei mesmo?

UMA  Atencioso.

SANDY É, atencioso! Acho que ele tem que ser generoso também, saber dividir.

UMA Saber dividir o quê?

SANDY Por exemplo, a minha carreira. Para mim, é muito importante uma pessoa que entenda o meu trabalho. Se ele pedir para eu escolher entre ele e a carreira, eu escolho a carreira.

UMA O quê? Você largaria um cara perfeito assim sem mais nem menos?

SANDY [Rindo] Não! Mas uma pessoa que me amasse não pediria isso, né? Agora, largar minha carreira, de jeito nenhum! Essa é uma possibilidade que não existe.

UMA O candidato a seu namorado pode ser feio?

SANDY Olha... Eu acho que é mais fácil a gente se apaixonar quando a pessoa é bonita [risos]. Porque a primeira coisa é no olhar, né? Se ele chama a atenção é porque tem alguma coisa de beleza, alguma coisa diferente. É assim que a gente começa a namorar, paquerando. Mas também não ligo muito para garoto bonito, não.

UMA Não liga mesmo?

SANDY Não. Acontece também de a gente ser amiga de uma pessoa e ir gostando dela aos poucos, cada, cada vez mais, ver que a pessoa é maravilhosa, e a gente se apaixona. Isso já aconteceu comigo. Mas eu tive sorte, eles eram todos bem bonitinhos.

UMA  Sabemos de pelo menos dois: Lucas Lima [violinista do grupo Família Lima, em 1999] e Paulinho Vilhena [modelo e ator, em 2000].

SANDY Eles foram especiais, foram ótimos, foi muito legal. Eu primeiro fiquei amiga e só depois é que pintou o outro lance, de gostar como namorado. E fui correspondida também. Graças a Deus, eles estavam apaixonados por mim na hora em que eu estava apaixonada por eles [risos].

UMA No começo do namoro, nenhum dos dois comentou o fato, esperaram você falar. Por quê?

SANDY Eles foram ótimos, foram maravilhosos. [longa pausa.]

UMA Como você se sentiu ao ser eleita pelos leitores da revista VIP uma das mulheres mais sexies do Brasil?

SANDY Do mundo! [Risos] No ano retrasado, fiquei em 26° lugar. Gente, que absurdo... Levei um susto: na foto da revista, eu tinha 15 anos! Aí, no ano passado, peguei o terceiro lugar, medalha de bronze [risos]. Foi aí que fiquei mais assustada. Eu nem era mulher ainda!

UMA Isso incomoda você?

SANDY Eu não ligo, acho legal. [Pequena pausa.] Bacana, né? [Risos] Pô, fiquei feliz, contente. Mas não sei o que os homens enxergam em mim.

UMA Nem desconfia?

SANDY Talvez seja essa minha... [Pausa.] Assim: acho que sou feminina e, sei lá, pode ser também por eu ser menina. Isso talvez desperte alguma fantasia deles. E, por eu nunca ter mostrado nada, talvez fiquem imaginando alguma coisa, né?

UMA: Parece que colocaram na internet fotos como se você estivesse nua?

SANDY Ah, é! A gente só acabou descobrindo porque uma moça que trabalha com a gente disse que uma amiga do filho dela tinha recebido pela internet fotos em que eu aparecia nua. Aí, a polícia foi atrás dele e tirou o site do ar. Tinha fotos com um monte de gente, Xuxa, Ivete Sangalo, Angélica, Eliana. Mas, daquilo ali, eu dei risada. Era muito absurdo, tava muito na cara a montagem fotográfica. 

UMA Você acha que um dia ainda vai posar nua para a revista Playboy?

SANDY [Arregala os olhos] Não! Nem pensar, nem pensar!

UMA O que foi que você achou de o seu irmão Junior ir parar numa banheira de espuma no programa de tevê a cabo de Monique Evans?

SANDY Poxa, as pessoas ficaram tão chocadas com isso! Eu também fiquei, quando soube que ele ia dar a entrevista. Mas, depois, achei legal. A Monique é tão diferente da imagem que todo mundo faz dela! Ela levou a filha para tirar foto com meu irmão, e o Junior só provou o quanto ele é família, legal. Ele não é sacana, malandro, cafajeste, sabe?

UMA E se você fosse para a banheira da Monique?

SANDY Ai, nem quero pensar. Nunca me deu essa louca, mas fico chateada de pensar que, se fosse eu naquela banheira, mesmo que estivesse de maiô, as pessoas já iam me olhar torto [Imita, irônica.] "Ah, olha lá a Sandy na banheira com fulano..." Iam falar.

UMA Só o Junior pode tudo?

SANDY É o machismo do mundo. Até as mulheres são machistas.

UMA Quem, por exemplo?

SANDY Eu sou machista. Às vezes, me pego pensando assim: "Ah, mas ele é homem..." Todo mundo é machista, pelo menos um pouquinho, não tem jeito.

UMA Você evita passar sensualidade?

SANDY Não gosto de me expor, mostrar meu corpo. Até porque não quero que pensem que estou usando isso para fazer sucesso. Porque muita gente mostra, e é isso que faz sucesso: o corpo, a bunda, as popozudas e não sei mais o quê. Eu quero que as pessoas me vejam só pelo meu lado profissional. Tudo bem, quero estar bonita, me arrumar e tudo. E é   lógico que não sou santinha: gosto de pôr a barriguinha de fora, de um decotezinho, às vezes deixar as costas de fora. Mas não fico colocando shortinho, não me sinto bem. Não seria eu.

UMA Você se preocupa muito com a administração da sua imagem, não?

SANDY  Tenho medo de decepcionar quem gosta de mim. Quando vejo que algo não está saindo do jeito que eu queria, fico preocupada, nervosa.

UMA De onde vem todo esse rigor?

SANDY É coisa da minha personalidade mesmo. Por isso tenho gastrite.

UMA Você já tem gastrite? Com apenas 18 anos de idade?

SANDY  Tenho desde os 13 anos. Eu me cobro demais. [Rápida.] Mas não é porque estão me forçando a trabalhar demais ou qualquer coisa assim. Era mais por causa da escola: eu sempre quis tirar nota 10. Pô, eu sou inteligente, nasci perfeita, com um cérebro, então tenho que tirar nota boa, né? Só que, às vezes eu tinha que faltar às aulas, ou tinha que dar muita atenção à carreira, focar mais em outras coisas...

NOELY [A mãe de Sandy entra na conversa.] A primeira nota 9 foi um drama na vida dela. Depois é que ela foi se acostumando com o 7. Mesmo assim, mais ou menos.

UMA  Entendi. Mas, até por causa da saúde, você não acha que exige demais de você mesma, Sandy?

SANDY Eu sou muito preocupada, muito responsável, perfeccionista. Mas não me arrependo de ser assim porque... Poxa, eu sou digna do meu décimo lugar no vestibular, entende? [Neste ano, Sandy entrou na faculdade de psicologia da Pontifícia Universidade Católica – PUC de Campinas, interior de São Paulo, e trancou a matrícula.] Sempre quero fazer melhor, fazer direito.

UMA Na novela Estrela Guia [estrelada por Sandy e exibida no primeiro semestre pela Rede Globo], teve alguma coisa que você quis corrigir?

SANDY Ah, muita coisa.

UMA Por exemplo.

SANDY No começo, fiquei preocupada em fazer a personagem [Cristal] diferente de mim. A Cristal era outra pessoa, então eu tinha que tirar tudo o que é gesto meu, enxugar isso, criar os gestos da  Cristal, entende? Mas como os diretores queriam que a Cristal fosse o mais suave possível, sem muita expressão... Sabe como, sem ruguinha na testa? Daí, achei que fiquei meio sem ação. Eu olhava [as cenas gravadas] e dizia: "Ai, que sem graça essa menina! Deixa eu dar um salzinho nela?"

UMA E como os diretores da novela recebiam a sua interferência?

SANDY Na maioria das vezes, aceitavam numa boa. Porque não há ninguém melhor do que o ator para falar sobre o personagem. A gente está estudando, a gente sabe o que ele pensa. E, quando os diretores não gostavam, falavam: "Não tá legal, faz assim e assim". Muito na boa, sempre. 

UMA Você tem dificuldade para decorar texto? Alguma vez deu branco?

SANDY Graças a Deus, não. Tenho uma memória muito boa. Se não tivesse, estava frita: eu tinha que decorar 25 cenas por dia, sempre à noite, depois das 10 horas, quando chegava em casa. Eu decorava tudo rápido pra dormir e gravar no dia seguinte. Depois, ia repassando [o texto] no carro, a caminho do estúdio. Era difícil porque, ai, se acontecesse alguma coisa, se alguém me ligasse, já atrapalhava a concentração. Eu tinha aqueles 15 minutos no carro até o Projac para repassar o texto todo na minha cabeça.

UMA Nunca engasgou numa fala?

SANDY Só uma vez, foi muito engraçado. Fiz o mesmo pedacinho da cena umas sete vezes porque eu enroscava na dicção. Eram muitas palavras parecidas juntas, repetindo o mesmo som...

UMA Como você aprendeu a dar o chamado beijo técnico?

SANDY  Vamos ser bem diretas: eu só sabia que era um beijo sem língua [risos]. Eu não sei bem como aprendi. Eu via, na televisão, que parecia um beijo de verdade. E peguei prá ver um filme que tinha um monte de beijos técnicos.

UMA Um treinamento em vídeo?

SANDY É, aquele filme, Cinema Paradoxo [do diretor italiano Giuseppe Tornatore, 1988], que tem um monte de beijos famosos do cinema. Então, eu via que era assim [mostra rindo], com a boca meio abertinha, sem língua. Eu só copiei.

UMA Mas ninguém te deu umas dicas, alguma orientação?

SANDY Não, ninguém. Foi muito na sorte. A gente [Sandy e o ator Guilherme Fontes que fazia seu par romântico] não combinava nada, não ensaiava o beijo. Só fazia a marcação de cena, aonde ia a minha mão, e a mão dele nas minhas costas... Tudo marcado, tudo. E a gente tem que fazer parecer o mais natural possível. É muito legal. Por isso é que as pessoas duvidam, tipo: "Ah, mas não sente nada?"

UMA Ah, e não sente nada mesmo?

SANDY [Risos] Não dá nem para pensar no beijo porque você está ali fazendo um monte de coisa ao mesmo tempo. Eu tinha que me preocupar por estar usando um salto enorme num carpete, podia tropeçar a qualquer momento, entende? A gente tinha que se posicionar prá câmera, prá luz... São muitos detalhes técnicos.

UMA Você se considera boa atriz?

SANDY Eu acho que ainda estou aprendendo, sou superiniciante nessa área. Eu não fiz nenhum curso até agora. Fazer novela era um sonho que eu tinha desde pequena. Lógico que cantar sempre foi o que eu mais quis, achava que tinha nascido para isso, eu precisava cantar, entende? Mas ser atriz... Ah, eu tinha a maior vontade! Sou viciada em cinema, alugo muitos vídeos, presto atenção prá ver como é que é.

UMA A turma do Casseta & Planeta quis fazer uma brincadeira com a sua personagem em Estrela Guia e foram impedidos. Por que a censura? O que aconteceu? 

SANDY Ah... Aquilo foi uma bobagem. A gente ficou sabendo que o nome que eles iriam dar para o quadro do programa era "Estrela Virgem". E vieram consultar a gente, falar sobre como seria o quadro.

UMA Quem veio falar com vocês?

SANDY Alguém da Globo, não me lembro. Aí, falei: "Pô, espera aí! Tudo bem querer fazer uma sátira em cima da novela, da personagem, acho superengraçado, superlegal, eu adoro as sátiras que eles fazem no programa. Mas mexer com uma coisa pessoal, uma coisa minha? Não dá...

UMA Qual o problema? Não era apenas uma piada, uma brincadeira?

SANDY Imitar a minha atuação, a minha personagem, tudo bem. Agora, falar da minha vida pessoal na tevê... Eu disse que não queria esse título, eles trocaram e tudo acabou numa boa. Mas a imprensa tem que criar caso, falar que a gente proibiu...

UMA Mas não foi isso mesmo o que aconteceu no final das contas?

SANDY [Firme] A gente trabalha na mesma casa, [a Globo] é a casa deles e é a minha também. Vou colocar uma coisa que eu não gosto na minha casa?!

UMA Sobrou algum mal-estar entre você e a equipe do Casseta e Planeta?

SANDY Não, não... Eu curto o programa deles. Uma vez, fizemos um quadro no Casseta, eu e o Junior, como se fôssemos velhinhos, no futuro, cantando juntos. E foi Superengraçado. O Hubert leva os filhos dele aos nossos shows, não tem problema nenhum entre a gente.

UMA Alguém já tirou você do sério?

SANDY Não, nunca.

UMA Nunca brigou com ninguém?

SANDY  Sou uma menina comportada, responsável, que tem juízo. Nunca fiz nada que fosse contra isso.

UMA  Nunca um fã mais atirado tomou liberdade a passou a mão?

SANDY [ Se espanta.] Não, nunca!

UMA Mas houve aquela história de que você estava sendo vigiada com um binóculo, na sua casa. É verdade?

SANDY [cuidadosa] Não é que ele estava vigiando...

NOELY [Novamente a mãe de Sandy interrompe a entrevista] Ele ligou para nossa casa dizendo que queria falar com a Sandy e o Junior. Já era bem tarde. Aí, quando a empregada disse que eles estavam indo dormir, o cara falou: "É mentira, porque eu tô olhando de binóculo e sei que eles estão na sala de tevê". Sabia até a sala que a Sandy e o Junior estavam.

SANDY Eu fiquei aborrecida, preocupada. Pensei: "Pelo amor de Deus, que é isso? Não tenho liberdade nem dentro da minha casa, num condomínio fechado?!" É complicado, é muito chato isso.

NOELY Já aconteceu também de um fã se esconder no nosso camarim e ficar lá, durante quatro horas, debaixo da mesa com salgadinhos, sem ninguém saber.

UMA Esse fã passou pela segurança? Quando aconteceu essa invasão?

SANDY No finalzinho do ano passado, antes de um show em Brasília.

NOELY A Sandy foi para a mesa pegar uma fruta e viu uma foto no chão.

SANDY Uma foto que eu, quando entrei no camarim, não tinha visto. Foto minha, saída de um show, enrolada numa toalha.

NOELY E, atrás da foto, estava escrito: "Sou apaixonado por você, esta é a única foto que eu consegui tirar de você". Guardei a foto – a gente guarda tudo o que eles recebem – e ficamos conversando dentro do camarim por algumas horas. Assuntos da gente. A Sandy foi para o outro camarim, atendeu todos os fãs e voltou para ficar com a gente. Aí falei: "Chama o Ju para se trocar, que vai começar o show". O Ju entrou no banheiro e a Sandy falou: "Vou me trocar". Quando ela começou a tirar a roupa, o moço saiu debaixo da mesa e disse: "Não! Não tira, não, que eu estou aqui!"

SANDY Ainda bem que ele teve um... sei lá! [Risos] A gente nem tinha percebido.

NOELY O rapaz tinha 1,90 metro mais ou menos, não era molequinho, não!

SANDY É, tinha uns 20 anos.

UMA E o que vocês fizeram?

NOELY
Nós nos assustamos, claro. Ficamos eu e a Sandy no camarim, com aquele moço lá na nossa frente... Aí, ele falou que queria tirar uma foto. Peguei a máquina dele: "Tá bom, eu tiro a foto".[Risos.]

UMA E vocês ficaram com medo?

SANDY Lógico! Na foto, saí com uma cara assim [Imita a cara de susto].

UMA Como acabou essa história?

NOELY Alguém entrou, estranhou o cara, os seguranças viram, perguntaram se estava tudo bem. Aí, a Sandy acabou de atendê-lo, autografou o CD, a foto, o Junior saiu do banheiro, ficou olhando meio assim, sabe? Pedi para checarem o fone de ouvido que o moço tinha – pra mim, ele havia dito que era do celular. Mas era um gravador. Tinha quase quatro horas de da nossa conversa, tinha várias fitas.

UMA O que fizeram com as fitas?

SANDY Ah, tiraram as fitas dele.

NOELY Teve um dia também que, em que estávamos no carro eu, a Sandy, o Junior e a Marili [Siqueira, 33 anos, assistente da Sandy], tipo uma van grande, com motorista, indo para o aeroporto. De repente, a Marili fala: "Noely, tem alguma coisa se mexendo ali atrás". Olhamos atrás dos cabides, nada. Continuamos a viagem, mas o Junior falava: "Mãe, tenho certeza de que tem coisa lá trás, tem gente aqui dentro do carro". Já fiquei meio tensa, né? Quando chegamos, abriram a porta traseira... e tinha três crianças escondidas!

SANDY [Sorrindo.] Três criancinhas, dois meninos e uma menina, de 5 ou 6 aninhos!

UMA Como elas foram parar ali?

NOELY O pai, que era o motorista, escondeu as crianças no carro da gente.

SANDY E elas ficaram escondidas embaixo do banco, das nossas coisas. Tadinhos... O que a gente podia fazer? A gente deu beijinho, autógrafo e pronto.

UMA E nem isso tira você do sério?

SANDY Não. Mas assusta, claro.

NOELY [Animadíssima] Um dia, a gente estava num hotel e o Junior jantou com a gente – sempre ficamos eu e a Sandy em um quarto, o Junior em outro. No que ele foi dormir tinha três moças, de 20 e poucos anos, escondidas no corredor para agarrar o Junior. Queriam entrar no quarto dele! Aí, ele deu beijinhos e falou: "Não, no meu quarto não dá..."

UMA Dona Noely, desse jeito eu acho que vou entrevistar a senhora...

NOELY [Rindo.] Ai, desculpa... Foi só para lembrar com mais detalhes para a Sandy. Faz de conta que foi ela quem falou.

UMA Então, vamos continuar, Sandy: você acha que sucesso vicia?

SANDY Ser artista vicia. 

UMA E você não tem medo de acontecer uma overdose?

SANDY Se fosse para ter, já teria acontecido. Até porque agora a gente está na fase mais pauleira de todas, a mais cheia de coisas para fazer. Mesmo assim, tô adorando. Nem por um segundo passa pela minha cabeça parar com o meu trabalho.

UMA Tem vezes em que dá solidão?

SANDY  [Pausa] Acho que nunca me senti sozinha. Às vezes, eu até gosto de ficar sozinha um pouco. Curto uns momentos assim, meios melancólicos, no meu quartinho. Não sou uma pessoa melancólica, mas às vezes curto ficar só e pensar na minha vida. Nessas horas de reflexão é que eu componho mais.

UMA  Seu repertório é muito romântico. Você se apaixona fácil?

SANDY É muito mais fácil compor quando a gente está apaixonada. Eu sou apaixonada, [enfática] sou, e não estou. É o meu estado natural, sabe? Eu me considero uma pessoa apaixonada mesmo não estando com um homem, um menino, alguém.

UMA Você tem amores platônicos?

SANDY Não. Para falar a verdade, só tive um amor platônico, na escola. Fiquei quase um ano apaixonada, na oitava série. Superapaixonada! Só que não aconteceu nada.

UMA Que pena. Ele não percebeu?

SANDY  Acho que ele percebia, mas faltou coragem pra chegar e falar comigo. Os meninos que não me conhecem tem coragem de mandar cartas, fazer declarações de amor, mandar flores. Se declaram, falam que querem ficar comigo...

UMA Mas esses são seus fãs, não?

SANDY São fãs, garotos que não me conhecem. Já os que conhecem... Não sei, deve ser algum tipo de respeito que eu imponho sem querer, alguma coisa que não deixa os meninos se aproximarem de mim. Parece que dá uma intimidada, sabe? Me acham muito séria! [Risos] É verdade.

UMA Li em algum lugar que você detesta quando te chamam de "santinha".

SANDY Para mim, "santinha" é uma pessoa que não é humana, é fora do normal. Parece uma coisa intocável, de porcelana. Eu não! Sou humana, gosto de sair com minhas amigas, passear, me divertir, trabalhar. Eu namoro, dou beijo na boca. Sou um ser humano que fica cansado, dorme no avião, vai ao banheiro... tudo! Então, é isso o que eu quero que as pessoas entendam: sou uma pessoa normal. Já chegou gente que olhou para mim e falou: "Ah, é de verdade!"

UMA Como assim, "de verdade"?

SANDY Tipo: "Você não é boneca? [Apalpa a mão da repórter, de leve...] Deixa ver..." Quando eu estava gravando a novela, numa locação externa, um dia precisei usar o banheiro e uma mulher falou: "Ah, que pena que eu não guardei o xixi dela para vender depois..." [Risos.]

UMA E como você se sente quando te acham uma coitadinha, uma criança explorada pelo show business, sempre cercada pelos pais?

SANDY Olha, eu não sou coitadinha porque eu não sou presa por ninguém. Meus pais cumprem as obrigações deles, de pais, entendeu? Estão sempre do meu lado porque eu preciso. Me dão apoio, tomam conta da minha carreira. Vão às gravações para ver o que está acontecendo, se está tudo certo, se eu preciso de alguma coisa...

UMA  Seus pais acompanham você em todos os seus trabalhos?

SANDY É para dar uma assessoria, uma força. [Rápida, aborrecida] E parece que eles estão lá só prá me vigiar, me prender! Não! Eu gosto da presença deles, não me sinto assim... [Pausa] Sei lá, as pessoas têm mania de falar que meus pais não me deixam namorar, que não me deixam sair, não deixam fazer nada. Deixam sim! Faço tudo o que uma adolescente normal faz. [Pausa] Algumas coisas, né? O que dá, eu faço.

UMA  Uma adolescente normal não anda com seguranças. Quantos acompanham você no dia-a-dia?

SANDY Comigo andam dois. Eu preciso, é difícil sair na rua. Mas vou ao cinema com minhas amigas, por exemplo.

UMA Os seguranças também vão?

SANDY Sempre com os seguranças atrás, sem que seja a 10 metros de distância. Eu entro na hora em que o filme já está começando e saio assim que termina – senão, não consigo nem andar, é muita gente.

UMA Você consegue fazer compras?

SANDY É complicado. Se quero uma roupa, tem a nossa produtora de moda. Peço e ela vai atrás. Aí, ela traz as opções, eu escolho e compro. Mas, lá fora levo uma vida normal. Arrumei uma amiga em Los Angeles [na Califórnia, Estados Unidos] e nós fomos ao cinema sozinhas! [Animada.] Depois entramos numa livraria, ficamos andando, conversamos a noite toda.

UMA Pelo seu entusiasmo, isso deve ser coisa raríssima na sua vida.

SANDY [Lembra mais animada ainda] Ah, e uma vez que eu me perdi em Roma! Era um point da galera, acho que a Via Del Corso, não sei direito. Saí de uma loja em que estava com meus pais, fui buscar uma encomenda que tinha feito em outra loja e, na volta, me perdi porque a rua ficou lotada de adolescentes meio loucos, com uns cabelos esquisitos, cheios de brincos, unhas pintadas de preto... E tinha também uns italianos atrevidos que ficavam me cutucando, me chamando de carina, que significa "linda". Mas eu adorei! A-do-rei ter me perdido! Fiquei completamente vulnerável, sozinha... Como estava com o rádio [de comunicação], consegui falar com uma pessoa que me levou à minha mãe. [Radiante.] Mas fiquei quase uma hora perdida em Roma. Foi o máximo, uma delícia!

UMA Aqui, no Brasil, você usou disfarces para poder sair na rua?

SANDY  Uma vez pensei nisso, quando quis ir ao Playcenter. Mas não fui. Nem no [parque aquático] Wet’n’Wild. Nesse vai ser difícil me disfarçar, vai molhar tudo, né?

UMA Mas como você se disfarçaria?

SANDY Ah, já apareci muito com perucas e olho azul, as pessoas iam me reconhecer. Então, acho que teria que me disfarçar de homem.

UMA Que tipo de homem seria: clássico, mauricinho ou mais básico?

SANDY [Rindo.] Ia ser tipo básico, com uma bermuda bem larga, embaixo do joelho, uma sandália daquelas que homem usa, uma camiseta larga, um boné... Mas é complicado, as pessoas acabam me reconhecendo pelo sorriso.

UMA Põe uma latinha de cerveja no bolso da bermuda que ninguém vai te reconhecer!

SANDY [Sorri amarelo.] Olha aí, isso é outra coisa que as pessoas falam [irônica]: "Ai, ela não bebe, não vai a festas, é muito comportadinha" e não sei o quê. Tudo bem, comportada eu até posso ser. Não bebo mesmo, não fumo, não tenho vergonha de assumir que nunca experimentei drogas. E nem quero experimentar.

UMA Já te ofereceram droga?

SANDY Não. Mas já experimentei cigarro. Na frente da minha mãe. Ninguém fuma lá em casa, só a minha avó, mas ela parou. Mas minha mãe contou que experimentou na frente da mãe dela e disse: "Se um dia você quiser saber como é cigarro, experimente na minha frente, não quero que faça isso escondido". Falei: "Tá bom".

UMA Difícil imaginar você fumando. O que achou da experiência?

SANDY  Não gostei, não. Cuspi na hora. Tomava água, coca-cola, escovava os dentes, mas nada tirava aquele gosto horrível. Nem traguei, mas não quis mais.

UMA Você cresceu em cima dos palcos e embaixo de holofotes. Será que ficou faltando você curtir a infância?

SANDY Eu acho que não. Porque a gente sente mais falta de uma coisa que tinha e depois perdeu, né? Eu não sinto falta de sair na rua porque eu nunca fui de brincar na rua de pega-pega, jogar futebol ou qualquer coisa assim que as outras crianças faziam. Eu não podia fazer tanta coisa mais além do que faço agora. Nunca saí pra comprar pipoca na frente de casa.

UMA É mesmo? E o que você fazia se quisesse comer pipoca?

SANDY Eu não tinha vontade também, não me fazia falta. Eu encontrava as minhas amiguinhas, fazia lanche à tarde, via filminhos, passava a noite na casa de uma prima... essas coisas. Então, dentro do que eu podia, vivi uma infância supernormal. E como também já era filha de artista...

UMA Ser filha de artista é que faz diferença para levar uma vida comum?

SANDY Na escola, eu era "a filha do Xororó". Aonde eu ia, se não tinha artista por perto, eu era o centro das atenções por ser filha do Xororó. Eu e meu irmão. Então, já estava mais ou menos acostumada. A diferença é que o assédio se voltou completamente prá gente nos últimos anos.

UMA É verdade que, no colegial, você tinha que se fechar numa sala, separada dos outros alunos, no intervalo das aulas?

SANDY O pessoal que convivia com a gente achava tudo normal, mas nosso sucesso foi aumentando e os outros alunos vinham pedir autógrafos, queriam tirar fotos, os funcionários traziam a família para conhecer a gente... Então, às vezes, eu passava o horário do lanche na sala da orientadora recebendo as pessoas.

UMA Ah, era um lugar para você receber melhor os seus fãs na escola?

SANDY Era isso. Mas foi só nos últimos dois anos. Sabiam que eu ia me formar e que eu ia sair da escola, não me veriam mais.

UMA Com que idade você começou a fazer shows e a gravar discos?

SANDY Comecei com 8 anos

UMA E quando acontecia uma dor de dente, uma febre? Cancelava tudo?

SANDY Não tem jeito, você tem que fazer o show. Já cheguei a cantar com virose, que dá febre. Isso aconteceu várias vezes. Lembro que eu tinha uns 10 anos e tinha passado mal o dia inteiro. Mas, à noite, estava pronta para o show. Parece que, na hora, passa tudo. Depois, da uma caidinha de novo, mas tudo bem. 

UMA Honestamente: em nenhum momento você se revoltou contra isso? 

SANDY Não! Eu ficava triste era de fazer o show naquele estado. A gente termina com a sensação de missão cumprida, mas parece que a gente não fez direito, não deu o máximo que podia dar. Meu irmão já fez shows com pneumonia, e nem sabia que estava doente. Antes do Rock in Rio III, eu tava com uma unha encravada e fui a uma pedólogo, lá em Los Angeles, que arrancou um pedaço da minha unha. Ele disse que só assim eu poderia fazer o Rock in Rio. Estava inflamadérrimo, eu nem podia por o pé no chão, mas pus uma pomada anestésica, agüentei o choro e, quando subi no palco, esqueci da unha, esqueci de tudo. É assim. Todo artista é assim.

UMA Você nunca pensou em dizer: "Chega, vou dar um tempo!"?

SANDY Meus pais é que ficavam mal. Falavam: "Vocês tem certeza de que não querem parar? Olha quando vocês ficam doentes, com tanto sofrimento. Vocês não estão cansados?" Até na hora de assinar o contrato com a gravadora eles perguntaram se a gente queria mesmo renovar. Quando a gente soube que era por um ano, falou: " Ai, só um ano?!"

UMA Você é maníaca por trabalho!

SANDY Só quem é artista pode entender o que é a recompensa, o que é estar no palco, poder cantar para 25 mil pessoas batendo palmas para você... Não é demagogia, não: e uma coisa que preenche o coração.

UMA O coração e o bolso. Você sabe quanto dinheiro tem guardado? Aliás, você administra o seu patrimônio?

SANDY Antigamente, quando eu e o Junior éramos crianças, meus pais só falavam: "Vocês ganharam tanto, tá? A gente vai cuidar direitinho." Agora, passamos a entender mais essas coisas, somos informados. E eles falam: "Vocês têm tantas cabeças de gado na fazenda tal. Vamos fazer um lago ali, o que vocês acham? Porque o dinheiro para isso vai sair também de vocês. Querem pagar por isso aqui ou não?"

UMA É um sistema de cooperativa?

SANDY Mais ou menos. A gente tem uma fazenda no Mato Grosso, com o nosso pai, e o nosso gado fica lá.

UMA  Quantas cabeças de gado você já conseguiu juntar nessa fazenda?

SANDY Ih, nem sei te dizer. Acho que... [pausa] umas 7 mil, por ai. Não sei com certeza, tá misturado com o que é do nosso pai. Não sei exatamente o que é nosso.

UMA Quer dizer que o rendimento da família fica todo misturado?

SANDY Não, é separado. Nosso dinheiro é nosso. Meus pais compram, com o nosso dinheiro, o tanto de gado que dá para comprar. Mas meu pai explica assim: "A gente vai fazer uma obra que é supercara, mas que é mais do interesse de vocês do que nosso, então vamos fazer junto. Eu pago tantos por cento e vocês, tantos por cento."

UMA Qual o percentual desses negócios e investimentos?

SANDY Geralmente dividimos, 50%.

UMA Você tem o seu talão de cheques?

SANDY  Tenho.

UMA Você sabe quanto tem na sua conta hoje?

SANDY Não. E nem gasto demais – compro mais quando vou para os Estados Unidos. [Enfática.] Ai, gasto, gasto, gasto... [Risos.] Gosto de comprar cosméticos, sou doida por maquiagem. E por perfumes, tenho vários – mas não vou falar qual é o meu preferido porque eu não quero que ninguém copie [risos].

UMA Que mais você gosta de comprar nos Estados Unidos?

SANDY Lingerie. Mais sutiã. Escolho aqueles básicos, que não marcam a roupa. Agora, aqui, eu nem tenho tempo para usar o meu cartão de crédito.

UMA Você faz a sua própria declaração de imposto de renda?

SANDY  Faço. Não faço eu mesma, claro, mas sei que declaro desde que a gente começou, desde os 8 anos.

UMA Você já viu uma declaração de imposto de renda sua?

SANDY [Rindo.] Não, nunca vi. Mas tá tudo bem porque quem cuida disso são os nossos pais e o Cacá, um primo. Tem muita gente confiável cuidando disso.

UMA O que você faz nas horas vagas? Se é que você tem horas vagas...

SANDY Quando estou em casa, é para relaxar mesmo. Fico ouvindo musica ou assistindo a um filme. Ou compondo com o meu irmão, cantando junto. 

UMA Mas isso é o seu trabalho. Você não faz coisas diferentes? Sua mãe, por exemplo, não te ensina a cozinhar ou alguma outra tarefa doméstica? 

SANDY Nada, nada! Quando a gente ia pro apartamento que tinha em Miami [na Flórida, Estados Unidos], não tinha ninguém para fazer isso pra gente. Então, eu preparava o café da manhã, o Junior tirava a mesa, minha mãe ou minha avó faziam o almoço. Eu fazia o arroz – alias, todo mundo gostava do meu arroz.

UMA Qual o seu segredo culinário?

SANDY Aquela panela que a gente coloca os temperos e ela cozinha sozinha [risos]. E ajudava também com algumas coisa basiquinhas: tirava o pó, meu irmão passava o aspirador, minha mãe limpava o banheiro, meu pai arrumava as camas...

UMA Voltando ao lazer: você não tem nenhum hobby, um passatempo?

SANDY [Pausa.] Eu gostava de pintar telas. Com tinta a óleo. Mas nunca consegui fazer direito desenho abstrato, que adoro. [Pausa.] Que mais...? Adoro ler. Gosto muito do [escritor, dramaturgo e polemista homossexual inglês] Oscar Wilde, li O Retrato de Dorian Gray e quero ler mais. Gosto muito do Paulo Coelho também. Agora, tô lendo um ótimo da [americana] Anne Rice, O Vampiro Lestat.

UMA E de música, o que você curte em casa? Você tem ídolos?

SANDY Ah, já dei uma de tiete também. Fui no camarim do Caldeirão do Huck só pra ver o Ricky Martin, tirar foto com ele, essas coisas. E fui ao programa da Hebe ver a cantora Mariah Carey. Eu nem podia aparecer no SBT, sou contratada da Globo, né? Mas fui ao camarim, pedi um autógrafo e ainda fiquei no fundo da platéia. Aí, a Hebe falou: "Vem aqui, larga a mão. Deixa a Globo pensar o que quiser". E eu: "Oba!" Fiquei sentada na primeira cadeira, curtindo o programa.

UMA Antes de irem para a Globo, você e seu irmão receberam um convite do SBT. A Globo cobriu a oferta?

SANDY Não. A gente pensou nos prós e contras, no que seria melhor prá carreira da gente naquele momento, e acabou aceitando a proposta da Globo.

UMA Quem te ajuda a tomar esse tipo de decisão? O empresário?

SANDY É assim: nossos pais correm atrás das coisas, das oportunidades, pesquisam. Aí, chegam pra gente e dizem: "Olha, se vocês forem para Globo, vão receber tanto, vai acontecer isso e isso. A gente não quer influenciar vocês, mas a gente acha melhor isto e isto aqui. Qual a opinião de vocês?" Assim, a gente resolve tudo junto.

UMA Você nunca foi contra uma sugestão dos seus pais, nunca se rebelou?

SANDY Eu confio demais neles.

UMA Você e sua mãe são muito parecidas. Ela é o seu modelo de mulher?

SANDY É sim. Quando eu era pequena, achava que tudo o que ela fazia era perfeito. Eu queria ser como ela. Eu olhava pra mão dela... [Pausa.] Interessante a gente falar disso porque contei prá ela faz pouco tempo. Mas me lembro que eu brincava no parquinho da escola e chegava em casa com a unha toda suja de areia. Aí, olhava para a mão da minha mãe, com esmalte branquinho, tudo bonitinho, tudo limpinho... Aí, eu já limpava a minha também. Via ela se maquiando e ia lá, pegava um batom, fazia o cabelo. Sempre foi assim.

UMA E essa identificação continua?

SANDY Continua, mas agora a gente conversa de igual para igual, como amiga. [Olha para a mãe.] Mas não vou falar muito se não ela vai ficar muito metida [risos].

UMA Como é que você compõe tantas canções que acabam virando sucesso?

SANDY  Não tem muita explicação. Por exemplo, a musica Na Boa e Sem Chorar. Eu estava nos Estados Unidos, com o inglês na cabeça, e fui tomar banho. Tava lá [faz os gestos do banho] quando começou a vir uma melodia. Acabei de tomar banho, me vesti e chamei o Ju. Disse: "Olha que legal", e cantei a música para ele. O Junior gostou e disse: "Quando tiver um violão na mão, já vou fazer uma harmonia para ela". A gente foi trabalhando na música aos poucos e só terminou, com o último refrão, no camarim do prêmio Multishow, no ano passado. É assim que a gente costuma trabalhar.

UMA Você escreve a letra e a música, trabalha com algum instrumento?

SANDY Não, eu escrevo a letra e canto a melodia, o Junior guarda, faz a harmonia – assim, se eu esquecer, dá pra lembrar depois.

UMA E como foi que você desenvolveu essa técnica? Seu pai ensinou?

SANDY Não, saiu assim. É uma coisa estranha. Acho que é um dom mesmo.

UMA Mesmo com todo o sucesso e com toda a mídia, ainda tem gente que considera o seu estilo de música brega, piegas. O que você responde quando dizem isso?

SANDY Nunca me falam isso diretamente, então nunca tive de responder a ninguém. Não sei o que eu falaria. [Pausa] Acho que diria algo do tipo: "Se a sua opinião é essa, ótimo – você deveria guardar para você!" 

 

 

REPORTAGEM: ALESSANDRA PORRO / FOTO: J.R. DURAN

fonte: Revista UMA

Outubro de 2001

 

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