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ELETRICIDADE ANIMAL



(Torpedo)

Qs povos da Antigüidade conheciam bem certos tipos de bagres, raias e enguias, dotados de um temível poder: segurá-los ou apenas estar próximo deles na água podia causar doloridas contrações musculares, mal-estar súbito, perda dos sentidos e, para pequenos animais, até mesmo a morte. No caso de algumas doenças, os médicos receitavam ao paciente um contato com estes peixes. Faziam-no sem desconfiar que o espasmo provocado era um fenômeno de natureza semelhante ao raio celeste.
Apenas no século XVIII, os estudiosos da eletricidade começaram a suspeitar que os choques provocados pela garrafa de Leyden pareciam-se muito com os causados pelos peixes. Com as primeiras provas experimentais a certeza logo se espalhou: havia, de fato, animais que produziam espontaneamente "fluido elétrico"! Faraday demonstrou isso de forma cabal ao medir a corrente dos animais com um galvanômetro.
Mas onde se originava essa eletricidade animal? De um órgão especial - formado por um grupo de músculos (diferente para cada espécie) chamados eletroplacas - que, em vez de se contrair, produziam eletricidade.

(À direita uma pilha de eletroplacas com seus nervos de comando.
À esquerda, as mesmas eletroplacas em funcionamento)

Com o aperfeiçoamento dos aparelhos de medição, descobriu-se que, na realidade, todas as células vivas, animais ou vegetais, produzem quantidades mínimas de eletricidade. Mas os músculos evoluídos dos peixes elétricos produzem milhões ou bilhões de vezes mais eletricidade que os músculos normais. Estes órgãos evoluíram para ser, de fato, pilhas químicas vivas.
Quando o peixe quer dar uma descarga, seu cérebro envia uma ordem às eletroplacas, através de um nervo ramificado. Assim que a ordem nervosa chega às eletroplacas, uma substância química, o ATP (Adenosin Trifosfórico) se decompõe, permitindo a libertação de uma enormidade de elétrons livres que fluem como uma corrente para fora do animal.
Em certas espécies animais esses órgãos elétricos são formados por 200 eletroplacas, em outras por 160.000 e representam entre 1/6 e 1/4 do seu peso total. As descargas emitidas são de altatensão. O poraquê da Amazônia (Electrophorus electricus), com suas 800 eletroplacas, gera uma descarga de até 800 Volts.

Só existem animais elétricos em ambiente aquático - o que é fácil de entender. As águas dos rios e dos mares sempre possuem alguns sais dissolvidos. Por isso são bons condutores de eletricidade. Mesmo a um metro de distância, é possível levar um choque de um poraquê. Já o ar atmosférico é um mau condutor: o poraquê fora d'água só dará um choque se encostarmos a mão diretamente em sua pele.
De modo geral, os peixes elétricos são quase todos lerdos e dependem de sua descarga para caçar e se defender. Eles próprios são pouco sensíveis à eletricidade. Mesmo entre os seres humanos há os que resistem melhor à descarga elétrica que outros. Conhece-se um pequeno número de pessoas que receberam descargas mortais sem sofrer dano algum. Não temos, entretanto, nenhuma explicação para esse fenômeno.


(Raia)

Animais que se orientam magneticamente
Na realidade, os peixes ditos elétricos são também eletromagnéticos. Muitos deles emitem uma leve pulsação elétrica permanente, acompanhada pela produção de um campo magnético à sua volta - exatamente como aquele que se forma em torno de um fio pelo qual corre eletricidade.
Quando algum objeto interfere neste campo, o peixe o detecta como se estivesse usando um localizador magnético. Assim que esta propriedade foi descoberta, os eletrofisiologistas se perguntaram: se existem animais capazes de perceber o campo magnético criado por eles próprios ou por outros, não haverá também espécies que consigam perceber o fraquíssimo campo magnético terrestre, assim como faz a bússola?
Aves e tartarugas se lançam em migrações de um hemisfério a outro do planeta e não erram seu objetivo. Esses animais não teriam se tornado pela refinada capacidade de detectar campos magnéticos - verdadeiras bússolas vivas?
Testes realizados com pombos e pintarroxos indicaram que estas aves conseguem, de fato, orientar-se pelo campo magnético terrestre: um minúsculo imã atado à cabeça de uma ave jovem desorienta-a por completo enquanto seu bando segue caminho. Isso parece sugerir que o ímã (bem mais potente que o campo magnético terrestre) interfere no centro de orientação do cérebro da ave colocando-a na situação do piloto cuja bússola a "pirou" com uma tempestade magnética.
Mas se prendermos o mesmo ímã na cabeça de um ave velha, esta se verá bem menos atrapalhada! Os animais velhos decoraram o caminho e possuem um mapa visual em sua memória que lhes permite dispensar a bússola magnética. Ainda hoje não se tem idéia sobre o lugar do cérebro animal em que se localiza este sensor magnético nem de como ele funciona.
A propriedade de perceber campos magnéticos não é exclusiva de peixes e aves. O ornitorrinco, um mamífero primitivo com bico de pato e simpático habitante de lagos e rios, que vive da pesca de peixes, também a possui. Os músculos dos peixes (como de qualquer animal), ao se contraírem, produzem pequeníssimas cargas elétricas associadas aos seus campos magnéticos.
Se o ornitorrinco for colocado num aquário de olhos vendados, ele confundirá pilhas elétricas de bolso com os peixes dos quais se alimenta. Qualquer pilha colocada n'água começa a libertar uma corrente elétrica, devido ao contato que a água estabelece entre seus dois pólos. Esta corrente cria um campo magnético tênue à sua volta. Por razões desconhecidas, o ornitorrinco parece percebê-los.
Desconfia-se que as grandes tartarugas oceânicas que vivem nas costas do Brasil sejam o caso mais espetacular das bússolas vivas. Anualmente, estes grandes animais partem de nossas costas e dois ou três meses depois se reúnem para o acasalamento numa ilhota perdida no meio do Oceano Atlântico os rochedos de São Pedro e São Paulo.
Ninguém sabe como elas conseguem realizar esta façanha, já que nadam debaixo d'água, sem poder observar as estrelas (como fazem sabidamente muitas aves migradoras). Nadam durante milhares de quilômetros enxergando apenas alguns metros de água à sua volta, num ambiente uniforme, sem pontos de referência. E, no entanto, terminam sua viagem acertando com exatidão aquele ponto perdido no oceano. Não seriam as tartarugas brasileiras as mais fantásticas bússolas Vivas?
(Texto adaptado de O Mundo da Eletricidade, Ottaviano de Fiore)

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