Um padre  incomum : inteligente e iluminado . . .
 

No final do século 19, em São Paulo, um homem já falava (antes de Marconi) a quilômetros de distância sem usar fio algum. Genial cientista e inventor, o padre Landell de Moura pesquisou também a aura humana, chegando a conclusões que  hoje são comprovadas pela parapsicologia.

Corria o ano de 1894. o padre gaúcho Roberto Landell de Moura, vigário em Campinas, São Paulo, viajou para a capital levando com ele embrulhos contendo as peças de um aparelho que inventara. Segundo o padre garantia, a invenção lhe permitiria falar com outra pessoa, colocada a quilômetros de distância, sem que nenhum fio fosse necessário. "E um impostor, um mentiroso, um mistificador", diziam uns. "E um padre renegado, que tem parte com o demônio', afirmavam outros.

A fama do sacerdote não era mesmo das melhores. Pouco antes, ele havia escandalizado os fiéis de sua paróquia com o seguinte postulado: "Dai-me um movimento vibratório tão extenso quanto a distância que nos separa desses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça, ou sob nossos pés, e eu farei chegar minha voz até lá".

Um ministro de Deus insinuando a pluralidade dos mundos habitados, com os quais se poderia falar? Não era possível.

O padre Landell de Moura, entretanto, postou-se no alto da Avenida Paulista e sua voz foi ouvida em Santana, a oito quilômetros de distância, como ele anunciara.

Um telefone sem fio, um ano antes da primeira experiência realizada por Guilherme Marconi, em 1895? Era impossível. Só se o padre estivesse mesmo possuído pelo demonio, conforme se dizia.

De volta a Campinas, Landell sor-ria dos disparates e acusações em relação a sua pessoa. Parou de sorrir dois dias depois, quando encontrou a porta da casa paroquial arrombada. Ladrões? Antes tivessem sido. O que ali acontecera parecia coisa da Inquisição, da Idade Média. Quando chegou a Campinas a notícia de que o padre havia conseguido, através de sua "máquina infernal", conversar com pessoas a quilômetros de distância, um bando de fiéis desvairados invadiu seu modesto laboratório e destruiu aparelhos e ferramentas.

Os amigos o aconselhavam a deixar a batina e dedicar-se exclusivamente à ciência. Mas Landell se recusava:

—         Quero mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é inimiga da ciência e ôo progresso humano. Indivíduos, na Igreja, podem, neste ou naquele caso, haver-se oposto a esta verdade; mas fizeram-no por cegueira. A verdadeira fé católica não a nega. Embora me tenham acusado de participante com o diabo e interrompido meus estudos pela destruição dos meus aparelhos, hei de sem-pre afirmar: isto é assim, e não pode ser de outro modo... Só agora compreendo Galileu exclamando: Eppur si muove!

Com a colaboração de uns poucos, Landell reconstruiu a aparelhagem e retomou o trabalho. Lutando contra toda sorte de dificuldades, obteve — em 1900 — o primeiro éxim: uma patente brasileira, sob o número 3279, expressamente concedida "para um aparelho apropriado It transmissão da palavra a distância, com ou sem fios, através do espaço, da terra e a água".

Não foi essa, entretanto, a única invenção de Landell. Em carta ao cônsul inglês em São Paulo, publicada pelo Jornal do Comércio a 16 de junho de 1900, dizia o padre:

"Conquanto sejam muitos os aparelhos que tenho imaginado para demonstrar algumas leis, em parte des-conhecidas pelo mundo científico, as quais foram por mim descobertas no estudo da propagação do som, da luz e da eletricidade, através do espaço, da terra e do elemento aquoso, todavia, por falta de recursos e de bons mecânicos de minha inteira confiança, apenas cinco serão exibidos, a saber: o telaaxiojono, o caleofono, o anematofono, o teletiton e o edifono, todos deduzidos, como tantos corolários, das leis supracitadas".

Que leis, afinal, o padre Landell descobriu?

Quando estudava em Roma — onde se ordenou sacerdote em 1886, e onde também estudou física e química, matérias que o fascinavam des-de criança — Landell escreveu os primeiros capítulos de sua teoria sobre "Unidade das Forças Físicas e a Harmonia do Universo", um trabalho ainda de principiante. Foi só em Campinas, anos mais tarde, que Landell conseguiu dar forma definitiva às teorias sobre os movimentos vibratórios, deixando o seguinte principio: "Todo movimento vibratório que até hoje, como no futuro, pode ser transmitido através de um condutor, poderá ser transmitido através de um feixe luminoso; e, por esse mesmo fato, poderá ser transmitido sem o concurso desse agente".

Dai, Landell deduziu a seguinte lei: "Todo movimento vibratório tende a transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e uniformidade de seus movimentos ondulatórios, e na razão inversa dos obstáculos que se opuseram à sua marcha e produção".

E não parou por aí, formulando ainda o audacioso postulado sobre a possibilidade de levar sua voz a "outros mundos". Depois disso, Landell viu-se obrigado a deixar o Brasil e partir para Washington.
Landell pensava em ficar apenas seis meses nos Estados Unidos, pois não dispunha de recursos. Mas ficou três anos, pois logo foi informado de que o The Patent Office não aceitaria seus inventos apenas descritos e explicados no papel. Ele precisava fabricar os aparelhos e provar que eles funcionavam. Seus esforços, afinal, foram recompensados com a concessão de três patentes: a de número 771.917, em 11 de outubro de 1904, referente a um transmissor de ondas; a de número 775.337, em 22 de novembro de 1904, um telefone sem fio; e a de número 775.846, na mesma data, de um telégrafo sem fio.

Era o reconhecimento do gênio do inventor. Os jornais já abriam espaço para falar de seus aparelhos desde 1902, mas agora era a fama, a possibilidade de enriquecer. Landell, porém, recusou ofertas de interessados em explorar industrialmente seus in-ventos e resolveu voltar ao Brasil para doar à pátria a fama e os benefícios dos inventos.

Encaminhou, então, carta ao presidente da República, Rodrigues Alves, solicitando dois navios de guerra para que pudesse realizar demons-tração pública de suas invenções. O presidente encarregou um assistente de entrevistar o padre e saber a que distância um navio deveria ficar do outro. Ao que Landell respondeu: "A distância que quiserem ou puderem. Meus aparelhos podem estabelecer comunicação com quaisquer pontos da Terra, por mais afastados que estejam uns dos outros. Isto presentemente, porque, futuramente, ser-virão até mesmo para comunicações interplanetárias".

O assistente comunicou ao presidente que o tal padre era positivamente maluco. No dia seguinte, um telegrama da presidência informava ao padre que, lamentavelmente, ele teria de aguardar nova oportunidade.

Abalado e desiludido, o padre Landell de Moura, num ímpeto de irritação, destruiu os aparelhos e encaixotou livros, cadernos e documentos, voltando-se exclusivamente para a Igreja, até morrer esquecido, ignorado e até ridicularizado, a 30 de julho de 1928, aos 67 anos de idade. Suas teorias, porém, passados os 17 anos do prazo da Lei de Patentes, já tinham execução prática nos Estados Unidos. Padre Landell consolava-se com isso.

Landell de Moura foi um homem além das fronteiras de seu tempo. Suas descobertas e inventos supera-ram largamente os limites do conhecimento acadêmico da época, revelando fatos que apenas hoje, após a criação dos mais sofisticados apare-lhos eletrônicos, são reconhecidos pela ciência. Por exemplo, entre o material recolhido por seu biógrafo Ernani Fornari, destaca-se um curioso "Caderno A", em que o padre fazia anotações sobre o que chamava de "perianto": nada mais, nada me-nos que a aura (ou corpo astral) dos seres vivos, capaz até de ser fotografada! Somente na década de 30 é que o casal russo Semyon e Valentina Kirlian inventou o seu famoso processo de fotografia da aura, a foto Kirlian.

As observações de Landell de Moura sobre o "perianto" são tão completas, que envolvem até os fenômenos de materialização e de bilocação (desdobramento) estudados pelo espiritismo e, hoje, pela parapsicologia.

Descobriu também a existência, no corpo humano, de um elemento universal inserido na própria natureza do átomo — o "elemento R". Eis alguns trechos, originais do "Caderno A", falando sobre o perianto:

1 — Todo corpo humano está envolvido de um elemento de forma vaporosa, mais ou menos densa, segundo a natureza ou o estado do individuo ou ambiente em que ele se acha. Esse elemento, quando adquire uma tensão capaz de vencer os obstáculos que se opõem a sua expansão escoa do corpo humano sob a forma de descargas disruptivas ou silenciosas, tal qual como sucede com a eletricidade . E os fenomenos que nestas ocasiões se dão tem muita analogia com os elétricos estáticos e dinâmicos com relação aos outros corpos semelhantes.

2 —     Pelo que, cheguei à conclusão de que se trata de fenômeno que constitui uma variedade dos fenômenos produzidos pela eletricidade ou pela causa da eletricidade, do calor, da luz, etc.

3 —     Em todo caso, para facilitar o estudo do elemento R que existe no corpo humano. Atribuo-o ao perianto, porque, como o seu nome está dizendo; ele é um efeito do elemento R, como a tensão elétrica é um efeito da eletricidade que se acumula em volta dos condutores.

4 —     Não posso atribuí-lo à eletricidade existente no corpo humano, porque, como veremos em outros lugares, se de um lado oferece muita analogia com a eletricidade, por outro lado apresenta-se com certas e determinadas características que me obrigam a distingui-lo, ou dar-lhe o nome de perianto a par do efeito e à causa do elemento R, isto é, da vida em relação entre o psiquismo superior e inferior.

5  ---    O perianto é por si invisível; mas, por intermédio de certas luzes, pode tornar-se visível e até mesmo ser fotografado, se usarmos ou intercalarmos entre o corpo, cujo perianto estudamos, e a luz especial, uma plancha ou papel apropriado.

6 —     Um pequeno animal, preferivelmente de pêlo curto, posto nestas circunstâncias e dentro de um tubo apropriado, se mediante uma máquina pneumática a mercúrio for se fazendo pouco a pouco o vácuo, ver-se-á, quando o animal permanecer quieto, em estado de agonia, que na plancha se desenhará, sob forma vaporosa, a figura do animal. Ver-se-á mais que, ao expirar o mesmo, essa forma vaporosa elevar-se-á na plancha.

7 —     Poder-se-á ver também diretamente quando, mediante certas luzes, puder se conseguir o fenômeno da interferência dos raios. E há casos em que, quando a condensação se tornar bem densa, com certas e determinadas luzes, removendo o animal, no lugar em que ele se achava permanecerá, por instantes, o seu perianto, formando um duo dele, que, não raras vezes, em vez de se apresentar sob a forma branca vaporosa, se mostra compacto e colorido, com as cores naturais do animal, devido também à luz. O que prova que o perianto é devido a uma vibração de um elemento mais sutil do que o ar.

8 —     Do que acabamos de dizer, podemos tirar os seguintes corolários:

1º) que o perianto, em circunstâncias apropriadas, pode ser fotografado, justificando seu nome, isto é: coisa que envolve o corpo humano sob uma nova capa ou zona vaporosa, mais densa ou menos densa;

2.°) que ele pode ser transportado da placa natural da retina para a câmara fotográfica.

E daí as seguintes conclusões:

a) que no corpo humano existe um elemento que dá origem aos fenômenos do perianto e conseqüentes corolários;

b) que pode ser fotografado direta ou indiretamente;

c) que certas qualidades de luzes influem para que ele possa ser fotografado, como também para que se torne visível a olhos nus;

d) que ele pode, à semelhança de um duplo do indivíduo, representá-lo sob formas unicamente vaporosas, ou também com as cores naturais; e que, se esse indivíduo esteve sob a ação do hipnotismo ou de qualquer outro estado anormal capaz de mudar-lhe a personalidade, o seu perianto, neste caso, apresentará as feições da personalidade que ele supõe ser no momento;

g) que, segundo o grau de condensação, pode-rá tornar-se palpável e resistente, simulando todos os fenômenos da vida psicoorgânica devido ao prolonga-mento dinâmico, não sendo o que ele então apresenta senão um reflexo do corpo que o produziu, de forma que, se o indivíduo falar ou mover qual-quer parte do corpo enquanto o seu perianto age aparentemente, este último deixará de agir incontinenti;

h) que tanto os bons como os maus anjos podem dele se utilizar para simular os fenômenos da vida de relação, mas que neste caso (a exceção de um milagre) é que se verifica o que acima dissemos: quando o perianto, sob a ação do bom ou mau espírito, age, se o corpo do indivíduo que o produziu age, ele deixará incontinenti de agir, precisamente na forma em que o indivíduo age;

i) que, provavelmente, o fenômeno da nuocauzacáo tem seu princípio na condensação do perianto, quando o fenômeno se opera, naturalmente, muito embora por leis ainda não conhecidas. E muitos outros fenômenos do hipnotismo, do magnetismo, do espiritismo, dos sonhos em ação, do sonambulismo, etc.".

Aprofundando-se nos estudos sobre o hipnotismo, afirmava Landell:

1            —             Quando a circulação no cérebro sofre modificação mais ou me-nos acentuada, em virtude da ação de qualquer agente físico ou moral, o individuo entra em um estado especial, diferente daquele em que jazia antes que nele se operasse tal modificação

2             —             Neste estado, o indivíduo tem conhecimento do que se passa dentro e fora de si. Porém, não tem cons-ciência, porque não está em condições de poder refletir, não pode verificar se o que se passa com ele é ou não real.

3            —             As manobras do hipnotismo, do chamado magnetismo, do espiritismo e da sugestão, enfim de tudo que pode contribuir, moral ou fisicamente, para acelerar ou retardar a circulação, levará o indivíduo a estes estados anormais, tão apropriados para as manifestações ou realização dos fenômenos do hipnotismo, do magnetismo, do espiritismo, da sugestão.

Sempre segundo Landell — no seu "Caderno A" — é muito limita-do o poder dos nossos cinco senti-dos, porque eles só são sensíveis a certas vibrações, enquanto permanecem insensíveis a outros movimentos vibratórios. Assim, por exemplo, a vista não percebe as vibrações do calor, que também não são percebi-das pelos ouvidos, etc.

Dizia Landell que, se nossos ouvi-dos se adaptassem à percepção das vibrações sonoras entre 32.768 e 34 milhões por segundo, as maravilhas da audição iriam até às extremas fronteiras do sobrenatural. Porque, além da harmonia do canto dos pássaros, do zumbir ao longe dos insetos, além de todos os fenômenos sonoros, perceberíamos fenômenos elétricos e magnéticos agora imperceptíveis, tais como os que se produzem ao surgir do Sol, ao aparecer dos astros, ao relampejar ou ao produzir-se uma faísca elétrica.

Por tudo isso, concluía Landell:

—             Vivemos, relativamente, na ignorância do que sucede no universo, e ainda mesmo dentro e em volta de nós. Não obstante, falamos, com demasiado orgulho e insensatez, dos conhecimentos que temos pelos "sábios" do mundo exterior. . . A ciência de ontem, como a de hoje e também a do futuro não passa de um acervo de hipóteses, de convenções. Numa palavra: não é senão um simbolismo inventado pela inteligência humana para significar o que os sentidos nos revelam de um modo muito limitado, e nós, não entendendo nem podendo dar uma explicação cabal, tomamos por causa o que não passa de um efeito.
 

Extraido  da revista Planeta  -   Janeiro de 1978
 
 
 
 

 

 
 

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