Manchas e Ciclos



A Terra é mantida prisioneira por uma pequena estrela amarela que viaja pelo espaço a uma velocidade fantástica
na direção de um escuro vácuo entre as constelações de Hércules e Lira.

Mantida sob controle por uma atração gravitacional suficientemente forte para romper um cabo de aço mais
grosso do que a largura dos Estados Unidos, é escrava absoluta do Sol a despeito dos 148 milhões de
quilômetros que nos separam. Se o Sol desaparecesse amanhã , toda a vida neste planeta cessaria no mesmo
instante.

Enquanto lê estas palavras , você está viajando com tal rapidez para conservar seu relacionamento com aquela
bola de gás em chamas que talvez lhe seja impossível compreender isso.  Em primeiro lugar , a Terra está girando
, em relação às estrelas num ciclo de 23 horas, 56 minutos e 4,09 segundos. A fim de realizar uma única rotação
completa, diariamente , ela rodopia à velocidade média de 1.600 quilômetros por hora no Equador.

Revolve também em volta do Sol num ciclo de 365.242 dias . A fim de descrever toda essa órbita, todos os anos
ela viaja à velocidade de 105.000 quilômetros por hora !

O Sol , levando a reboque a Terra e os outro oito planetas , descreve um círculo em volta de nossa galáxia, a Via
Láctea , num ciclo de 230 milhões de anos. A fim de completar esse ciclo, move-se à velocidade de 769.000
quilômetros horários.

Por último , nossa galáxia , à Via Láctea , gira em torno de um superconglomerado de milhares de galáxias a uma
velocidade de dois milhões de quilômetros por hora. Assim, sem sequer despentear o cabelo, você está neste
momento rodopiando à velocidade de 1.600 quilômetros por hora numa bola que voa a 105.000 quilômetros
horários em volta do Sol , que viaja à velocidade de 769.000 quilômetros por hora em volta de uma Via Láctea
que dispara pelo espaço a dois milhões de quilômetros horários em torno de um superconglomerado de galáxias. É
tudo isso num padrão de ciclos tão exatos que é possível prever nossa posição no universo dentro de mil anos a
partir de agora.

A ciência acumulou um mundo de conhecimento sobre o Sol; desde Epicuro , no ano 300 a.C. , fez um profundo
mas inexato pronunciamento , dizendo que o Sol era aparentemente uma bola em chamas , com um diâmetro de
apenas 62 cm. Agora sabemos que ele tem pouco mais de 1.384.000 quilômetros de diâmetro, 109 vezes maior do
que a Terra , com a massa estimada em 2 bilhões de bilhões de bilhões de toneladas. Aproximadamente 99% de
toda a massa do sistema solar faz parte do Sol , e essa matéria queima à razão de 4 milhões de toneladas por
segundo , vomitando bem dentro do espaço imensos volumes de energia.

A densidade do Sol é de apenas 1,5 vez a da água e sua temperatura na superfície é de aproximadamente 6.000
graus centígrados. No núcleo , a densidade é muitas vezes a do aço , e a temperatura , de muitos milhões de
graus. Sua força gravitacional é tão imensa que se você pudesse permanecer na superfície do Sol , sem se
transformar instantaneamente em cinzas , pesaria por volta de duas toneladas.

O Sol e a Lua giram em ciclos de cerca de 27 dias , exceto que o Sol não se comporta em rotação como um
corpo sólido. Em seu Equador, o período de rotação é de 25 dias , ao passo que sobe para 31 à latitude solar de
75 graus. O motivo porque a parte média mais larga gira mais lentamente do que as latitudes mais baixas próximas
a seus pólos é um mistério que a ciência ainda luta para desvendar.
 
 

O maior mistério do Sol, no entanto , são as manchas solares e seus respectivos ciclos.

Os astrofísicos não estão ainda de completo acordo sobre o que elas são e não têm explicações quanto à sua
causa ou por que aparecem em maiores números em um ciclo que tem , em média , pouco mais de 11 anos , tanto
quanto se sabe a vista dos registros ( desde 300 a.C. ) .

Não obstante , aceitamos a hipótese de que elas são vórtices rodopiantes de gás mais frio e aparentemente mais
escuro que borram a superfície do Sol . Podem aparecer isoladas ou em grupos , mas em geral se apresentam em
pares . Podem ter um tamanho imenso . um grupo delas , surgido em 1946 , cobriu uma área suficiente para
engolir cerca de 100 de nossa Terra.

Às vezes , fazem-se acompanhar de resplandecentes explosões , que ançam na corona cus paradas de milhares
de quilômetros de altura e emitem fortes doses de raios ultravioletas , partículas carregadas e raio X. A ciência
não tem ainda uma teoria satisfatória para explicar tais explosões .

Em geral aparecem e desaparecem em questões de dias , mas, com freqüência , continuam durante meses ,
sumindo de nossa vista a cada rotação e reaparecendo aproximadamente duas semanas depois.

São também magnéticas , e uma de suas mais misteriosas características é que quando surgem em pares e
pequenos grupos agem como se fossem os pólos positivo e negativo de imensos imãs em forma de ferradura,
incrustados no Sol. Em um ciclo, as principais manchas de cada par ou grupo no hemisfério norte apresentam
polaridade positiva , enquanto seu equivalentes no hemisfério sul têm polaridade negativa.  No ciclo seguinte, a
situação se inverte e as principais manchas no hemisfério norte são negativas enquanto no sul são positivas.

Os antigos chineses conheciam as manchas e Galileu mencionou-as há 300 anos .Em 1825 , um astrônomo
amador , Heinrich Schwabe , usando um pequeno telescópio de 50,8 mm começou a observar o Sol em busca de
um planeta que supunha existir na órbita de Mercúrio . Logo depois , ficou tão fascinado pelas manchas , sempre
mutáveis , que abandonou o objetivo inicial e começou a anotar-lhes os números . Em 1843 , anunciou que o
número delas flutuava em um padrão de cerca de 10 anos.

O anuncio de Schwabe pouca excitação causou nos círculos astronômicos até que Humboldt descreveu o ciclo
em seu monumental The Cosmos. Finalmente , a Royal Astronomical Society ( Sociedade Astronômica real)
reconheceu os longos anos de silenciosa pesquisa de Schwabe e concedeu-lhe sua medalha de ouro. Desde
1940, a Fundação para o Estudo dos Ciclos dedica muito ao assunto das manchas e conseguiu refinar os
primeiros resultados de Schwabe a um ponto tal que pode fixa a duração do ciclo , desde 1527 , em 11,11 anos .

No século passado , tentativas foram feitas para vincular praticamente todos os tipos de comportamento neste
planeta a essas misteriosas erupções.

Ocasionarão as manchas solares ciclos aqui na Terra ?  Minha resposta , todas as vezes em que me fazem essa
pergunta ( e é com freqüência ) , é que parece que causam alguns deles. Examine , por exemplo , a Figura 53 (
não está anexa), que mostra, na curva mais baixa , o número de manchas por ano , de 1835 a 1930 . A curva
superior indica as variações no magnetismo aqui na Terra , no mesmo período . A correspondência é notável e de
modo geral aceita como prova de que as manchas afetam as condições magnéticas em nosso planeta.

Em 1878 , um economista britânico , W. Stanley Jevons , propôs a hipótese de que as manchas solares
ocasionavam os "ciclos econômicos" . Acreditava que as variações no número de manchas produzia variações
correspondentes nas colheitas e que , através desse canal, eram desencadeados os ciclos econômicos. O
trabalho de Jevons baseou-se em parte baseou-se em parte em escritos anteriores , do Dr. Hyde Clarke , que
descrevera um ciclo de 11 anos de fome e especulação .

Em 1934 , dois pesquisadores de Harvard , Carlos Garcia-Mata e Felix Shaffner , dispuseram-se a provar que
Jevons se enganara. Ajudados por um donativo para pesquisas , tencionavam provar que não havia relação
alguma entre negócios, preço de ações , colheitas e manchas solares . Não havia, de fato, relação entre manchas
e colheitas , mas, para grande surpresa , descobriram uma correspondência bem estreita entre manchas e a
atividade industrial e produção . A relação cobria o período 1875-1931 e era muito acentuada. Não obstante , as
altas e baixas dos ciclos solares  ocorriam após essas fases de manufatura  produção total .
 
 

Claro, uma suposta causa dificilmente se segue ao resultado , de modo que Garcia-Mata e Shaffner
raciocinaram que a taxa de mudança no número de manchas deveria ser a causa . Quando se compara a taxa ( B
na Figura 54) com o índice de produção  total ( C na mesma figura) , a correspondência torna-se impressionante.

Em 1881 , o astrônomo inglês N. R. Pogson descobriu uma conexão direta entre a freqüência das manchas e os
preços de cereais na Índia. Em 1919, o Professor Ellsworth Huntington propôs a idéia de que as variações na
radiação solar produziriam efeitos sobre os seres humanos, e , assim , sobre a situação dos negócios. Sua
hipótese , porém , chocava-se com a convicção popular de que os negócios eram afetados em primeiro lugar e,
em seguida , as condições dos negócios afetavam os seres humanos.
 

Em 1936 , Loting B. Andrews, astrônomo de Harvard , chamou a atenção para a visível correlação , nos 200
anos precedentes , entre manchas solares , crises internacionais e problemas econômicos. Conjecturou que a
causa dessa e de outras correlações solares-terrestres poderia ser ou a intensidade da radiação solar ou
emanações de luz ultravioleta. Uma vez que esses dois fenômenos se associam às manchas , julgava Andrews
que uma variação na luz ultravioleta era a mais razoável das duas possíveis explicações das correlações
econômica e sociológica.

Em 1965 , Charles J. Collins , um conselheiro  de investimento publicou "An Inquiry into the Effects of
Sunspot Activity on the Stock Market" ( Indagação sobre o efeito da Atividade das Manchas Solares
sobre a Bolsa de Valores ) . Em seu artigo, notou que, desde 1871 , as maiores baixas no mercado de ações ,
no que interessa a percentagens, coincidiram ou seguiram-se a anos nos quais os números médios das manchas
solares chegaram ou foram além de 50.

O juri continua ainda estudando a questão dessa importante vínculo entre a Terra e o Sol . Nenhum veredicto foi
alcançado ainda devido a um fato desnorteante .

Deixe-me dar um exemplo:

Em um texto anterior , falamos ( escrevemos) sobre o brilhante cientista russo Tchijevski e sua descoberta de
que, em conjunto , nosso mundo parece passar por um aumento de excitabilidade em um padrão coerente de nove
ondas por século. Seu trabalho implicou detalhada pesquisa cientifica da história de 72 países.

Descobriu Tchijevsky não só que seu índice caracterizava-se por ciclos de 11,11 anos , mas que as altas e
baixas neles tendiam a corresponder a altas das manchas solares.  Em 1960 , fiz um estudo exaustivo da obra de
Tchijevsky , utilizando dados sobre as manchas que não havia em sua época, 40 anos  antes. Descobri que,
quando os anos de máxima atividade das manchas eram comparados com os valores do Índice de Excitabilidade
da Massa Humana , de Tchijevsky , as altas dos ciclos de manchas seguiam as altas de seu índice numa média
de cerca de um ano.

A mesma defasagem temporal ocorre quando os ciclos terrestres são comparados com as manchas . De modo
geral , não importando o período , os ciclos de manchas ocorrem após os correspondentes ciclos terrestres que
supostamente criam. E a causa não pode ser posterior ao efeito!

Poderia acontecer que alguma coisa  ocasionasse os ciclos no Sol e aqui na Terra   ---   e que o Sol precisasse
de mais tempo para reagir?

Poderiam estar certos nossos amigos Garcia-Mata e Shaffner de que a taxa de mudança no número de manchas
, e não o número exato delas , que desencadeia os tipos de comportamento aqui observados?

Poderia ser que , uma vez que ciclos da mesma duração na Terra tendem a ter duas altas cada vez mais tarde
quanto mais ocorrem perto do Equador , e uma vez que as manchas solares normalmente surgem em latitudes
mais baixas , devêssemos levar esses fatos em consideração quando tentássemos relacionar os dois? A maioria
dos fatos aqui documentados com esses ciclos de 11 anos tem lugar entre 40 e 55 graus de latitude norte ,
enquanto as manchas solares se situam , em média , a cerca de 14 graus de latitude norte e sul no Sol , de modo
que haveria normalmente uma defasagem temporal se os dois fenômenos fossem resultados de uma causa comum
e se os ciclos do Sol se comportassem como os da Terra.
 

 A evidencia em favor de uma relação entre atividade solar e comportamento aqui na Terra é provocadora mas
ainda não-conclusiva. Ainda assim , novas descobertas parecem estar conduzindo-nos a uma solução cada vez
mais perto do grande mistério das manchas solares. Uma das novas pistas , descoberta por C. N. Anderson , dos
Bell Telephone Laboratories , segue a seguinte linha de raciocínio:

As manchas solares aumentam e diminuem em ondas que variam de sete a 17 anos de duração , mas que têm um
comprimento médio de 11,11 anos. Em geral , ocorrem em pares . São magnetizadas. Em uma onda do ciclo de
manchas , pontos positivos assumem a liderança no hemisfério norte do Sol e pontos negativo fazem o mesmo no
hemisfério sul.

Na onda seguinte, a situação se inverte : pontos negativos lideram no hemisfério norte e positivos no sul . Assim ,
são precisas duas ondas de manchas   ---   ou "ciclos", como são chamadas   ---   para que o comportamento
volte ao ponto inicial . O período de dupla atividade das manchas é , assim, 22,22 anos ( Ver Fig. 55) .

Os comprimentos de ondas de certos ciclos médios de número de manchas solares , com ciclos alternados
invertidos , corresponde de perto às médias de ocasiões em que vários de nossos planetas se alinham uns com os
outros como se fossem vistos do Sol, no que é chamado de "conjunção planetária heliocêntrica". Se investigação
ulterior provar que essa associação é real, aumentaremos muito nossos conhecimentos sobre mecânica do sistema
solar e nossa capacidade de prever os números comuns de manchas, capacidade esta de crescente importância à
medida que entramos na era das viagens espaciais , com perigos iminentes de erupções solares de todos os tipos.

O Dr. C.G. Abbot , da Smithsonian Institution , passa a maior parte de sua vida tentando convencer
meteorologistas e cientistas em geral que a "constante solar" não é constante, as que, em vez disso, flutua em
ciclos.

A "constante solar" é uma medida , em calorias, por centímetro quadrado por minuto , do volume de energia
recebido do Sol. Como o nome indica , apresenta pouca variação , mas o Dr. Abbot , que há muitos anos media
essa "constante" , notou nela o que chamou de "depressões denteadas" , isto é , pequenas altas e baixas nas
medições.

Essas minúsculas altas e baixas parecem flutuar num ciclo de 273 meses   ---   ou quase 23 anos . Não obstante
, a pequena variação na constante solar   ---   de apenas 1 ou 2 %   ---   é difícil de engolir pelos
meteorologistas, que não acreditam que elas sejam grandes o bastante para ocasionar no tempo as mudanças
alegadas pelo Dr. Abbot.

O Dr. Abbot , em seguida, projetou no passado os ciclos da constante solar e descobriu que eles correspondem a
antigas condições do tempo  . Mais tarde , começou a preparar gráficos de precipitação pluviométricas e
temperaturas baseados no ciclo de 273 meses  , e acompanhou-os com os cálculos de longo prazo de 54
estações meteorológicas. Publicou numerosos trabalhos cobrindo mais de 50 anos de estudo e é impressionante o
volume de evidencias que compilou em apoio de sua tese.

H. H. Clayton , previsor-chefe do Serviço de Meteorologista da Argentina, descobriu correspondências
semelhantes entre variações na radiação solar e pressão barométrica  depois de familiarizar-se com o trabalho de
Abbot sobre a variação solar. E aplicou seus resultados em extensas previsões do tempo a longo prazo.

Exceto na Argentina , nenhum serviço de meteorologia ligado a qualquer governo jamais levou em conta essas
variações. Suspeito, porém , que o trabalho do Dr. Abbot ainda terá seu dia de glória.
 
 

Extraído do livro  Ciclos de E. Dewey e O. Mandino  -  Editora Record  -  1970
 
 

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