A Geografia Sagrada
 
Encontraremos entre as ilustrações deste livro (figura n.° 2) a reprodução de um mapa do mundo que data do século XVI. Representa uma região conhecida e, em torno dela, trevas povoadas por monstros. Estamos todos seguros de que somos muito mais fortes do que aqueles que desenharam este mapa. Também estamos seguros de que não existem, na Terra, continentes ou mesmo grandes ilhas desconhecidas. Estamos seguros de que os nossos belos globos terrestres representam nosso planeta tal como é. Pois bem, já não estou tão certo disto. Lembro-me ainda muito bem da época, há uns dez anos atrás, em que zombava de René Guénon quando este afirmava que a geografia da Terra é muito menos conhecida do que o diz a ciência, que existem regiões para as quais podemos ir e voltar, mas que não estão presentes no mapa. Atualmente zombo menos. Zombo menos desde maio de 1970, ocasião em que soube, por intermédio de um eminente representante da autoridade espacial americana que, de 250 000 fotografias tiradas da Terra pelos satélites artificiais, apenas uma mostra traços de atividade humana. Esta cifra foi confirmada oficialmente. Arthur C. Clarke cita isto no seu trabalho mais recente e a N.A.S.A. chegou a publicar uma brochura intitulada: Existem Traços de Vida na Terra? De sorte que já não levo na brincadeira a tradição sobre Avalon e Tir-Nam-Beo, sobre o reinado do padre Jean, sobre a geografia sagrada.

Creio que existe uma possibilidade de que estas idéias não sejam lendas e que a bela forma redonda da Terra constitua apenas uma segunda aproximação, sendo a forma chata a primeira. Mas como é possível que a Terra não seja redonda? É difícil responder a esta pergunta sem entrar em explicações matemáticas muito complicadas. Todavia, digamos que os matemáticos conhecem o que eles chamam de superfícies de Riemann, que são compostas de um grande número de camadas que não estão nem umas sobre as outras nem umas sob as outras. Ocupam, simplesmente, o mesmo espaço, um espaço mais complicado do que aquele que concebemos habitualmente, um espaço que só pode ser descrito pelas funções de uma variável complexa.

Uma outra maneira dos matemáticos exprimirem a mesma coisa talvez seja mais simples para o leitor não especializado. Geralmente admitimos que um ma-pa plano ou um globo da Terra pode ser feito com quatro cores. Isto é, por maior que seja o número de países diferentes encontrados no mapa, quatro cores bastam para colorir o mapa sem que encontremos dois países da mesma cor separados por uma fronteira. A maioria dos matemáticos está de acordo com o acima exposto e, no entanto, este teorema nunca foi demonstrado. A ciência que trata destes problemas é a topologia, ramo da matemática que se preocupa mais com a forma do que com o número. Podemos, porém, conceber perfeitamente algumas superfícies que exigem mais de quatro cores para que delas se possa fazer um mapa com um número qualquer de regiões.

Se a Terra é uma superfície deste tipo, por mais fantástico que isto possa parecer, é possível que existam regiões desconhecidas inacessíveis normalmente, que não existem num globo ou num mapa, mas que, no entanto, existem na realidade. Nós nem ao menos suspeitamos de sua existência, como acontecia também com os micróbios e as radiações invisíveis do espectro luminoso antes que fossem descobertos.

Está claro que a idéia parece fantástica, como aliás acontece com toda idéia nova. Não a apresento como uma revelação. Como todas as idéias contidas neste livro, apresento-a como uma brincadeira do espírito, uma maneira de ir além das fronteiras comuns de nossa imaginação e alargar as idéias. Como tal, esta idéia de uma geografia sagrada merece reflexão. Ela existe em todas as tradições. É particularmente desenvolvida na Tradição Islâmica, mas também a encontramos em outras partes. (Obs.:  Anaxágoras e a terceira dimensão. Encontramos uma alusão precisa a uma outra Terra, no século V antes da era cristã, em Anaxágoras: "Outros homens e outras espécies vivas possuindo uma alma foram criados. Estes homens, como nós, têm cidades povoadas, fabricam objetos engenhosos. Possuem o Sol e a Lua e outros astros. Sua Terra é fecunda e abundante..." Na cosmogonia de Anaxágoras, a Terra é um disco flutuante no éter e rodeada pelo Sol, a Lua e os planetas. Ele situava a outra Terra do outro lado do disco. Se retomarmos a mesma teoria em três dimensões, com a outra Terra situada não do outro lado de um disco chato, mas do outro lado do espaço, caímos nas idéias do capítulo precedente.)

Os vales sem retorno da Bretanha, as regiões de onde não se volta na Cornualha, a Terra proibida na Amazônia, a cidade de Luz, a cidade do Rei do Mundo nas tradições de que nos fala Guénon, são exemplos disto.

Por todos os cantos do mundo, a lenda e a tradição falam de domínios encantados onde se pode ir e de onde se pode voltar mas que não são traçáveis num mapa, nem accessíveis por. meios comuns. Ainda encontramos atualmente, principalmente no Irã, relatos contemporâneos de viaj antes que visitaram estes países que existem em um nível diferente do nosso.A ficção científica, que é a herdeira natural do folclore, apoderou-se naturalmente desta idéia. Também houve algumas tentativas curiosas de ligar o universo da ficção científica ao universo da tradição, como por exemplo o muito curioso Mont Analogue de René Daurnal (Gallimard)

A ficção científica emitiu uma porção de idéias interessantes neste domínio. Contudo, podemos censurá-la por ter tornado popular a expressão "universo paralelo". Eu mesmo a usei e fiz mal. Pois, por definição, os paralelos não se encontram: ora, o interesse destes universos "mais próximos de nós do que nossos pés e mãos", como disse Wells, . é que eles possuem pontos de encontro com o nosso. Deixemos de lado, por enquanto, a Tradição lendária e a ficção científica, não sem chamar a atenção do leitor para o excelente livro de Serge Hutin Voyages vers Ailleurs (Arthéme Fayard), e vejamos aqueles que levaram a idéia a sério.

Entre estes , temos que apontar , em primeiro lugar , René Guénon.

Este escritor é extremamente irritante, não só pela sua obscuridade como pelo tom altamente superior e insolente que assume. ( Na verdade ele afirma: "Não temos que informar ao público as nossas verdadeiras fontes... Estas não comportam a menor referência" (Le Voile d'Isis, novembro de 1932, página 734). Que permitam ao humilde pesquisador que sou acrescentar que está muito bem tomarmos esta atitude se contamos verdadeira-mente com algumas fontes. Se, pelo contrário, inventamos coisas de todo jeito, não merecemos mais respeito do que qualquer outro autor de ficção científica).

Contudo, penso que sua obra, após ter feito a travessia do deserto, vai ser examinada de uma maneira séria, para que dela se extraia um certo número de idéias interessantes.

Da obra de René Guénon, da leitura de alguns hindus, de algumas conversas com uns orientais que conheciam o assunto, concebi a seguinte imagem da geografia sagrada. Se os seguidores de Guénon me censurarem por ter traído o pensamento do Mestre, responderei que não me baseio unicamente em Guénon. Feita a ressalva, eis a imagem:

Há uma infinidade de estados, de níveis, de superfícies de Riemann, de pregas topológicas ou planos de existência ligados à Terra.

Desses planos, sete nos são accessíveis, ou pelo menos são accessíveis aos altos iniciados. São chamados de os sete dwipas. Não conheço a origem desta palavra. Um cientista chinês moderno diria que isto se explica pela teoria dos extratos, ou camadas, uma das mais recentes concepções dos cientistas da China popular. Infelizmente, não possuo. conhecimentos matemáticos suficientes para compreender a teoria dos ex-tratos, que ainda por cima, é constantemente interrompida e complicada por referencias ao pensamento de Mao Tsé-Tung ( o Guenon chinês).

 
René Guénon escreve, por exemplo, em Le Régne de la Quantité et les Signes des Temps, página 181 da edição de bolso da Gallimard (Idées), falando a respeito dos geógrafos modernos:

"Eles proclamam triunfalmente que `a Terra atualmente está inteiramente descoberta', o que não é tão verdadeiro quanto eles pensam, e acham que, ao contrário, ela era desconhecida dos antigos na sua maior parte, no que podemos nos perguntar a que antigos pretendem se referir ao certo". Também escreve, às páginas 182 e 183 da mesma edição:

"Ora, existe realmente uma `geografia sagrada' ou tradicional, que os modernos ignoram tão completamente quanto os demais conhecimentos do mesmo gênero; existe um simbolismo geográfico assim como um histórico, e é o valor simbólico das coisas que lhes dá a sua significação profunda, pois é por meio dele que se estabelece sua correspondência com as realidades de ordem superior; porém, para determinar efetivamente esta correspondência, é preciso ser capaz, de uma maneira ou de outra, de perceber nas próprias coisas o reflexo destas realidades. É por isto que existem lugares especialmente adequados para servir de `suporte' à ação das `influências espirituais', e é nesses lugares elevados que sempre repousou o estabelecimento de determinados `centros' tradicionais principais ou secundários, dos quais os `oráculos' da antigüidade e os lugares de peregrinação fornecem os exemplos mais aparentes externamente; também há outros lugares que são não menos particularmente favoráveis à manifestação de `influências' de um caráter completamente oposto, pertencentes às mais baixas regiões do domínio sutil; mas, que bem pode fazer a um ocidental moderno que haja, por exemplo, em tal lugar uma `porta dos Céus' ou num outro uma `boca dos Infernos' se a `espessura' da sua constituição `psicofisiológica' é tal que, nem num nem noutro, consegue sentir absolutamente nada de especial? Portanto, estas coisas são literalmente inexistentes para ele, o que, é claro, não quer dizer que tenham deixado realmente de existir."

Entretanto é interessante pensar que a teoria geral deste nível de energia é factível cientificamente por meio da matemática. Pregas topológicas, superfícies de Riemann, extratos, devem ser expressões matemáticas diferentes de uma mesma estrutura. Alguém, mais competente do que eu ( Jacques Bergier), ainda fará algum dia a sua síntese.

Sete destes níveis de energia, sete dwipas, são terras como as nossas, embora com outros continentes e outros oceanos. Aconteceu no passado distante, correspondente aliás a épocas biológicas que os cientistas conhecem como o primário e o secundário, que alguns continentes e oceanos pertencentes a um outro dwipas aparecessem na Terra e vice-versa. Isto não corresponde absolutamente a uma catástrofe e explica determina-das transformações que os geólogos não compreendem. Pelo menos um dos dwipas é habitado. Ali reside o Rei do Mundo ( o Maha , vamos falar mais sobre ele em outros textos, quando falarmos sobre o Alto Conselho /rsm), que guarda o que há de essencial na humanidade, as aspirações espirituais.

Ao seu redor, na sua cidade, que as tradições denominam, conforme a origem da Tradição, Avalon, Luz, Tir-Nam-Beo, Shamballah, encontra-se um centro da tradição e da pesquisa. Na nossa Terra, algumas sociedades secretas têm o dever de proteger os acessos a esses centros e de se sacrificar até a morte e a tortura para que esses acessos não sejam descobertos. Elas são a "cobertura exterior" do centro. Os templários foram um exemplo disto.

É possível ir até a cidade do Rei do Mundo e dela retornar. Também é possível encontrar, na Terra, al-guns mensageiros que vêm de lá. Enfim, é possível receber uma informação proveniente da cidade.

Chegados a este ponto, devemos todavia responder a algumas objeções.A primeira é simplesmente :"Como pode acreditar numa loucura dessas? Ela é totalmente contrária ao senso comum".

A forma redonda da Terra também era contrária ao senso comum. Os habitantes dos antípodas deviam andar constantemente de cabeça para baixo e deve-riam estar mortos, há muito tempo, por congestão cerebral. A existência de habitantes nos antípodas explica-se, de fato, pela teoria da gravitação central de Newton, que é muito posterior à idéia de uma Terra redonda. Antes dessa teoria, a teoria da Terra redonda era uma loucura, contrária ao senso comum. O mesmo acontece com a relatividade geral, cujas con-seqüências por enquanto desafiam por completo o senso comum e que, por esta razão, é combatida com violência mesmo nesta época. De maneira que não basta tachar uma idéia de louca para se ter que rejeitá-la automaticamente. Tentemos, então, fazer algumas objeções.

A mesma coisa deveria existir para os outros planetas, e poderia ser constatada. A essa objeção podemos responder que a observação dos outros planetas, por enquanto, deu apenas resultados muito vagos, o mesmo ocorrendo, aliás, com relação à observação da nossa Terra por satélites artificiais, desde que se suba a uma determinada altitude (zona compreendida entre 300 e 1.000 quilômetros). Também podemos observar que a nossa Terra é muito peculiar, pois é o único planeta onde é encontrada vida. A Lua é totalmente morta, Marte e Vênus também.Os planetas gigantes não parecem conter vida, pelo menos no sentido que damos a esta palavra. Se dermos uma importância cósmica à vida, é bastante natural que o planeta que a tenha seja totalmente diferente dos outros planetas. E caso esta diferença se traduza por uma estrutura dimensional múltipla, por que não?

A segunda objeção é que isto seria sabido. Primeiramente, podemos responder que, na verdade, isso se sabe, porém ao nível de sigilo das sociedades esotéricas. Também podemos responder que existem inúmeros casos de viajantes vindos de países que não foram localizados, que falavam uma língua desconheci-da e possuíam mapas de um mundo que não era o nosso.

Charles Fort cita numerosos casos no seu trabalho New Lands (Terras Novas). Talvez o caso mais freqüente deste tipo seja o reino do padre Jean, reino cristão cujos mensageiros foram até o Papa e o Imperador e que nunca puderam ser encontrados.Mas este não é o único caso; o fenômeno aparece desde Roma até nossos dias, em cerca de uns mil casos.

Para dar um exemplo, serei obrigado, e desculpo-me por isto, a me citar. E um caso sobre o qual já falei em Les Extra-Terrestres dans l'Histoire ("J'ai lu").
 

"... o episódio que aconteceu em abril de 1817 em Admondsbury (Grã-Bretanha). Naquele dia, uma jovem mulher vestindo um sari, e que não falava nenhuma língua conhecida, bateu à porta de diversas casas. Aparentemente não sabia escrever e, indicando a sua pessoa com o dedo, dizia: `Caraboo'. Mais tarde conseguiu-se fazê-la escrever um alfabeto e mostrar os números numa língua totalmente desconhecida que ela chamava de javasu. Mais tarde, um marinheiro portugues que passava por lá, Manuel Eynes  afirmou que compreendia o javasu e que a jovem mulher era uma princesa  raptada na Indonésia por piratas  e levada até a  Inglaterra.Ao cabo de um tempo, descobriu-se que o marinheiro português era um impostor, e que inventara toda a estória, aos poucos, simplesmente porque queria falar com a moça. Posteriormente, ela mesma declarou que a brincadeira já durara o bastante, que ela era inglesa, chamava-se Mary Wilcox e inventara tudo.No entanto, a própria história de Mary Wilcox era inventada e jamais existira uma Mary Wilcox. Ela acabou se casando com um inglês, teve filhos, criou-os e morreu em Bristol aos setenta anos, sem ter dado uma explicação satisfatória da sua aventura. Como afirma Charles Fort,. existem momentos em que aqueles que abafam este tipo de fenômeno fazem mal o seu trabalho. Ninguém antes de Fort pensou em perguntar como uma inglesa iletrada pudera inventar uma língua falada, uma língua complexa, com um alfabeto escrito e um sistema de numeração totalmente original."

Este caso é típico : o aparecimento de uma pessoa falando uma língua totalmente desconhecida, quase sempre tendo consigo um mapa de uma Terra que não é a nossa, depois o desaparecimento misterioso deste indivíduo, como se o lugar de onde veio tivesse uma polícia aqui. Alguns destes casos alcançaram celebridade mundial, como o de Kaspar Hauser ( ver no meu site o texto sobre ele/rsm), que acaba de ser admiravelmente tratado, num plano puramente racionalista, por Jean Mistier, da Academia Francesa (Edições Fayard.). Alguns outros foram reunidos por Charles Fort. Outros encontram-se espalha-dos por artigos de jornais. Citemos ainda alguns exemplos para tentar elaborar uma lei geral.

Um homem nu, que não falava qualquer língua conhecida, compareceu às cerimônias do casamento do rei Alexandre da Escócia em 1923. Viu-se nisto alguns presságios, mas não se conseguiu identificá-lo.

Em 1125, na Alemanha, vemos outro indivíduo que fala uma língua inteiramente desconhecida. Além disto, cospe fogo, o suficiente para incendiar alguns arbustos numa floresta. Milhares de testemunhas o vi-ram. Também na Alemanha, no início do século XX, vemos surgir um homem falando uma língua desconhecida e que, para cúmulo do humor negro, apareceu na propriedade do barão de Frankenstein (pois existe um barão de Frankenstein e foi na sua propriedade que se filmou o primeiro filme de uma interminável série de Frankenstein.)

Apenas nos Estados Unidos, apenas durante os anos de 1954 a 1969, John A. Keel, um dos pesquisadores mais ponderados neste assunto, conta quarenta e quatro casos de seres pelo menos humanóides que abordam os transeuntes no campo americano. Não só eles não atacam, como são freqüentemente encontrados chorando. ou soluçando como alguém que está perdido. Depois não são mais vistos. As testemunhas vão chamar a polícia, os guardas ou os serviços de prevenção de incêndios nas florestas e não se encontra mais ninguém.

 
Seria fácil conseguir pelo menos três mil casos entre Fort, John Keel e algumas instituições como o laboratório parafisico de Downtown, Wiltshire (Inglaterra), que publicam desde 1968 um anuário de fatos inexplicados. No sentido inverso, há alguns casos de desaparecimentos totalmente inexplicados. Aí apenas durante os séculos XIX e XX, contam-se dezenas de milhares de casos.Não apenas homens, mulheres e crianças, mas também navios, submarinos e aviões desaparecem.

A fronteira entre a nossa Terra e outros países parece ser invisível, porém mais fácil de ser ultrapassa-da do que se crê. Tanto no sentido de lá para cá como no de cá para lá. Esta ultrapassagem é tão fácil que pode ser involuntária. Isto não exclui, de modo algum, a possibilidade de viagens voluntárias. Existem, provavelmente, viajantes autorizados indo... digamos à cidade do Rei do Mundo e voltando. Também deve ha-ver guardiães do Santuário fazendo a "cobertura" do centro. Contudo, ao lado de tudo isto, deve haver alguns infelizes que são repentinamente arrancados do seu meio e aparecem no nosso. São estes que escuta-mos chorar, que vemos errar desamparados, e que às vezes são recolhidos. E inversamente, deve haver pessoas do nosso meio que desaparecem de repente e que, algumas vezes, nunca mais voltam. Quando voltam, não se compreende o. caminho que seguiram nem o que fizeram nesse meio-tempo.

No dia 24 de outubro de 1593, uma sentinela espanhola que estava de serviço nas Filipinas desapareceu. Vinte e quatro horas após, é encontrada no México! Não existe nenhum meio. que permita ao homem do século XVI cobrir a distância de Manilla ao México em vinte e quatro horas. E este tipo de coisas é comum. Vejamos alguns exemplos, tomados de empréstimo a John Keel, que, geralmente, é muito bem documentado:

No dia 22 de agosto de 1967, um rapaz americano de dezenove anos, chamado Bruce Burkan, desapareceu em Asbury Park, em Nova Jersey. Saiu da praia de calção de banho para colocar algumas moedas num parquímetro. É encontrado em Newark, no dia 24 de outubro de 1967, sentado numa parada de ônibus. Não se recorda de nada. Está usando roupas que não lhe ficam bem e tem setecentos dólares no bolso. Não consegue entender, de modo algum, o que lhe aconteceu. Sua amiga E., com quem estava na praia e que ficou louca de ansiedade ao encontrar seu carro trancado à chave, tinha avisado à sua família. Esta começou a procurá-lo. Ele é um rapaz ruivo mui-to fácil de ser reconhecido. Ninguém o reconheceu em todos os lugares onde foi procurado. Onde estava? Não o sabemos. E exemplos como estes podem ser multiplicados por cem.

Um habitante de Londres se vê, de repente, na Africa do Sul. Uma mocinha de Cleveland, Estados Unidos, se vê, repentinamente, na Austrália. Um leiteiro sueco desempregado se vê, de repente, num campo de golfe de uma ilha do Mediterrâneo, reservada às pessoas muito ricas.

Em agosto de 1966, um guarda de Filadelfia chamado Chester Archey, desaparece. Vê-se ao volante de seu carro numa pequenina cidade denominada Pennsauken, Nova Jersey. Não se lembra de nada e, alucinado, causa um acidente de automóvel.

Recentemente também foram assinalados casos deste tipo em Baía Blanca, Argentina, bem como no Japão, em Córdoba e em Montreal.

Chamamos a atenção dos amantes da literatura fantástica para o fato de que tanto a cidade de Filadelfia como a de Newark foram descritas pelos romancistas fantásticos como sendo lugares onde as portas se abrem para o desconhecido. No caso de Filadelfia temos H. P. Lovecraft; no de Newark, Murray Leinster, num excelente romance (aliás já traduzido para o francês pelas Edições Fleuve Noir) e que se intitula L'Autre Côté de la Terre.

Quanto às pessoas que desaparecem simplesmente sem deixar traços, conforme já afirmei, há algumas centenas de milhares. Até mesmo na Antártica pessoas desaparecem sem deixar vestígios. Foi isto o que aconteceu no dia 7 de maio de 1965 com um técnico em eletrônica, americano, chamado Carl Robert Disch, de vinte e seis anos. Foi procurado durante três dias, sem sucesso. Ao cabo de três dias, seu cachorro, que lhe era muito afeiçoado, também desapareceu sem deixar traços.. .

A impressão que se tem de tudo isto. é que, por enquanto, um bloqueio mental geral nos impede de penetrar nestas regiões "do outro lado da Terra". Um bloqueio deste tipo existia na civilização ocidental, até o século XVIII, no que diz respeito ao alpinismo. As montanhas estavam ali, porém ninguém tivera a idéia de escalá-las. Depois, bruscamente, o encantamento foi rompido e a idéia do alpinismo se impôs.

Tratava-se, na verdade, de uma exploração da terceira dimensão, e é bastante curioso que, mais ou menos na mesma época, se tenha inventado o primeiro balão.

Repentinamente, a idéia de uma terceira dimensão, dimensão que no entanto estava ao alcance de nossas mãos, influencia os espíritos e provoca explorações. E realmente possível que uma abertura análoga aconteça amanhã no domínio das dobras dimensionais do espaço que nos escondem outros aspectos desta Terra. É até possível que o presente Livro possa contribuir um pouco para essa evolução. Os outros lados da Terra talvez sejam tão facilmente accessíveis quanto as montanhas ou a atmosfera, e talvez seja mais necessária uma atitude mental do que máquinas. Se levarmos a sério as idéias tradicionais, existem, de qualquer forma, na Terra, pessoas  que sabem, que vi' sitaram os aspectos desconhecidos da realidade terrestre, e que vão e vêm entre cidades e até mesmo países de cuja existência nem suspeitamos em nossa realidade de três dimensões. Dentro desta perspectiva, Agartha, país lendário do Rei do Mundo, ou, para citar um exemplo da ficção científica, Le Gouf fre de la L une, de Abraham Meyritt (Hachette), não seriam domínios subterrâneos, mas sim porções de outras superfícies da Terra.

Falta-me espaço para enumerar todas as maneiras pelas quais estes aspectos "paralelos" da Terra foram tratados dentro da ficção científica. Talvez algum dia cheguemos a estudar determinadas descrições da ficção científica com o mesmo cuidado que dispensa-mos ao estudo da ficção científica precursora da energia atômica ou dos- foguetes. Um grande número de lugares, tanto do lado de cá da Lua como do outro, foram 'batizados com nomes tirados da ficção cientifica. Ë bem ' possível que lugares que não figuram no mapa também sejam assim denominados quando forem explorados.

Enquanto isso, os únicos documentos realmente científicos que possuímos sobre o assunto, são as 250 mil fotografias da N.A.S.A. que não mostram a Terra como a conhecemos; o fenômeno parece começar aos 300, quilômetros de altura e acentuar-se muito mais aí pelos 1 000 .quilômetros. Ora não localizamos os: continentes, ora vemos outros. Uma fotografia particularmente curiosa encobre o local da grande cidade industrial americana de Detroit.

Nenhuma destas fotografias foi jogada fora, estão todas nos arquivos da N.A.S.A.  e. podem ser consúltadas.

Seria interessante conferir isso e tentar encontrar uma correlação entre a altitude do satélite que tirou as fotografias, a intensidade das camadas de radiação ao redor da Terra, o vento solar e talvez outros fenômenos.

Parece certo que os astronautas vêem infinitamente melhor do que poderíamos acreditar, até mesmo muito melhor do que as leis da ótica o permitem. Os croquis feitos pelos astronautas também deveriam ser examinados com cuidado, principalmente quando mostram cidades que não localizamos. Por enquanto, esta é a única via científica passível de nos conduzir á solução deste curioso problema. O estudo das aparições e desaparecimentos, o estudo. dos mapas da Idade Média já foram feitos mais de uma vez, e até aqui nada de realmente interessante parece ter sido extraído disso. E claro que encontramos relatos estranhos, mas isso não basta para que se elabore uma teoria científica.

Também seria interessante — mas talvez seja pedir muito — estudar, sob o ponto de vista científico, as afirmações dos teosofistas e da Tradição hindu a respeito dos dwipas. Infelizmente, isto exigiria um esforço muito especial por parte dos cientistas.Conforme afirma com muita justeza Guénon (Le Règne de la Quantité, página 65, Gallimard) :

"E, com efeito, a mentalidade moderna e `científica' caracteriza-se efetivamente, sob todos os aspectos, por uma verdadeira `miopia intelectual'... Talvez venhamos a perceber que muitas coisas atualmente con-sideradas como `fabulosas' não o eram, absolutamente, para os Antigos."

Penso ser necessário ligar à questão de uma estrutura desconhecida da Terra as experiências recente-mente feitas sobre as Pirâmides. Infelizmente, os trabalhos originais egípcios são em árabe, e só pude ler alguns resumos em inglês, publicados principalmente na enciclopédia Man, Myth and Magic. Segundo essas informações, teria havido uma tentativa de sondar a Grande Pirâmide com detectores de raios cósmicos. Isto teria revelado a existência de cavidades importantes e secretas, se é que existem. A absorção dos raios cósmicos se processa de modo diferente num sólido ou no ar. A diferença é bastante fraca, porém os modernos instrumentos de detecção a tornam sensível. Aliás, realizou-se recentemente o que se chama "telefone atômico" que permite transmitir sons e imagens através dos sólidos com alguns mésons mu produzidos por um acelerador e detectados por dispositivos muito sensíveis. Pois bem, as experiências feitas nas Pirâmides deram resultados totalmente impossíveis. Para interpretar cientificamente estes resultados, duas hipóteses foram propostas:
 

Uma força, no interior da Pirâmide, desvia os raios cósmicos. Esta hipótese é inteiramente improvável, pois para desviar os raios cósmicos são necessários campos magnéticos de uma força formidável, que te-riam sido detectados. Ora, nenhum magnetismo especial foi encontrado nas Pirâmides.
 

As Pirâmides possuem uma forma interior diferente da exterior. O espaço seria modificado no interior das Pirâmides, o que faz com que a sua forma interior não seja a mesma forma piramidal que se observa pelo lado de fora.

Esta hipótese b me interessa extraordinariamente. Pois, se ocorre no interior das Pirâmides o mesmo fenômeno das "pregas topológicas" ou "superfícies de Riemann", então este fenômeno poderia ser estudado com muito mais facilidade. Mais uma razão para se desejar que a guerra civil no interior da etnia semítica acabe bem depressa.

No estado em que estão as. coisas, o mínimo a dizer é que . eu não seria bem recebido no Egito. Existem alguns estudos sobre o efeito geral da forma piramidal, sobre a maneira pela qual ela modifica o es-paço e concentra algumas radiações mais ou menos bem conhecidas. Estes estudos estão ligados ao nome de um pesquisador suíço, escritor que usa o pseudônimo de Enel e cujos trabalhos são facilmente accessíveis. Também encontramos um resumo dos trabalhos de Enel no , belo romance de Raymond Abellio La Fosse de Babel (Gallimard). Refiz algumas dessas experiências e o mínimo que posso dizer é que são curiosas. O mais estranho é que se obtém, com uma aparelhagem muito simples feita com papelão, alguns resultados dificilmente explicáveis pela física moderna. Talvez esteja aí uma solução do problema que nos interessa.

A Tradição sempre afirmou que existe uma ligação entre a geometria sagrada e a geografia sagrada. A mesma opinião é defendida por Robert Heinlein em seu curioso romance La Route de la Gloire (Edições Opta). Voltaremos ao assunto assim que chegarmos ao capítulo sobre as portas induzidas.

Ë possível que toda a arquitetura sagrada consista em reservar uma, porta que se abra sobre os aspectos desconhecidos da Terra.

Nisto estaria o segredo de todo templo, não importa a que religião pertença.

Todo verdadeiro santuário poderia servir de refúgio porque podemos passar através do santuário de um templo para algumas regiões às quais os perseguidores do momento não têm acesso.

Não existem, que eu saiba, estudos sobre a noção de. santuário, isto.é,..de lugar pertencente a Deus, roas bem que deveria haver um.

A Tradição hebraica oferece neste campo um abundante material accessível, principalmente a respeito do fenômeno denominado "a Glória do Senhor" ( A Glória do Senhor era uma radiação luminosa que cercava o tesouro do Templo de Jerusalém, e que cegava, a não ser quando olhada com óculos de quartzo. Um procônsul romano ficou cego desta maneira.)    Infelizmente, não tenho a competência necessária para proceder a estudos neste domínio particular, mas apenas gostaria de lembrar que, em hebraico, "luz" e "mistério" são a mesma palavra.

O leitor rabugento dirá que não provei nada. Certo. Tudo quanto espero, porém, é que um determinado número de leitores, ao olhar um globo terrestre, possa concluir que ele não é a última palavra da ciência.

 

 

Extraido  do livro Passaporte para uma outra Terra  de  Jacques Bergier  ---  Editora Francisco Alves   ---    1974
 
 
 

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