Por que o imperio incaico que se expandiu por centenas de quilometros ao Norte e ao Sul - dos Andes as costas do Pacifico - nao fincou nenhum estabelecimento nas florestas do Leste, no atual territorio brasileiro? A resposta imediatista mais correntemente usada tem sido a de que um grupo mais civilizado teria fatalmente sucumbþdo nas lutas com os indigenas das florestas e planaltos centrais. Esta resposta nao resiste a um sentido critico, pois a Cronica da Conquista relata que, sob o mando de uma elite incaica, viviam tribos tao atrasadas e belicosas como as brasileiras. É fato bastante conhecido que sob a denominação generica de incas, conviviam grupos etnica e culturalmente heterogeneos. A pesquisa cientifica moderna encontrou uma razao mais aceitavel, que se explica pelo "principio de Steward". A evolução sócio-cultural de um grupo esta intimamente ligada ao processo da produção agricola . Ou seja, o grupo que supera suas necessidades basicas (agricolas) se sedentariza e tende a especificar-se, desenvolvendo, entao, varios setores e, por conseqnencia, enriquecendo a estrutura socio-cultural.
Aceitando-se a teoria, seria esta a circunstancia basica para que as chamadas culturas medias e altas se transformassem nas civilizações que possibititaram o advento da historia. Em vista deste principio, a Floresta tropical dificilmente possibilitaria o surgimento ou sobrevivencia de uma civilização, pois que ai a economia se fundamenta no cultivo de derrubada e queimada, processo ainda em uso na zona rural e que provoca a exaustao rápida do solo. Nestas circunstancias, o grupo nao tem condições de se estabelecer por longo tempo, e acaba por enfrentar os mesmos problemas das coletividades nômades de coletores-caçadores. O "principio de Steward" tem sido aceito como resposta para a decadencia e extinção da cultura marajoara, sociedade de nivel superior ao dos nossos brasilindios.
Entretanto, algumas descobertas arqueologicas e, sobretudo as tradições indigenas, fazem crer que tenha havido, peIo menos, tentativas do estabelecimento de aItas culturas, dentro de nossas fronteiras. A tradição mais corrente e ainda viva e a do estabelecimento de uma facção incaica, que teria fugido a dominagao dos europeus .Esta tradição acabou por se confundir, nos registros dos cronistas, com a estória de Manoa do Eldorado, cidade Iendaria, cuja localização foi sendo deslocada, durante os tempos da conquista, desde as serras setentrionais colombianas ate a Amazônia brasileira. Conforme tradição mais corrente, se localizaria numa ilha do lado Parima nos sistemas setentrionais, no territorio de Roraima. Outras tradições colocam-na mais para leste, na serra de Tumucumaque. E, finalmente o cel. Percy Fawcett a teria localizado nas florestas do norte de Mato Grosso. O infeliz coronel ingles jamais retornou de sua derradeira expedição, permanecendo o misterio sobre a real existencia de uma cidade perdida naquela regiao. Afora esses mito-lendas dificeis de situar geograficamente ha um testemunho setecentista do padre Andre de Barros, segundo o qual um de seus subordinados teria visitado uma cidade habitada por seis diferentes povos, nos "desertos do Tocantins". Nao há maiores detalhes sobre esta suposta cidade indigena no documento, nem outras referencias a seu respeito. Verdadeiramente, exceþao feita ao estabelecimento das culturas marajoara e tapajoara, não há qualquer dado concreto sobre a existencia dessas lendárias cidades. Mas coincidentemente existe um interessante documento, arquivado na Biblioteca da Torre do Tombo, em Lisboa, cujo relato poderia muito bem relacionar-se com esses possiveis estabelecimentos remotos, em nosso territorio. Trata-se de uma carta assinada por d. Afonso de Albuquerque, enviada das Indias ao rei D. Manuel. Refere-se o missivista a descoberta por aqueles dias (por volta do ano de 1516), de um antigo mapa oriental, confeccionado em seda no qual, para seu espanto, se via cartografado todo o litoral do Brasil. E o mais interessante - o mapa vinha ilustrado com coisas da terra e contendo estranhas coordenadas geograficas. Algumas dessas sinalizações localizam pontos do antigo Estado de Goiás, mais precisamente, do vale do rio Tocantins.
O que assinalariam estas coordenadas? Minas, templos, cidades?
Nessa época os europeus
nao haviam arredado os pés do litoral. Por outro lado,
o súdito portugues das fndias nao deixa dúvidas
quanto a antiguidade do referido mapa. Infelizmente, não há
maiores informações; não se conhece ao menos a procedencia
do antigo mapa.
As coordenadas geograficas se refeririam
a suposta cidade visitada pelo religioso
da ordem de Andre de Barros? Ou à cidade procurada pelo cel. Fawcett?
É possivel que o coronel ingles tivesse conhecimento dessa carta
e que por seus dados se guiasse na procura de suas cidades. Fawcett acreditava
na existencia de mais de uma cidade. A mais importante seria
ainda povoada pelos remanescentes de seus antigos edificadores.
Tratando-se porem de cidades perdidas no Brasil, nenbum documento
se mostrou tao real como a "Relação
Histórica de uma oculta e grande povoação
antiquissima sem moradores, que se descobriu no
ano de 1753", encontrada por um antigo secretario do Instituto Historico.
A relação acha-se arquivada sob o n.º 512 da Seção
de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
A Relação Histórica
narra a descoberta de uma cidade abandonada nos
sertões da Bahia, por um grupo de bandeirantes que, no
ano de 1753, procurava as fabulosas minas de prata do
Muribeca. Fato mais surpreendente e que a descrição do cabo
da bandeira faz supor uma cidade tao grandiosa quanto as do Mexico e do
Peru ou, por outra, uma sociedade ainda mais desenvolvida, já
que possuia um sistema de escrita e
cunhava moedas. A entrada para a cidade se fazia por tres arcos de grande
altura. Eis a descrição que se segue (1):
"Faz uma rua da largura dos três arcos com casas de sobrado de uma e outra parte, com as fronteiras de pedra lavrada e já denegrida; so . . . . . . . . inscrições, abertas todas . . . . . . . ortas sao baixas, de fei . . . . .... nas notando que pela regularidade e simetria com que estão feitas, parece uma só propriedade de casas, sendo em realidade muitas, e algumas com estes terrados descobertos e sem telha porque os tetos são de ladrilhos requeimado e de lajes outros.
Corremos com bastante pavor algumas casas; em nenhuma achamos vestigios de alfaias, nem móveis que pudessemos pelo uso e trato conhecer a qualidade dos naturais as casas são todas escuras no interior e apenas tem uma escassa luz e como são abobadadas,ressoavam os ecos dos que falavam e as mesmas vozes aterrorizavam.
Passada e vista a rua de bom comprimento, demos com uma praça regular e no meio dela uma coluna de pedra preta de grandeza extraordinaria e sobre ela uma estatua de homem ordinario, com uma mao na iiharga esquerda e o brago direito estendido, mostrando com o dedo index o PoIo Norte: em cada canto da dita praça esta uma Agulha, a imitaçãao das que usavam os romanos, mas algumas já maltratadas e partidas, como feridas de alguns raios.
Pelo lado direito desta praça esta um soberbo edificio, como casa principal de algum senhor da terra; faz um grande salão na entrada e ainda com medo nao corremos todas as ca . . . . sendo tantas e o retret . . . zeram formar algum . . . . . . mara achamo . .. . . . . . massa de extraordin . . . . .. . . . . . . soas lhe custavam o levanta-la.(. .) Da parte esquerda da dita praça esta outro edificio totalmente arruinado e pelos vestigios bem mostra que foi templo, porque ainda conserva parte de seu magnifico frontispicio, e algumas naves de pedra inteira; ocupa grande territorio, e nas suas arruinadas paredes se veem obras de primor com algumas figuras e retratos embutidos na pedra com cruzes de varios feitios.
Segue-se a este edificio uma grande parte de povoaþao toda arruinada e sepu)tada em grandes e medonhas aberturas da terra, sem que em toda essa circunferencia se veja erva, arvore ou planta produzida pela natureza, mas sim montões de pedras, umas toscas e outras lavradas, pelo que entendemos . verção, porque ainda entre . . . . .da, de cadaveres, que . . . . . . . e a parte desta infeliz da . . . .e desamparada, talvez por algum terremoto. (. . .) Afastado da povoação, tiro de canhão, esta um edificio, como casa de campo de 250 passos de frente; pelo qual se entra por um grande pórtico e se sobe por uma escada de pedra de varias cores, dando-se logo em uma grande sala, e cada uma sobre si, e com bica d'agua ...... .... a qual agua se ajunta . . . . . . . . . mao no patio exter . . . . . . . . colunatas em cir . . . . . . . . ro quadro por artificio, sus- pensas com os seguintes caracteres. (. . .) Um nosso companheiro chamado Joao Ant6nio achou em as ruinas de uma casa um dinheiro de ouro, figura esferica maior que as nossas moedas de seis miI e quatrocentos de uma parte com a imagem ou figura de um moço posto de joelhos; e de outra parte um arco uma coroa e uma seta, de cujo genero nao duvidamos se ache muito na dita povoação ou cidade desolada, porque se foi subversão por algum terremoto, nao daria tempo o repente a pôr em recato o precioso; mas é necessário um braço muito forte e poderoso para revolver aquele entulho calçado de tantos anos, como mostra".
Que cidade seria esta supostamente descoberta por bandeirantes nos sertões da Bahia? Que sociedade seria esta, capaz de construir cidades tao grandiosas, com asas assobradadas, frontispicios gravados em relevo, estatuas clássicas montadas nos cimos de altas coIunas?
(1) Extratos da Relação
publicada na integra em Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro - Vol. I - 1839
Considerando-se real a existencia
de tal cidade, teriamos de admitir então que, verdadeiramente, povos
do Velho Mundo estiveram no Brasil e aqui se estabeleceram por , tempos
prolongados. A descoberta da moeda cunhada em ouro e das construções
em arco eliminam de imediato qualquer possibilidade de sua filiação
a civilizações americanas. Nenhuma sociedade americana antiga
fez uso de moedas cunhadas ou de construções em arco, que
somente aparecem com os etruscos e se aperfeiçoam sob
o dominio dos romanos.
Estas circunstancias deporiam em
favor do estabelecimento de povos europeus relativamente
recentes. Que povos seriam estes?
Entretanto, é necessario considerar, a relação dos bandeirantes constitui documento de autenticidade um tanto suspeita. O documento mostra-se rasurado justamente nos pontos onde se inscreviam detalhes importantes (como o nome do chefe da bandeira , e a localização da suposta cidade é muito vaga. No que se refere a localização, a relação menciona apenas os nomes de dois rios:
"Essas noticias mando a Vm. deste sertão da Bahia e dos rios Paraoaçu , Uná, assentando nao darmos parte a pessoa alguma, porque julgamos se despovoarão vilas e arraiais, mas eu a Vm. a dou das minas que temos descoberto, lembrando do muito que lhe devo "
Pelo ano da descoberta (1753) tratar-se-ia, possivelmente da bandeira do mestre de campo Joao da Silva Guimarães. Após a descoberta, o Instituto Histórico fez publicar o documento na integra, e encarregou um de seus associados, o con. Benigno de Carvalho e Cunha, de localizar a suposta cidade perdida.
Partindo dos rios referidos na relação, supunha o con. Benigno que a cidade se encontrasse na região das nascentes do Una junto as encostas da serra Sincorá. Gastou algualguns anos na busca , sempre próximo da grande descoberta (segundo seu raciocinio), sem encontrar, porém, qualquer evidência que fizesse crer na real existência da cidade perdida.
Ao contrario, surgiram comentarios de que ele tivesse descoberto a cidade e, conjuntamente, as minas de prata, pelo que teria sonegado informações, visando a utilizar-se da descoberta em beneficio próprio.
Em 1848, o major Manoel Rodrigues de Oliveira, com base em depoimentos de testemunhas com firmas reconhecidas, relata descobertas que poderiam se relacionar a existência da suposta cidade abandonada. Os achados arqueologicos da Mata da Provisão e das adjacencias de Camamu e Belmonte referem-se a antiguidades insólitas: entre elas, um punho de espada de prata, de dimensões incomuns; muita louça fina como a das fndias; e rodelas de cobre similares a moedas. O autor da comunicação, entretanto, perambula até o rio Jequitinhonha, a centenas de quilometros do Paraguaçu-Una, supondo, ou a existência de um segundo estabelecimento ou completo desconhecimento de geografia. E assim, a localização da cidade perdida da Bahia começa também a variar, a exemplo das tradições sobre Manoa. Em conferência realizada em 1888 Aristides Espinola declarava que os moradores da margem direita do rio Gongogi, afluente do rio das Contas, tinham noticias de ruinas espantosas na região. Lindolfo Rocha relata o depoimento de um tropeiro que teria passado por uma cidade despovoada, entre os rios das Contas e Gongogi. Nesta oportunidade, o conferencista expôs uma pele de veado branco considerado extinto. e ao qual se refere a relação dos bandeirantes.
Pesquisando na região do Sincora, o dr. G. Martins encontrou estranhos sepultamentos antigos, compostos, uns, de monticulos artificiais, e outros, de pequenos tuneis escavados nas rochas e herméticamente fechados com paredes de pedras. Afirma ser tradição comum na região que, na Mata da Jibóia, em tempos remotos, certos indigenas haviam edificado uma soberba cidade. Por outro lado, o eng. Teodoro Sampaio, que viajou pela região próxima das cabeceiras do Una, acredita que os rudes bandeirantes tenham se impressionado com as estranhas formas modeladas pela natureza, surgindo dai a lenda da cidade abandonada naqueles sertões. Diz ainda ter encontrado na Lapa da Moxambomba signos pintados que atribui aos vaqueiros, e que teriam dado origem a suposta escrita observada na cidade.
"As hipóteses e conjeturas do con. Benigno haviam-no feito localizar a lendária cidade abandonada nestas paragens que estamos descrevendo, entre os rios Paraguaçu e Una, próxima a extremidade meridional da serra do Sincora, que tinhamos em frente. Nada descobri, porém, no terreno, que justificasse a possibilidade de ali ter existido, em tempos pré-históricos, um centro de população qualquer."
Em 1914, um arqueólogo austriaco, Georges Lubowiscy Luhen afirmava ter localizado uma cidade abandonada em ruinas, nas proximidades da serra Itaraçá junto à lagoa Camaci. No Arquivo PúbIico da Bahia acha-se arquivada uma planta com a situação da cidade, que ele chama de Apuarima. Infelizmente, as denominações que usa não são conhecidas no local e não constam de nenhum outro mapa. As referências mais objetivas falam apenas de duas estradas que demandam o Norte e Sul, respectivamente, nas direções de Jequié e de Canavieiras. As mirabolantes aventuras relatadas, em que o autor aparece sempre como personagem central, e suas peripécias, até se tornar genro de um chefe indigena, comprometem a autenticidade do relato.
Finalmente, em 1920, uma viagem
foi empreendida a região do rio Gongogi, pelo cel. . Fawcett, que
se notabilizaria, posteriormente, por seu misterioso desaparecimento
nas florestas mato-grossenses. O coronel ingles, de comum, muito
misterioso quanto ao ponto concreto de suas buscas, perambulou solitario
pelos arredores de Boa Nova, de onde parece ter voltado
entusiasmado. Não encontrara nenhuma cidade,
mas conseguira informações e pistas muito alvissareiras,
que lhe fizeram crer na realidade da sua existência. Isto foi
o que declarou a imprensa, na época. Estranhamente, no material
publicado por seu filho Brian, apos sua morte, vem exposto o contrário
- que sua expedição ao Gongogi o decepcionara. Mais estranho
ainda é que tivesse a localizagao
de uma cidade, visitada pelo cônsu1 ingles ceI. O'Sullivan
Beare, nas proximidades de Xique-Xique, e fosse deambular por regiões
tão opostas àquela. Após a morte inglória
de Fawcett( conforme confirmado pelos Irmãos Villas-Boas, o Cel.
foi assassinado pelos indios /rsm), essas cidades lendárias perderam
muito do seu brilho e cairam em quase total esquecimento.
Pouco tempo depois da publicação
da Relação dos Bandeirantes, o dr. Wilhelm Lund, cientista
dinamarquês, que se notabilizaria pelos seus estudos
de Paleontologia e Antropopaleontologia, na região de Lagoa Santa,
enviou uma cópia do documento à Sociedadeda dos Antiquários
do Norte, com sede em Copenhague, em resposta do que, esta Sociedade mandou
um grupo, comandado pelo ten. Svenson, com o fito de localizar a cidade.
A expedição não chegou a pôr-se em campo. O
grupo dependia de certos mapas e do cumentos que lhes seriam fornecidos
pelo arcebispo da Bahia e, por qualquer motivo, a ajuda nao
lhes foi prestada. Essas informações teriam sido passadas
ao cônego Benigno, que fora incumbido da mesma tarefa.
Não obstante, em sua
Memória, o dr. Lund dá todo credito a existência
da cidade abandonada, afirmando haver constatado que,já
no século 12, a Bahia
era colonizada. Aparentemente, o sábio de Lagoa Santa acreditava
que a cidade abandonada constituisse
obra de povos normandos.
Interessante notar, também o padre George Fournier (Memórias
da Marinha Francesa) afirma que,
, já no seculo
12, normandos e bretões conheciam o Brasil e traficavam pau-brasil
com os indigenas do rio Sao Francisco. É possivel que Lund se tenha
baseado na mesma fonte.
Em publicação da Sociedade Real dos Antiquários, do ano de 1849, le-se que :
"Numerosos monumentos atestam a presença em solo americano de colônias escandinavas. Parece mesmo que avangaram mais que de ordinário; sómente assim se podem explicar estas casas, que pareciam calcadas sobre as casas norueguesas e islandesas, que encontrou o dr. Lund na Bahia, ao mesmo tempo que uma estátua com todos os atributos de Thor".
Não temos noticias dessas descobertas de Lund e parece-nos que se trata de um equivoco; aquela Sociedade teria tomado a descoberta e divulgação do documento bandeirantista, como uma descoberta de fato levada a efeito pelo seu associado, dr. W. Lund.
Outro fato que precisa ser observado e o da autenticidade do documento encontrado na Biblioteca Nacional. Não acreditamos como queria Teodoro Sampaio, que a Relação dos Bandeirantes se devesse a fantasia de algum bandeirante, o que nos parece fora de propósito, considerando a contumaz austeridade e sisudez desses desbravadores. Parece-nos muito mais provável que o documento tivesse sido forjado no próprio Rio de Janeiro, por um fraudador qualquer, com os mais diferentes propósitos. Aliás, a comprovada fraude da "pedra fenicia" da Paraiba surgiria poucos anos mais tarde. Um teste severo com especialistas em paleografia talvez elucidasse de vez sobre a autenticidade da Relação dos Bandeirantes.
Existe, ao nosso ver, uma unica
noticia, contida em documento pouco divulgado, que poderia, talvez,
se levantar como argumento
em prol da autenticidade da Relação
e, por consequencia, da realidade de tal
cidade , perdida.
Em relatório assinado pelo
dr. Manoel Pereira da Silva Lobo, sobre a descoberta das minas de Assurua,
refere o autor que no interior de lapas fechadas se havia encontrado,
além de cadinhos e bigornas, diferentes vasos de barro, dos quais
alguns se mostravam estampados com cunhos de moeda. Encontrou-se tambem
ouro já derretido guardado nos potes. O assinante do Relatorio de
opinião que aquelas minas fossem parte dos grandes cabedais deixados
ocultos pelo Muribeca, o que se comprova por varios objetos ali achados.
Eis porém, sua conclusao textual sobre a deseoberta
"Entretanto, não me persuado de que todos aqueles utensilios encontrados fossem do Muribeca, nem que o ouro fosse por ele derretido e, por acidente, ali ficasse para oculta-lo, porque as inscrições não são dele, ao que parece, mas sim de povos anteriores, embora ele conhecesse ou fosse descobridor daqueles tesouros".
O dr. Silva Lobo se refere ainda à "varias pedras contendo inscrigoes em caracteres desconhecidos, parecendo elas pregadas ou embutidas de proposito, para fazer alguma tapagem ou ocultar algo; nao se conseguiu arrancar nenhuma".
Estes dados
acham-se de acordo com o exposto na Relação dos aventureiros,
além de que nos parecem dignos de nota os "vasos de barro com cunhos
de moeda" contendo ouro ja derretido, em lugar onde nunca os portugueses
haviam minerado. Esta região produz ouro ate hoje, e há poucos
anos - fato inusitado - foram descobertas esmeraldas; na mesma região,
ainda se processa a exploração de minerios argentiferos.
E assim, de repente, parece que as tradições sobre as minas
fabulosas do Muribeca se transformam em realidade. E se a tradição
da cidade abandonada constituir tambem uma realidade? Se é verdadeiro
que a Bahia é toda povoada, também é verdade que existem
caatingas inóspitas, serras ingremes e vales escondidos, por onde
poucos se aventuraram. Em Monte Alto, um sertanejo levou-nos
a ver uns "trens dos escravos"
(os "trens dos escravos" sao os restos de um importante santuário,
de cerca de 3 mil anos) . Quem sabe em que recôndito vale se encobre
a cidade abandonada, descoberta pelos bandeirantes do seculo 18? Ficção?
Realidade? A tradição e a dúvida persistem
Extraido de um artigo de Luiz
Galdino