No número 41 (1953) de Doubt (Dúvida) ,
revista da sociedade forteana ( pags. 214-215) Tiffany Thayer publicou
uma
transcrição e uma tradução de um papiro
egípcio datando do reinado de Tutmósis III ( XVIII dinastia,
Novo Império). O texto aqui reproduzido era uma transcrição
da escritura hierática em hieróglifos ( com a indicação
das lacunas).
Teria sido enviado a Thayer pelo principe Bóris de Rachewilts, que escreveu :
"A transcrição que envio foi feita de um papiro do
Novo Império que encontrei entre outros papéis e doumentos
do
falecido professor Alberto Tulli, antigo diretor do Museu Egípcio
do Vaticano . Ele havia restaurado esse documento do
Egito, mas após sua morte eles permaneceram sem tradução
nem publicação. ë graças à amabilidade
de seu irmão , o
Monsenhor Gustave Tulli , dos Arquivos Vaticanos , que tive
a possibilidade de traduzi-lo.
"A presente transcrição é uma parte dos Anais
Reais da época de Tutmósis III ( 1.504-1450 a.C.) e o
original está em
péssimo estado. Faltam o começo e o fim, a escrita
( em hierático ) está pálida e apresenta várias
lacunas, que
reproduzi na minha transcrição hieróglifica
e numeradas . . . Escolhi no conjunto do papiro ( 20 x 18 cm ), a
parte
conservada e talvez a mais interessante ; porém cabe aos
senhores julgar".
Eis a tradução de Rachewilts :
"( lacuna 1 . . . ) No 22.º ano , no terceiro mês do inverno
, na 6.ª hora do dia (. . . 2 . . .) . Os escribas da Casa da Vida
descobriram que era uma bola de fogo que vinha do céu. (Se
bem que ) ela não possuísse cabeça , o sopro
de sua
boca (tinha) um odor fétido. Seu corpo, uma vara ( cerca
de 5 metros) de comprimento e i vara de largura. Não falava .
Seus corações estremeceram e lançaram-se à
terra de bruços ( . . .3 . . .) . Eles foram ter com o rei . . .(?)
para lhe
relatar. Sua Majestade ordenou ( . . . 4 . . .) foi examinado ,
( . . .5 . . .) tudo quanto foi escrito na Casa da Vida, Sua
Majestade meditou acerca do que chegara. Ora , após alguns
dias se passarem essas coisas , eis que elas foram mais
numerosas que nunca! Elas brilhavam no céu mais do que o
Sol até os limites de quatro pilares do firmamento ( . . .6 . .
.) . Poderosa era a posição das bolas de fogo. A armada
do rei as observava e o rei encontrava-se no meio dela. Era
após a refeição da noite . Sobre esta , elas
( as bolas de fogo) se elevaram mais alto em direção ao sul.
Peixes e
voláteis caíram do céu . (Era) uma maravilha
jamais vista desde a fundação deste país! Ela pediu
à Sua Majestade que
usasse incenso para apaziguar a Terra ( . . . 9 . . . Para
escrever? ) o que chegou no livro da Casa da Vida ( . . . 10 . . .
a fim que se guarde a lembrança? ) na Eternidade".
Esse texto foi publicado depois nas obras ( tais como Os Discos-Voadores
não-identificados por Harold Wilkins,
Londres , 1956 ) como exemplo de uma relação muito antiga
de uma observação de OVNI e/ou de uma "chuva" fortiana.
Agora, o nó da história.
Este papiro existe (ou existiu ) ? Se existe ( ou existiu ) onde está agora?
Rachewiltz designou o manuscrito como tendo figurado na coleção
do Vaticano. Verificando este caso , lemos num
capitulo do "Os OVNIs na História" por Samuel Rosenberg do Rapport
Condon (Relatório Condon ) : que a
resposta a um telegrama ao Departamento Egípcio no Museu do
Vaticano foi esta:
"Papiro Tulli não propriedade do Museu do Vaticano . Ë agora desaparecido , mas passível de recuperação".
Inspetor do Museu Egípcio do Vaticano
(assinado) Gianfranco Nolli
Cidade do Vaticano 25 de julho de 1968.
Mais tarde , o próprio Dr. Condon , pelo que no disse , escreveu
ao Dr. Walter Ramberg , adido da Embaixada dos EUA
em Roma. O Dr. Ramberg respondeu , segundo a citação
: "/ . . . / o atual diretor do Departamento Egípcio do Museu
do Vaticano , o Dr. Nolli , declarou que . . . o
professor Tulli deixara todos seus compromissos pessoais a seu irmão,
que era sacerdote no Palácio de Latrão . Pode-se
presumir que o papiro coube a esse sacerdote. Infelizmente este
morreu igualmente na época e seus bens pessoais dispersaram-se
entre seus herdeiros que podem ter se
desembaraçado desse papiro como objeto sem valor .
"O Dr. Nolli deixou claro que o professor Tulli não era senão
um "egiptólogo" amador (as aspas estão no texto ; com
toda a evidencia , o Dr. Ramberg não está certo de
que os egiptólogos sejam verdadeiramente conhecedores . .
.) e
que o principe de Rachewitz também não é expert.
Tem-se a impressão de que Tulli foi enganado e que o papiro seja
falso . . .)
Temo-nos interrogado --- sem referencia aos
documentos Condon --- ao mesmo tempo o Vaticano
e a
Universidade de Saint Louis , onde a Biblioteca Comemorativa Pio
XII abriga cópias microfilamadas da Biblioteca
do vaticano. Nesta ultima, por carta pessoal de 10 de fevereiro de
1970, de Charles J. Ermantinger , resposável pelos
microfilmes do Vaticano , comprovamos que a Universidade de Saint-Louis
não possui microfilmes dos papiros egípcios
do Vaticano.
Todavia , do Vaticano recebemos uma resposta do próprio
Monsenhor Nolli onde ele afirmou que falou pessoalmente
com Rachewiltz , onde estão sublinhados os seguintes pontos:
1. O papiro Tulli nunca figurou nas coleções do Vaticano;
2. O papiro foi visto pelo prof. Tulli em 1934 , no Cairo, no antiquário Tano;
3. A transcrição da escrita hierática em hieróglifos foi feita por E. Drioton;
4.
A opinião de Drioton era de que esse papiro não era de caracterisitca
"mágica" , mas descrevia a queda de um
meteorito ( um meteorito bastante interessante ) ;
5.
Tulli não adquiriu o papiro pelo alto preço pedido, mas pensou
em comprá-lo através de uma pessoa particular
ou por um museu do Cairo; ou que ele estivesse nas mãos de Tano.
Pode-se observar que a apresentação geral desta carta
não implica que o papiro é ( ou era ) uma farsa, como
o
insinuou a declaração do Dr. Ramberg.
Mas onde ele nos conduz?
À nenhuma parte em particular. O papiro meteorológico
ou Papiro Tulli pode ser autentico. Pode ser que ainda exista .
Se assim for e se lido verdadeiramente como o afirmava Rachewilts ,
permanece extremamente obsecuro quanto à
natureza dos acontecimentos aos quais ele se refere.
Uma conclusão pode ser tirada, apesar deste lodaçal papirológico
; que o ceticismo de Rosenberg é bem merecido . . .
mas pode-se ter também igual ceticismo diante tanto do Vaticano
quanto dos conselheiros do Relatório Condon . E
ter-se-ia provavelmente vantagem ao seguir Rosenberg "considerando
nenhuma opinião como certa" .
O caso do Papiro Tulli não seria exposto pela excelente
revista italiana "Il Giornale dei Misteri" de Florença (
nº4 ,
pag. 1 ) que publica a fotografia de uma carta datada de 30 de maio
de 1971 do principe Bóris de Rachewiltz. A despeito
das dúvidas expressas a seu respeito ao Relatório Condon
, este bem parece ter uma certa notoriedade cientifica . Há
mesmo um endereço sério : "The Ludwig Keimer Foundation
for Comparative Research in Archeology and
Ethnology , Elisabethenstrasse 15 , 4.000 Bâle , Suíça
".
Nesta carta , Rachewiltz , sem negar a existencia do Papiro Tulli ,
contesta a exatidão da tradução que lhe foi
atribuida
e, sobretudo , a interpretação que lhe foi dada. Depois
dele , ninguem permitiu afirmar que se tratava de uma incursão
de extraterrestres.
Outros pesquisadores têm relacionado o texto (traduzido) do papiro
Tulli com aquele da Biblia que descreve "rodas de
fogo" por ocasião da levitação misteriosa do profeta
Ezequiel.
A questão fica aberta.
Extraido do livro O Livro do Inexplicável de Jacques Bergier
- Hemus - 1973