SAUDADES DA VELHA MACAÉ
Da memória não me sai a Macaé dos primeiros anos quarenta, da minha pré-adolescência, da minha inocência que se perdia. Num escaninho estão as sessões "colosso" do Cine Taboada, os banhos de mar na Praia do Forte, o carnaval na rua Direita. Noutro canto da memória, a velha ponte de ferro, o mercado de peixe, a Imbetiba - da praia de areias singulares, do hotel e da oficina da Leopoldina.
Por essas bandas, a rua do Meio, de que os mais velhos falavam e alguns freqüentavam.
No alto do morro de Santana, a igrejinha da padroeira a dominar a vista da pacata cidade. A ponte da estrada de ferro cruzando o velho rio e levando os trilhos à planície dos goitacazes; essas e tantas imagens mais ocupam outras gavetas da minha um tanto cansada memória.
Ajudar a puxar arrastão nas noites de luar, catar pitangas lá pros lados da Barra. O café Belas Artes, as bandas de música - a Lira e a Nova Aurora, o velho ginásio do gordo Barbosa, a rua Boavista - da Congelação e da casa em que morei. Todas essas lembranças foram marcadas pela guerra cujos ecos nos chegavam pelos pousos de emergência no campo de aviação, pelo blecaute nas luzes da rua da Praia. Minha doce Macaé, que marcou a minha vida de forma indelével. Que encurtou minha família ficando com minha mãe e meu avô, que aumentou-a, também, dando-me o irmão mais novo. São muitas as lembranças espalhadas pela memória.
A garagem de bicicletas, a fábrica de sandálias, os retalhos de madeira pra fazer avião de brinquedo, as estampas do sabonete Eucalol. O prédio e as palmeiras da praça da Prefeitura, as pescarias de robalo no pontal, as caçadas rio acima com o velho pai.
Ao ver-te, hoje, seis décadas depois, não lamento as mudanças que fisicamente te transformaram. Continuas bela, tua essência permanece; e não há petróleo que a faça desaparecer.
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