O PÁSSARO QUE MUDAVA DE COR  ( E DE HUMOR )

 

     A casa era pequena e modesta, mas confortável para uma família pequena. Ficava no final da rua que terminava junto à subida de uma pequena elevação onde havia um terreno arborizado. Duas mangueiras, um abacateiro, algumas bananeiras, um coqueiro e algumas outras pequenas árvores formavam aquele pequeno pomar. Os pássaros das redondezas se concentravam ali. Sanhaçus, papa-capins, rolinhas, os pardais de sempre e até mesmo alguns sabiás era comum vê-los por ali. O local era, pelo menos naquela ocasião,  muito tranqüilo e agradável.

     Para essa casa, que estivera desocupada por uns poucos meses, estava chegando agora uma nova família, um casal com um par de anos de vida em comum. Tendo ele não mais que trinta anos e ela talvez uns vinte e cinco,  Francisco e Olívia mostravam nos rostos uma aparente felicidade. Seus bens não eram muito diferentes dos que compõem a mudança de pessoas da pequena classe média. Além dos móveis essenciais, de cama, mesa e cozinha, havia os de lazer como televisão, videocassete, aparelho de som entre outros. Logo ao início da tarde estavam instalados.

     Os dois trabalhavam fora e somente pela manhã e à noite estavam em casa. E foi numa das primeiras manhãs que eles viram na pequena varanda dos fundos, quando tomavam café na cozinha, um belo pássaro azul muito parecido com um sanhaçu. Espantou-se o casal com a mansidão da ave que parecia muito acostumada com aquela casa tal a tranqüilidade com que pousou na mureta da varanda e observou os dois no clima amoroso que caracteriza um casal recente. Embora encantados com a presença daquela pequena ave, tiveram de deixá-la sozinha já que deviam sair para o trabalho. No dia seguinte e por muitos outros que se sucederam, o pássaro azul lá estava a visitar o casal.

     Por um motivo que só os casais podem explicar, numa determinada manhã parecia que tinham brigado. Os semblantes de Francisco e Olívia denotavam o desentendimento. Ciúmes ou seja lá o que tenha acontecido entre eles, o fato é que só falavam o estritamente necessário para  prosseguir no café da manhã. O surpreendente aconteceu antes que saíssem para trabalhar; o pássaro apareceu com jeito muito triste e com plumagem na cor vermelha. A princípio parecia ser outro pássaro, mas o jeito e o olhar eram os mesmos do azul, disso estava certo o casal que, mesmo em litígio, concordava no parecer. Intrigados com o fenômeno, saíram.

     Talvez influenciados pelo acontecido pela manhã - a mudança de cor do pássaro amigo, o casal se reconciliou e já no dia seguinte pôde tomar seu café em clima amistoso e, mais que isso, amoroso. Para surpresa e espanto dos dois, o pássaro chegou de mansinho, alegre, saltitante e envergando uma plumagem branca. O casal, embora muito intrigado se abraçou e se aproximou da ave  que,  lentamente,  voltava à cor azul.  Tentando encontrar uma explicação para fenômeno - que não encontrariam, com certeza, os dois apenas concluíram que a cor e o humor do pássaro se modificavam conforme estivessem as relações do casal.

     Por mais alguns meses a rotina foi a mesma, pássaro era azul quando as coisas iam bem com o casal, vermelho quando brigava e branco tornando ao azul quando se reconciliava. Para tristeza dele, no entanto, o casal passou a brigar com muita freqüência e sua cor vermelha e sua tristeza o levaram a desaparecer tão logo o casal, já separado,  abandonou a casa.

     Mais algum tempo se passou e a casa voltou a ser ocupada. Desta vez por um casal um pouco mais novo e tendo já uma menininha com cerca de dois anos. Mudança feita, família instalada e café da manhã na cozinha. Não demorou que o pássaro azul aparecesse e, tal como acontecera com o casal anterior, para encanto dos novos moradores. Que se espantaram logo da primeira vez ao verem passar a plumagem de azul para verde, voltando ao azul e  repetindo essa transformação por umas três vezes. O novo casal não sabia da história, mas o verde significava a esperança na figura da criança recém-chegada. Como a situação repetiu-se nas manhãs seguintes, já agora com a cor azul, o novo casal entendeu que aquele pássaro era um mensageiro da paz.

     Por uma única vez, o pássaro se apresentou ao novo casal com plumagem vermelha, passou pelo branco e voltou ao azul. Quando isso aconteceu, os dois perceberam que tal fenômeno ocorreu logo após terem tido uma rusga mais séria e se reconciliado em seguida: por isso entenderam que aquela ave era uma espécie de anjo que os protegia. O fato é que, depois desse desentendimento, o pássaro continuou azul por muito tempo; apenas, de vez em quando, aparecia com a plumagem verde como a demonstrar sua alegria vendo crescer saudável e feliz a pequena Cristiana, esse era o nome da menininha.

     E por alguns anos mais, o amor, a concórdia e a felicidade habitaram aquela modesta casa ao pé da pequena colina e recebendo sempre a visita do pássaro azul, mas que mudava de cor - e de humor - conforme o estado de espírito dos moradores.

 

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