DIFÍCIL ESCOLHA

 

     Parece-me inquestionável a afirmação de que, desde que o homem surgiu na face da Terra, entre suas principais preocupações estavam o comer e o caminhar ou, em termos políticos, o pão e a liberdade. E sejam lá quantos milhares ou milhões de anos tenham decorrido, tais preocupações ainda prevalecem e, pelo visto, com mais chances de perdurarem do que de serem eliminadas.

     Ao longo dos séculos, e à medida que a espécie humana foi se desenvolvendo individual e socialmente, a escolha sempre foi muito difícil: ou pão ou liberdade. Em certas épocas dava-se o pão e para acompanhá-lo, o circo. Mas, aqueles dois elementos, característicos de um real desenvolvimento humano, ainda  são  privilégio de poucos países em nosso  pequeno pedaço cósmico, neste início do Terceiro Milênio.

     A propósito dessa questão, num recanto imaginário  desse nosso conturbado planeta, que poderia ser em qualquer dos continentes, conversavam dois populares, levantando pela infinitésima vez a difícil escolha. O diálogo de ambos foi, em linhas gerais, o seguinte: José - Sei que não é o nosso caso, vivemos num paraíso, mas se você tivesse de escolher, João, o que iria preferir, pão ou liberdade?

     Um tanto surpreendido com a pergunta, João pensa um pouco e responde -O pão sem liberdade, é claro, José. Se me alimento, mantenho as forças para esperar pela liberdade. Não concorda?

     José, que a princípio parecia concordar com o amigo, pelo menos assentiu com a cabeça, deu-lhe a resposta -Não concordo, João. Sem liberdade, de pouco lhe adiantará o pão. A liberdade é que vai lhe garantir o direito de lutar pelo pão.   

     José, que parecia mais engajado politicamente, insiste utilizando um jargão bem popular, de origem bíblica -Nem só de pão vive o homem, amigo João. O ideal seria ter os dois, mas se há que escolher, fico com a liberdade, mesmo sem o pão.

     João não se dá por vencido e retruca - Sou homem prático, José. E acrescenta, fazendo blague -Saco vazio não fica de pé, mesmo com liberdade.

     Os dois param e cessam,  por  instantes,  a  discussão.  Em  seguida,  a  uma só voz, falam - Afinal, por que estamos a discutir esse  dilema?  Vivemos em liberdade e  não nos falta o pão!

     E continuaram a caminhar tranqüilamente pela calma estrada desse recanto imaginário.

 

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