DECIDIR É PRECISO

 

     Pela estradinha da zona rural seguiam o velho, o menino e o burrico. É provável que fossem o avô e o neto ladeando o animal. Ladeando é o termo correto pois que ambos caminhavam junto à alimária em vez de montá-la. Esta circunstância chamou a atenção de um passante - provavelmente um agricultor da região, o qual dirigiu-se o velho, exclamando: "Meu bom velho, o burro foi feito para levar carga!" e a seguir, perguntou: "se não está doente - pelo contrário parece bem saudável, por que não montam nele?" Logo que o estranho afastou-se, avô e neto subiram no lombo do animal, prosseguindo a viagem.

     Não haviam caminhado sequer meio quilômetro quando cruzam com outro passante. Este, ao ver os dois montados no burrico, tomou as dores do animal e falou para o velho, criticando-o: "É um absurdo o que o senhor está fazendo; não vê que o pobre animal não pode levar duas pessoas? mesmo sendo criança, o menino já é bem crescidinho!" Do mesmo jeito que acontecera da primeira vez, o velho esperou que o estranho se afastasse e apeou da alimária, deixando montado o menino. E prosseguiu sua caminhada levando o burrico pelo cabresto.

     De novo, como se fosse um ritual a cumprir, após caminhar uns trezentos metros, cruzam com um terceiro passante que  não fica sem comentar o quadro, ao ver o velho a pé e o menino montado: "Que coisa! Onde já se viu, um garoto cheio de vida, bem fortinho, montado e o pobre do velho seguindo a pé." Mais não disse e seguiu em frente. Repete-se a cena. O velho espera que o estranho se afaste e, desta vez, põe o menino no chão e monta no burrico. Agora é o menino que leva o animal pelo cabresto.

     Já haviam caminhado mais de meio quilômetro e uma quarta pessoa cruza com eles. Desta vez uma mulher, certamente uma trabalhadora da terra. Também ela não se furta ao comentário: "Sim senhor, só mesmo vendo. Um velho forte montado e um pobre menino a caminhar a pé. Que absurdo!". Tão logo a mulher ser põe distante o velho apeia e os dois, avô e neto seguem ladeando a alimária. Não demora e surge um quinto passante e diz para o velho o que o primeiro dissera, que o burro nasceu para levar carga, etc., etc.

     Desta vez o velho fica indeciso e põe-se à beira do caminho e diz para o neto: "Vamos esperar que o próximo passante nos ajude a tomar a decisão correta."

     Nota: Esta história é adaptada de um texto de meu livro de francês do quarto ano ginasial, lida em meados dos anos quarenta. O que está reproduzido mantém a essência do texto: decidir é preciso.

 

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