A Universidade para a Terceira Idade


Viviane Ribeiro Pinheiro Coelho 
Pós Graduanda FZEA/USP 
[email protected]

Rogério Lacaz-Ruiz 


 

Introdução 

 É muito difícil determinar a idade a partir da qual um homem se torna velho. (Frutuoso, 1999) Na verdade, não existe idade fisiológica pré-determinada para que o homem seja considerado velho e interrompa suas atividades, inclusive as intelectuais. Há mitos e preconceitos que marcam as pessoas que envelhecem como se elas fossem incapazes de evoluir. A generalização é perigosa, porque o envelhecimento difere de indivíduo para indivíduo. O comportamento da sociedade, rejeitando e marginalizando os mais velhos como desinteressados, improdutivos e ineficientes, gera complexos que destroem física e psicologicamente milhares de pessoas aptas. (Fernandes, 1993) Estudar as causas e os efeitos do envelhecimento é o objetivo da Gerontologia. (Frutuoso, 1999; Rossi, 1978)[1] 

    Estudos nesta área mostram que não apenas fenômenos puramente biológicos mas também, elementos afetivos, concorrem de forma direta para o processo de envelhecimento. (Frutuoso, 1999; Liberato, Rossi, 1978) Um dos grandes nomes da Gerontologia na América do Sul, o chileno José Froimovich, afirma que a pessoa realmente começa a envelhecer quando pensa que nada mais tem a aprender. (Fernandes, 1993) 

 O sentimento de isolamento e inutilidade, a falta de afeto familiar e amizade e, a falta de atividade e de remuneração adequada, aceleram, sem dúvida alguma, o envelhecimento. A energia e a vontade de viver, podem por outro lado, prolongar consideravelmente uma existência. (Frutuoso, 1999; Kervor, 1976) 

 Conservar uma certa atividade intelectual, social e afetiva é indispensável ao bom funcionamento do organismo. O corpo e o espírito envelhecem juntos, um estimula o outro, pois o homem é um “todo” que vive em sociedade. (Frutuoso, 1999, Kervor, 1976) 

 Pensando assim, cabe à sociedade encontrar as modalidades de vida e de integração que ajudem o homem que envelhece a achar ou manter seu equilíbrio. É dentro deste espírito que Paul Gramet, Secretário de Estado da Formação Contínua, declarava em 1974, em Toulouse: “A Universidade parece ser o lugar ideal para a reciclagem da “Terceira Idade”. Ela é o ambiente natural de encontro com a juventude, o ambiente natural de encontro entre as classes sociais e todos os níveis socioculturais. (Kervor, 1976) 

 A ampliação de conhecimentos e habilidades fazem parte de um processo que anima o homem a crescer mentalmente, encontrando um sentido de vida e de realização pessoal. (Fernandes, 1993) 

 As Universidades Abertas à Terceira Idade ou as Universidades da Terceira Idade, estão inseridas num conceito amplamente aceito atualmente de “Educação Permanente” ou “Educação Continuada” que tem o significado de educação integral, total, que abrange a existência e as possibilidades do ser humano sem ter implicação com seu desenvolvimento técnico ou profissional. 

A educação permanente incorpora, ao lado do saber intelectual, muitas faces da criatividade e da experiência acumulada ao longo da vida. (Fernandes, 1993) 

  

Considerações Gerais 

 Hoje em dia, é cada vez mais freqüente encontrarmos indivíduos da “Terceira Idade” sadios, ativos e em busca de uma vida feliz. (Anônimo, 2000a) 

 O Brasil não é mais um país tão jovem. A ONU afirma que em 2025 teremos 32 milhões de idosos (acima de 65 anos) e seremos o sexto país em número de idosos.[2] (Bregion, 2000) A média de vida no país cresceu quase 10% nos últimos dez anos. Segundo o IBGE, a esperança de vida fica perto de 60 anos, para os homens e, de 70 anos, para mulheres. (Anônimo, 2000b). A população mundial está envelhecendo em decorrência a medidas de saneamento básico, saúde pública, controle da natalidade, avanços da medicina, etc. (Anônimo, 2000a) No entanto, nossa sociedade não sabe ainda como conviver bem e oferecer condições de vida adequadas a essa parte da população. Existem muitos preconceitos, desamparo por parte do governo e até mesmo da família. Pontos como segurança, economia, bem-estar psico-social, auto-estima e melhoria das condições de saúde devem ser repensados. (Bregion, 2000; Anônimo, 2000a, Amorim, et al., 2000). Não é tarefa fácil trabalhar com esse grupo bastante heterogêneo representado por pessoas que acumularam ao longo de suas vidas, realidades e experiências as mais variadas possíveis. Entretanto, é preciso mudar o conceito de que a partir da aposentadoria, o indivíduo torna-se incapaz e inútil. Não podemos marginalizar e esquecer cidadãos capazes como qualquer jovem causando-lhes perturbações de personalidade. (Anônimo, 2000a, Amorim, et al., 2000) A partir da problemática citada, é que surgiu a idéia da “Universidade da Terceira Idade”. 

 A denominação de “Universidades da Terceira Idade” teve origem por ocasião de sua criação em Toulouse, na França, em 1973 pelo professor de Direito Internacional Pierre Vellas. A partir de sua experiência de vida com pessoas idosas e no intuito de retardar o processo de envelhecimento através do exercício físico e mental, iniciou um projeto que desde o seu início foi um sucesso. (Kervor, 1976) 

 A partir de levantamento minucioso sobre: os programas de gerontologia ou geriatria existentes; sobre o que estava sendo realizado a respeito de envelhecimento pela Organização Mundial de Saúde, pela Organização das Nações Unidas, pelo Conselho da Europa, pela Comunidade Econômica Européia e pelas Organizações não Governamentais; estudando sobre a política do envelhecimento dos principais países industrializados da Europa Ocidental, da América do Norte e do Leste Europeu; sobre as ações desenvolvidas pelos serviços sociais públicos e particulares, pelas caixas de aposentadoria, mutuários e serviços beneficientes e, realizando levantamento bibliográfico sobre o assunto, constatou que existiam poucos dados e programas modestos que precisavam ser melhorados em muito. (Kervor, 1976) 

 Tendo realizado este trabalho de documentação, visitou pessoalmente asilos, casas de repouso e similares, entrevistando idosos e dirigentes, tomando consciência da problemática do envelhecimento frente à vida e à morte. (Kervor, 1976) 

 Decidiu então, organizar, na Universidade da Terceira Idade, um serviço de informação objetivando, entre outros propósitos, conscientizar a sociedade e autoridades sobre o que ocorria com os idosos. Criou um modelo de Universidade que além de ser destinada ao apoio de milhares de idosos, servia de instrumento de pesquisa, tendo em vista o aprimoramento das condições do envelhecimento em nossa sociedade. (Kervor, 1976) 

 Desde logo a Universidade da Terceira Idade de Toulouse procurou obter a integração entre gerações.A mídia auxiliou, no sentido de propagar as idéias e resultados obtidos pelo professor Vellas. (Kervor, 1976) 

 A denominação “Universidade da Terceira Idade” deveu-se à analogia com o início da história das Universidades, no tempo medieval, em que as aulas eram conferências, procuradas pelos indivíduos interessados. Igualmente, a Universidade da Terceira Idade, surgindo no final do século XX, oferece através de palestras ou similares, oportunidades de estudo a pessoas idosas, ou acesso ao saber mais avançado. Assim, o Campus Universitário abriu suas portas para pessoas que desejam atualização de conhecimento independentemente de seu histórico escolar anterior, exigindo apenas que os inscritos saibam ler e escrever e, em algumas, nem tais habilidade são requeridas. (Kervor, 1976) 

 Em termos bem abrangentes, a proposta inicial orientou-se para expandir as possibilidades de criar uma Universidade da Terceira Idade que oferecesse grande leque de opções. Com essa filosofia, Vellas procurou situar a pesquisa como algo primordial. (Kervor, 1976) 

 Os resultados das investigações preliminares para a criação da Universidade de Toulouse sugerem, entre outras, as seguintes conclusões:O processo patológico de envelhecimento, expresso também pelo isolamento social, é ocasionado pela agressividade e pelas tensões sociais; esse processo pode ser interrompido por meio de atividades desenvolvidas pela Universidade da Terceira Idade que torna os idosos em geral, pessoas mais sociáveis, participativas, mais animadas com a vida, consumindo menos medicamentos. (Kervor, 1976) 

 Integrando idosos com jovens estudantes, Vellas notou que os alunos melhoravam o potencial físico, mental e social e que poderiam por iniciativa própria romper processos de solidão aos quais se submetiam. (Kervor, 1976) 

 Diante da breve descrição da proposta e experiências de Vellas, é possível notar que embora recebessem o nome de “Universidade”, tais instituições caracterizavam-se mais como cursos de extensão e aperfeiçoamento, o que em alguns casos perdura até hoje. No entanto, ao longo do tempo, tem havido algumas transformações nas modalidades, formas de estrutura e funcionamento. (Kervor, 1976) 

 Existem Universidades européias abertas somente para pessoas com mais de 45 anos que saibam ler e escrever; outras, atendendo somente os maiores de 60 anos com qualquer tipo de escolaridade. (Frutuoso, 1999; Kervor, 1976). Desse modo, através de uma proposta de “Educação Permanente”, os idosos teriam acesso a oportunidades até então somente ou prioritariamente direcionadas aos jovens. (Frutuoso, 1999) 

 A “Educação Permanente” não permite que pessoas (de qualquer idade) sejam surpreendidas e deixadas para trás pelas inovações, tanto técnicas quanto organizativas do trabalho. Uma adaptação permanente é possível em todas as idades.(Fernandes, 1993; Liberato, 1996, Silvestre Neto, s.d.) 

 Hoje em dia, o conceito antigo de educação vigente nas sociedades pré-industriais onde era aceita a idéia de que a vida podia ser dividida em duas etapas: uma de aprendizagem e preparação e outra, de produção, excluía a necessidade de qualquer investimento educacional direcionado às pessoas idosas. O conceito de “Educação Permanente” cada vez mais presente, considera a educação não como estratégia de desenvolvimento econômico mas como processo de busca de realização e expressão pessoal. (Silvestre Neto, s.d.) 

 Sendo assim, não é suficiente reconhecer que os idosos têm uma contribuição a oferecer e esperar que isso se efetue espontaneamente. É necessário criar canais que viabilizem a oferta dessa contribuição. Se os idosos carregam um duplo papel na educação, o de professores e o de alunos, é preciso observar que só poderão ser professores se forem simultaneamente aprendizes. Isso só se torna possível através da participação em instituições, associações ou grupos que auxiliem o idoso a descobrir: o que, para quem e como ele pode transmitir seus conhecimentos. Assim, é muito importante a existência das Universidades da Terceira Idade. (Silvestre Neto, s.d.) 

 Inúmeras Universidades européias de Terceira Idade emergiram de Universidades convencionais, integrando-se totalmente às mesmas. Outras só mantêm relações de pesquisa, colaboração científica, de ensino e da ação social. (Kervor, 1976). As Universidades da Terceira Idade são uma oportunidade para o auto-desenvolvimento e atualização de idosos; um local de reflexão sobre um processo coletivo. Pode ser um ponto de partida de incentivo a lutas por respeito aos direitos dos idosos que assim, estarão exercendo o papel de cidadãos conscientes. A partir de dados de pesquisas sobre envelhecimento, produzem material para a melhoria da qualidade de vida geral dessas pessoas, objetivando a diminuição ou até mesmo o fim de preconceitos acerca dos idosos. Uma proposta de Universidade sem prova e sem notas onde a liberdade é a principal disciplina e um dos objetivos é o de abrir novos horizontes para aqueles que buscam uma velhice sadia e feliz. (Frutuoso, 1999; Kervor, 1976; Rossberg s.d.; Rossi, 1978) 

 Universidades exclusivas da Terceira Idade, oferecem cursos que embo-ra mantenham uma estruturação básica, oferecem uma nova programação sem-pre baseada na correção de falhas anteriores procurando melhor definir os cami-nhos para atingir seus objetivos. Lazer, cultura e saúde são oferecidos com a in-tenção de preservar a independência física e psíquica dos alunos. (Rossi, 1978) 

  

Objetivos 

 Os objetivos das Universidades Abertas à Terceira Idade e para a Terceira Idade são basicamente os mesmos. Esperam estimular a participação do idoso como aluno comum e integrá-los nas salas de aula. Desejam oferecer aos alunos um contato com a qualidade no âmbito da pesquisa e do ensino em instituições de ensino superior e, a oportunidade de aprendizado dentro de uma grande variedade de disciplinas. (Anônimo 2000b) 

 Muitas vezes, são centros de ensino, assistência e pesquisa voltados ao envelhecimento e que têm por finalidade, integrar o idoso dentro e fora da Universidade, ressaltando a importância de seu envolvimento em atividades de valorização do conhecimento que visam a contribuição para a elevação dos níveis de saúde física, mental e social. (Anônimo 2000b; Maia et al., 2000) 

 Fazem parte de projetos que procuram conscientizar as pessoas de terceira idade de sua importância e de seu papel na sociedade como elemento gerador de equilíbrio social; trazer à comunidade acadêmica jovem a experiência do idoso como forma de enriquecimento e valorização da vida; ampliar o papel social da Universidade, tornando-a elo de ligação entre o idoso e as instituições e serviços a eles voltados. (Anônimo, 2000b) 

 Tendo em vista o crescimento das questões relativas à Terceira Idade, a Universidade deve estar comprometida em ajudar a encontrar soluções para os problemas observados e que envolvem desde a exploração do trabalho do idoso até sua quase total marginalização. (Anônimo, 2000b) 

 Além disso, a psicologia afirma que a estimulação em geral, é muito importante no desenvolvimento do cérebro; um processo presente em todas as fases da vida. Sob condições corretas de estimulação, o cérebro continua sempre a manter intacta sua capacidade de coletar e fornecer informações. (Anônimo, 2000b) 

  

A Universidade da Terceira Idade no Brasil 

 No Brasil são poucos os estudos que busquem sistematizar a análise da emergência das Universidades para a terceira idade. Começaram a ser implantadas em 1990 em alguns Estados. Em 1999 já somavam mais de 100 instituições segundo dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia-SBBG.1 Merece destaque o Estado de São Paulo, onde encontram-se universidades que desenvolvem ações direta ou indiretamente orientadas segundo a proposta original de Vellas. (Frutuoso, 1999) 

 O Rio de Janeiro conta com quatro unidades particulares e em 1993 inaugurou a primeira Universidade da Terceira Idade sob administração estadual, a UnATI/UERJ. (Frutuoso, 1999) 

 A Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC/CAMP), em São Paulo, criou em 1990, a Universidade para a Terceira Idade para pessoas acima de 45 anos. (Frutuoso, 1999) 

 Também em São Paulo, encontra-se a UATI da PUC/SP fundada em 1991 também para pessoas com mais de 45 anos. (Frutuoso, 1999) 

 Ainda em São Paulo, encontra-se a Universidade Aberta à Terceira Idade da USP, inaugurada em 1993 em resultado ao projeto da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária. O modelo oferece vagas em vários cursos regulares de graduação dentro e fora da Cidade Universitária e complementa seu programa através de atividades especialmente dirigidas aos idosos. A idade mínima para inscrição é de 60 anos sendo feitas algumas exigências que variam de acordo com a Disciplina a ser cursada. (Frutuoso, 1999) 

 Existem ainda Universidades espalhadas por vários outros locais do país: na Bahia, Goiás, Ceará, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, etc. O número de Universidades particulares cresceu muito nos últimos anos e em geral oferecem maior número de atividades dirigidas à terceira idade do que as Universidades Públicas. (Frutuoso, 1999) 

 Paralelamente á criação de espaços institucionais para o trabalho com idosos no meio acadêmico, no Brasil e no mundo vem crescendo cada vez mais o interesse por assuntos relacionados com envelhecimento. (Frutuoso, 1999) 

  

Considerações práticas 

 Em um trabalho onde alunos e professores da terceira idade foram entrevistados na Universidade da Terceira Idade da Universidade do Sagrado Coração de Bauru, São Paulo, foram obtidos os dados a seguir apresentados, interessantes para uma breve análise da situação atual. (Junqueira, 1998) 

  

Perguntando a dezenove alunos. 

1. Quanto aos motivos da opção pela Universidade da Terceira Idade: 

89,5% relataram a busca de aprendizado e atualização de conhecimentos. 

10,5% relataram a procura de integração na própria Universidade. 

2. Quanto ao que representa a velhice: 

89,5% consideraram apenas aspectos negativos. 

10,5% consideraram aspectos positivos e negativos. 

3. Quanto à visão acerca do idoso: 

100% atribuíram apenas características negativas. 

4. Quanto a eles mesmos em relação à velhice: 

78,9% não se assumiram como velhos. 

21,1% se assumiram como idosos de alguma forma. 

5. Quanto a procura por cursos: 

94,7% optaram por cursos oferecidos a alunos de graduação. 

5,3% optaram por aulas ministradas apenas a alunos da Terceira Idade. 

6. Quanto a posição ocupada por eles no processo educativo: 

10,5% consideraram-se ativo, co-participantes do processo educativo. 

89,5% consideraram-se passivos, numa posição receptiva de conhecimento. 

7. Quanto à aprendizagem: 

63,2% consideraram ser semelhante aos tempos de juventude. 

36,8% relataram alguma dificuldade em relação ao passado. 

  

Perguntando a oito professores. 

1. Quanto ao motivo de optarem pela Universidade da Terceira Idade: 

50% alegaram motivos técnicos/profissionais. 

50% alegaram a afetividade. 

2. Quanto a opinião acerca dos objetivos dos alunos ao procurarem a Universidade da Terceira Idade: 

50% opinaram que em busca de integração. 

50% opinaram que em busca de aprendizagem e atualização de conhecimento. 

3. Sobre a velhice: 

75% demonstraram uma visão exclusivamente negativa sobre a velhice. 

25% demonstraram uma visão composta por aspectos positivos e negativos. 

4. Sobre o idoso: 

100% atribuíram conotações exclusivamente negativas ao idoso. 

5. Sobre o aluno idoso: 

100% demonstraram uma visão positiva acerca dos alunos, diferenciando-os 

dos idosos em geral. 

6. Quanto a aprendizagem dos alunos: 

75% consideraram a aprendizagem semelhante à dos alunos jovens. 

25% consideraram existir algum tipo de dificuldade no processo. 

7. Quanto a posição do aluno no processo educativo: 

50% consideraram os alunos ativos 

50% consideraram os alunos passivos. 

  

 A partir dos resultados da pesquisa citada é possível suspeitar que embora as Universidades Abertas à Terceira Idade venham apresentando sucesso e expansão em nosso país, talvez seu objetivo de mudar a postura da sociedade e do próprio idoso em relação ao envelhecimento não esteja sendo atingida. 

 Pode estar ficando disfarçada pelos bons resultados alcançados quanto a melhora de qualidade de vida geral dos participantes. Os alunos podem estar satisfeitos por se sentirem úteis, ativos e integrados a grupos de pessoas que estão preocupadas com eles mas, por outro lado, podem não estar assumindo e lutando realmente pelo conceito de que velhice não é aquela representada pela idade cronológica. 

 Durante as últimas décadas o estudo sobre o envelhecimento normal vem sendo difundido, porque até então, se restringia ao estudo de doenças. Por essa e outras razões, a concepção de velhice associada a aspectos negativos perdurou durante séculos. À medida que a expectativa de vida vem aumentando, é necessário buscar formas de atender melhor as populações idosas. (Junqueira, 1998) 

 As Universidades para a Terceira idade devem participar desse processo e para tanto, professores e alunos devem estar convictos dos conceitos a seguir. 

 O aluno idoso possui muitos conhecimentos acumulados durante seus longos anos de vida e a Universidade da Terceira Idade surge como meio de auxílio na descoberta de potenciais e na (re)elaboração de projetos de vida; constitui aspecto básico de ajuda para que o aluno aprenda a lidar com os ganhos e as perdas ocorridos durante sua atual fase de vida. Esse objetivo tem sido alcançado. O que não pode acontecer, é que alunos e professores excluam os integrantes da Universidade do grupo de idosos da sociedade como um todo. 

 O envelhecimento inicia-se em diferentes épocas para as diversas partes e funções do organismo, ocorrendo em velocidade e ritmos diversos para diferentes indivíduos. Assim, a velhice em si não cria enfermidades, não é sinônimo de doença, invalidez, inutilidade.É acompanhada por modificações psicológicas, orgânicas e psico-emocionais próprias desse período; é o curso da vida. (Junqueira, 1998) 

 Sendo assim, é necessário compreender definitivamente que a idade cronológica é apenas um indicador e não uma variável independente de outros aspectos. 

 A Universidade da Terceira Idade deve tentar cumprir sempre seus objetivos de: integrar a pessoa idosa no seio da comunidade acadêmica; conscientizar a pessoa de terceira idade da importância de seu papel na sociedade como elemento gerador de equilíbrio social; trazer a comunidade acadêmica jovem a experiência do idoso como forma de enriquecimento e valorização da vida; ampliar o papel social da Universidade, tornando-a elo de ligação entre o idoso e as instituições e os serviços a eles voltados.[3] 

  

Comentários finais 

 Com base no que foi apresentado acho válida a idéia de instituição de Universidades para a Terceira Idade desde que sejam perseguidos os objetivos iniciais. Talvez a idéia ainda jovem em nosso país, deva ser reavaliada e corrigida em alguns pontos para que seja realmente útil para a sociedade como um todo. 

 Acreditamos que o convívio do idoso com os jovens deva ser estimulado mas, que os cursos oferecidos por Universidades exclusivas para idosos sejam de maior validade tanto para eles (idosos) como para pesquisadores interessados no assunto. A convivência acadêmica entre o idoso e o jovem não precisa ser necessariamente na sala de aula. Caso isto ocorra, é preciso que exista uma preparação Institucional e pessoal para receber o idoso. 

 A denominação de “Cursos” para a Terceira Idade parece-nos mais ade-quada do que “Universidade” ou “Faculdade” já que não existe nenhum tipo de cobrança ou avaliação dos alunos quanto aos conhecimentos adquiridos durante os cursos nem se espera que sejam formados especialistas em nenhum assunto. 

 Quanto aos valores envolvidos, deve ser dado preferência aos da pessoa ou das pessoas enquanto Instituição Terceira Idade. Como dizia Julián Marías “El problema está en lo siguiente: en que se han evitado, en cierto modo, los proyectos. Las formas sociales dejan, diríamos, como concentrados a los jubilados en general en un estado que no tienen argumento, que no tienen porvenir.”[4] A palavra chave é expectativa. Seja por parte das pessoas que conseguiram chegar a idades avançadas, seja por parte daqueles que querem trabalhar com os idosos. Reconhecer que a Universidede pode ter um espaço aberto a Terceira Idade, não como forma de resolver na totalidade o “problema dos idosos” é respeitar a sabedoria e a experiência e particularmente a dignidade humana. 

 A explicitação dos objetivos é a forma mais honesta para as partes envolvidas neste Projeto da Terceira Idade dentro da Universidade, e evita transformar e reduzir o idoso simplesmente num objeto de trabalho. O outro extremo é cuidar dos Idosos numa pseudo Universidade, como forma de “ganha pão”. Isto significaria instrumentalizar o nome Universidade. 

 A verdadeira relação interpessoal – onde de um dos lados estão os idosos – são aquelas que valorizem o verdadeiro encontro entre as pessoas, para utilizar uma expressão de Quintás.[5] 

  

Índice 

 

 

Referências Bibliográficas 

Amorim, F.; Santin, G.; Simões, R. Porque o idoso não pratica atividade física? Disponível na Internet [on line] no URL: http://www.unicamp.br/fef/eventos/maceio/textos/fulvia.html Disponível em 4 de Outubro de 2000.

AnônimoAfinal de contas quando é que as pessoas envelhecem? Disponível na Internet [on line] no URL: http://www.odontologia.com.br/artigos/terceira-idade.html Em 9 de Outubro de 2000a.

AnônimoUniversidade Aberta à Terceira Idade Disponível na Internet [on line] no URL http://www.maturidade.com.br/publica/universidade.htm Em 4 de Outubro de 2000b.

Bregion, A. W.Terceira idade começa a conquistar espaço Disponível na Internet [on line] no URL: http://www.classindico.com.br/mat_tec/V01019.htm em 4 de Outubro de 2000.

Fernandes, F. S. Aprender sempre, não importa a idade. Jornal de Domingo. Campinas, 20/VIII/1978.

Frutuoso, D. ATerceira Idade na Universidade: Relacionamento entre 

Geraçõesno Terceiro Milênio. Rio de Janeiro : Ágora da Ilha, 1999. 59 p.

Junqueira, E. D. S. Velho. E, porque não?. Bauru: EDU, 1998. 53p.

Kervor, S. France Informations: As Universidades da Terceira Idade. Trad.

de A.F.A. Rosário. São Paulo: Centro de Documentação e Pesquisas sobre a Terceira Idade – SESC, Campinas, France Informations n.73.jan/fev 1976.

Liberato, E. M. Educação Continuada e Faculdade da Terceira Idade.

Publ.Tecn.SESC, v.IX, n.12, p.12-15, 1996.

Maia, T.A.; Castelo, C.; Maia, P.; Vidinero, L. Terceira Idade conta com grande aliada http://www2.uerj.br/~clipping/dezembro/d16/uerj_unati.htmDisponivel [on line] em 4 de Outubro de 2000.

Marías, J. Las edades de la vida. Disponível na Internet [on line] no URL http://www.hottopos.com/convenit/jm2.htm em 5 de Outubro de 2000.

Ramos, J.M.R. Uma ameaça ao Brasil: o envelhecimento populacional. Interprensa, v.4, n.36, p.A27/00, junho de 2000.

Rossberg, E. A UNI para Idosos. s.d.

Rossi, E. Escola para a Terceira Idade, caminho para a velhice feliz. Senecta

v.1, n.3, p.24-25, 1978.

Ruiz, R. O tempo dos pais e o tempo dos filhos. Interprensa, v.3, n.29, p.4, outubro de 1999.

Silvestre Neto, D. Colaboração do Idoso em Educação Permanente. s.d.

 

[1] Citaremos ao longo deste artigo, particularmente nas notas, algumas idéias de Julián Marías, extraidos de uma conferência em Madri, em 1999, intitulada “Las edades de la vida”.
[2] Neste sentido vale a pena consultar na íntegra o artigo de José Maria Rodrigues Ramos em seu artigo “Uma ameaça ao Brasil: o envelheciemento populacional” que analisa algumas das principais causas do envelhecimento populacional. Muitas vezes a política populacional de muitos organismos nacionais e internacionais não respeitam o autocontrole natural das populações e atuam de forma ativa contra os valores básicos das pessoas, como por exemplo o finaciamento de esterilização femininaque está em 40,1% segundo os dados do IBGE de 1996.
[3] Ninguém dá o que não tem. E o idoso muitas vezes possui uma experiência de ser pessoa, de ser humano. (cf Ruiz, 1999) Mas o que querem os mais novos? Querem muitas vezes decidir o que serão profissionalmente e socialmente, sem saberem quem são. O diálogo com o idoso se torna vazio, se o jovem não tem a abertura de respeitar (olhar) esta experiência de vida, e o idoso se não valorizar seu tesouro de sabedoria. O primeiro foco de atuação do idoso é a família, nasce e se exercita numa família, para poder depois com segurança, alegria e fortaleza, ser exercido fora dela como por exemplo numa Universidade. Mas como “dar” aos outros se não existe possibilidade para exercer internamente numa família? Desta forma a ida para Universidade acaba sendo uma fuga da frustração no seio familiar, e uma tentativa de vida para afastar o sentimento de inutilidade que assola o idoso.
[4] E continua “Hay un problema también que es que la expectativa de la muerte ha cambiado de carácter: porque hasta hace muy poco tiempo la gente contaba con la otra vida – talvez con dudas, talvez con zozobra, una esperanza, una expectativa sostenida por el dramatismo del desenlace, por la duda de lo que pasaría con uno después de la muerte. Yo me he referido, a veces, con un poco de humor – que hace falta tener cierto humor –, que en un funeral actualmente el sacerdote no expone ni el más mínimo temor de que aquel señor haya podido estar en el infierno... (risas) ¡Era un bandido pero se da por supuesto que ha ido a Dios derecho! Yo comprendo que no se va a decir delante de los parientes..., pero, por lo menos, cabría aludir a la misericordia de Dios que es muy grande – ¡así espero! Pero contar con la posibilidad, por lo menos, con la posibilidad de que... Con lo cual há cesado el interés por la otra vida; se ha ido aparando, se empieza a no contar con ella.

Hace no mucho tiempo, cuando alguna persona tenía una vida irregular, pecaminosa, había una frase que decía “vivir en pecado” – y ya nadie vive en pecado...(risas). O era una persona de una fe dudosa, problemática, de una vida religiosa inquietante... las personas que querían a esta persona – los parientes, los amigos – sentían inquietud porque pensaban: ¿Qué va ser de esa persona? Estaban pendientes de lo que pasaba.

Bueno, eso se ha dejado. Ha desaparecido del horizonte de innumerables personas, lo cual quiere decir que se han quedado sin el último programa, sin el último proyecto. Uno se puede llevar los proyectos al otro mundo; no se pueden llevar las riquezas, ni los honores, ni los títulos; pero, sí, se pueden llevar los proyectos – lo que uno ha querido ser, lo que uno sigue queriendo hacer y no ha podido hacer.

Pero eso ha desaparecido del horizonte de la inmensa mayoría de las personas. Procuren ustedes sondear el estado de ánimo de vuestros vecinos y amigos y verán qué poco frecuente es que eso exista; lo cual quiere decir que mientras las edades de la vida pueden ser todas ellas, hasta la vejez, proyectivas, argumentales, narrativas, porque se cuentan desde los proyectos. Quedan reducidas a mera liquidación. La vejez, por ejemplo, es el deterioro talvez contenido por la buena higiene, por la medicina, por los recursos económicos, pero, al fin y al cabo, es un deterioro implacable, inevitable y sin proyectos – lo cual es terriblemente lamentable y profundamente triste.

Y esto no es forzoso; no es forzoso que sea así. El hombre que se vive a sí mismo como quien es, como persona, con un proyecto... con tantas cosas que ha querido hacer y no ha podido y piensa que podrá realizar o por lo menos podrá desear, podrá seguir deseando...

La vejez es la edad, sí, del deterioro, claro, pero hay otro lado de ella que es la recapitulación. Poseemos la vida de manera imperfecta, secundaria, muy deficiente. Hay personas que apenas han resbalado por la vida y apenas la recuerdan. Se puede recapitular; pero recapitular no quiere decir – y eso sería un error – volver al pasado, simplemente a recordar. La idea de que el viejo no proyecta, de que el viejo no hace más que recordar, que tiene pasado pero no futuro, es un grave error. Insisto que se cuentan desde los proyectos, se recapitulan; es decir, se va tomando posición de la vida que somos, de la vida que llevamos dentro, que nos constituye siempre en función de proyectos, en función de anticipaciones de lo que quisiéramos hacer – aunque no podamos hacer – a menos que sea en la otra vida y eso tiene su esperanza también. En concreto, se trata de pensar nuestra vida después de la muerte. Decir: no la hay – sería el error, sería la decepción, que es lo más triste. En cambio, el que no confía en la otra vida, qué sorpresa cuando se encuentre en ella... (risas) ¡eso siempre me ha parecido maravilloso! El señor que cuenta con que todo termina, el suicida, por ejemplo, que quiere acabar consigo mismo ¿Y si se encuentra con que no?¡Qué formidable sorpresa! Nadie piensa en eso. Las edades de la vida vistas desde el nivel en que creo que estamos – el nivel de la vida humana como tal, el nivel de la persona – han aparecido como algo bastante distinto de la imagen tradicional de las edades.”

 
[5] Conferência de Alfonso López Quintás na FEUSP “A formação adequada à configuração de um novo humanismo na íntegra no URL http://www.hottopos.com.br/prov/quint1p.htm 
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