O uso da Biologia Molecular nas Ciências Humanas

(Roteiro de filme)

 

Rogério Lacaz-Ruiz 

  

   Numa rua movimentada de uma grande cidade, é possível ler num cartaz na porta da lanchonete: Pague R$ 0,50 e tome quanto suco de laranja quiser. Não muito distante dali, na maior Financiadora de pesquisa do país, discute-se a segunda fase do Projeto Genoma para uma bactéria que afeta a Citricultura Nacional. 

 Num exemplar da revista publicado por esta Financiadora, está recolhida uma entrevista com o coordenador do Projeto Anon Simnon. Ele faz afirmações categóricas a respeito do Projeto, dizendo que em nenhum País foi feito nada semelhante. Perguntado sobre quais as conseqüências do estudo do DNA e dos genomas, sua resposta parece dirigir-se para outros recortes da Ciência: - De nada adianta educar os filhos; toda informação está no DNA; e, se não receber o Nobel, é porque não está no meu material genético. 
 E os meses seguem até o ano seguinte em números de 10, 11 e 12; e o silêncio daquela notícia é o reflexo da tonicidade dos pesquisadores. Muitos não se atrevem a contestá-la, ou melhor, ninguém contesta. Alguns, por medo, outros, por acreditarem em seu conteúdo. 
 E um dos que nela acreditam é o diretor do Museu Nacional, que acumula o cargo de Diretor dos Estudos Superiores na área de Humanidades. Homem de visão, fez sua carreira de cientista estudando o hábito, nos povos primitivos, de acondicionar defuntos em urnas. Seu nome: Rolando Armandus. 
 Se toda informação está no DNA, cada indivíduo possui não só seu presente, mas boa parte do passado, e o que é mais fascinante, o seu futuro. 
 Com seu prestígio, encaminha um convite aos cientistas moleculares, reitores de Universidades de prestígio, empresários e políticos para uma grande conferência, em que se anunciará seu grande Projeto Genoma Humanitas. A presença de todos é confirmada com semanas de antecedência. Um novo auditório é alugado diante desta realidade. A imprensa não é convidada por se tratar de um Projeto ainda sem recursos definidos, e o que é mais importante, não tem o aval da comunidade científica. 
 A sagacidade dos meios de comunicação faz que alguns jornalistas hackers interceptem um mail e descubram o evento um dia antes e estampem na primeira página dos jornais: Genoma humanitas é apontado como solução. A matéria contém entrevistas com alguns dos convidados, mas é bastante evasiva em seu conteúdo. O doutor Rolando nega tudo, como forma de aumentar a expectativa sobre o fato, inclusive, como uma jogada de marketing para seu Projeto. 
 Tentam furar o bloqueio alguns repórteres e fotógrafos. São barrados na entrada do Red Hall, e a polícia envia reforços para dispersar os manifestantes do Grupo Yellow Peace. Este grupo nasceu na Universidade Asiática, e tem métodos semelhantes aos do Green Peace. Eles defendem a estabilidade genética para heterose, como forma de progresso da humanidade. Seu fundador, Koom Chu Lee é antropólogo, especialista em migrações de minorias. 
 Alguns convidados preferem assistir à vídeo-conferência via Internet, com acesso controlado, temendo os manifestantes. 
 Um grupo de hackers conseguiu trechos da reunião e, como estavam com dificuldade em captar os sinais completos, entraram no provedor central. Aqueles que assistiam pela Internet, tiveram suas conexões desfeitas, mas, antes, foi feita uma manobra arriscada para prejudicar a comunicação. Um helicóptero dos manifestantes lançava continuamente flocos metálicos na torre da provedora da internet, dificultando a transmissão dos sinais. 
 Muito barulho por nada. No mesmo dia, no final da reunião, cópia do Projeto Genoma Humanitas foi entregue à Imprensa. Mais de 300 páginas deveriam ser lidas até o fechamento das matérias para o jornal do dia seguinte, para que a população tivesse conhecimento de seu conteúdo. 
 Não querendo arriscar, muitos jornais preferiram dar a cobertura da confusão provocada pelos manifestantes e disponibilizar para download o Projeto escaneado às pressas na noite anterior. 
 O Projeto Genoma Humanitas representava uma revolução para a Ciência e apresentava-se como tal. Nas primeiras 50 páginas, havia uma crítica fundamentada de toda a pesquisa realizada em todo o mundo, no setor de humanidades. Qualquer tentativa dos cientistas em descobrirem uma relação causa-efeito estaria fadada ao insucesso, pela falha nos métodos para este fim. Punha todos os estudos, realizados até então neste campo, no mesmo nível de adivinhos e de ciganos que liam as mãos. 
 Nas páginas seguintes, de números compreendidos entre 51 e 100, demonstrava a competência da Biologia Molecular. Desde a primeira ovelha clonada até a produção de fármacos, passando pela cura de doenças. Depoimentos e estatísticas provavam por A+B que a tendência mundial era irreversível. No passado, a Biologia Molecular representava apenas 10% dos financiamentos; hoje, 90% do dinheiro investido em pesquisa está destinado a essa área, com uma inflexão ascendente, assim que Rolando Simnon assumiu o controle. Quem não trabalhasse neste setor e não dominasse as técnicas de manipulação do DNA estaria fora do sistema. 
 Nas páginas restantes, estava todo o plano. Em primeiro lugar, seria necessário credenciar laboratórios, pesquisadores para formar dois milhões de pessoas para o Projeto. Sua abrangência seria mundial. 
 A parte de instrumentação e reagentes mereceria um capítulo à parte. Equipes multidisciplinares formadas por físicos moleculares, biologistas moleculares e pessoal de demais áreas afins, trabalhariam a modo de desafio. Câmaras especiais instaladas nos laboratórios transmitiriam via Internet, em tempo real, o que estava sendo feito em cada laboratório. O objetivo era ver como se trabalhava, para otimizar futuramente, tanto os equipamentos como os protocolos de rotina. 
 As pessoas que trabalhariam nos laboratórios seriam executoras de protocolos definidos por seus superiores. A meta era que em cinco anos, os laboratórios estivessem 100% automatizados para o seqüenciamento, e dez, para a expressão. 
 Para o futuro, estava reservada uma interpretação da História com o genoma de grupos sociais. 
 Tudo será explicado pelo DNA. 
 Como o custo de instalações novas implicaria grants extras, optar-se-ia por remodelar as salas e anfiteatros. Esta medida evitaria alguma possibilidade de retorno ao sistema anterior. Todas as bibliotecas de História, Sociologia, Psicologia, bem como as das demais áreas de Humanidades seriam destruídas e o seu papel, reciclado. 
 Assim, a verdadeira história seria finalmente escrita, com a fidelidade do genoma. 
 Pouco importava o nome dos antepassados, mas o que eles haviam feito ou o que eram. Todas as pessoas seriam avaliadas geneticamente. 
 Houve uma repercussão jamais vista no anúncio do Genoma Humanitas. Rapidamente, todas as financiadoras disponibilizaram a maior parte de seus recursos para o Projeto. Não meio científico, aparentemente, não houve voz contrária que se manifestasse, mas muitos calaram a sua não concordância com o que ouviam e viam. Aqueles que puderam ir às bibliotecas para pegar o material que estava indo para a reciclagem eram pessoas cultas e que tinham o mínimo de memória das coisas. Disfarçados de mendigos, pediam para os encarregados os livros, com a desculpa de usarem este papel como “combustível” no inverno. Eles conseguiam perceber que um “inverno” estava aproximando-se... Diante da miséria de um mendigo e da justificativa que ouviam, houve poucas vezes em que os recicladores não cederam livros aos “miseráveis”. Realmente, este era o combustível para a mente dos intelectuais. 
 A implantação dos laboratórios fez rapidamente novos ricos. 
 Quem já estava no ramo ganhou muito. Desde enzimas de restrição para cortar o DNA até computadores de alta capacidade, passando por softwares e sistemas de câmaras; tudo o que estivesse relacionado com o Genoma Humanitas era motivo de comércio e de lucros. 
 Os que mais ganharam foram aqueles que o fizeram na escala, e com um sistema perfeito de envio para qualquer parte do mundo. 
 Um software foi desenvolvido, controlando toda entrada de material, com um código de barras. Cada vez que o material saía do almoxarifado e entrava em um laboratório, automaticamente, tinha-se a noção de que era preciso comprar outro. E esta operação era feita automaticamente via Internet, debitando no Banco onde as financiadoras tinham conta. 
 O mundo assistia assim a uma globalização de verdade, a uma verdadeira união de interesses. 
 Os Projetos paralelos financiados eram todos relacionados com a Biologia Molecular de clonagem de animais, que, de certa forma, deveriam seguir os protocolos do Genoma Humanitas. 
 O protocolo era um processo inverso para se descobrir quem era quem, e principalmente quem foi o quê no passado. 
 Os anos desta nova primavera seguiam e novas realidades eram verificadas. Muitas delas foram oficialmente anunciadas, enquanto que outras eram apenas a pura realidade... 
 O Yellow Peace também montou uma estratégia, caracterizada pela lei do silêncio. Quem cala, quando deve falar, consente. Algo semelhante à não existência. Desta forma, atuavam externamente como cidadãos comuns e evitavam chamar a atenção da imprensa e da polícia. Não eram mais notícia de jornal. Se, num passado próximo, eles andavam com braceletes e sapatos amarelos, hoje se vestiam como gente comum. 
 Com o objetivo de recuperar o maior número possível de livros das chamadas Humanidades, montaram uma estratégia não violenta. Inscreveram-se nos concursos para guardas de bibliotecas e conseguiram ocupar 93% dos cargos em nível mundial. 
 Uma vez atingida esta meta, trabalharam para trocar o maior número possível de livros por material encadernado, contendo folhas de jornal. Durante a madrugada, efetuavam a troca. Praticamente 80% dos livros podem ser substituídos. 
 Este material foi embalado e enviado para o Timor Leste na forma de material didático. 
 A ONU estava em dívida com este país, que foi no passado ex-colônia de Portugal. Em 1975, havia sido invadido pela Indonésia e assim permaneceu até o ano 2000. 
 Uma comissão da ONU resolveu não fechar mais os olhos para a realidade, principalmente depois que duas pessoas receberam o Nobel da Paz. Um jornalista e um bispo católico, ambos timorenses. 
 As Nações Unidas reconheceram publicamente sua omissão durante esses quase 25 anos, e resolveram ajudar, a seu modo, o Timor. O envio de qualquer tipo de auxílio era subsidiado pela ONU e os membros do Yellow Peace fundaram uma ONG denominada Timor Agora. 
 Como o Genoma Humanitas representava uma revolução mundial, as notícias giravam somente em torno dele. 
 Os jornalistas gastavam todas as suas energias, entrevistando cientistas, políticos e financiadores; não havia tempo para assuntos secundários. 
 Houve muita fraude e sabotagem no Genoma Humanitas, ou melhor, em torno dele. Membros do Yellow Peace não concordavam em atuar somente no patrimônio escrito, e resolveram sabotar o Projeto em todos os seus segmentos. Antes de deixarem o Yellow Peace, pois não poderiam deixar de acatar as decisões da grande assembléia, fizeram um acordo. A não denúncia mútua. Caso um dos membros fosse preso, preferiam a morte a falar qualquer coisa dos seus planos como dos planos dos seus amigos. O líder dos dissidentes sabia que isto era importante, pois não chamaria a atenção; e o líder do Yellow Peace sabiamente concordou, pois os dissidentes no coração do Genoma Humanitas seriam alvo de fiscalização mais severa, atraindo a eles a Imprensa e a polícia. Em sendo pegos, poderiam afirmar que estes membros haviam dado baixa e, assim, trabalhariam tranqüilamente na recuperação dos escritos. 
 E assim foi: sabotagem na Internet, nos reagentes e nos setores eletrônicos foram os principais alvos escolhidos pelos dissidentes. 
 Na Internet, trabalhavam para tornarem mais lenta, veiculando grandes mensagens de alerta. Lendas urbanas, correntes e vírus tomavam grande parte do tempo dos cientistas e técnicos. Os reagentes foram sabotados, seja pela diluição das enzimas ou por sua não refrigeração durante o transporte. Firmas piratas interceptavam pedidos pela rede e transferiam dinheiro para suas contas. Eventualmente, assaltavam-se as fábricas ou veículos de entrega. 
 No setor eletrônico, a atuação foi na fabricação das câmaras de vigilância. Material de baixa qualidade foi empregado nas linhas de produção de câmaras novas. Nas câmaras já instaladas, equipes terroristas sabotavam, simulando manutenção preventiva ou emergencial. Muitas câmaras foram desligadas e, em outras, foram instalados micro timers, para desligá-las aleatoriamente. Resinas especiais blindavam as câmaras, impossibilitando a manutenção. Grande parte das câmaras trocadas já vinham danificadas. 
    Alguns dissidentes foram presos, quando um técnico de laboratório, que foi despedido, resolveu averiguar a produção de enzimas. 
 Seu chefe despediu-o por ineficiência, e ele tinha certeza de que a culpa não era sua. Testou as enzimas logo que chegavam e comunicou ao chefe de forma contundente que algo não estava dentro dos padrões. Como o chefe recebia suborno velado do fornecedor, resolveu despedir o técnico. 
 Apesar de seu perfil submisso, o técnico sentiu que seus brios estavam feridos. Resolveu entrar, então, na carreira policial e, como polícia, descobriu os segredos de seu ex-chefe e os dos dissidentes do Yellow Peace. Todos foram presos, inclusive o técnico, que fez a investigação sem autorização dos seus superiores. 
 Este fato foi descoberto pela imprensa e todas as tentativas para encobri-lo foram em vão. Neste momento de grande alarde e frenesi, uma frota de aviões Galaxy e Tupolev transportavam livros para o Timor Leste. 
 Com a prisão de alguns dissidentes, eles resolveram prudentemente reduzir as sabotagens, antes que todos fossem presos. 
 O diretor do Genoma Humanitas deu grande atenção ao fato, e implantou prêmios para denúncias, e também para os que atingissem metas mensais. 
 A cada trinta dias, foi determinado, então, pelos políticos que o dia seria feriado, em substituição ao tradicional fim de semana. Neste último dia de cada mês, as escolas poderiam organizar excursões aos locais de entrega de prêmios. Praças públicas, Shopping Centers foram utilizados para este fim. Cientistas e políticos recebiam medalhas pela eficiência. Estas festas duraram anos, até que os genomas de quinze governadores foram seqüenciados, expressos e analisados. 
 Grande quantidade de genes indesejáveis foram encontrados nestes homens públicos. Dois deles demitiram-se voluntariamente, enquanto que outros preferiram submeter-se a uma Comissão Parlamentar de Inquérito. 
 Os governantes, que foram levados ao tribunal, sofreram grandes humilhações. Em vez de seguirem o caminho dos colegas, que abandonaram seus postos e ficaram no anonimato, preferiram se defender. 
 Argumentaram que haviam colaborado arduamente na realização do Genoma Humanitas; que foi o povo quem os havia colocado neste posto e que, portanto, deveriam ser submetidos a uma nova eleição ou plebiscito. Mas de nada adiantou. Um dos jurados, depois de escutar seus colegas, deu a sentença final em forma de ditado: O feitiço virou contra o feiticeiro. 
 O fato que mais influenciou os jurados é que estes homens, agora condenados, estavam com grande quantidade de genes para a simulação, o teatro e a fantasia, com sua expressão máxima ou próximos dela. 
 Desta forma, tudo o que falavam era escutado pelos ouvintes como mera enganação. 
 O júri deu a sentença final. Inaptos para ocuparem cargos públicos. Foi uma comoção para muitos quando viam seus representantes abandonando os postos. 
 O não comparecimento às urnas para preenchimento dos cargos vacantes foi o primeiro golpe de protesto contra o plano, em âmbito popular. 
 Para contornar a situação, Rolando Armandus resolveu submeter-se ao teste do DNA e decretou que todos os candidatos deveriam fazer o mesmo. O Projeto ganhou reforços com novos laboratórios denominados Genoma Humanitas Politicus. A imprensa escrita defendeu, em seus editoriais, a seriedade da iniciativa, que só viria fortalecer a probidade de todos aqueles que pretendiam candidatar-se a cargos públicos. 
           Diante dos resultados dos testes do DNA, não houve escolha; a evidência levou a maioria a votar nos aptos. Apenas pequena parcela da população preferiu confiar em algumas pessoas. Eram amigos e parentes que assistiram a estes políticos natos entrando em depressão após se submeterem aos testes do DNA. As mulheres mostraram sua fortaleza, não abandonando seus maridos, depois dos resultados laboratoriais e das urnas. 
 O teste do DNA começou nos presídios onde surgiu um programa de pena de morte justificada. Numa segunda etapa, entre os idosos e recém-nascidos, para, depois, ter uma vertente entre os desempregados. O ingresso nas Escolas e Universidades foi a etapa seguinte. 
 O caso dos políticos ocorreu, somente porque eles foram voluntários, e este era o destino do restante da população. Somente quem quisesse faria o exame do DNA, no caso dos empregados. 
 Outra forma de buscar a união das vontades e levantar o moral da população foi estabelecer um concurso mundial, para produzir um ser humano perfeito. 
 Já havia informação disponível suficiente nos bancos de dados do Gene Data Base para este fim. Cada laboratório poderia dispensar somente 5% do seu pessoal para o concurso, e só seria aceito um Projeto por laboratório. O prazo de seis meses levou a população e os meios de comunicação a uma espera nunca vista anteriormente. Uma espécie de expectativa por aquele ou aquela que salvaria a humanidade. 
 Um novo homem seria criado, e uma nova humanidade dele ou dela surgiria. 
 A imprensa pegou este furo, que estava na voz do povo. Como não havia definição do sexo, promoveu um amplo debate sobre o tema. 
 Diante de tantos argumentos, tanto de um lado como de outro, ONG’s e movimentos feministas começaram a fazer pressão sobre os chefes de laboratórios. Rolando Armandus teve de se posicionar, e o fez como uma sentença salomônica: “Será um casal!” 
 Um dos médicos que trabalhavam num dos laboratórios europeus, sugeriu utilizar as células do miocárdio do conhecido milagre de Lanciano.[1] 
 Depois de discutir o assunto com os colegas, um deles disse que seria injusto pegar um Ser já pronto. O outro, prudentemente, arriscou: - Com Deus não se brinca. Ele retrucou acanhado, quando percebeu que sua proposta estava vencida: - E o que estamos fazendo nestes últimos anos... ?! 
 Várias tentativas começaram a aparecer na imprensa e tudo indicava que o vencedor seria aquele que soubesse inserir o maior número de qualidades positivas. A conseqüência da interação entre os genes era uma preocupação totalmente secundária. Isto porque as técnicas não haviam atingido tal nível de arte. 
 Mas 95% do pessoal ainda continuava trabalhando no seqüenciamento e construção da genealogia das pessoas. Os familiares dos estudados ficavam perplexos diante dos resultados, mas, com o tempo, acostumavam-se, pois o DNA “não poderia mentir”. 
 A atitude voluntária aumentou principalmente quando excelentes árvores eram montadas. Pessoas da mesma família, mais por vaidade do que por qualquer outra coisa, foram aos laboratórios com o objetivo de lá deixarem suas células para estudo. 
 Terminados os seis meses, os Projetos foram entregues. Nenhum laboratório sequer deixou de se inscrever no concurso. 
 A comissão reunida resolveu internamente que os vencedores não podiam ser do mesmo continente. 
 Após quinze dias, os resultados seriam anunciados. Alguns especialistas conversavam no hall da sede do Gene Data Base. Tudo lembrava mais um espetáculo do que uma proposta séria, quando analisado do ponto de vista científico. O tempo de seis meses tinha sido insuficiente e os quinze dias foram um indicativo de que a decisão seria política. 
 Alguns estavam entusiasmados, pois não haviam respeitado as regras e já estavam com embriões, construídos com os gametas que se diferenciavam apenas no que se refere ao sexo. A justificativa era de que, se fosse viável, teriam uma consangüinidade positiva. 
 A América, representada pela Gene Peletron, venceu o concurso masculino e a África e Ásia ficaram empatadas para o feminino. 
 A decisão para o Projeto Mulher África ocorreu, uma vez que este continente havia feito o maior número de árvores genealógicas. A Ásia Gene Female recorreu, mas a comissão não aceitou o recurso. 
 O Comitê Central injetou em cada um dos laboratórios vencedores US$ 1 bilhão para manufatura do embrião. Alguns cientistas se surpreenderam, pois imaginavam que este concurso seria apenas um exercício teórico. 
 Sem querer correr o risco de perder o financiamento, os laboratórios vencedores aceitaram o dinheiro. Teriam, agora, três meses para construir os embriões. Com o dinheiro, as estruturas foram ampliadas, novos técnicos, contratados, e foram feitas associações com laboratórios irmãos. Estes centros de pesquisa poderiam dedicar full time ao Projeto GenEmbryo. 
 Curiosamente, alguns resultados de exames do DNA de irmãos voluntários não atingiram sequer o nível regular, embora um deles tenha apresentado uma árvore genealógica excelente. Na maioria das famílias em que isso ocorreu, este documento desapareceu internamente e somente o primeiro estava num quadro da sala principal das casas de todos os familiares e parentes. Ele era o salvo-conduto para casamentos com familiares semelhantes ou da nobreza rica e influente. 
 O Yellow Peace, neste período, resolveu usar uma estratégia a médio-longo prazo. 
 Sabia que a imagem do Projeto Genoma Humanitas era o que mais contava para Rolando Armandus e seus aliados. A imprensa havia-se transformado em importante ferramenta maniqueísta, defendendo sempre o Genoma Humanitas e o GenEmbryo. 
 Com auxílio dos hackers, tinha todas as árvores genealógicas que queria e, comparando-as com todos os dados históricos que possuía, ficou evidente que tudo era uma grande farsa. Num primeiro momento pensou ela que poderia estar sendo vítima de sua própria ação sabotadora, mas as evidências eram muito fortes; não havia como explicar também a pressa e a superficialidade dos que conduziam o Genoma Humanitas. A perplexidade aumentou, quando se anunciou que as crianças já estavam sendo geradas há seis meses. O fato havia ficado em sigilo por motivos de segurança. Internamente, o estafe do Genoma Humanitas sabia que poderiam ser alvo de sabotagem e justificaram a atitude dizendo que era importante a tranqüilidade das mães, para que todos os 127 mil genes pudessem ser expressos. 
 Toda mulher grávida foi então alvo da imprensa, e foi preciso baixar um decreto proibindo esta atitude. Em recompensa à fidelidade da imprensa a este decreto, ela teria exclusividade na primeira semana de vida das crianças. As outras formas de mídia rebelaram-se, particularmente a televisiva e a dos provedores da Internet. Todos queriam ver aqueles que seriam o futuro da humanidade, o novo homem, a nova mulher. Chegou a ser anunciado com cuidado que cada uma das novas criaturas possuía um gene indicando que um era para o outro e vice-versa. 
 Jim Clarck e Sin Crommos eram amigos de longa data. Haviam estudado na mesma escola, quando crianças e voltaram a se encontrar na Universidade. Coincidentemente, ambos estavam trabalhando em laboratórios vencedores e os dois encontraram-se no hall do Gene Data Base para entrega dos Projetos. Neste encontro, haviam selado um pacto. O de fazer a genealogia dos recém-nascidos. Na Universidade, ambos tiveram contato com o Yellow Peace, mas, como logo que se formaram, foram convidados para trabalhar em diferentes partes do mundo, preferiram esquecer o passado. Jim e Sin montaram estratégias semelhantes para coletar células do sangue dos seres que ao mundo chegavam. 
 Sabiamente, prepararam uma bateria de emergência para fazer o exame do DNA nos recém-nascidos. Driblando a rotina da entrada de material, disseram ambos que se tratava de um voluntário que não queria se manifestar. 
 Esta história termina com o envio de mails entre Jim e Sin, capturado pelo Yellow Peace, com o resultado do exame do DNA do homem e da mulher “mais perfeitos”. O sistema descobriu a “fraude” dos dois amigos e Jim e Sin são executados sumariamente por traição. 
 O Yellow Peace reúne seus membros para a leitura dos resultados do exame do DNA..., tiranos, déspotas, egoístas, maquiavélicos, enganadores, perversos, ... 
  
* * * 
 Hoje, Jim e Sin são mártires do Yellow Peace. 
 O diretor do Gene Data Base e o do Genoma Humanitas, Rolando Armandus, foram julgados por um tribunal no Timor Leste. A notícia que se tem é que foram condenados a cumprir pena numa pequena ilha do Pacífico. 
 O Yellow Peace elegeu 160 presidentes em diversas partes do mundo. 
 Cópias do material guardado foram distribuídas pelo mundo, e foi posto na Internet um estudo sobre o caso. Está disponível no site http://www.genomahumanitas.org/yellowpeace.html 
Trilha sonora sugerida: Jon Anderson, Phill Collins, Keith Emerson, Ian Anderson. 

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[1] Por volta do ano 700, na cidade de Lanciano, havia um monge que era perseguido diariamente pela dúvida de que a hóstia e o vinho consagrados fossem o verdadeiramente o Corpo e Sangue de Cristo. Certo dia, após proferir as palavras da consagração, viu a hóstia e o vinho converterem-se em Carne viva e Sangue vivo. Em 1574, a Igreja reconheceu o milagre deste fato, uma vez que ainda hoje o material se encontra como anos atrás. Em 1970, cientistas de renome estudaram o assunto e, no ano seguinte, concluíram: A Carne é verdadeira carne; o Sangue é verdadeiro sangue; A Carne é do tecido muscular do coração (miocárdio, endocárdio e nervo vago); A Carne e o Sangue são do mesmo tipo sangüíneo (AB) e pertencem à espécie humana; Coincidência extraordinária: É o mesmo tipo de sangue (AB) encontrado no Santo Sudário de Turim; Espanta: trata-se de carne e sangue de uma Pessoa Viva, vivendo atualmente, pois que esse sangue é o mesmo se tivesse sido retirado, naquele mesmo dia, de um ser vivo; No sangue, foram encontrados, além das proteínas normais, os seguintes minerais: cloretos, fósforo, magnésio, potássio, sódio e cálcio; A conservação da Carne e do Sangue, deixados em estado natural por 12 séculos, e expostos à ação de agentes atmosféricos e biológicos, permanece um fenômeno extraordinário.
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