Astro-Manual - Astronomia Observacional Amadora
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Observação de Bólidos

Um bólido é uma bola de fogo (fireball) que finda seu vôo visível em um flash terminal luminoso (explosão). Os bólidos são fenômenos raros, produzidos por meteoróides de grande tamanho cuja origem pode ser asteroidal ou ainda cometária. Analises de mais de 5.000 horas de observação visual revela que a taxa média de aparições de um meteoro com magnitude maior que zero é de um a cada 2,7 horas em meteoros esporádicos, sendo que no caso de chuveiros anuais e tempestades essa taxa é maior; de forma que para observar um meteoro de magnitude -3.0 é preciso mais de 300 horas de observação. Assim, do total de meteoros observados apenas cerca de 0.6% são bólidos. Contudo, meteoros com magnitude de -6 em diante é um evento ainda mais raro. Raríssimo mesmo é ver um bólido brilhando em plena luz do dia, e ainda mais difícil de ocorrer é ver um bólido brilhando em pleno dia perto do Sol. Mas tudo é possível quando se olha muito para o céu.
Os bólidos mais brilhantes acontecem de forma imprevista em ocasiões quando estamos fazendo algum tipo de observação, como variáveis, planetas, astrofotografia ou observações de objetos do céu profundo, ou na maioria dos casos, quando estamos observando uma chuva de meteoros. Dedicar se exclusivamente a observação de bólidos não tem sentido porque eles são essencialmente imprevisíveis e raros, podendo ocorrer em qualquer parte do céu; porém é muito importante anotar esses avistamentos, sempre de forma individual, todos aqueles que têms a felicidade ou sorte de ver.
A magnitude de referencia para um bólido varia conforme os critérios adotados pelas instituições que se destinam ao seu estudo. Dessa forma, algumas delas consideram como bólidos qualquer meteoro de magnitude igual ou mais brilhante que -2. Este critério é usado porque depois de corrigir as magnitudes visuais por extinção atmosférica e distância do observador, as magnitudes zenitais estão próximas a -3.0, valor que se toma de referência. Outras instituições estabelecem esse limite mínimo entre -3 a -4; e ainda outras tem como critério a magnitude mínima entre -5 e -6. No caso de se observar um meteoro muito espetacular, ainda que solte chispas, se fragmente, ou deixe uma estrela com rastro; se não tem a magnitude visual mínima de -2, por exemplo, não se deve computá-la como bólido.
Os dados mais importantes a ser considerados é a magnitude e o traço, linha traçada pelo bólido.

Magnitude

Magnitudes de até -5 podem ser estimadas com suficiente precisão sempre e quando não seja superior a -5. Pois nesse caso, se pode comparar com o brilho das estrelas próximas ou planetas, por exemplo: Sirius tem mag -1.5, Júpiter -2.2 e Vênus -4. Uma margem de +/ 1 magnitude na estimativa é considerada um bom valor para bólidos até mag -5.
Para bólidos mais brilhantes que -5 um erro de +/ 2 magnitudes está dentro do aceitável, pois a maioria das vezes tem que estimar a magnitude de forma aproximada. Como parâmetro podemos ter como referência o brilho da Lua Cheia (-13 mag), ou da Lua Crescente / Minguante (aproximadamente -6 mag). Como nem sempre temos a Lua presente e a bela surpresa do momento pode nos atordoar, convém fazer uma estimativa da magnitude visual com um valor aproximado compreendido entre -8 e -12. Sempre será mais confiável que dizer, ''tão brilhante como a Lua''. Todavia, se você não está familiarizado com o sistema de magnitude estelar, assinale uma das seguintes estimativas: - Tão luminoso quanto Vênus; - Mais luminoso que Vênus, mas mais escuro que a 1ª lua de quarto; - Tão luminoso quanto a 1ª lua de quarto; - Mais luminoso que o 1º quarto mas mais escuro que a lua cheia; - Tão luminoso quanto a lua cheia; - Mais luminoso que a lua cheia; - Tão luminoso quanto o Sol; - Mais luminoso que o Sol.
Normalmente, se um bólido produz sombra se pode assegurar que seu brilho foi maior que -5. Se tivermos a sorte de observa-lo justamente para onde estamos olhando, temos que estar atentos ao efeito do deslumbramento sobre a retina. Se depois de passar não somos capazes de ver estrelas mais débeis que mag +2, se pode assegurar que a magnitude do bólido foi maior ou igual a -10. Eu particularmente, ainda não vi um bólido desse porte, e se você ver um espetáculo desse, então você é um grande sortudo(a) podendo se considerar um privilegiado(a)!

Traçado

O traço ou traçado do bólido é de vital importância para identificar a sua procedência. O importante é definir com precisão o ponto de início e final da trajetória, procurando não perder a pista de ver o caminho por onde ele passou. Para isso podemos usar uma carta celeste, sempre e quando represente estrelas de magnitude +5 ou +6 no mínimo, com a finalidade de ter suficientes pontos de referência. Assim podemos unir os pontos das estrelas como uma régua para obter a trajetória. Temos que ter em conta que esta é a única maneira confiável de determina o caminho percorrido pelo bólido. Indicar por escrito as constelações que começou e terminou, por exemplo ''entre Orion e Touro'', não é um critério de muita precisão além de atrair mais confusão.
Na falta de uma carta celeste também se pode fazer um esboço a mão para registrar o evento de forma adequada. O traço desenhado sempre pode conter algum erro, por isso é necessário indicar a precisão que nós pensamos que temos, como por exemplo: ''início não visto'', final aproximado'', ''bom'', ''começo incerto'', etc. Bem como a data e horário (UT) exato do avistamento.
As vezes pode ocorrer do bólido aparecer durante o crepúsculo, ao amanhecer ou até mesmo durante o dia claro. Nestes casos não há estrelas ou planetas de referencia para desenhar a trajetória e temos que proceder de outra forma. O melhor é fazer um desenho da zona, com montanhas, árvores, construções, etc, e indicar a altura sobre o horizonte de início e fim do bólido, assim como a posição em graus, medidos em sentido horário em relação ao norte (com ajuda de uma bússola) correspondente aos pontos de início e final do traço projetado até o horizonte. Para tanto, podemos dizer a direção em que vemos primeiro o bólido em azimute magnético (usando a bússola) ou verdadeiro (em relação ao pólo celeste verdadeiro). Se você não está familiarizado com determinar azimutes, indique um dos seguintes: - Diretamente em cima; - Norte; - Nordeste; - Leste; - Sudeste; - Sul; - Sudoeste; - Oeste; - Noroeste, ou então se ''Eu não estou seguro''. Esse mesmo exemplo pode ser usado para a descrição de quando o meteoro foi avistado terminar. Esse mesmo dado também pode ser usado para anotar os registros a qualquer hora da noite, aurora matutina ou anoitecer.

Obviamente que devemos começar o relatório indicando primeiro a data do ocorrido (ano, mês e dia ou dia/mês/ano) de nossa observação. Em relação a hora, devemos indicá-la em Tempo Universal (UT). Se não estamos seguros do TU, se deve especificar claramente que se trata de hora local, e ainda o TMG (que no caso do Brasil, dependendo de qual fuso horário estamos, será -3 ou -4, e também se é horário de verão ou horário normal). Como o normal é que nossa hora marcada pelo relógio não seja exata, temos que ajustar o relógio com algum relógio atômico seja pelo do Observatório Nacional, telefone ou mesmo por algum software desse tipo instalado em nosso computador; de forma que quando chegamos em casa somemos ou diminuímos a diferença de nosso relógio com o sinal, para assim obter a hora exata. O melhor é indicar a hora da aparição com uma margem de erro, por exemplo, 22 horas, 21 minutos e 15 segundos +/ 3 segundos. Para indicar nossa localização colocamos o local (cidade, estado, país) ou a localidade mais próxima de onde estamos (caso estejamos na zona rural, estrada, etc), a longitude e latitude, mesmo embora seja aproximada. Também é necessário colocar a altitude em metros da nossa posição em relação ao nível do mar.

Todo e qualquer dado descritivo das características do bólido avistado devem ser colocadas. No caso do traçado aparente há que se indicar as coordenadas de início e final da trajetória. Uma forma rápida de obter as coordenadas é desenhar sobre um Atlas, como exemplo o Sky Atlas 2000.0 ou o Uranometria 2000.0, os pontos de início e fim. Depois se traçam paralelas desde as linhas de Ascensão Reta e Declinação e calculamos com uma regra de três as coordenadas. Em qualquer caso, se não deseja obter as coordenadas não deixe de fazer o desenho do traçado em uma carta celeste ou esboço. No Equinócio em que se obtiver as coordenadas devemos colocar, por exemplo, Eq: 2000.0 (para os dados atuais). Não desenhe o caminho do bólido em uma carta que não permite traçar toda a sua trajetória, salvo se não dispor de outro meio. Se bem que o final ou parte do trajeto, mesmo que cortado na borda, o registro continua sendo válido.

No que tange ao brilho aparente do bólido, se indica a magnitude visual. Se a magnitude variou se descreve a escala entre aquela que flutuou, por exemplo: '' variação de magnitude do início ao final foi de -6 a -4). A duração deve ser anotada conforme o tempo que durou o traçado, por exemplo, 15 segundos. As características do rastro do bólido também devem ser anotadas como: ''largo ou fino''; curto, porém de 8'' de arco''; ''curvo''; ''presença de rastro de fumaça''; ''distância em graus percorrida pelo bólido no céu".

Se o bólido produziu algum flash, explosão ou fragmentação há que se tentar estimar o número de fragmentos, traços luminosos ou fumaça que apresentou a magnitude e duração de cada um deles. A cor ou cores observadas também devem ser devidamente anotadas.

Um dado muito importante é a esteira ou rastro deixado pelo bólido. Nos interessa a duração em segundos, estimada a olho, da nuvem que alguns bólidos deixam a sua passagem. Se resultar muito brilhante se aconselha observá-la com binóculo e estimar sua duração completa, por exemplo: 15 segundos visual, 27 segundos com 10x50. Se tiveres uma máquina fotográfica não perca a ocasião e fotografe, ou então realize um esboço para observar a evolução.

Outros dados úteis em relação ao rastro são a cor e a luminosidade da esteira. Um tipo de esteiras menos conhecido é os rastros de fumo (Smoke Trains). Não emite luz, e se produzem porque os materiais que se vão quebrando distribuídos ao longo da trajetória refletem a luz ambiente. Só é possível observá-las quando os raios solares a iluminam desde um certo ângulo. É o mesmo efeito que da a cor vermelha às nuvens ao pôr-do-sol.

Velocidade Angular

Em relação à velocidade angular há que se utilizar duas escalas, a primeira é conhecida como escala subjetiva, e se indica como Rápido (R), Moderado (M), Lento (L), etc. A outra possibilidade, que é a que se deve usar, se baseia na estimação da velocidade em graus por segundo. Para fazê-lo temos que memorizar a velocidade do bólido e logo, deslocar nossa mão com um dedo entendido na mesma velocidade do bólido durante um segundo (aproximadamente o tempo que demora a desce 101). Lembrando que com o braço entendido nosso punho equivale a uns 10 graus, e a mão espalma equivale cerca de 20 graus. A distância em graus percorrida pelo nosso dedo será a velocidade angular em graus por segundo. Ainda que esse método pareça estranho, com a prática é bastante exato. Veja como fazer medidas de ângulos com a mão.

Som

O sonido, zumbido, chiado, assobio ou estrondo produzido por um bólido é um fenômeno muito raro. Para poder ouvi-lo, caso o tenha, é imprescindível que o lugar da observação esteja o mais longe possível de fontes produtoras de ruídos, não alvoroçar muito depois de vê-lo (algo difícil de evitar principalmente se o bólido foi muito espetacular). Se se produziu, indique a duração do eco, assim como seu tom (agudo, grave, abafado, etc), ou compará-lo com algum sonido conhecido onomatopaico como ''banh'', ''boom'', ''crack'', etc, Se for possível, anote o lapso de tempo entre a observação visual e a audição do sonido.
Em alguns dados casos de que o sonido não é audível por ser de frequencia muito baixa, porém se nos arredores existe algum material dielétrico - isolante de eletricidade, como uma haste de metal, janela ou similar este corpo vibrará, e por ressonância emitirá um sonido que então será audível.
Há casos em que os ruídos são percebidos simultaneamente a da observação do bólido. Em outros casos, a audição pode demorar até 5 minutos depois dependendo da altura do bólido.

Aspectos adicionais que podem ser úteis são a altura sobre o horizonte no momento que apresentou maior brilho. Se o meteoro variou muito de altura (espaço percorrido), e se sua magnitude foi constante, tomar o ponto médio do ocorrido.

No caso em que o meteoro seja visto pelo ''rabo do olho'' (canto do olho), e sua magnitude foi constante, anotar o ângulo desde o qual apareceu, começando a medir desde o centro da visão que teve nesse momento. Estes dados podem ser usados posteriormente para corrigir a magnitude.

Também se pode incluir a magnitude limite, seeing, presença de núvens, cirros ou névoa no centro da visão. Embora não seja necessário, se puder, também coloque a velocidade e direção do vento.

É indispensável que o observador coloque em seu relatório o seu nome e endereço, telefone, e-mail. Pode ser que em alguma ocasião seja necessário que se ente em contato com o relator, para confirmar ou obter mais alguns dados, ou mesmo para enviar-lhe alguma informação adicional, e mesmo na localização de algum possível meteorito proveniente do bólido que tenha vindo a se chocado com o solo.

Fonte Consultada:

AstroRED / Meteoros por Francisco Ocaña - http://www.astrored.org/

IMO - http://www.imo.net/

MIAC - http://miac.uqac.ca/MIAC/link-e.htm

Index - Formulário de Observação - Bólidos

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