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A ARTE DA COMUNICAÇÃO (Parte 2)

Autora: Maria da Penha Nery – 18/06/03

Nossa comunicação é ativada de acordo com os papéis sociais exercidos num contexto e que carregam em si tanto a personalidade quanto cultura de uma sociedade. Se eu exerço o papel social de funcionária, esse papel está submetido à cultura do órgão em que trabalho. Eu serei uma funcionária de acordo com essa cultura, mas as características de minha personalidade darão um colorido diferenciado ao desempenho desse papel.

Então, quando me comunico, por meio de um papel social, ao mesmo tempo em que transmito a cultura, eu me transmito. Portanto, a personalidade é dinâmica, composta de vários papéis e tem a função de transpor características dos papéis e funções de outros papéis para o papel que exerço "oficialmente" em um contexto.

Isso quer dizer que a comunicação atualiza em um papel social, aspectos de outros papéis presentes em minha personalidade. Então, no papel de funcionária, em alguns momentos posso ser (no vínculo com outro funcionário, ou com meu chefe) amiga, conselheira, aventureira, administradora, serviçal etc. Esses são os "papéis latentes" que exercemos nos contextos sociais. Eles carregam projetos dramáticos ou objetivos relacionais que podem ser realizados ou podem causar conflitos no vínculo. Por exemplo, nem sempre um colega de trabalho deseja ir a um cinema com outro e o outro, ao não ser correspondido, pode se sentir rejeitado.

Os papéis latentes também surgem para administrarmos as lógicas afetivas de conduta, ou seja, as maneiras de estarmos obtendo a admiração, a atenção e o reconhecimento no contexto. Assim, podemos ser o ajudante permanente, na tentativa de sermos valorizados. As lógicas afetivas nos ajudam a nos defender psicologicamente ou a fazer escolhas relacionais ou de tarefas que melhor nos sustentem afetivamente.

No entanto, muitas lógicas geram características que podem trazer obstáculos à criatividade ou ao processo da criação conjunta com o outro, ou co-criação. Assim, atuamos nos papéis sociais de maneira tímida, contida, ou extrovertida, conforme nossa aprendizagem emocional.

Essas são algumas situações comunicacionais que geram conflitos. Os conflitos são as situações de tensão entre forças aparentemente opostas (opiniões, atitudes, emoções, necessidades etc)

Outras exemplos de conflitos: quando tentamos realizar expectativas de suprir carências a partir do outro, impondo-lhe a missão preencher nosso vazio existencial. O outro não veio ao mundo para ser "tudo" para nós, essa tarefa é impossível. E jamais seremos o "tudo" do outro.

Muitas vezes queremos transpor aos outros a auto-exigência, a auto-crítica ("sei muito, mas sou burro"), a nossa impotência persistente, as intolerâncias em relação às nossas fraquezas, como maneira de nos defendermos delas. Mas, os outros não vieram ao mundo para carregar nossas dificuldades.

A comunicação promove conflitos devido aos diversos medos que sofremos: o medo de não saber ou de não dar conta do que nos é solicitado, de ser criticado, de ser rejeitado, de ser desprezado, da solidão etc. Quando esses medos persistem e nos dominam, não conseguimos nos comunicar claramente, pois estamos tomados pela situação imaginada que nos afligirá.

Muitos conflitos advém do simples dizer e não ser ouvido, por isso necessitamos ‘checar´ constantemente: "você disse isso?" , "Eu ouvi isso...estou certo?" "Eu entendi que você quer dizer isso, pode me dizer mais claramente?" Então, antes de interpretarmos e ficarmos na fantasia do que o outro "quis dizer", é importante verificar e ter mais contato com a realidade.

Mas, uma das grandes barreiras comunicacionais é o orgulho, tanto para checar a comunicação quanto para darmos feedbacks positivos. Precisamos descer do pedestal e aprender a dizer frases que incentivam as pessoas. Portanto, não poupemos expressar admiração, elogios, carinhos. Essa comunicação é sempre gratificante para todos os envolvidos.

Verificamos que o fundamental para a boa comunicação é o auto-conhecimento. Por meio dele evitamos as projeções, os mecanismos compensatórios, os papéis latentes que bloqueiam a criatividade e a comunicação subreptícia, ou metafórica. Por exemplo evitamos dizer: " Vc parece triste, ou com raiva", quando o nosso sentimento é de tristeza ou de raiva... Evitamos dar um presente para o outro, como maneira de lhe dizer que queremos receber um presente; evitamos descartar o outro, porque ele não nos ajuda mais. E aprendemos a ser mais objetivos, claros, expressar melhor nossos sentimentos, desejos, expectativas e a ouvir e tentar adequar as expectativas do outro às nossas, num processo de respeito mútuo.

Eis aí a intrigante arte da comunicação. Nos artigos de outros temas, estamos conjugando aspectos da vida para que possamos continuar no crescimento sociopsíquico.

 

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