A ARTE DA COMUNICAÇÃO (Parte 1)

Maria da Penha Nery - 10/05/2003

O que é comunição humana? O que a facilita, o que a dificulta? Que aspectos da comunicação trazem problemas para as relações?

As primeiras definições sobre a comunicação humana estão centradas na Teoria da Comunicação, que afirma basicamente que comunicar é transmitir e receber mensagens, decodificar as mensagens recebidas e resolver os ruídos, bloqueios e falseamentos do processo comunicacional.

Mas, as atuais teorias da comunicação, que abrange as teorias dos sistemas, a cibernética e o pensamento complexo partem do pressuposto que a comunicação é um processo muito amplo, dinâmico, complexo e dialético, pois envolve o nosso mundo psíquico, o modo de relacionar, o mundo que nos cerca, as circunstâncias e o momento.

Se no processo comunicacional as pessoas envolvidas se expressam por meio de símbolos, a linguagem, então a cultura é um dos elementos fundamentais da comunicação. Um dos aspectos que advém da cultura, particularmente do grupo familiar, são as aprendizagens emocional e dos papéis, ou seja o desenvolvimento dos vínculos.

Portanto, a comunicação humana envolve os complexos fenômenos pertinentes às relações humanas, alguns deles são o falar e o ouvir, o corpo, fenômenos psíquicos. Vamos falar de alguns deles:

1) Falar x ouvir: O ser humano tem dois ouvidos e uma boca. Isso deveria servir para nos lembrar que o ouvir é o ato mais organizador de nossa comunicação. Então é importante nos questionar: de maneira geral, ouço mais? Falo mais? Como ouço? De que maneira falo? O que falo? Em nossos encontros com o outro podemos nos observar nestes aspectos. Geralmente, observo que as pessoas tem muita necessidade de falar, e algumas vezes encontram quem as complementa ouvindo e respondendo ao que compreendem; outras vezes, encontram quem as ouve, mas não as entendem ou as interpretam inadequadamente. E, dentro de outras possibilidades, ainda, podem encontrar alguém que fala muito e então acabam não se ouvindo, iniciando assuntos que não terminam, ou entrecortando assuntos que não se aprofundam.

Portanto, o que digo x o que quero dizer, o meu dizer e o modo de dizer, o que ouço, o que quero ouvir, o modo como ouço, em todas as formas de linguagem (por exemplo, verbal, corporal, espacial) são focos importantes para observarmos em nossa comunicação.

2) Corpo: A comunicação corporal nos ajuda a compreender o outro, a nós mesmos e a nossa forma de transmitir nossas mensagens. Muitas vezes o corpo diz o oposto da fala, ou está em congruência com ela. Falar de tristeza, com um sorriso no rosto, por exemplo, demonstra que não estamos integrados, estamos temendo algo, ou não estamos sintonizados com o momento. Estas incoerências perturbam o encontro com o outro, pois são carregadas de ambivalências... Nossas atitudes, isto é, aceitarmos, sermos favoráveis ou não ao que estamos dizendo ou ao que está sendo dito são demonstradas em sua maioria na comunicação corporal. Nossa localização no espaço, a proximidade, a distância do interlocutor também dizem coisas. Portanto, a postura corporal é fundamental para que possamos mostrar mais adequação à nossa comunicação. Quanto mais conhecemos nosso corpo e nossa expressão corporal, mais aperfeiçoamos nosso comunicar.

3) Fenômenos psíquicos: A comunicação humana está entrelaçada pelos processos psicológicos, é preciso que os compreendamos para que observemos como funcionamos nestes processos. Dentre eles, temos a intuição, o fenômeno tele, a percepção da fantasia e da realidade, os aspectos masculino e feminino presentes na psiquê, os aprendizados emocionais e em relação ao poder e a auto-estima.

• Intuição é o processo psíquico que nos faz apreender realidades além da realidade que conhecemos. É uma capacidade de perceber o acontecimento de maneira mais globalizada e chegarmos em seu âmago e suas conseqüências. Muitas vezes surge de chofre e mal a assimilamos, pois ela contém um processo comunicacional de mentes e conjunção de diversos fragmentos de fatos para que surja instantaneamente.
• Tele é fator responsável pelo estabelecimento do vínculo, pela complementação de papéis, que resulta a co-criação, ou a criação conjunta. As pessoas num vínculo ou no grupo conseguem produzir criativamente, porque este fenômeno permite uma comunicação mental que viabiliza os objetivos relacionais (ou projetos dramáticos), trazendo crescimento e bem estar para os envolvidos na relação.
• Transferência: é o intercâmbio do mundo interno interno das pessoas, ora desfavorecendo ou favorecendo a comunicação e o vínculo. ( Por exemplo, a história da infância de cada pessoa resulta a internalização da criança, dos modelos e das relações que ela estabelece, então, muitos sentimentos: medos, cobranças, desejos, invejas, ciúmes, culpa, impotência, competição, agressividade, bloqueios e facilidades trarão a manifestação desta "criança interna", que se confrontará com a "criança interna" do outro, na relação atual)
• Fantasia e realidade: Nem sempre conseguimos definir o que é real do imaginário e fazemos interpretações distorcidas do que percebemos, pois sentimentos e situações podem perturbar nossa percepção. Quando vivemos apenas o mundo imaginário, perdemos o contato com o outro e a possibilidade de comunicação fica carregada de conflitos profundos.
• Os aspectos masculino e feminino em nossa mente, quando bem integrados nos facilitarão a compreensão e a aceitação do diferente, daquilo que não é familiar e que nos causa estranheza e nos ameaçam. Também nos ajudam a integrar os aspectos racionais e emocionais, desenvolvendo a inteligência emocional.

As Vivências relacionadas ao poder e ao amor que conseguimos dar e receber podem influenciar nossa capacidade de comunicação. Muitas vezes desenvolvemos medos relacionados a estes temas básicos de nossa vida. Por exemplo, podemos não conseguir sair de nossa autoridade, quando necessário, ou tememos a autoridade do outro. Ainda, podemos fazer de tudo para sermos aceitos e nos anulamos.

A auto-estima, ou o amor próprio, a capacidade de nos respeitarmos e de sermos éticos conosco nos facilitam o processo comunicacional, pois nos dará serenidade para vivermos os obstáculos das relações, tais como a rejeição do outro, a sua independência, o abandono etc.

Observe que a comunicação está envolvida em fenômenos muito complexos de nossa psique e da interpsique.

O importante é que quanto mais conhecemos esses fenômenos, mais os dominamos e conseguimos melhorar a nós mesmos e as nossas relações. Nossa evolução pessoal e relacional dependem de nosso processo de auto-conhecimento, que é fundamental para a comunicação eficiente.

Em nossos próximos dois textos, iremos aprofundar este tema, para que cada vez mais nos aperfeiçoemos no processo comunicacional, tão fundamental para nossas existências.

Todos os direitos autorais desse texto são reservados e protegidos pela  Lei nº 9.610/98. Proibida a reprodução sem a autorização prévia e expressa da autora.

voltar