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A ANGÚSTIA EM NOSSAS RELAÇÕES

Maria da Penha Nery (21/05/03)

Psicóloga-Psicodramatista (CRP-01:3501)

A angústia é um estado emocional impregnado em todos os sintomas psicopatológicos. Dificilmente os clientes conseguem defini-la. Apontam o peito e dizem que há um aperto. Outras vezes, que há um vazio, uma falta de sentido. Na verdade, a angústia é composta de vários sentimentos, por isso temos dificuldade de expressá-la. Mas, conseguimos nomeá-la, pois é vivida existencial e corporalmente.

A angústia contém um profundo desamparo existencial, em que se misturam sentimentos de ansiedade, solidão e descrença. Geralmente, a expressão da angústia surge de forma regredida, não sabemos o que dizer, não sabemos como dizer sobre essa dor emocional. Ela se aloja em nosso ser e, muitas vezes, ficamos paralizados, aguardando a passagem de todo o mal estar existencial.

Infelizmente não há como escapar das angústias. Viver também é angustiante, pois constantemente enfrentamos situações novas, surpresas, problemas, perdas, medos, obstáculos. Sartre nos diz que somos livres e podemos escolher. A liberdade nos causa a angústia existencial. Moreno, o criador do psicodrama, nos alerta que as escolhas fundamentam nossa vida. Por meio do ato de escolher podemos nos proporcionar maior ou menor satisfação, remorsos, dúvidas, receios, ressentimentos e podemos provocar no outro tristezas, alegrias, rejeições etc

Na vida exercemos vários papéis sociais e, por meio deles, fazemos escolhas. Portanto, a maior parte das angústias surgem das experiências relacionais. A fluência dos papéis é espontânea, sou aluna, em um contexto e em determinado momento e, em outro contexto e momento, sou professora. Mas, para eu existir, preciso de alguém que me complemente. A relação humana é a complementação de papéis sociais. Portanto, a solidão "de fato" não ocorre, pois cada pessoa estrutura sua personalidade na relação.

As complementações de papéis acontecem devido às trocas mentais que fornecem uma dinâmica peculiar a cada vínculo que estabelecemos. Nessa experiência intersubjetiva, ou nos estados co-consciente e co-inconsciente, podemos viver três tipos básicos de angústia: as angústias existenciais, as circunstanciais e as patológicas.

As angústias existenciais, como vimos, estão presentes em todas as relações e se referem à administração dos conflitos que naturalmente surgem no processo de diferenciação do eu em relação ao outro e nas escolhas que realizamos. Essas angústias são vividas, expressas e, relativamente, resolvidas em nossa vida do dia-a-dia.

As angústias circunstanciais surgem das relações que apresentam grandes dificuldades no convívio, devido à ocorrência de algum acontecimento desagradável ou traumático. Por exemplo, a perda de alguém pode provocar um luto mal elaborado numa família ou num grupo, que ocasiona distúrbios emocionais nos seus membros. Outros exemplos são: a experiência de uma traição, de separação, de uma formatura, de um fracasso, de uma mudança de um filho. Algumas vezes, os membros dos grupos conseguem se ajudar ou o meio social os ajuda. Outras vezes, eles precisam de algum tipo de tratamento psicológico.

As angústias patológicas ocorrem por períodos prolongados de sofrimentos, nos quais as pessoas do vínculo ou do grupo não favorecem o crescimento umas das outras. Elas impulsionam as crises e se maltratam física ou psicologicamente. Por exemplo: as perseguições devido a ciúmes; as invejas que trazem competições destrutivas; as fobias que prendem todos os que convivem com o que apresenta o sintoma. Geralmente, a dor emocional de todos é intensa e é recomendado tratamentos psicológicos conjugados com outros tipos de tratamento.

O conhecimento das manifestações da angústia e a compreensão de nossas relações nos ajudam a enfrentar nossos conflitos. O importante é estarmos atentos às emoções, aos comportamentos, ao que provocamos nas pessoas e o que elas nos provocam.

Finalmente, quando precisarmos de um amigo, um familiar e principalmente da ajuda profissional, não podemos deixar o orgulho nos dominar. A vida não é para os orgulhosos. A vida é para os que admitem que só crescem com a ajuda do outro, e sempre que possível, ajudando ao outro. Aceitar nossos limites é um dos maiores passos para lidarmos com as angústias que vivemos.

 

Nossos próximos textos abordarão outros sentimentos, que precisamos conhecer, para termos mais qualidade de vida.

 

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