Desiludido, em meio a devaneios e com o
coração em pedaços por não ter sido
correspondido com uma pessoa a quem eu tanto amava...
Assim era minha situação
quando fui interceptado por duas pessoas na porta de
minha casa que começaram a mim falar de um futuro
promissor para todas as pessoas puras e sinceras de coração.
Eu estava inconformado com minha situação
sentimental naquela época , e por isso aceitei um estudo
com aquelas pessoas que se identificavam como Testemunhas
de Jeová.
O inicio foi um tanto duro, pois meus pais
eram católicos e não aceitavam a idéia de
eu mudar de religião.
Meu pai fez uma tentativa inicial de me
desestimular a continuar aquele estudo, me mostrando um artigo
que falava sobre Russel em uma revista mensal que
ele assinava, denominada Catolicismo.
As graves acusações feitas
naquele artigo, não surgiram muito efeito sobre mim.
Porque?
Porque eu me recusava a acreditar que
aquelas pessoas amigáveis, com um sorriso constante
pudessem ser representantes de uma religião enganadora...
ainda mais porque estavam constantemente a me conformar com
palavras confortáveis acerca dos meus problemas
sentimentais.
Comecei então a freqüentar o Salão
do Reino.
Nas primeiras vezes que fui, foi demais!!!
Todas as pessoas vinham ao meu encontro para mim cumprimentarem
e se apresentarem . Quão satisfeito fiquei! Cheguei a
conclusão que ali as pessoas eram amorosas e atenciosas
umas com as outras... finalmente havia encontrado minha
verdadeira família, pensei...
Os estudos comigo continuavam. Eu percebia
um ligeiro excesso de atenção por parte dos meus
instrutores, pois eles eram pontuais, e não faltavam a um
estudo sequer.
Estranhei aquela atitude, pois jamais
havia encontrado pessoas tão atenciosas em relação
a minha pessoa daquela forma. Há se eu soubesse desde
aquela época que a causa daquela atenção
era um tal de relatório de serviço de campo...
O fato é que eu me senti amado por
aquelas pessoas.
Meus pais e amigos do mundo já não
me criticavam mais frente a frente, mas somente por terceiros.
Eu comecei a me sentir afastado tanto de meus amigos como de
meus familiares, mas ao mesmo tempo tentava explicar à
eles o quão amorosas eram as Testemunhas e Jeová,
e cheguei até a pensar que poderia, um dia, levá-los
para lá também.
O tempo foi passando, e sem que eu
percebesse, fui me envolvendo mais e mais com as Testemunhas de
Jeová no que se refere ao companheirismo.
Certa vez uma pessoa se aproximou de mim e
me mostrou o que estava escrito em João 1:1
Foi a primeira vez que tomei um pequeno
susto sobre a doutrina em que eu estava.
Corri com aquela passagem ao meu instrutor
(achando que ele não soubesse) .
A explicação que me foi
dada, foi que as bíblias do mundo inteiro continham erros
, a não ser a de fabricação própria
deles.
Maravilha, pensei! As TJ são
realmente pessoas instruídas e cultas... conhecem até
termos em grego e hebraico !!! Então reforcei mais ainda
minha fé naquela organização.
O tempo foi passando até que depois
de um ano de estudo, foi me revelado a existência e o real
significado do relatório de serviço de campo,
que é o sair batebdo de porta em porta oferecendo aquelas
revistas que todos aqui já conhecem ... é claro
que eu não iria ficar a eternidade sem saber!..
Isso ocorreu em um dia quando eu estava a
estudar com meu amoroso e atencioso instrutor .
Ali, em meio ao estudo, chegou uma outra
TJ (que já tinha se tornado um grande amigo meu) em minha
casa e fez uma piadinha com meu instrutor. Ele disse :
XXXXX, já chega de fazer
horas em cima dele!!! vamos jogar uma bolinha agora!!!
Fazer o que??? ,indaguei.
Ué, até hoje seu
instrutor não lhe disse o que é o relatório
de serviço de campo? Ainda mais agora em que você
está prestes à se tornar um publicador não
batizado? ,respondeu meu amigo.
Então fiquei ali conversando de 10
ou 15 minutos. Soube então qual era o real significado
dos relatórios . Fiquei com uma Jaca
entalada na garganta ao saber então que desde o início
meu instrutor não me amava e se interessava por mim exatamente
da maneira que eu pensava, mas sim, que havia um outro
pequeno interesse por trás de todas aquelas visitas....
Senti muito mal, mas já havia, com
o tempo, aprendido a gostar daquelas pessoas e fiquei sem jeito
de sequer dar uma ralada em meu instrutor por não
ter me dito desde o inicio que ele dava satisfação
aos outros das horas que estudava comigo. Pela primeira vez
havia descoberto algo de estranho na organização,
pensei.
Meio já envolvido com aquela turma,
me tornei publicador não batizado, onde ao
mesmo tempo conheci uma pessoa que viria a ser minha noiva no
futuro.
Passei seis meses anestesiado
com a organização e o serviço de campo. Eu
sentia satisfação em bater de porta em porta e vencer
objeções com os mais incautos. Eu achava que
Jeová se orgulhava da minha pessoa como defensor de sua
palavra; a verdade.
Meus discursos eram excepcionais. Meus irmãos
diziam que logo haveria mais um ancião naquela congregação.
Até que um determinado dia, depois
de meu batismo, no serviço de campo, comecei a argumentar
com um morador sobre a questão do sangue. O homem, nada
simplório, não se entregou aos meus argumentos
(será que eram meus mesmo?) acerca do sangue. Ao contrário
disso, ele sem bíblia sem nada , simplesmente com
palavras mansas, começou a questionar a posição
das TJ em relação ao sangue e o que Deus pensava
de tal assunto.
Pela primeira vez na minha comecei a
desconfiar que poderia haver algo questionável na
organização.
Comecei a analisar tal doutrina mais a
fundo, e cheguei a conclusão de que realmente poderia ter
algum furo, visto que havia a mão de homens no meio.
Cheguei então à conclusão que a doutrina da
abstinência do sangue, segundo as TJ estava equivocada. Eu
nem pensava em discutir isso com minha noiva pois a mesma, bem
como sua família eram extremamente teocráticos
. Qualquer assunto fora dos padrões da organização
eram considerados heresias.
Mas, mesmo assim, não deixei passar
a questão do sangue em branco. Continuava estudando.
Eu nem sonhava que existiam apóstatas
da verdade e portanto eu não tinha referências
a não ser a própria bíblia.
Então, na minha condição
de apóstata amador ( J), escrevi uma carta anônima
aoS lideres sobre o sangue. Tratava-se de um diálogo fictício
entre um servo ministerial e um ancião.
A esta altura eu já havia notado
que meus irmãos não eram tão cultos
como eu pensava no início, mas sim que seus argumentos
eram repetitivos e mecânicos , baseados nos livros tais
como o raciocínios.
Eu achava que Jeová havia me
escolhido para produzir uma reforma na organização...
achava que estava sozinho no mundo. Pensava que os membros do CG
não haviam considerado a minha linha de raciocínio
a respeito do sangue , e que portanto poderiam cair em si , e
anular esse dogma anti bíblico. Cheguei até mesmo
a pensar que eu iria fazer parte dos 144.000 por ter sido um canal
especial usado por Jeová para corrigir alguns erros
de sua organização !!!
Mandei várias vezes essa mesma
carta. E...nada!!!!
Ao contrário disso vinham eram
orientações aos irmãos que eram passadas
aos anciãos em discurso no sentido de tomar cuidado com
os apóstatas, pois o cerco estava se apertando!
Eu fiquei muito triste e desanimei, pois
me sentia um contra milhões.
Depois de ter já marcado a data de
meu casamento, continuei em meus estudos usando apenas a bíblia
, pois como disse, não tinha nenhum outro referencial a não
ser ela.
Então, descobri outra coisa
estranha... tratava-se do retorno de Cristo em 1914, segundo as
TJ.
Lendo o capitulo 24 de Mateus notei que
cristo anunciou que haveriam guerras, fome, pestilências,
falsos Cristos, falsos profetas, terremotos, e DEPOIS; somente
ENTÃO é que veríamos Cristo descendo nas
nuvens com poder e grande glória. As TJ pregam tal coisa
de forma invertida, ou seja, Cristo voltou em 1914 e DEPOIS tais
coisas como terremotos e aparecimentos de falsos Cristos começaram
a acontecer.
E agora? Pensei.
Pela primeira vez em minha vida estava min
sentido sozinho, apesar de tantos irmãos à minha
volta .
No que diz respeito ao serviço de
campo, comecei a notar alguns comentários estranhos por
parte de meus irmãos.
Já não eram mais
Vamos pregar e alertar as pessoas do final dos tempos, mas
sim minhas horas estão fracas esse mês,
preciso te acompanhar em seus estudos, ou ainda Vamos
trabalhar mais 15 minutos, pois assim completaremos duas horas
de registro hoje.
Comecei a me sentir mal com essas coisas.
Quando saia no campo, sabia que seria
obrigado a defender as doutrinas relativas a 1914 ou a questão
do sangue, mesmo sentindo no meu interior que estavam erradas .
Ou seja, eu seria obrigado a enganar as pessoas.
Até que um dia comecei a acessar a
Internet... ai descobri que não estava mais sozinho e que
existiam muitas pessoas que pensavam como eu .
Posso dizer que a gota dagua
foi quando li um artigo na net dizendo que os lideres das TJ não
tinham Jesus Cristo como mediador legal entre Deus e os homens.
Ali ele citou algumas Sentinelas como referencias.
Referências essas que foram prontamente investigadas e
confirmadas por min em pesquisas.
Lembro-me até hoje daquele dia. Meu
estômago começou a embrulhar e eu nem mesmo
consegui jantar... sentia uma indescritível vergonha de
mim mesmo, por ter sido enganado tanto tempo.
Meu instrutor, que era o ancião
residente da congregação , também era o
pedreiro que estava construindo a minha casa; o meu futuro lar
como homem casado.
No outro dia (Sábado) fui bem cedo
na obra e o chamei para dialogarmos.
Ali, expus tudo o que havia descoberto na
Net, bem como minha idéias sobre a organização.
É claro que eu já esperava
que ele não conseguiria refutar aquelas matérias...
uma porque eram verdades, e outra porque não lhe foi
ensinado pela organização a se defender de tais
matérias.
Depois de um extenso diálogo, meu
instrutor deu um profundo suspiro e me disse:
José, , mesmo que me
mostrassem que 80% dos ensinamentos da organização
são falsos e apenas 20% são verdadeiros, eu ainda
assim continuaria na organização.
O diálogo parou ali e fingi
concordar com ele.
Uma vez que eu já havia mostrado
que tinha entrado em contato com os apóstatas não
seria boa idéia uma discussão. Ao invés
disso , disfarcei; Eu disse a ele que iria queimar todo aquele
material apóstata e que nunca mais tocaria no
assunto.
Mas eu já estava em um grande
conflito espiritual. Não sabia com quem conversar, e então
decidi trocar umas idéias com outro TJ; amigo mais intimo
meu.
Esse amigo me surpreendeu pois ele
concordou em grande parte comigo sobre os erros da organização.
Em meio ao nosso diálogo eu perguntei o que ele achava de
pregar aqueles ensinamentos às pessoas de porta em porta
mesmo sabendo que estavam errados. Sua resposta:
José, eu transmito às
pessoas aquilo que s lideres me pedem para transmitir.... agora,
caberá a cada morador interpretar se aqueles ensinamentos
são corretos ou não.
Sem comentários, pensei
comigo.
Nesse momento parei de dialogar com ele e
vim embora para minha casa.
Eu já havia decidido em meu coração
que não ficaria mais naquela organização
falsa e opressiva.
Mas havia pelo menos uma pessoa que eu
queria tirar de lá. MINHA NOIVA.
Uma porque eu a amava muito e outra porque
nosso casamento já estava praticamente todo organizado.
Convites prontos, festa paga, enxoval pronto, vestido e terno
alugados, aluguel do clube pago, etc e tal...
No outro dia fui até a casa dela e
comecei uma conversa bem sutil em termos apóstatas.
Esse diálogo sutil,
durou mais ou menos uma semana. A reação negativa
que ela teve foi cerca de dez vezes maior do que eu esperava.
Resultado: Nós terminamos e eu me
dissociei através de uma carta entregue por minha mãe
ao meu instrutor e mestre de obras da minha casa.
Joguei tudo pelo ares pois em minha mente
somente vinha duas palavras: Verdade e liberdade.
Depois de dissociado, realmente foi difícil
superar tal trauma!
O principal sentimento ruim era a perca de
minha noiva, mas havia também os meus irmãos de fé.
Eu saia às ruas temendo encontrar a
todo momento meus ex-irmãos (amigos) e os verem virando
seu rosto para min. Parece que ficar em casa era a melhor coisa
a ser feita, pois tinha medo de encarar a realidade.
REALIDADE? Qual era ela? Era o fato de eu
ter saído de uma doutrina enganosa. E foi baseado nesse
firme pensamento que consegui superar essa difícil fase
da minha vida.
Sinto ainda alguns efeitos
colaterais , mas já estão em menor
intensidade. O tempo, bem como o raciocínio lógico
são os melhores remédios que existem para esses
casos.