Eu nasci em uma família de
católicos, ateus e espíritas kardecistas. Freqüentei
durante a minha infância a igreja católica e
achava aquilo uma tortura. Perdi minha mãe aos sete
anos de idade e fiquei traumatizada por um bom tempo. Os católicos
da família achavam que eu tinha "encosto" e me
obrigavam a assistir a missa para "afastar o encosto".
NInguém conseguia enxergar que eu sentia saudades da mãe
que tinha morrido. Outros falavam: "sua mãe está
te olhando lá do céu", então eu
perguntava: "se ela continua a olhar a família lá
do céu, por que então morreu"? respondiam: "por
que deus quis". Eu era criança, mas não era
ingênua a ponto de aceitar essa resposta. Também
era inteligente o suficiente para não prolongar a discussão,
por que sabia que a resposta seria sempre a mesma "deus
quis, deus vê, deus isso, deus aquilo..." Um dia alguém
disse "seja uma boa menina, respeite seus pais, por que
deus vê tudo o que você faz". Mas eu não
podia acreditar que existia um deus que me seguia até no
banheiro, isso muito me divertia, mas eu não podia
contestar um adulto, por que isso implicaria em "ir para o
inferno e queimar eternamente", coisa que
sinceramente, na minha infância, eu acreditei. Os adultos
falavam que para entrar no reino dos céus era necessário
ser submissa, não responder aos mais velhos, comer toda a
salada, não falar de boca cheia, etc... eu me considerava
condenada ao fogo eterno, sem nenhum recurso. Ainda por cima
tinha que acordar no domingo as 5:30 da manhã para ir à
missa, seguir todas as procissões, fazer primeira comunhão,
e o que é pior: me confessar. O padre falava: "Agora
fale-me de seus pecados" e eu astutamente pensava "será
que devo falar que joguei bola até depois do horário
estabelecido por meu pai?". Bem eu falava isso e outras
coisas no mesmo nível. Lembro-me de ter falado que não
quis comer o espinafre e joguei fora escondido da empregada ao
que o padre respondeu: "reze três ave-marias por que
jogar comida fora é um pecado num mundo onde tantas
pessoas passam fome".
Finalmente entrei na adolescência e
fui descobrindo aos poucos que a igreja não era
definitivamente o meu lugar. Já estava condenada ao
inferno, nada podia ser feito. A igreja não podia me
salvar. Eu namorava escondida e isso era pecado, mas eu preferia
ir para o inferno do que deixar de namorar , ou ouvir
Cazuza.
Na escola comecei a aprender sobre Charles Darwin e sua teoria
da evolução, e nas aulas de história sobre
civilização, e em geografia sobre a formação
da terra. Matérias básicas em qualquer escola, mas
que fizeram a minha cabeça e me mostraram por que me
sentia tão desconfortável na igreja: Eu não
acreditava na bíblia!
Lembro-me que durante uma aula de
geografia enquanto a professora explicava sobre a formação
geológica, uma garota da Igreja evangélica
levantou e falou "professora, isso não pode ser
verdade, por que na bíblia está escrito que deus
criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou". a
gargalhada na classe foi geral. A professora respondeu: "Mas
você tem que estudar essa matéria que vai cair na
prova" e continuou...
O que me fascinava eram as aulas de história:
A professora era ótima, contava a história da
civilização como quem conta estorinhas infantis,
todo mundo ouvia e entendia. mas sempre a "irmãzinha
se levantava e falava "isso não pode ser verdade,
por que o primeiro homem foi Adão. Por que esse
livro de história não menciona Adão e Eva?"
A professora respondeu: "por que não há
relatos históricos de Adão e Eva" .
Evidentemente, as professoras fugiam desse tipo de discussão
por questões de ética profissional.
Quando era aula de ciências e o
professor falava de Charles Darwin e sua teoria da evolução
a irmãzinha quase chorava, mas não falava nada,
por que sabia que não adiantava discutir com os
professores, mas achava que os livros eram fábulas,
coisas que inventaram para nos fazer estudar e passar de
ano.
O contato com esses maravilhosos
professores, me fez enxergar as coisas sob outro prisma, e eu
nunca mais fui a uma igreja, afinal já tinha idade
suficiente para fazer o que queria.
Alguns anos depois comecei a estudar Allan
Kardec.
No começo fiquei maravilhada com sua postura diferente da
bíblia e sua doutrina baseada em espíritos que
falavam as mesmas coisas que meus queridos professores falavam
na sala de aula. Nunca vi, nenhuma menção ao chatíssimo
Antigo Testamento, e o Novo Testamento estava amarrado à
doutrina dos espíritos. Que cômodo! Hoje
entendo que Kardec teve que amarrar sua doutrina aos
ensinamentos de
Jesus,
talvez para fugir das perseguições na época
já que seus ensinamentos são contrários à
igreja.
Durante muitos anos, nunca contestei
uma única vírgula do que Kardec e seus espíritos
falavam, mas um dia, lendo A Gênese, deparei-me com a
seguinte pergunta:
"Que é Deus" e um espírito
respondia "É a inteligência suprema, causa
primária de todas sa coisas".
A pouco tempo atrás li um livro que
fala sobre
Moisés
e tirei minhas conclusões a esse respeito também.
Então comecei a me questionar:
Se deus é a inteligência suprema, então é
incompatível com o deus de Moisés que
aparecia, mandava, ordenava matanças e guerras em seu
nome. Mas a inteligência suprema tem um nome: Lei do
universo, lei da natureza, mas não deus... Entendi então
que adorar deus como sendo o universo e suas leis me
conduziria ao panteísmo, e seria inútil e incompatível
com minha formação intelectual, ser panteísta.
Imagine rezar para a Lei do universo, fazer pedidos para a Lei
universo e pagar promessas para a Lei universo, afinal a Lei do
universo não é deus?
Cheguei finalmente à conclusão
que Kardec fez um grande equívoco. Confundir as leis do
universo com deus, só piorou as coisas. O universo não
pára a fim de que ouvir nossas lamúrias, a rotação
dos planetas não é alterada por que estamos com
dor de dente, o sol não apaga por que não achamos
nossos óculos escuros. A lei do universo não
muda, nem atende nossos pedidos.
Assim, descobri, depois de muito tempo e
muito estudar e ler, que DEUS NÃO EXISTE. As leis
do universos são imutáveis, mas acreditar que são
de deus nos faria supor que existe um deus criador, mas quem
criou o criador?
Hoje eu entendo que o homem primata tinha
medo de tudo, era indefeso e se chovia, ventava, caia raios, ele
achava, na sua inteligência rudimentar, que alguém
lá encima estava mandando (coitado!!) para castigá-lo.
Assim se formaram as sociedades, baseadas no medo de deus. Os
primeiros sacerdotes, também rudimentares, tinham como
função explorar esse medo para manter os homens
bonzinhos e submissos.
Essa idéia de deus sempre foi útil
aos governantes(até governantes ateus), por que é
mais fácil lidar com uma sociedade amedrontada e submissa
que com uma corajosa. Notem que a idéia do deus de amor e
bondade é obscurecida pela idéia do deus vingativo
que castiga seus filhos, se não fizerem aquilo que está
escrito nos livros sagrados. Mas quem escreveu os livros
sagrados? homens anônimos, não filósofos
conhecidos. Com que intenção? Não seria com
a intenção de semear o medo e a discórdia
entre as pessoas? A mando de quem? a quem interessava esse livro
que põe medo nas pessoas? Quantas guerras santas houve no
mundo? Se os escritores da bíblia fossem pessoas de
notoriedade, seus nomes constariam dos anais da história
oficial e até onde eu sei, poucos relatos e personagens
bíblicos podem ser atestados pela história
oficial.
Hoje em dia, não precisamos mais
ter medo de deus, por que a ciência oficial, a
arqueologia, a antropologia e a astronomia nos mostraram o
que há no céu e embaixo da terra. Ninguém
encontrou deus, Yuri Gagarin disse "Deus não
existe, estive no céu e não o vi" .
Kardec nos fala que não temos "elevação
espiritual" para vermos deus, nem ao menos entendê-lo.
Diz que para ver deus é necessário encarnar várias
vezes até atingir a perfeição. Isso
implicaria em nos igualarmos a deus, segundo sua teoria, é
perfeito. Que incoerência!!!
Não tem saída! Deus não
existe! Não precisamos ter medo! Todos os que tentaram
explicá-lo se perderam no meio do caminho! Tentar
explicar deus é como tentar explicar uma maçã
com quatro pernas!
Devemos ter um
bom comportamento sim, por que respeitar o semelhante
evita muitos aborrecimentos para nós mesmos, nesta vida,
não em outra.