INTRODU��O
Frequentei igrejas evang�licas dos
14 aos 18 anos, durante esse per�odo fui um fan�tico
religioso, mas felizmente aos 18 anos me tornei um ateu depois
de ter tido uma grande decep��o com a minha religi�o.
Estou escrevendo este texto com o
objetivo de evitar que outros jovens cometam o mesmo erro que eu
cometi. Ningu�m jamais deve desperdi�ar sua vida
por um ideal religioso. Nossa vida � �nica e
especial e devemos aproveitar o privil�gio que temos de
viver ao m�ximo.
Infelizmente, durante minha adolesc�ncia,
eu n�o vivi a vida. Dediquei quatro anos cumprindo os
dogmas pentecostais. J� me arrependi e muito por ter
cometido esse erro, por�m hoje j� n�o me
arrependo mais, pois isto foi uma experi�ncia de vida, me
fez compreender mais o ser humano, e hoje devido a essa experi�ncia
que vivi, posso ajudar outros jovens a se libertarem da opress�o
religiosa, pois eu j� trilhei o caminho das pedras e hoje
quero ensinar outros jovens a terem liberdade de pensamento.
Tamb�m quero dar esse depoimento
com o objetivo de combater o charlatanismo t�o presente
nas Igrejas Evang�licas. N�o acho justo que os
pastores se aproveitem da boa f�, ingenuidade e car�ncias
humanas para ganhar dinheiro, prest�gio e poder. Acredito
que estas pessoas devem ser denunciadas e os seus crimes
expostos para que as futuras gera��es se vejam
livres dos vendedores de ilus�es.
Os pastores, em sua louca ambi��o
por dinheiro, levam jovens a abandonarem os estudos,
adolescentes a abandonarem seus lares, muitos evang�licos
ficam loucos e v�o parar em hosp�cios de tanto
buscarem o crescimento espiritual e muitos morrem por
acreditarem em cura divina e deixarem de tomar os rem�dios
que deveriam tomar.
Essa trag�dia humana causada pela
ambi��o dos pastores precisa ter um fim. Todo
sofrimento precisa ter um fim e eu quero colaborar para que o
sofrimento causado pelo fanatismo religioso tamb�m tenha
o seu fim.
N�o pretendo neste depoimento
dizer nem o meu nome, nem o nome das pessoas que aqui ser�o
mencionadas, pois n�o quero ofender nem magoar ningu�m
em particular, quero apenas mostrar a realidade da vida nas
igrejas evang�licas.
Caso voc� seja evang�lico,
ver� que tudo o que descreverei aqui � verdadeiro,
pois tudo o que irei falar tamb�m acontece na igreja que
voc� frequenta, basta que voc� fa�a a compara��o.
Irei narrar muitas das coisas que
vivenciei enquanto fui um evang�lico, por�m, aqui
eu n�o irei falar tanto das igrejas evang�licas
dos cultos de domingo, das escolar dominicais. Irei falar mais �
da igreja evang�lica que existe nos subterr�neos,
falarei da igreja evang�lica das vig�lias, dos
jejuns. Um lugar onde cura divina, exorcismos e profecias s�o
coisas comuns e normais.
TIMIDEZ
As religi�es crescem a medida que
elas s�o felizes em atender as necessidades humanas como:
pertencer a um grupo, sentir-se protegido, dar um sentido a vida
entre outras coisas. Particularmente no Brasil, as seitas
crescem muito porque � muito dif�cil ser feliz
ganhando um sal�rio miser�vel e tendo que
trabalhar que nem um condenado sem perspectivas de melhora e
vivendo em condi��es prec�rias sem direito
a sa�de, educa��o, moradia e lazer. Da�
as pessoas pobres buscam se firmar em alguma cren�a para
ter for�as para enfrentar o dia-a-dia.
Falarei rapidamente sobre um motivo que
leva as pessoas ao fanatismo religioso: a timidez, por�m
existem muitos outros motivos que podem levar uma pessoa a se
dedicar cegamente a uma cren�a religiosa. Dentre os quais
eu destaco: o desejo de ser uma pessoa mais disciplinada, o
desejo de esquecer algum trauma e o desejo de fugir da
realidade.
Se eu fosse falar das raz�es que
podem levar algu�m ao fanatismo, teria que escrever um
livro. Ent�o aqui eu falarei brevemente de uma s�
raz�o: a timidez.
Para mim, n�o interessa narrar aqui
os motivos que me levaram a ser um crente, quero apenas divulgar
as coisas ruins que vi nesta religi�o, por�m,
existe um motivo que me levou a ser um religiosos que irei
compartilhar.
Antes de entrar para a igreja eu era um
pessoa extremamente t�mida. Tinha dificuldades em fazer
amigos e era muito calado. Acredito que isso tenha me levado a
uma grande necessidade de pertencer a um grupo que me aceitasse
mesmo sendo eu t�o fechado.
A timidez em excesso � uma inimiga
muito forte de qualquer ser humano, pois ela nos tira a ousadia
e a coragem, sentimentos muito importantes nos dias atuais.
Grande parte das pessoas muito religiosas
s�o t�midas. a timidez nos fecha em nosso mundinho
particular. As cren�as religiosas alimentam a forma��o
desse mundinho, construindo ao nosso redor uma barreira com a
qual nos isolamos dos outros e principalmente da pr�pria
raz�o.
O Altru�smo � algo muito
bonito nos seres humanos. Somos capazes de ter filhos e os
criarmos com amor e dedica��o. Somos capazes de
nos dedicarmos a ideais religiosos, pol�ticos ou humanit�rios
e sacrificar nossa pr�pria vida por esses ideais.
O Altru�smo faz com que tenhamos
energia para lutarmos por um mundo melhor. Se hoje vivemos em um
mundo melhor do era no passado, devemos isso as pessoas altru�stas
que dedicaram sua vida por bons ideais.
Combater os males que atingem a humanidade
� muito importante, por�m, antes de pensarmos em
construir um mundo melhor, temos que pensar em fazer de n�s
pessoas melhores. Da� cada um deve olhar para dentro de
si e buscar ser uma pessoa mais feliz consigo mesmo e com todos
ao seu redor.
Caso voc� seja uma pessoa t�mida,
voc� deve combater sua timidez, pois sendo t�mido
dificilmente voc� poder� influenciar positivamente
o mundo em que voc� vive.
A timidez come�a como um circulo
vicioso no inicio da adolesc�ncia. A pessoa fala pouco
porque sente medo de falar alguma bobagem, e por falar pouco a
pessoa n�o desenvolve sua capacidade de relacionamento
com os demais, e por n�o ter um bom desenvolvimento
interpessoal, a pessoa fala pouco com medo de n�o falar t�o
bem quanto os outros.
Ocorre que nesta vida muitas vezes
aprendemos errando. Para ter uma �tima comunica��o
temos que tentar, e tentar significa muitas vezes errar para
depois aprender. O t�mido tem muito medo de errar, o que
bloqueia o seu aprendizado.
DEDICA��O
Se voc� � um evang�lico,
deve estar pensando que se eu me desviei da igreja e me tornei
ateu � porque eu nunca fui um verdadeiro crente. Era
assim tamb�m que eu via as pessoas que saiam da igreja,
por�m mais a frente irei mostrar o tanto que eu me
dediquei a esta religi�o, para que voc� possa se
questionar se eu era ou n�o um verdadeiro crente.
Sendo um evang�lico, voc�
talvez esteja me recriminando pelo fato de eu ter mudado meus
pensamentos, por�m devo lhe dizer que eu tinha esse
direito, pois eu n�o me tornei crist�o porque eu
quis, simplesmente fui obrigado a ser crist�o. Irei
explicar melhor.
Quando eu nasci eu era ateu, e fui ateu at�
mais ou menos os 8 anos de idade. At� ent�o nunca
tinha ouvido falar de Deus e ignorava sua exist�ncia. Caso
nunca tivessem me falado sobre Deus eu continuaria vivendo
normalmente como ateu at� hoje.
Entretanto, como sou de fam�lia cat�lica,
meus pais me matricularam no catecismo, o qual cursei durante
dois anos. Acho que isso foi dos meus 9 aos 10 anos.
Durante este per�odo em que era uma
crian�a e n�o tinha muito poder de decis�o.
Fui doutrinado pelo catolicismo. Aprendi que Deus existia, e que
devemos acreditar nele e seguir seus mandamentos, caso contr�rio
iremos queimar no inferno que nem frango de padaria.
Eu me lembro que ainda crian�a
cheguei a duvidar diversas vezes da exist�ncia de Deus,
por�m sempre que a d�vida chegava, chegava tamb�m
o medo de ser castigado ou ir para o inferno por ficar duvidando
do que a igreja dizia. Da�, infelizmente, desistia de
duvidar.
Posso dizer que ser crist�o foi uma
imposi��o do meio em que vivia. Somente quando
adquiri mais experi�ncia de vida � que tive condi��es,
atrav�s de muitos questionamentos, de me tornar ateu.
Ap�s terminar o catecismo,
continuei frequentando a igreja cat�lica at� os 14
anos de idade, quando ent�o tive contato com v�rios
adultos que eram evang�licos e me convenceram a ser tamb�m
um evang�lico.
Foi muito f�cil deixar de ser cat�lico
e virar evang�lico. Afinal de contas a Igreja Cat�lica
que frenquentava era muito formal e ritualista, n�o
conhecia ningu�m da igreja, simplesmente assistia a missa
todo domingo e ia embora para casa sem falar com ningu�m
e ningu�m falava comigo.
Por outro lado, na igreja evang�lica
era bem diferente: todo mundo se conhecia e no final do culto as
pessoas iam cumprimentar os visitantes. Ent�o passei a
gostar mais de frequentar a igreja evang�lica do que a
cat�lica e me batizei como protestante com 14 anos de
idade.
A partir da� passei a me dedicar
muito a igreja, cada dia que passava eu procurava me dedicar
mais do que no dia anterior. Segue abaixo a rela��o
de quase tudo o que eu fazia nesta �poca, dos 14 aos 18
anos.
- Eu passava o dia todo orando e louvando
a Deus. Desde a hora em que eu levantava de manh� cedo
at� a hora de dormir, eu n�o parava de louvar a
Deus, andava pelas ruas orando, estudava orando, almo�ava
orando. Enfim, tudo o que fazia, eu fazia orando;
- Participava de vig�lias uma vez
por semana, toda sexta-feira. Essas vig�lias eram reuni�es
de ora��o e louvor que come�avam �s
22:00 hrs e terminavam �s 06:00 hrs da manh�, ou
seja, uma vez por semana eu conseguia ficar durante oito horas
apenas orando. As vig�lias de minha igreja aconteciam
toda primeira sexta-feira do m�s, nas outras sextas eu
participava de vig�lias em outras igrejas de diferentes
denomina��es;
- Quinta-feira, em minha igreja, era o
dia da semana dedicado ao jejum. Neste dia da semana eu ficava
sem comer durante 24 horas;
- Assistia a pelo menos 6 cultos por
semana, 2 no domingo (manh� e noite) e um nas segundas,
ter�as, sextas e s�bados, sempre a noite;
- Dia de domingo durante a tarde eu
visitava uma favela para dar aulas de religi�o a crian�as
carentes. Eu mesmo montava muitos cartazes para ensinar a
dezenas de crian�as as hist�rias da b�blia;
- N�o bebia, n�o dan�ava,
n�o assistia televis�o, n�o ia ao cinema,
n�o lia jornais e revistas seculares ou seja, n�o
fazia nada de bom em minha vida;
- Aos s�bados durante a manh�
e a tarde eu participava sempre de atividades diversas ligadas
a evangeliza��o. Ia sempre acompanhado por
outros evang�licos a hospitais, pres�dios,
faculdades, asilos e parques, sempre para levar a palavra de
Deus para diversas pessoas e ainda distribu�a muitos
panfletos;
- Lia a b�blia diariamente,
cheguei a ler toda a b�blia quatro vezes e tinha
memorizado muitos cap�tulos e vers�culos;
- Lia muitos livros evang�licos.
Na minha igreja, eu era a pessoa respons�vel pela �biblioteca�,
que tinha uns 300 livros, os quais li todos. Este meu trabalho
na igreja consistia apenas em emprestar um livro para algu�m,
e depois que a pessoa lesse o livro, me devolvia e eu guardava
novamente o livro. Eu me lembro que as pessoas sempre viviam
me fazendo consultas sobre os livros evang�licos;
- Participava de uma organiza��o
chamada MPC (Mocidade Para Cristo) frequentava as reuni�es
dessa organiza��o e cheguei a organizar no col�gio
onde estudava reuni�es de estudos b�blicos com
os evang�licos da escola. Formei ent�o um grupo
que era ligado a MPC;
- Todos os feriados de carnaval e p�scoa
entre outros, participava de retiros espirituais;
- Eu s� sabia conversar a
respeito de assuntos ligados a Deus e a religi�o, n�o
sabia falar de outra coisa;
- Fiquei durante os quatro anos em que
fui evang�lico sem namorar com ningu�m, tamb�m
n�o pensava em sexo de forma alguma, caso acontecesse
de algum desejo sexual surgir em minha mente, eu imediatamente
dizia: �Satan�s, voc� est�
repreendido em nome de Jesus�, orava e o pensamento
sumia. Acredite se quiser, sendo eu um rapaz heterossexual,
consegui passar a adolesc�ncia, per�odo em que o
desejo sexual � intenso, sem pensar em sexo. Isto fazia
com que eu fosse uma pessoa extremamente r�gida e s�ria;
- N�o admitia de forma alguma que
qualquer pensamento que eu considerasse pecaminoso como:
raiva, sexo, vaidade, ci�me entre outros, estivessem em
minha mente, casos eles surgissem eu dizia: �Satan�s,
saia em nome de Jesus�, pois achava que era o Diabo quem
colocava esses pensamentos em minha cabe�a;
- Ainda fazia outras pequenas atividades
e sacrif�cios para a Igreja, que se eu fosse enumerar
aqui encheria v�rias p�ginas de texto.
Com essa rela��o que acabei
de descrever, posso dizer com convic��o que eu era
um verdadeiro crente, caso eu tivesse me dedicado mais do que me
dediquei, certamente acabaria enlouquecendo e iria para um hosp�cio,
local para onde muitos evang�licos dedicados acabam indo.
Duvido que exista no Brasil algum pastor
que tenha se dedicado mais do que eu me dediquei a cumprir os
mandamentos da b�blia. Os pastores colocam pedras pesad�ssimas
para os crentes carregarem, mas, eles s�o incapazes de
carregar uma migalha dessas pedras, e se fazem alguma coisa pela
igreja, eles fazem isso por dinheiro.
PODRID�O RELIGIOSA
A igreja que frequentava era ao mesmo
tempo tradicional e pentecostal, localizava-se em um dos bairros
nobres de minha cidade. A maioria das pessoas que a frequentavam
eram da classe m�dia, por�m, havia muitos pobres,
que obviamente eram os que mais se dedicavam a religi�o.
Eu n�o frequentava apenas esta
igreja, eu ia muito em cultos de outras denomina��es
principalmente Assembl�ia de Deus e Maranata.
Eu adorava ir a igreja, era uma sensa��o
muito agrad�vel que eu sentia l� dentro. Eu
chegava na igreja, cumprimentava os irm�os com a sauda��o:
�a paz do Senhor�, logo que eu entrava, sentia o
cheiro de flores que criava uma atmosfera bem m�stica. Os
cultos de domingo come�avam com louvores, cant�vamos
em p� e batendo palmas diversas m�sicas alegres,
cujas letras eram projetadas na parede, e quando est�vamos
bem relaxados e tranquilos e com a mente vazia, come�ava
a prega��o.
Toda religi�o tem o efeito de uma
droga. Elas nos fazem esquecer nossa realidade e entramos em
outra realidade feita de sonhos e fantasias.
� normal do ser humano querer se
drogar. As pessoas podem usar qualquer tipo de droga como o �lcool,
t�xicos e religi�o, at� que se fa�a
uma avalia��o de custo-benef�cio, e
perceba-se que o custo de se usar uma droga � muito maior
do que os benef�cios. Benef�cios esses que
consistem apenas em momentos de �xtase e alegria.
Como exemplo de que as pessoas gostam de
se drogar, perceba como muitas crian�as gostam de abrir
os bra�os e ficar rodando sem sair do lugar at�
sentirem-se tontas ou cairem. Este � apenas um exemplo
dentre muitos das formas de se drogar que as pessoas usam.
Eu j� me droguei e muito com a
religi�o, fui um viciado em religi�o, at� o
dia em que descobri o alto custo desse v�cio.
Era muito gostoso quando eu me reunia com
os irm�o (irei chamar aqui de irm�os os membros da
igreja), e nos abra��vamos em circulo e de joelhos
come��vamos a orar por bastante tempo. Era um
prazer que me fazia ser uma pessoa mais �espiritual�,
por�m anulava-me como ser humano e impunha em mim uma
cultura de apatia diante da vida.
O ser humano tem uma necessidade muito
forte de pertencer a um grupo. Essa necessidade est�
gravada em nosso c�digo gen�tico, � comum a
todos os mam�feros. Se nos isolamos, ficamos muito
tristes, e n�o conseguimos ser felizes sozinhos.
As igrejas evang�licas suprem essa
car�ncia humana, pois lhe oferecem um grupo para
pertencer. Grupo este que muitos fieis encaram como sendo sua pr�pria
fam�lia, e era exatamente assim que eu via a minha
igreja.
Logo que voc� entra para a igreja a
primeira coisa que os lideres religiosos fazem � eliminar
o seu esp�rito cr�tico. Dizem que voc�
jamais deve olhar para o homem, voc� s� deve olhar
para Deus, pois se voc� olha para o homem voc� acaba
se desviando de Deus, ou seja, voc� tem que desviar os
olhos de tudo de errado que existe na igreja, pois se voc�
ver as coisas erradas voc� deixa de ser crente e ter�
que torrar eternamente no inferno.
Outra coisa que se aprende na igreja �
que a f� pertence a Deus e o oposto da f� que �
a d�vida pertence ao Diabo, ou seja, sempre que voc�
tem uma d�vida � porque Satan�s est�
te influenciando, e deve-se eliminar a d�vida
imediatamente para n�o pecar.
Como eu n�o olhava para o homem,
somente olhava para Deus, eu deixava de ver as coisas erradas
que aconteciam em minha igreja, por�m alguns erros os
quais eu desviei os olhos para n�o ver, me vieram a cabe�a,
logo depois que eu deixei de ser evang�lico.
Em um determinado local da igreja, que era
acess�vel a todos, havia uma esp�cie de mural,
onde eram colocados envelopes para os dizimistas. Cada pessoa
que contribu�a com dez por cento do seu sal�rio
para a igreja, tinha que mensalmente ir at� esse mural e
pegar um envelope com o seu nome. No primeiro domingo do m�s
(o domingo do d�zimo) a pessoa deveria depositar esse
envelope com dez por cento de seu sal�rio na sacolinha de
coletas. Havia todo um ritual para a entrega do d�zimo,
de forma que todos sabiam quem era dizimista e quem n�o
era.
O d�zimo era considerado algo
sagrado e os lideras da igreja (pastores, tesoureiros, presb�teros)
tinham a necessidade de saber quem � que contribu�a
e com quanto para poder favorecer mais as pessoas que mais davam
dinheiro para a igreja, vou dar um exemplo.
Havia na igreja um senhor, dono de uma
escola particular, que ganhava muito bem e era dizimista, mas s�
frequentava a igreja nos domingos de manh� com sua fam�lia.
Um dia ele teve um problema no cora��o e teve que
ser internado em um hospital. Imediatamente o pastor da igreja
marcou uma vig�lia, da qual eu participei, apenas para
orar pela sa�de desse irm�o que acabou se
recuperando.
Na mesma �poca, um outro irm�o,
que era jovem e pobre, por�m dizimista e participante
ativo da igreja, n�o perdia um culto e fazia v�rios
trabalhos gratuitos para a igreja, contraiu c�ncer e
acabou morrendo v�tima dessa doen�a. Durante o per�odo
em que ele esteve doente ningu�m da igreja pediu ora��es
para ele e ele tamb�m nunca recebeu nenhuma ajuda da
igreja.
Ou seja, a vida de um crente dentro da
igreja vale tanto quanto o seu d�zimo.
A maioria dos evang�licos n�o
s�o fan�ticos, creio que mais da metade das
pessoas frequenta a igreja apenas para se divertir, s�o
pessoas que sentem prazer em participarem de reuni�es
religiosas. Na igreja em que frequentava, por exemplo, mais da
metade dos membros participavam de reuni�es em centros
esp�ritas, incorporavam esp�ritos de mortos na
sexta-feira e no domingo incorporavam o Esp�rito Santo.
Quase todo o ano a igreja mudava de
pastor, tivemos um pastor que possu�a um carro importado
de luxo, que era o carro mais caro existente no mercado
brasileiro na �poca, e esse pastor ao inv�s de
estacionar o carro longe, como os outros faziam, estacionava o
carro bem na porta da igreja. Quando o culto acabava, algumas
beatas ficavam apontando para o carro do pastor e comentavam
rindo dizendo que o pastor era muito rico.
Muitos evang�licos tem consci�ncia
do enriquecimento dos pastores devido as contribui��es,
mas mesmo assim continuam contribuindo, porque querem que o
divertimento proporcionado pela religi�o continue.
Outros se recusam a fazer qualquer tipo de
questionamento, acham que se o pastor est� roubando, este
� um problema do pastor para com Deus, acham que n�o
tem nada a ver com isso. Isto � um grande erro, se voc�
� evang�lico e sabe ou desconfia que o pastor de
sua igreja est� roubando e voc� n�o faz
nada, ent�o voc� � conivente com o roubo do
seu pastor e est� contribuindo para um mundo mais podre.
Cada vez que um novo pastor assumia em
minha ex-igreja, ele dizia que foi Deus quem o enviou para uma
determinada obra a fazer l�. O que os crentes n�o
sabiam era que cada igreja da denomina��o pagava
um sal�rio para o pastor conforme o total de dizimo
arrecadado, e que havia uma negocia��o salarial
antes que o pastor assumisse a igreja, e o pastor acabava
decidindo se iria ou n�o assumir a igreja conforme o sal�rio
que fosse receber.
Ent�o, de todos os custos da
igreja, parte representava o sal�rio do pastor, outra
parte representava os gastos normais de uma igreja (�gua,
luz, limpeza etc.,,,) e outra parte era desviada para o bolso
dos dois presb�teros e do tesoureiro da igreja. Um deles
trabalhava em uma lojinha bem pequenina de discos de vinil
usados, que ficava numa galeria bem pobre, mas, mesmo assim
conseguia morar num apartamento bem luxuoso num dos bairro
nobres da cidade e manter dois filhos estudando na PUC (a
faculdade mais cara da cidade).
Eu tinha uma falsa impress�o de
estar em um grupo onde as pessoas se amavam umas as outras. Na
realidade eu estava completamente enganado, nas igrejas evang�licas
ningu�m liga para a vida de ningu�m, as pessoas l�
s�o muito ego�stas e s� se preocupam com
sua salva��o individual. As �nicas pessoas
importantes l� dentro eram os que faziam parte da lideran�a
que colocavam m�scaras e vendiam ilus�es.
Se ocorria uma trag�dia pessoal na
vida de algu�m e esse algu�m se afastava da
igreja, era ent�o porque essa pessoa era fraca ou n�o
era um verdadeiro crente, e acabava sendo deixado de lado pelos
irm�os.
Se algu�m saia da denomina��o
para frequentar uma outra denomina��o ou seita,
ningu�m tamb�m ligava.
Caso algu�m ousasse duvidar ou
fazer algo que fosse contra os interesses dos lideres
religiosos, esse algu�m sofria algum tipo de press�o
para que deixasse a igreja.
Havia uma senhora de classe m�dia,
rec�m-convertida, que se dedicava muito a igreja. Ela
trabalhava como diretora de uma unidade feminina da FEBEM (Funda��o
de bem-estar do menor).
Ingenuamente, ela resolveu convidar
diversas meninas internas da FEBEM para participar de nossa
escola dominical juntamente com adolescentes de classe m�dia.
Na primeira vez que ela trouxe essas
meninas, mais ou menos umas 15 garotas, diversos adolescentes da
igreja levaram um susto e se recusaram a permanecer dentro da
mesma sala onde estavam as meninas acusadas de pequenos delitos.
No domingo seguinte ela trouxe novamente
essas garotas e come�ou a causar uma divis�o na
igreja. Uns achavam que as meninas deviam frequentar a escola
dominical, mas a maioria dos adolescentes e seus familiares,
crentes tradicionais, estavam furiosos e queriam que as meninas
n�o frequentassem a igreja.
Prevaleceu a vontade dos que davam o d�zimo
mais alto, por�m n�o podiam simplesmente proibir a
entrada dessas meninas na igreja, pois do ponto de vista crist�o
isso n�o seria nada bonito, da� resolveram adotar
uma medida mais covarde.
Simplesmente deram um jeito de afastar a
diretora da Febem da igreja. Come�aram a agredir ela
publicamente, e pelas costas inventavam muitas mentiras a seu
respeito. Os que exerciam cargos na igreja come�aram a
acusa-la dentre outras coisas de frequentar centros esp�ritas.
Acabou que a irm� n�o
aguentou a press�o e saiu da igreja, e para a alegria da
burguesia, as meninas da Febem tamb�m pararam de
frequentar a igreja.
Muitos s�o os evang�licos
que enlouquecem e acabam sendo internados em hosp�cios,
de tanto se dedicarem ao crescimento espiritual.
Na igreja que frequentava, houve um caso
assim, havia uma mo�a pobre, que h� v�rios
anos era crente, ela se dedicava noite e dia ao crescimento
espiritual, ela s� falava de Deus e nunca perdia uma s�
atividade da igreja.
De tanto se dedicar ao extremo �
igreja, ela acabou entrando em depress�o, pois se algu�m
castra suas pr�prias necessidades humanas b�sicas
por muito tempo, esse algu�m acaba ficando deprimido.
O fato dela ir para a igreja triste e
mal-humorada fez com que os irm�os come�assem a
recrimina-la e a julgar que ela estava se dedicando pouco a
Deus, da� a exortavam para que orasse mais.
Para sair da depress�o ela
procurava se dedicar mais a ora��o, por�m a
depress�o sempre voltava e os irm�os da igreja
passaram a rejeita-la pelo fato dela ter passado a se comportar
de um modo diferente.
Por n�o haver ningu�m para
ajuda-la, pois numa igreja evang�lica � cada um
por si e o diabo contra todos, ela acabou enlouquecendo e ficou
internada em um hosp�cio durante v�rios meses.
Nunca mais essa mo�a retornou a
igreja e nunca nenhum dos membros lhe ofereceu qualquer ajuda.
� muito grande a quantidade de
evang�licos que tem s�rios problemas psicol�gicos.
Nas igrejas que eu visitava, sempre encontrava pessoas muito
perturbadas que pareciam ter sa�do do hosp�cio.
Se voc� est� achando um
absurdo o que estou falando, d� um pulo em uma grande pra�a
de sua cidade, e veja a quantidade de loucos que ficam berrando
em locais p�blicos com uma b�blia aberta na m�o.
Tente conversar com eles e perceba que eles precisam de
tratamento m�dico imediato.
BATISMO COM O ESP�RITO SANTO
Nas reuni�es de ora��o
das igrejas evang�licas pentecostais, as pessoas falavam
em l�nguas estranhas. O que significa mais ou menos no
meio de uma ora��o algu�m come�ar a
dizer coisas sem nenhum sentido do tipo: �o alcanta
silabalais , sibilicantas lecantais savanaix lambalais�
entendeu alguma coisa? Pois �, � isso que os
pentecostais chamam de falar em l�nguas, o religioso
entra em �xtase durante uma ora��o e come�a
a falar palavras que n�o existem em nossa l�ngua e
em l�ngua nenhuma deste planeta, s� existe na l�ngua
dos anjos, l�nguas feitas exclusivamente para louvar a
Deus. Para falar em l�nguas a pessoa tem que receber o
batismo com o Esp�rito Santo, que � o batismo dado
por Deus.
Esse batismo com o Esp�rito Santo
tamb�m possibilita ao crente n�o s� o poder
de falar em l�nguas estranhas, mas tamb�m o poder
de profetizar. Quando o crente profetiza, ele est�
deixando que o seu corpo seja usado por Deus, para que Deus, ele
pr�prio, dirija a sua palavra prof�tica a sua
igreja.
Logo que me tornei evang�lico, com
14 anos, comecei a participar de diversas reuni�es de ora��o.
Numa dessas reuni�es uma senhora incorporou o Esp�rito
Santo de Deus e come�ou a profetizar, e em sua profecia �Deus�
me chamou pelo nome e disse que eu devia me dedicar mais a ele,
pois ele (Deus) tinha uma grande ben��o preparada
para mim. Na �poca como eu era muito novo fiquei muito
impressionado com essa profecia e passei a me dedicar muito mais
a Deus esperando que ele me mandasse sua prometida ben��o.
Alguns irm�os da igreja me diziam
que eu tinha que ser batizado com o Esp�rito Santo, pois
com o batismo dado por Deus o crente torna-se muito mais
espiritual. Ent�o eu comecei a buscar intensamente ser
batizado com o Esp�rito Santo. Passei uns dois anos me
dedicando muito a isso. Sempre que eu orava, pedia a Deus que me
batizasse. Em todas as vig�lias e jejuns dos quais
participava eu orava com muita f� para que Deus me
concedesse a gra�a de poder falar em l�nguas
estranhas para ser um crente mais forte.
Eu estava me tornando muito fan�tico
e obcecado pelo ideal de receber o tal do batismo de fogo.
Grande parte do meu fanatismo surgiu em virtude dessa busca por
este �fen�meno� miraculoso. At� que um
dia eu estava orando numa praia, ajoelhado junto com alguns irm�os
da igreja, e de repente, o meu sonho, pelo qual eu j�
vinha me dedicando h� muito tempo tornou-se realidade, eu
comecei a falar em l�nguas e esta foi a experi�ncia
mais extraordin�ria que eu j� vivi em minha vida.
Naquele momento, foi como se eu tivesse
deixado meu corpo, eu j� n�o tinha mais controle
sobre o meu corpo, e minha boca come�ou a falar palavras
desconhecidas para mim durante muito e muito tempo, e naquele
momento eu s� tinha os meus pensamentos, pois o meu corpo
era como se n�o me pertencesse, era como se outra pessoa
tivesse se apossado dele, e essa pessoa era Deus, e s�
havia sobrado para mim os meus pensamentos e em meu pensamentos
eu louvava a Deus com a maior alegria que eu j�
experimentei em minha vida.
Ser batizado com o Espirito Santo �
realmente uma experi�ncia fant�stica. A alegria que
eu sentia naquele momento compensou muito do sofrimento pelo
qual eu passava por ser um evang�lico dedicado.
Logo depois que eu parei de falar em l�nguas,
as pessoas que estavam comigo me parabenizaram por eu ser o mais
novo batizado com fogo da igreja.
Em grande parte das reuni�es de ora��o
das quais eu participava, eu falava em l�nguas. Essa era
uma sensa��o muito maravilhosa, que me estimulava
a frequentar igrejas cada vez mais e mais, por�m para
conseguir atingir esse grau de �xtase religioso, eu tinha
que sempre estar me dedicando a ora��es e me
afastando das coisas consideradas mundanas pela minha religi�o.
Apesar disso tudo eu ainda n�o
estava satisfeito com a minha performance como pentecostal. Eu
queria mais, muito mais do ponto de vista espiritual. Passei ent�o
a buscar o dom da profecia, n�o queria apenas falar em l�nguas,
eu queria tamb�m ser usado por Deus para que ele atrav�s
de mim, transmitisse sua mensagem a igreja. Da mesma forma que
eu tinha um dia conseguido atingir o objetivo de falar em l�nguas,
consegui tamb�m um dia profetizar, falei algumas
palavras, todas exortando os irm�os a se dedicarem mais.
Experimentando essas sensa��es
eu conseguia ter for�as para enfrentar a hostilidade de
minha fam�lia e dos meus colegas de escola em rela��o
a meu fanatismo. Uma das grandes dificuldades que eu tinha para
sair do meu fanatismo era a hostilidade das pessoas que n�o
eram evang�licas em rela��o a minha cren�a.
Isso fazia com que eu s� quisesse ter amizade com evang�licos,
pois s� os evang�licos aguentam algu�m que
s� sabe falar de Deus.
Muitas pessoas n�o-evang�licas
que me conheciam n�o conseguiam compreender o porqu�
de eu me dedicar tanto a igreja. O que acontecia l�
dentro para que eu tivesse tanta f�. Simplesmente
acontecia que eu ouvia Deus falar atrav�s dos irm�os,
eu falava em l�nguas de anjos e perdia o controle sobre o
meu corpo, assistia diversos exorcismos e cura divina. Ent�o
era praticamente imposs�vel que eu abandonasse minhas
cren�as pois todas as �evid�ncias� que eu
tinha na �poca me apontavam no sentido de que Deus
existia e que o Protestantismo era a religi�o de Deus.
� muito dif�cil para uma
pessoa como eu era sair da igreja, eu estava fechado em meu
mundo, onde Deus e o Diabo eram os respons�veis por tudo
o que acontecia ao meu redor. Eu era completamente imune ao
pensamento cr�tico, baseava minhas escolhas na emo��o
e n�o na raz�o. Tudo o que eu tinha que decidir,
eu decidia perguntando o que � que Jesus faria no meu
lugar, ou ent�o eu orava esperando uma resposta de Deus.
Eu era daqueles que acreditava com certeza total que o homem
tinha vindo do barro e a mulher da costela.
Orar e ir para a igreja, eram duas coisas
que se transformaram em um v�cio para mim. Se por acaso
eu faltasse a algum culto eu me sentia muito culpado por isso.
Passava o dia inteiro esperando dar a hora de ir a igreja, e
quando eu estava na igreja eu me sentia muito bem. Eu adorava
participar dos cultos era um prazer muito grande que eu sentia.
Eu vivia como um zumbi. Passava o dia
inteiro orando, e as pessoas n�o-evang�licas que
tinham contato comigo percebiam que eu era um fan�tico
religioso, por�m, infelizmente ningu�m nunca quis
me ajudar a largar o fanatismo religioso. As pessoas s�
sabiam me hostilizar pelo que eu era. Eu tamb�m era muito
hostilizado em minha fam�lia, por�m os meu pais
permitiam que eu frequentasse a igreja porque achavam que
frequentando igreja eu estaria imune ao v�cio das drogas,
por�m eles se esqueciam que eu estava me drogando com a
religi�o.
Para que uma pessoa como eu era deixe de
viver no fanatismo religioso e passe a ter uma vida saud�vel,
existem dois caminhos: ou a pessoa � submetida a um
trabalho de valoriza��o de sua auto-estima ou a
pessoa tem que passar por um trauma. Para que eu ca�sse
na real, tive que sofrer um trauma e assim mudar o meu jeito de
viver.
TRAUMA
Eu frequentava diversas igrejas al�m
da minha de batismo. Eu fazia isso porque achava insuficiente a
quantidade de cultos que havia em minha igreja e tamb�m
porque queria ter experi�ncias diferentes em outras
denomina��es.
Certa vez fui comecei a me reunir com um
grupo que se reunia nos lares. Eles n�o tinham um lugar
certo para se reunir. O l�der desse grupo que se
denominava apostolo de Jesus, um dia durante uma ora��o
recebeu uma mensagem de Deus. Deus nesta mensagem dizia que ele
tinha uma palavra a falar com a minha igreja. Ele me falou com
os olhos cheios de l�grimas que Deus lhe tinha dado uma
revela��o e que precisava passar essa revela��o
para a igreja que eu frequentava. Este senhor era um l�der
para mim. Ele exercia uma influ�ncia muito grande sobre
mim, por isso eu aceitei que ele estava dizendo a verdade e que
Deus tinha realmente lhe dado uma revela��o. Acho
que eu tinha sido hipnotizado pois quando ele falava comigo
sempre olhava fixamente para os meus olhos. Eu tinha muita f�
que tudo ia d� certo, e que sua palavra seria realmente
uma ben��o.
Era costume de minha igreja se reunir nos
lares toda segunda-feira. Nenhuma dessas reuni�es havia
sido realizada em minha casa, ent�o ofereci minha casa
para a pr�xima reuni�o e aproveitei e convidei o
auto-proclamado apostolo para repassar para os irm�os de
minha igreja a mensagem que ele tinha recebido de Deus.
No dia da reuni�o havia mais ou
menos umas vinte pessoas em minha casa. Come�amos a reuni�o
cantando m�sicas. Depois eu falei um pouquinho e passei a
palavra para o meu amigo que tinha a mensagem de Deus. Ele come�ou
a falar, e conforme ele falava todos os que o ouviam ficaram
impressionados e maravilhados com suas palavras, pois ele era
muito carism�tico e falava muito bem, ao final da reuni�o
todos estavam muito emocionados e pensavam em seguir as orienta��es
dadas por ele. A reuni�o havia acabado porque j�
era hora das pessoas irem embora, mas ningu�m queria sair
todos queriam ouvir mais sobre o que ele tinha a dizer ent�o
foi marcada uma segunda reuni�o para o pr�ximo
domingo � tarde, na resid�ncia de uma senhora que
estava presente na ocasi�o.
Na segunda reuni�o estavam
presentes poucas pessoas, por�m uma das pessoas que foram
nesta reuni�o, era uma senhora, que n�o estava na
primeira reuni�o, ela era formada em teologia, e tinha
adquirido recentemente o cargo de presb�tera de minha
igreja. Este cargo s� era inferior ao cargo de pastor,
por�m os presb�teros de minha igreja, que eram
dois, tamb�m recebiam sal�rios pagos pela igreja,
fora o que eles ganhavam por fora. Ela fora convidada por algu�m
para participar da reuni�o porque algu�m achou que
ele estava falando coisas diferentes da doutrina de minha
denomina��o, da� ela foi para verificar.
N�o houve cantos no inicio da
reuni�o, meu amigo apostolo j� come�ou
falando, por�m, enquanto ele falava, esta presb�tera
sempre o interrompia fazendo uma s�rie de
questionamentos, e como estes questionamentos eram muitos ele
come�ou a se irritar e destratou ela, ent�o ela
baixou a cabe�a e come�ou a ficar anotando em um
caderno tudo que ele tinha dito. Logo depois ela saiu da reuni�o
muito enfurecida e chamou outras cinco pessoas de minha igreja
que tamb�m estavam na reuni�o para que sa�ssem,
e a reuni�o continuou sem a presen�a deles.
No final desta reuni�o, eu quis
sair para poder participar do culto de domingo a noite de minha
igreja, por�m o meu amigo me impediu de fazer isso, ele
me disse que se eu fosse eu seria extremamente agredido na
igreja pelo fato da presb�tera ter saido irritada e que
se eu fosse, eu seria t�o agredido que nunca mais iria
querer ouvir falar de Deus. Eu n�o acreditei a principio
em nada do que ele dizia. Quis sair daquela resid�ncia
para poder assistir o culto, mas ele me impediu fisicamente de
sair daquela resid�ncia e acabou que eu n�o assisti
o culto de domingo a noite.
Na segunda-feira um amigo meu de minha
igreja, que era da minha idade, me telefonou dizendo que o culto
no lar daquela semana seria na casa da presb�tera da
igreja, e me deu o endere�o dela para que eu fosse. O meu
amigo apostolo tinha me alertado que eu n�o deveria mais
participar de nenhum culto de minha denomina��o,
mas eu resolvi n�o seguir seu conselho e aceitei o
convite do colega de minha igreja.
Cheguei ent�o na casa desta presb�tera.
Cumprimentei a todos e a reuni�o come�ou, cantamos
diversas m�sicas no inicio, depois ela passou um bom
tempo falando em l�nguas estranhas (tenho certeza total
que ela estava fingindo falar l�nguas estranhas para
impressionar a todos). Depois do seu show de dons espirituais
ela come�ou a falar, e come�ou a falar mal do meu
amigo apostolo e do que ele tinha dito na reuni�o de
domingo a tarde, eu n�o gostei do que ela estava dizendo,
pois ela estava inventando um monte de coisas ruins, ent�o
pedi para falar, e ela disse que eu poderia falar no final da
reuni�o, ent�o deixei que ela falasse para que no
fim da reuni�o eu pudesse falar.
Aquela era a segunda reuni�o que
era feita apenas para que ela falasse mau do meu amigo apostolo.
A primeira dessas reuni�es, da qual participaram os
jovens da igreja e o pastor, ocorreu domingo a noite ap�s
o culto, mas eu n�o pude participar dessa reuni�o
pois como havia dito fui impedido de ir.
Quando ela terminou seu discurso eu pedi
para falar, mas ela disse gritando e com muita raiva que eu n�o
podia falar, e que eu sa�sse da casa dela. Ent�o
eu disse apenas que os irm�os que quisessem me ouvir me
esperassem na portaria do edif�cio, pois eu gostaria de
me defender.
A minha atitude foi t�o passiva
assim, porque eu era uma pessoa muito calma e n�o tinha
nenhuma auto-estima, muito menos amor pr�prio. Eu n�o
estava preocupado comigo, eu estava preocupado com o meu amigo
que eu achava que tinha sido mau interpretado.
Todos na reuni�i eran mais velhos
do que eu, que na �poca tinha 18 anos, por�m essas
pessoas n�o enxergavam que eu tinha cometido um erro na
tentativa de acertar, e que aquilo n�o poderia ser
considerado um erro, essas pessoas bem mais velhas do que eu,
tinha medo de um rapaz de 18 anos, que h� 4 anos se
dedicava cegamente a religi�o, simplesmente porque os
seus lideres haviam colocado medo neles sobre o que eu tinha a
dizer. Eu tinha cometido o terr�vel pecado de questionar,
sem querer e sem saber, a minha religi�o e esse pecado n�o
tinha perd�o, eu tinha que ser exclu�do da igreja.
Apesar de ser algu�m t�o
dedicado a igreja, isso n�o impediu que os irm�os
come�assem a me agredir no final da reuni�o e eu n�o
sabia como me defender. Consegui que tr�s irm�os,
os que eram mais �ntimos comigo, topassem me ouvir na
portaria do edif�cio, mas eles me tratavam como se eu
tivesse possesso pelo dem�nio, e como eu estava abalado
emocionalmente, n�o consegui transmitir nada na ocasi�o,
me despedi deles e fui embora para casa.
Enquanto eu ia embora para casa, eu
sentia uma dor imensa no meu peito, a depress�o come�ou
a bater forte, e a dor era tanta que eu j� n�o
mais a suportava. Eu amava demais aqueles irm�os,
considerava eles como sendo minha fam�lia, e nos �ltimos
anos eles eram as �nicas pessoas com quem eu tinha
amizade e me divertia. A dor que eu sentia era porque eu sabia
que nunca mais poderia v�-los novamente, pois os lideres
de minha igreja iriam ensinar a eles a me evitarem pois eu tinha
passado a representar o dem�nio. Resolvi na minha trajet�ria
para casa deixar para pensar em tudo que havia acontecido com
calma no dia seguinte, fui dormir ent�o tentando esquecer
temporariamente o que ocorreu.
Acordei na manh� seguinte com a
mesma tristeza, os meus olhos olhavam para o nada, sentei em uma
poltrona e fiquei parado durante muito tempo pensando em tudo o
que tinha acontecido, e o porqu� de tudo aquilo ter
acontecido. Eu n�o entendia nada, era como se minha vida
tivesse virado de cabe�a para baixo, eu esperava que a
palavra daquele senhor fosse ser o inicio de uma grande ben��o
para minha igreja, mas acabou que ela foi o motivo de minha sa�da
da igreja.
Muitos pensamentos come�aram a
passar pela minha cabe�a em um curto espa�o de
tempo. Comecei a me lembrar de tudo o que eu tinha feito nos �ltimos
anos, me lembrei de tudo de errado que eu tinha visto em minha
igreja, me lembrei dos esc�ndalos envolvendo pastores e
lideres religiosos que eu conhecia. Eu que n�o olhava
para o homem comecei a enxergar toda a podrid�o que
existia em minha denomina��o. Comecei a ver a
igreja como um com�rcio, onde a f� era vendida
como uma mercadoria qualquer, como uma droga qualquer. Comecei a
ver os pastores como ladr�es enganadores. Questionava por
que � que Deus sendo bom n�o acaba com a vida dos
pastores ladr�es que se aproveitam de fraquezas humanas
para ganhar dinheiro. E de repente um pensamento bateu em minha
cabe�a: �Deus n�o existe�.
A minha d�vida sobre a exist�ncia
de Deus foi aumentando naquele momento. Cada vez mais encontrava
evid�ncias para deixar de acreditar em Deus, mas ai eu
pensei sobre os dons espirituais com os quais eu convivia e se
isso n�o seria uma prova da exist�ncia de Deus.
Felizmente, havia participado h�
alguns meses de um curso b�blico em uma igreja batista
tradicional. L� eles n�o acreditam em dons
espirituais, como � o caso do dom de falar em l�nguas
e nesta reuni�o eu havia aprendido que o falar em l�nguas
acontecia devido a um estado alterado da mente, onde em um �xtase
religioso a pessoa tinha del�rios. Naquela ocasi�o
eu n�o acreditei em nada do que eles falaram, mas,
naquele momento de dor eu me lembrei do que tinha ouvido e
cheguei a conclus�o que o falar em l�nguas
estranhas e profetizar n�o eram provas da exist�ncia
de Deus. Descobri os mecanismos de nossa mente que nos levavam a
isso.
As pessoas n�o-evang�licas
achavam que eu era muito maduro para minha idade. Isso porque eu
era muito r�gido e s�rio para um rapaz de 18 anos,
da� parecia que eu tinha mais idade, mas na realidade, eu
era algu�m muito imaturo, pois eu n�o vivia a vida
como os outros de minha idade desde que eu comecei a frequentar
a igreja. Da� eu era algu�m de 18 anos que tinha a
cabe�a de um rapaz de 14 anos.
Eu n�o me tornei ateu naquele dia,
porque comecei a achar que tudo aquilo que estava acontecendo
era uma prova��o a qual Deus estava me dando, para
ver o tanto que eu poderia ser fiel a ele apesar das
adversidades. Da� n�o deixei de acreditar em Deus
de imediato, por�m, um m�s depois da decep��o
que eu tive eu j� tinha certeza absoluta que Deus n�o
existia e me passei a me considerar um ateu.
At� o dia que eu me tornei ateu,
tive que passar por muito sofrimento em virtude das decep��es
que eu estava tendo. Algumas pessoas da igreja ligaram para
minha casa para dizer que eu estava possu�do pelo dem�nio
e que tinha que ir para o culto ser exorcizado.
Existia um jovem em minha igreja que era
11 anos mais velho do que eu, e que pretendia ser pastor. O irm�o
dele tinha acabado de morrer de c�ncer, e ele estava
querendo se vingar do mundo e principalmente da igreja, pois sua
fam�lia acreditava que seu irm�o seria curado com
ora��es, mas acabou que ele morreu. Ent�o
esse jovem resolveu que tinha que ser pastor para se vingar dos
evang�licos roubando tudo o que pudesse deles. Ele
aproveitou que eu tinha cometido um erro para tripudiar em cima
de mim e fazer-se passar por bonz�o enquanto eu era o
ruim, da� ele conseguiu convencer muitos da igreja que eu
nunca tinha sido um evang�lico e que eu sempre enganei a
todos, levando uma vida mundana por fora. Como este jovem era
considerado espiritual muitos acreditaram nele. Hoje esta pessoa
tem o cargo de pastor e est� rica.
Decidi ent�o n�o voltar mais
a minha ex-igreja, e acabou que os irm�os n�o se
interessaram em me procurar ou me ajudar.
CONCLUS�O
Quando conclui que Deus n�o
existia, meu primeiro pensamento foi que eu era a pessoa mais ot�ria
do mundo, pois eu tinha dedicado os �ltimos anos de minha
vida a algo que simplesmente s� existia dentro da imagina��o
do ser humano. Depois percebi que eu n�o era assim t�o
ot�rio, pois havia milhares de outros que tamb�m
se dedicavam muito a Deus, mesmo sem ter nada de concreto para
justificar sua cren�a.
O meu segundo pensamento foi de alivio.
Estava aliviado porque n�o teria mais que queimar no
inferno eternamente caso eu me desviasse de Deus. Fiquei feliz
por saber que n�o existia um Deus t�o tirano que
mandava os questionadores para o inferno enquanto os religiosos
iam para o c�u.
A minha felicidade maior foi saber que a
partir de ent�o eu poderia aproveitar minha vida
intensamente, poderia fazer tudo que eu quisesse fazer, poderia
pensar em sexo, dan�ar, sentir raiva, sentir tristeza,
cobi�ar e fazer ou pensar em tudo de bom ou de ruim que
eu quisesse. N�o precisava sentir culpa, eu era livre e n�o
teria que prestar contas a ningu�m em um futuro
julgamento nos c�us.
Apesar da dor que estava sentindo por tudo
o que tinha acontecido, eu comecei a achar bom o que aconteceu,
eu achei bem-feito para mim para eu deixar de ser bobo, achei
tamb�m que foi melhor eu ter passado por toda aquela dor
do que ter permanecido fiel a religi�o evang�lica.
Antes vivenciar toda a dor que eu senti do que desperdi�ar
mais um dia de minha vida, que � �nica e preciosa,
sendo um religioso praticante.
Eu tinha aprendido a questionar.
Questionar para mim tornou-se um grande prazer. Hoje questiono a
tudo e a todos, e quero conhecer toda a verdade que estiver ao
meu alcance, mas para conseguir isso sei que tenho que
questionar e questionar e s� acreditar naquilo que possa
ser comprovado cientificamente.
Passei a valorizar mais o ser humano,
antes via o ser humano como um pecador que tendia a perdi��o,
mas depois que deixei a religi�o passei a ver o ser
humano como a pedra mais preciosa e que enquanto mais trabalhada
for por bons pensamentos, melhor fica.
Nossa vida � muito preciosa, e ela �
finita no tempo, por isso temos que dar o melhor proveito para a
nossa vida. Jamais devemos viver em v�o ou anular nossa
vida por causa de um ideal religioso, pois somente os lideres
das igrejas e que ganham com isso, nem o religioso fiel nem o
mundo ganham nada com a dedica��o religiosa, que �
pura perda de tempo.
Nunca nenhuma religi�o fez nada de
bom pelo nosso mundo, somente a pessoa que tem consci�ncia
da import�ncia de sua vida � que pode fazer algo de
bom para melhorar nosso mundo. Se voc� n�o ama a si
mesmo voc� jamais poder� amar todos ao seu redor.
Hoje vivo bem melhor do que quando era
evang�lico. Troquei a f� pela d�vida, a emo��o
pelo raz�o, a culpa pela liberdade e principalmente
troquei Deus pelo ser humano.