João Coelho, de
22 anos, é um ex-pastor da Igreja Universal do
Reino de Deus, para a qual entrou aos 14. Pregador em
Portugal e noutros países da Europa, foi peão
para todo o tipo de negócios, do tráfico
de droga ao branqueamento de capitais. Arrependido,
abandonou a IURD, da qual vive hoje escondido. Eis a sua
história.
De
início, o rosto do rapaz parece emoldurar a
expressão do pugilista a meio do combate. O olhar
duro fixa-se no interlocutor, está em permanente
vigia. Acabou de sair do hospital. Diagnóstico:
fractura craniana, fractura na cabeça do perónio,
fractura no nariz.
Se não fosse o capacete já não
estava cá para contar a sua história.
Ainda tem a cara inchada, e as cicatrizes à volta
dos olhos acentuam-lhe a frieza. Não tem dúvidas
de que o acidente foi provocado. Voltava da praia,
seguia de moto o carro dos pais quando um BMW começou
a picá-lo. Ultrapassou os pais. Era um dia de Verão
e o trânsito estava compacto. O outro não
descolava, e ele continuou a ultrapassar, ainda lhe vê
o rosto, pelo menos está disso convencido, mas de
repente deixou de controlar a moto e esbarrou noutro
carro.
Tem apenas 22 anos mas começou a viver com o pé
a fundo muito cedo. Vindo de uma família da média
burguesia, teve uma adolescência normal, mas, como
era um miúdo habilidoso, aos 14 anos já se
interrogava porque é que um homem se matava a
trabalhar para subir na vida. Nesse ano abandonou o
liceu para entrar como colaborador na Igreja Universal
do Reino de Deus (IURD). Doze meses depois, a IURD fá-lo
pastor. Segundo diz, daí ao mundo do crime foi um
pequeno passo. A mando da Igreja torna-se um peão
para todos os negócios auspiciosos: tráfico
de armas, droga, branqueamento de capital. Um dia
desfalcou a própria Igreja em 120 mil contos,
mas, por incrível que pareça, ninguém
apresentou queixa.
Foi pastor em Portugal e também pregou na
Europa. Até que um dia resolveu arrepiar caminho
para não se perder. Abandonou a Igreja. Começaram
as ameaças. Chama-se João Coelho e prefere
não revelar o rosto, porque anda escondido desde
o acidente, no Verão passado, e ficou com tendência
para ver conspirações em toda a parte. Em
entrevista ao EXPRESSO, o ex-pastor da IURD conta a sua
história, que neste momento está a ser
investigada pela Direcção Central do
Combate ao Banditismo.
Que idade tinha quando contactou pela primeira vez
a IURD e como é que se proporcionou esse
contacto?
Tinha 14 anos e foi através da minha mãe.
A IURD estava a implantar-se em Portugal e iniciara uma
grande campanha publicitária. Um dia, ela foi ao
cabeleireiro e viu, numa revista feminina, uma
fotografia e um testemunho que relatava o milagre de uma
antiga colega de liceu que tinha uma filha que nascera
surda-muda e que garantia ter sido a IURD que a curara.
Por curiosidade, ou por insatisfação de
ordem religiosa - tinha sido educada na Igreja Católica
-, a minha mãe procurou a Igreja. Ficou
impressionada e foi o primeiro elemento da família
a tornar-se membro da IURD.
Além do vazio religioso, havia problemas de
ordem sentimental ou financeira que tivessem levado a
sua mãe a procurar apoio noutra Igreja?
Não. Somos uma família de média
burguesia. Na altura a minha mãe tinha uma «boutique»
e o meu pai um bom emprego numa empresa de cimentos.
Financeiramente, vivíamos bem. Eu estudei num colégio
interno antes de entrar no liceu, e o ambiente familiar
era bom. Enfim, éramos uma família católica
normal.
Foi a sua mãe que o convenceu a entrar na
IURD?
Não, a minha mãe nem falava dos assuntos
da Igreja à minha frente. Eu é que, quando
saía dos treinos de râguebi - jogava na
Académica - passava pela igreja e esperava que
ela saísse do culto para apanharmos o autocarro e
irmos juntos para casa. Houve até um dia em que
resolvi entrar e achei aquilo muito esquisito. Estava
habituado à prática católica e de
repente deparo-me com pessoas em transe, que os pastores
diziam que estavam com espíritos malignos. Tudo
aquilo me parecia uma fantochada. Entretanto o bispo José
Carlos, que na altura ainda era o pastor titular de
Coimbra, e o pastor António vinham muitas vezes
ter comigo e aliciavam-me para entrar para a obra, de
uma maneira muito sábia...
Como?
Começaram por perguntar-me se eu não
queria aprender a tocar piano e pertencer a um grupo
jovem da igreja. Diziam que era apenas convívio -
jogos e outro tipo de actividades -, e que não
tinha de estar a ouvir o pastor a pregar durante quinze
minutos ou meia hora. Portanto não seria uma
seca, mas sim o sítio onde os jovens iriam
conviver. Cheguei a vir a Lisboa, com um auxiliar, ao
Aquaparque, e foi muito divertido.
Foi assim que o foram aliciando ou entrou mesmo
por uma questão de fé?
Não teve nada a ver com fé, apercebi-me
da forma como eles viviam, bons fatos, boa roupa. Tinham
bons carros, boas casas. E foi isso que me começou
a aliciar, queria levar uma vida com aquele padrão
sem ter de estudar, coisa de que nunca gostei. Dei então
o passo para entrar na Igreja, mas eu não queria
entrar e ficar soldado raso, não é? Não
queria ficar eternamente um membro qualquer, nem queria
andar um ou dois anos à espera de ser chamado «para
fazer a obra», como eles dizem.
O que é necessário para ser membro
da IURD?
Exige-se que a pessoa seja baptizada tal como a Bíblia
diz: o corpo é totalmente introduzido dentro das águas.
Dentro da igreja é enchida uma piscina, o pastor
entra e faz o baptismo às pessoas que estão
em condições de o fazer.
Quais são as condições?
Exige-se
que a pessoa se arrependa dos pecados que cometeu no
passado e que renasça para aceitar Jesus Cristo
como único salvador da nossa alma. Mas, no fundo,
o que interessa é preencher a folha de membro,
entregar todos os nossos dados, fotografias, para que
conste no registo da igreja, o que lhes vai dar jeito
para muita coisa...
Qual foi a etapa seguinte?
Eu tinha 14 anos e só estive 15 dias como
membro. Passei logo a colaborador, que era o que me
interessava para poder subir rapidamente na hierarquia.
Começo a sair para a rua com panfletos e
publicidade acerca da Igreja, a convidar pessoas para
irem à igreja. O colaborador veste-se como o
obreiro: sapato preto, calça azul, camisa branca
e gravata azul. O que difere é só o cartão,
e existe uma separação espiritual para o
obreiro e para o colaborador. Colaborador é uma
pessoa que se está a preparar para a obra de
Deus, mas ainda não tem o baptismo com o Espírito
Santo. Mas como colaborador já saía com
eles à noite, à sexta-feira à
noite, para ir queimar os pedidos do povo para a Praia
da Figueira, onde se fazia uma fogueira. Abria-se um
buraco na areia e colocavam-se lá os pedidos dos
crentes. Levava-se também gasolina, imagens de Fátima,
da Rainha Santa, e deitava-se fogo. Depois os obreiros e
os colaboradores juntavam-se à volta,
intercedendo pelo povo junto de Deus, por aqueles
pedidos que lá estavam. Havia orações
de vigília na praia e outras orações
que eram feitas num monte, perto de Condeixa. Eu
divertia-me imenso com aquilo, e sempre era uma forma de
os meus pais me deixarem sair de casa.
Ou seja, não levava nada disso a sério?
Nem eu nem os outros, era apenas uma forma de
apresentar serviço.
Nessa altura, como colaborador, já tinha a
ideia da mistificação que isso
significava?
Sim. Como colaborador, a primeira coisa errada que vi
foi em relação à distribuição
pelo povo do óleo santo que eles dizem vir de
Israel. O que se passa é que, tempos antes, eles
pedem às pessoas para trazerem azeite de casa, o
qual é despejado em alguidares. E nós - eu
participei nisso -, com seringas, enchíamos
pequenos frascos com esse azeite. Depois, os frascos são
limpos, colocados em bandejas e distribuídos às
pessoas como óleo de Jerusalém, o óleo
usado no templo de Jesus. Esse foi dos meus primeiros
trabalhos na igreja e era com esse óleo que eu
ungia na casa de banho os homens que tinham algumas
enfermidades.
E esses tratamentos tinham algum efeito terapêutico
nos doentes?
Nunca vi, enquanto estive na igreja, um paralítico
sair de lá a andar ou um pobre sair de lá
rico. Pelo contrário, vi muita gente entrar na
igreja com dinheiro e sair de lá arruinada.
Foi aliás o caso da sua mãe!
Sim, mas eu apercebi-me disso mais tarde. Quando a
minha mãe vai para Leiria é quando a «boutique»
dela vai à falência, porque tudo o que a
loja dava ia para o dízimo da Igreja. Ela dava
tudo o que ganhava - e havia dias em que a minha mãe
fazia caixas de 100, 150 contos. De um momento para o
outro, as coisas começam a ir por água
abaixo; eu via que as coisas eram vendidas mas não
estava preocupado, não sabia a gravidade da situação.
E a sua mãe continuava a não pôr
em causa a Igreja, nem a atribuir-lhe qualquer
responsabilidade pelo seu caos financeiro?
Uma
das coisas que eu aprendi, já como auxiliar de
pastor, foi a intimidar através de uma palavra da
«Bíblia», de forma a poder usufruir
dessa palavra. Nas reuniões de sábado de
manhã, que se destinam a orar pela vida
financeira da pessoa, eu tinha que agarrar na «Bíblia»
e preparar uma pregação que falasse na
vida financeira, e incentivava as pessoas a fazer votos
com Deus, ou seja, a darem dinheiro. Quanto maior fosse
o voto, maior seria a bênção da
pessoa. Por exemplo, a pessoa podia ter 10 contos até
ao final do mês, mas se desse esses 10 contos isso
era uma prova de que fazia votos com Deus, que Deus abençoá-la-ia
e nunca deixaria que ela passasse por dificuldades.
Digamos que eu fiz com muitas pessoas aquilo que eles
fizeram com a minha mãe.
O seu discurso é mais profissional do que
espiritual?
Eu queria ser um bom profissional, para subir
rapidamente na hierarquia. O meu objectivo era que as
minhas reuniões crescessem e que a oferta (as dádivas)
fosse boa.
Era preciso ter um grande poder de convencimento
para manipular assim as pessoas?
Não é difícil. O principal é
ter paciência para ouvir as pessoas. Tudo começa
nas mesas de atendimento, que é o sítio
onde recebemos as pessoas que nos procuram pela primeira
vez. São geralmente pessoas com problemas e que
desabafam logo toda a sua vida. Isso fica escrito no
nosso livro de orações. Depois, durante o
culto, eu utilizava essas informações e
começava a falar na história dessas
pessoas e chamava-as ao altar para orar por elas. As
pessoas convenciam-se de que eu adivinhava a sua vida,
os seus dramas e ficavam cada vez mais dependentes. Este
é o esquema montado para que a oração
produza efeito.
Entretanto, foi «levantado» obreiro.
Como se dá esse passo?
Para ser levantado obreiro é necessário
que a pessoa seja baptizada com o Espírito Santo.
O que é o baptismo com o Espírito
Santo?
A explicação que a IURD dá para o
baptismo no Espírito Santo é quando a
pessoa está num louvor a Deus. Geralmente
acontece na reunião do domingo de manhã. O
que eles diziam - e ensinavam - é que quando a
pessoa recebe o baptismo com o Espírito Santo
recebe um poder vindo de cima, começa a sentir no
seu corpo um calor vindo de cima. Depois dessa sensação,
falaríamos línguas que nós não
conseguíamos distinguir, nem às quais
conseguíamos dar significado. Como nessa altura já
me convinha ser obreiro, decidi que estava na hora de
ser baptizado pelo Espírito Santo e um dia
comecei a falar línguas.
O que é isso de falar línguas?
Há uma forma bastante fácil de a pessoa
falar o que não entende. Num momento de louvor, o
pastor pede para que as pessoas repitam consecutivamente
«Aleluia!» Se estamos dez minutos a dizer «Aleluia»,
de certeza absoluta que não vamos conseguir dizer
a palavra totalmente durante esses dez minutos de
louvor. Com a repetição começa-se a
dizer uma lengalenga, e a pessoa pensa que está
baptizada com o Espírito Santo porque falou
alguma coisa que não entendeu. É um fenómeno
provocado pela repetição. Mas no meu caso
não foi: ouvira cinco ou seis pastores a falarem
línguas e todos eles se baseavam nas mesmas
palavras. Decidi imitá-los.
Quais eram as palavras?
As palavras foram «abalaci, abalaci, abalicantra»
e assim começou então o baptismo no Espírito
Santo. Todas as vezes que eu falava línguas, ou
que decidia imitar - como é mais correcto dizer
-, eram precisamente essas palavras que dizia.
Nada disso perturbava a sua consciência?
Nessa
altura, não. Entretanto, na Igreja começa
a haver uma campanha para uma viagem a Israel. Seriam os
membros da Igreja que comprariam as passagens para
visitar a Terra Santa, ir aonde Jesus andou, pisar o chão
que Jesus pisou. Era uma bênção. Os
meus pais compraram a passagem para eles e para mim. Em
Setembro de 1994 desloco-me pela primeira vez à
Terra Santa. Conhecia locais novos e andava de avião.
Tudo isso era bom, não era? Ia de férias.
Levava comigo pedidos do povo, que o pastor me entregara
para deixar num local sagrado, no Monte das Oliveiras.
Mas como já não ia passar por qualquer sítio
sagrado e não queria atirar o pote para o lixo,
acabei por aí os lançar ao Mar Morto, que
não tem qualquer significado a nível bíblico
. Após o regresso a Lisboa, três semanas
depois, vou a uma vigília no Império
durante a qual o bispo João Luís pediu a
quem estivesse disposto a largar tudo para se dedicar à
obra de Deus, para se dirigir à frente do altar.
Decidi chegar-me à frente. O meu objectivo era
ser pastor. E participei na oração. Estive
cerca de meia hora a louvar a Deus. Dei o meu melhor
para ser escolhido. Os pastores que lá estavam,
das 70 igrejas que existiam em Portugal, desciam do
altar e vinham colocar as mãos sobre a cabeça
dos obreiros presentes. Depois, indicavam ao bispo quem
é que eles tinham sentido que realmente ia fazer
a obra de Deus.
O que significa dar o seu melhor?
Montar palavras de louvor, de forma a que não
fosse uma oração repetida, mas sim uma oração
que realmente soasse bem aos ouvidos do pastor. E foi o
pastor Roberto, de Coimbra, que veio orar comigo e deu
ao bispo a indicação de que eu estava
preparado para começar como pastor. Fui
imediatamente chamado e foi-me dito que, no domingo,
tinha que me apresentar no cinema Império, em
Lisboa.
Foi aí que abandonou os estudos. Como é
que reagiram os seus pais?
O meu pai diz-me que eu é que sei. Pergunta-me
se tenho consciência do que vou fazer, se
realmente é isso que eu quero, se não me
irei arrepender... A minha mãe estava um pouco
mais convencida, porque iria ter um filho a servir como
pastor na igreja.
Que idade tinha quando foi feito auxiliar de
pastor?
Tinha 15 anos.
São tempos atribulados no Império...
Quando vou para o cinema Império surge um
problema com a Igreja devido a uma tentativa de
arrombamento do edifício por parte das forças
da autoridade. Numa quarta-feira à tarde, o bispo
João Luís - que iria presidir àquela
reunião - só chega no final e pede às
pessoas que lhe desculpem o atraso, justificando-se com
uma deslocação ao procurador-geral da República
para lhe dizer que, se as autoridades quisessem
investigar alguma coisa, não era preciso arrombar
as portas. Nós próprios as abriríamos,
para que as autoridades investigassem o que quisessem.
Nessa altura, os jornalistas não eram bem
vistos no Império, e o sistema de segurança
era muito apertado. Porquê?
Havia várias escalas de serviço para
controlar a entrada de jornalistas e das forças
policiais que lá pudessem entrar. Tínhamos
de vigiar se havia telemóveis ligados dentro da
igreja, de forma a que não se transmitisse a
reunião para fora; ter muito cuidado com máquinas
de filmar dentro da igreja, para que não se
deixasse tirar imagens. Tínhamos também
fichas com fotografias de jornalistas e de possíveis
polícias que poderiam estar a investigar o «caso
IURD».
Havia alguma razão que justificasse essas
medidas de precaução?
O único esquema que consegui notar foi o
secretismo que se fazia em torno das ofertas e a forma
como eram transportadas. Na reunião, o pastor
pedia às pessoas que fizessem a sua oferta, as
quais eram colocadas dentro de uma sacola; para que Deus
abençoasse as pessoas, enquanto elas ainda
rezavam as ofertas eram imediatamente transportadas para
o local que a IURD designa como o Dez, um cofre. À
segunda feira, havia a reunião de todos os
pastores, do Norte ao Sul do país, que prestavam
contas das ofertas da semana na sua igreja. Aí
era feita a contagem. Separavam-se as moedas das notas,
e os caixotes saíam por uma porta lateral do
cinema Império, numa carrinha, para o Banco Espírito
Santo, na Avenida de Roma. Cheguei a acompanhar essa
carrinha, como segurança. Saíamos por uma
porta lateral para que as pessoas não percebessem
que as ofertas eram retiradas da igreja daquela forma.
Se a igreja não tinha nada a temer e se os
membros sabiam que a igreja vivia de ofertas, que mal
teria?
Entretanto, dão-lhe novas funções...
Sim. O pastor Carlos Roberto, de Faro, está com
um problema: não tem ninguém que toque
piano. Precisava de um auxiliar de pastor que exercesse
também as funções de pianista.
Chego a Faro, e foi-me entregue de imediato a reunião
de sábado, que tinha 60 pessoas. Os primeiros
dias não foram difíceis, tínhamos
uma camarata onde vivíamos quatro auxiliares.
Cumpria horários nocturnos, fechava a igreja.
Começava às 8 da manhã e acabava
por volta das 11 horas da noite; tinha que estar sempre
a viver ali, em torno da igreja, a cuidar de tudo: na
mesa de atendimento, a fazer as reuniões, a tocar
piano...
Tem ideia de quanto facturava a igreja?
A igreja de Faro facturava, todas as semanas, cerca de
3000 contos, isto sem contar os fins-de-semana. No
primeiro fim-de-semana de cada mês, que era o
fim-de-semana do dízimo, facturava muito mais. A
de Tavira, que tinha aberto há pouco tempo,
facturava na ordem dos 500/600 contos por semana. Na
totalidade das igrejas do país, eram cerca de
200.000 contos por semana. Eram 70 igrejas. Desde
igrejas com cerca de mil pessoas, como a do Império,
até igrejas com cerca de 40, como a de Tavira,
outras com 600, como a de Faro, com 400, como as de
Portimão ou Leiria...
Diz-se que os pastores por vezes não
resistiam e deitavam a mão ao dinheiro das
ofertas.
A primeira vez que mexi em dinheiro da oferta foi na «Campanha
de Albufeira».
Era uma prática comum entre os pastores?
Sim. Se o pastor chega a meio do mês e não
tem dinheiro (eu, por exemplo ganhava apenas cinquenta e
tal contos) recorre às ofertas, sempre de forma a
não defraudar os objectivos estabelecidos para
aquela semana.
Além de toda a sua ambição -
tinha 15 anos, era um adolescente -, a sua vida
circunscrevia-se à igreja ou furava os esquemas?
Quando
estive em Faro, cumpria o meu serviço como pastor
na igreja durante as horas normais, mas quando a igreja
fechava levava a vida de qualquer jovem. À noite
ia para a praia divertir-me, com os meus colegas
auxiliares que lá estavam. No caso de o pastor
dar por falta de nós na igreja, dizíamos
que íamos orar para a praia. Íamos para o
Hotel Faro tentar conhecer estrangeiras, travar
conhecimento com raparigas... e o objectivo não
era levá-las para a igreja (risos)...
Apesar de ser pecado...
A igreja ensinava que não se podia ter relações
sexuais antes do casamento, que era pecado aos olhos de
Deus. Mas quando eu saía da igreja para fora,
nunca estava com esse tipo de ensinamentos. Para os
pastores era uma imposição não
praticar sexo antes do casamento, mas alguns auxiliares,
como eu, não seguiam esse conselho. Eu não
deixava de ser pastor durante o dia, mas à noite
tinha a minha vida privada, da qual fazia o que bem me
apetecia. Tive muitas conversas acerca dessa situação,
principalmente com auxiliares em quem tinha confiança
e com quem me dava bastante bem, como o Carlos. Trocávamos
impressões acerca das nossas experiências
sexuais, que tínhamos fora da hora de serviço
na igreja. Foi uma boa fase da minha juventude. Posso
dizer, como o ditado, que aconselhava as pessoas a
fazerem o que eu dizia mas a não praticarem o que
eu praticava.
Mesmo assim continuava a ter cada vez mais
responsabilidades na IURD.
Sim. Entretanto surge uma campanha para uma nova
viagem a Israel, na qual eu também vou
participar. Até aquele dia, de todas as excursões
que se tinham feito a Israel a igreja de Faro só
tinha vendido uma passagem. A nível da venda de
viagens era a igreja mais fraca de Portugal. Fico
responsável pela venda das passagens aéreas.
Incentivo as pessoas a contraírem créditos,
faço de tudo para que se vendam passagens e
consigo que sejam vendidas 30, o que foi uma bênção
para o pastor. Isso deu direito a que o pastor da
igreja, o titular, fosse a Israel, porque tinha alcançado
o objectivo de vender mais de 20 passagens. Depois da
viagem voltei para Faro e, uma semana depois, sou
chamado a Lisboa, onde recebo instruções
para partir para França como pastor. Dirijo-me à
secretária do bispo, na altura a Carla, e é-me
passado um documento no qual me é pedido o número
de bilhete de identidade da minha mãe. Enfim, um
papel azul que me autorizasse a deslocar ao estrangeiro,
a título de férias.
Mas ia como pastor ou em turismo?
Eu era menor, e era preciso omitir o motivo da minha
viagem. A minha mãe assina o papel, vamos
reconhecer a assinatura ao notário e, no dia
seguinte, tenho passagem marcada para Paris, pela TAP.
Com apenas 16 anos. Isso não desagrada aos
seus pais?
A situação desagradou aos meus pais, por
estarem a assinar um papel que não coincidia com
a verdade: eu deslocava-me por motivos religiosos, e não
de férias. Mas para mim era muito bom: ia
conhecer França, onde nunca tinha ido, e viajar
era o que eu queria. Quando chego a França, o
pastor Ricardo, o responsável da igreja local,
informa-me que afinal irei para a Suíça; o
pastor Eduardo Bravo, que estava na Suíça,
viria buscar-me no dia seguinte. Passados 15 dias, o
pastor responsável pela igreja teve de se
deslocar ao Brasil, para tentar conseguir o visto de
residência na Europa. Fico então como
responsável pela igreja: tomava conta das ofertas
e geria os ordenados e fui o responsável pelo
pagamento das campanhas em Neuchâtel e em Zurique.
Foi assim que comecei como pastor titular na Igreja
Universal do Reino de Deus.
E é também então, segundo
diz, que entra no mundo do crime...
Passo a receber diariamente telefonemas do bispo João
Luís, o responsável máximo na
Europa pelo trabalho da IURD. Um dia recebo ordens para
me deslocar a França com a maior urgência,
para me encontrar com o pastor Ricardo. Encontro-me com
ele em França e ele dá-me um panorama
negro da situação económica da
igreja. Diz que a situação na Europa está
muito fraca, que as ofertas não conseguem manter
as despesas da igreja e que a igreja tem que optar, por
vezes, por outras vias, de forma a que a palavra de Deus
nunca deixe de ser pregada. A via eram negócios
ilícitos que iam aparecendo, nos quais nós
não nos envolvíamos directamente. Ou seja,
a igreja investia pura e simplesmente capital, de forma
a reavê-lo - mais o lucro - sem ser implicada em
nada e subsistindo assim enquanto não o
conseguisse fazer apenas com os dízimos e as
ofertas.
E que tipo de crimes eram esses?
Falsificação de moeda, tráfico de
armas, tráfico de diamantes, lavagem de dinheiro,
prostituição.
Como era possível a IURD envolver-se nesses
negócios sem se implicar neles directamente?
Ao longo do tempo fui vendo que as coisas não
eram assim. A Igreja comprometia-se realmente em
diversos crimes, como falsificação de
moeda, tráfico de armas, tráfico de droga,
exploração de prostituição,
branqueamento de capitais. Depois, os lucros eram
escoados através de empresas «off-shore»
que são propriedade da Igreja.
Tem provas do que diz? Alguma vez se envolveu
directamente nalgum desses negócios?
O meu primeiro trabalho nesse campo foi a aplicação
de uma verba de 10 milhões de dólares em
armas, para receber um lucro de 25 milhões de dólares,
juntamente com o capital investido. Essa situação
foi-me explicada ao pequeno almoço pelo pastor
Ricardo, que me disse que a Igreja conhecia um indivíduo,
o Amade, que teria os conhecimentos necessários
para fazer o negócio mas que não tinha o
capital para investir. Era aí que entrava a IURD,
fornecendo o montante necessário, recebendo todos
os lucros da transacção e pagando apenas a
comissão ao Amade.
Qual o seu papel no meio disso?
Eu, o pastor Ricardo e o pastor Marcelo Oliveira - que
estava na Holanda - encontrámo-nos no Hotel
Concord La Fayette, em Paris, com o Amade.
De que nacionalidade era o Amade?
Não sei, era um indivíduo de estatura média,
moreno, falava um inglês pouco correcto.
Como é que se dá a transacção?
Entregámos-lhe os 10 milhões de dólares
e, três dias depois, voltámo-lo a encontrar
no Concord La Fayette, para receber os lucros dessa
operação e pagar a comissão. Esse
dinheiro é transportado para a igreja em Saint
Martin e é aí que o pastor Ricardo me dá
coordenadas de como é que faríamos o depósito
do dinheiro. Arrancamos os dois para a Suíça,
de carro, e o pastor Ricardo dá-me o número
de conta de uma empresa «off-shore»,
propriedade da IURD, para que no dia seguinte eu fosse
ao banco para fazer o depósito. E assim foi, no
dia a seguir, com as coordenadas que me tinham sido
dadas, dirigi-me ao banco onde fazíamos os depósitos
das ofertas da Igreja e abri uma conta à parte,
uma conta de uma empresa «off-shore», onde fiz
esse depósito. Esse dinheiro foi depois
controlado pelo pastor Eduardo Bravo quando chegou do
Brasil. Ele é que foi directamente ao banco para
tratar do destino desse dinheiro.
Não tinha comissão nesses negócios?
Enquanto estou dentro da IURD não recebo
qualquer tipo de comissão, faço os negócios
por amor e compreensão à obra de Deus (risos).
Ou seja, tudo isto fazia parte do meu jogo: fazer com
que eles tivessem confiança em mim para poder
subir rapidamente na Igreja.
Tinha apenas 17 anos. Como é que essas
pessoas podiam confiar em si para esquemas dessa
envergadura?
Eu tinha uma vantagem em relação a eles:
era cidadão europeu, podia deslocar-me de avião
com facilidade e além disso falava muito bem línguas...
digamos que também tinha bom aspecto, falava bem,
o que facilitava as relações a um certo nível.
Esse foi o único negócio em que
participou?
Não. Mas depois disso tive um problema no
joelho e, como estava ilegal na Suíça
(estava lá há mais tempo do que era
permitido para uma visita de turismo), desloquei-me a
Portugal para ser tratado num hospital. Fico de novo no
Império uns tempos e é aí que volto
a encontrar um indivíduo que já tinha
estado comigo da primeira vez que eu tinha estado no Império
como auxiliar de pastor. Era o João, um africano
conhecido por Megão, que tinha uma larga experiência
no mundo do crime. E foi com ele que tracei um plano:
assaltar a própria igreja.
Antes de me falar desse golpe, gostava de saber se
conheceu outros pastores com passado criminal dentro da
IURD.
Havia lá muita gente cadastrada, por assaltos,
por serem toxicodependentes e também por tráfico
de droga. Juntava-se lá de tudo um pouco. Eram os
convertidos que supostamente tinham abandonado essa
vida, mas que não se tinham esquecido de como é
que as coisas se faziam. São os que deixaram isso
tudo mas que ainda sabem fazê-lo.
Voltemos ao plano de assalto à IURD.
Bom,
nunca especificando que tipo de negócios eu sabia
que a Igreja praticava - mas como também sabia
que não era só da «Bíblia»
que se falava -, não vi mal nenhum em planear com
o João roubar o Dez, o cofre do Império.
Fizemos isso de uma segunda para uma terça-feira.
Ele percebia daquilo e, com algumas ferramentas, arrombámos
a porta. Estávamos à espera de encontrar à
volta de 200.000 contos, mas havia apenas 120.000 mil,
em notas e muitas moedas. E por baixo do dinheiro havia
várias embalagens de cocaína em sacos de
plástico. Trouxemos apenas as notas, que
dividimos irmãmente.
Ninguém deu por nada?
Nessa altura ainda não havia segurança
durante a noite no Império; a segurança
foi instalada precisamente depois do assalto. E nós
também organizámos as coisas de forma a
que parecesse um furto. Arrombámos o cadeado e as
barras de ferro da porta da rua por onde saía o
dinheiro que ia na tal carrinha para o Banco Espírito
Santo. Arrombámos a porta, rebentámos o
cadeado e as barras de ferro que a travam por dentro e
deixámo-la aberta. De manhã, quando o
pastor chegou, pôs a correr que o autor teria sido
agum pastor dissidente. Entretanto, o dinheiro
continuava dentro da igreja, nos nossos sacos de viagem.
A igreja apresentou queixa?
Não apresentaram queixa nenhuma. Como é
que poderiam explicar se, sendo na altura a igreja
tributária, aquilo que eles declaravam não
justificava a quantia enorme de dinheiro que tinham no
cofre?
Era uma grande soma. Qual foi o destino que deram
ao dinheiro?
O João agarrou no dinheiro e, dois dias depois,
levou-o para a terra onde ele vivia, na Amadora. E eu
levei-o para o banco, para o BBV, na Rua da Beneficência,
onde conhecia um gerente bancário.
E ele fez o depósito de um valor tão
elevado em numerário?
Eu já o conhecia e ele merecia-me toda a
confiança; ele entrava noutros negócios de
pessoas da IURD. Entreguei-lhe o dinheiro, nem abri
conta em meu nome, e ele e investiu-o, usufruindo dos
lucros. E além disso ainda recebeu uma comissão
de 2 mil contos. Essa prática é usada
pelos pastores da IURD, e não só. Procuram
pessoas da sua confiança para que lhes guardem o
capital, uma riqueza que não têm como
justificar. Isto para que não exista qualquer
tipo de suspeita por parte da Igreja nem por parte das
autoridades, caso sejam investigados.
Estava rico. Podia ter abandonado a IURD.
Não, dava demasiado nas vistas. Entretanto sou
transferido para o Luxemburgo, para trabalhar como
auxiliar do pastor Domingos Sequeira.
E parte para evangelizar ou continua nos negócios?
(Risos) Negócios para a empresa.
Branqueamento de capitais, através de garantias
bancárias. O primeiro que me é proposto é
deslocar-me com outro pastor, o António, a
Madrid, para irmos buscar um BMW série 3 com matrícula
portuguesa. Chegamos, pegamos no carro, e temos ordens
específicas de trajecto. Arrancamos de Madrid
direitos a Bilbau, de Bilbao seguimos para Irun, de Irun
podíamos ter passado imediatamente a fronteira
para Biarritz mas descemos para Pamplona. De Pamplona
seguimos para Euji, onde passamos por uma fronteira
aberta. Só depois é que nos dirigimos para
Biarritz, Bordéus, Paris e entramos no
Luxemburgo. Estávamos proibidos de abrir a mala
do carro, mas o António não resistiu e
deparou-se com aquilo que mais temia: droga. Chegamos à
conclusão que o melhor era ficarmos calados e
tentar fazer as coisas de modo a não sermos
apanhados naquele trajecto. Quando chegámos ao
Luxemburgo entregámos as chaves do carro ao
pastor Domingos Sequeira e ele é que tomou conta
da situação.
A ser verdade o que diz, a IURD negociava bastante
em droga. Através de quem?
Com o cartel de Cali, que foi aliás o
financiador na compra da TV Record, no Brasil, e das
produções Record. O bispo Edir Macedo
tinha grandes conhecimentos com eles e as coisas estavam
implantadas de forma a que eles também fizessem
chegar à Igreja no Luxemburgo documentos bancários.
Foi assim que eu conheci o Alex, que tem um «business
center», uma empresa que fabrica «off-shore».
Qual é a finalidade?
«Off-shores» são empresas sediadas em
paraísos fiscais, isentas de impostos. O «business
center» do Alex recebia esses documentos bancários
em nome dessas companhias «off-shore», de modo
a que nós conseguíssemos créditos
nos bancos do Luxemburgo mediante esses documentos. O
Alex era a ponte de ligação com os bancos.
Fala da IURD como se se tratasse de uma organização
criminosa...
Para que tenha ideia da dimensão do
branqueamento de capitais que a IURD faz digo-lhe que,
apenas no espaço de dois meses, chegou-se a fazer
o branqueamento de mil milhões de dólares,
às 'tranches' de 100 milhões de dólares.
Tudo feito com base em empresas «off-shore»,
com projectos e contratos fictícios, em que as
testas-de-ferro da IURD são essas empresas fictícias.
É fundamental saber que o banco que emite essas
garantias é um banco que é propriedade da
IURD, no Brasil.
Transacções complicadas que parecem
fáceis...
Eu gostava de deixar aqui um aviso a todos os membros
da IURD. Estes negócios são feitos em
grande parte com os dados dos membros da Igreja. É
por isso que, como membros da obra social da Igreja,
temos que fornecer todos os nossos dados pessoais: BI, número
de contribuinte, fotografias. Elementos que não são
necessários para a Igreja, porque a Igreja não
nos passa facturas. Ou seja: as pessoas, movidas pela fé,
assinam cegamente e fornecem todos os seus dados à
Igreja. De modo que ela pode usar os seus nomes para as
cooperativas e para as empresas «off-shore».
Porém, é preciso ter em conta que, um dia,
se os responsáveis dessas cooperativas e «off-shores»
- que são pessoas da confiança da IURD -
saírem, são os membros da igreja que podem
vir a ser responsabilizados pelos negócios ilícitos
que ela faz.
Apesar de ter consciência dos crimes que
atribui à IURD, não sai e até vai
ganhando cada vez mais a confiança da Igreja...
Não havia razões de queixa contra mim.
Em 1995, um ano antes de sair, abrem uma igreja nova na
Bélgica e eu sou destacado para lá. Aí
deparo-me com outra situação: a Igreja,
que exigia a castidade aos pastores, também
estava envolvida em negócios de prostituição.
Cheguei muitas vezes a ir a uma das casas, situada em
Mercson, a norte da Antuérpia, receber os
pagamentos das mãos de Sandra, a responsável
pelo bordel. Porque a IURD também tinha
facilidade em trazer emigrantes ilegais para a Bélgica,
nomeadamente prostitutas, porque um dos seus elementos
era funcionário da embaixada de França,
que emitia passaportes franceses autênticos dentro
da própria embaixada. Era num café perto
da embaixada que eu me encontrava com ele. Entregava-lhe
fotografias e os dados da pessoa e ele produzia os
passaportes e colocava as pessoas dentro do sistema
informático do país. Trazia-me os
passaportes e era feito o pagamento da praxe.
Nunca teve contrapartidas financeiras?
Embora
eu tenha feito todos esses negócios da IURD,
nunca tive lucros, fazia-os por amor a Deus (risos).
Bom, fazia por mim, para alcançar rapidamente a
confiança deles, para chegar ao meu objectivo:
ser bispo.
No entanto, um ano depois abandona a Igreja, porquê?
O meu último mês na Bélgica foi
terrível. Suspenderam-nos os ordenados sem
qualquer justificação. Cheguei a passar
fome. Era Inverno, estava um frio de rachar, e a igreja
não tinha aquecimento. Arranjei uma mentira para
vir a Portugal, eu não tinha necessidade de estar
ali a passar por aquilo.
Claro, e no BBV tinha os 60 mil contos do
assalto...
É verdade, tinha 60.000 contos à minha
espera e não tinha necessidade de estar ali a
passar fome. Decidi, no dia 24 de Julho de 1996, apanhar
o avião para Portugal e sair da IURD.
Como é que a Igreja reage à saída
de um pastor tão promissor?
A partir daí começaram as ameaças
para casa dos meus pais, que também saíram
da IURD. Começaram as intimidações
e as perseguições, que acabaram,
recentemente, numa tentativa de homicídio. Eu
sabia de mais, sei de mais.
Faz acusações muito graves, tem essa
noção?
Sei do que estou a falar, agora a polícia que
investigue.
Não se pode dizer que tivesse tido um
percurso exemplar.
É verdade. Entrei para a IURD com 14 anos, fui
feito pastor aos 15 e, durante quatro anos, vi muito. Não
me vou desculpar com a idade, mas também não
a posso esquecer. Não me lamentei, nem me fiz
passar por coitadinho ao longo desta conversa. Foi
assim, ponto final.