TESTEMUNHO AGN�STICO
Edson Jr

Durante anos, como muitos, aprendi a n�o questionar. Aprendi a n�o duvidar de Deus, j� que estava muito al�m do meu entendimento. Aprendi a nunca duvidar da B�blia Sagrada, j� que o Sagrado nunca pode ser questionado. Aprendi tamb�m a amar o Senhor e Salvador Jesus Cristo, visto que Ele � o Filho do Perfeito, do Supremo, daquele que � Onipotente, Onisciente e Onipresente. Aprendi tamb�m a n�o questionar o Esp�rito Santo, uma vez que � o Esp�rito do pr�prio Deus.

Nada disso, segundo meu aprendizado, poderia ser questionado.

Al�m de ter aprendido a n�o duvidar, aprendi a amar tudo isso. Comecei a entender que para vivermos bem, para gozarmos das ben��o dos c�u devemos ser obedientes e aceitar de todo cora��o e de toda a alma tudo aquilo que a B�blia nos ensina. Aprendi a buscar o Esp�rito Santo, para que eu pudesse discernir o que � certo e o que � errado. O Esp�rito Santo � quem decidia por mim. Ele sempre foi meu guia, meu conselheiro, meu consolo nas horas de afli��o. Ele me ajudava a interpretar a B�blia e somente atrav�s Dele, mediante ora��es � que se podia fazer uma interpreta��o sensata daquilo que est� escrito na Palavra.

Aprendi que somos rodeados por esp�ritos, que somos cercados de anjos, dem�nios e que ao nosso derredor est� o Diabo, bramando como um le�o, pronto para me devorar. E assim fui construindo meu mundo, com variadas criaturas, umas boas, outras m�s e a minha vida pouco a pouco foi se tornando a cada dia mais espiritual. Com o passar dos anos fui me tornando cada vez mais santo e puro, era um verdadeiro remido pelo sangue de Jesus. Meu mundo j� n�o era mais aqui na terra, e sim no C�u. Era l� o meu lugar, era l� o meu Reino! Era l� onde estava meu Pai! E era l� para onde eu queria ir! Este mundo na terra n�o servia para nada. Era um mundo perverso e cruel, insuport�vel. Era um mundo que jazia no maligno.

Outras coisas muito importantes tamb�m aprendi. Aprendi que a Igreja era o lugar onde se reuniam os santos, os salvos. Aprendi que era Nela que eu adquiria o combust�vel para minha F�. Aprendi Nela que devemos louvar ao Senhor Nosso Deus. Aprendi tantas coisas. Foi um aprendizado t�o extenso que se tivesse que continuar escrevendo daria v�rios livros.

Aprendi tamb�m a obedecer ao Pastor, pois como um representante de Deus aqui na terra, deveria n�o s� respeita-lo como tamb�m obedece-lo. Deveria ouvir a voz do meu Pastor. Ele era meu l�der aben�oado que estava sempre em contato com Deus e, eu era uma ovelhinha do seu rebanho.

E assim fui e, tudo isso fazia para mim muito sentido. Toda minha estrutura mental foi constru�da nessa atmosfera da supersti��o e � justamente a� que encontramos muitos problemas, pois apesar de considerar todo esse caminho verdadeiro, n�o foi esse o caminho que eu escolhi para mim. Foram outros que escolheram para mim. Foi uma verdade imposta. De forma bem simples: N�O HOUVE LIBERDADE DE ESCOLHA.

Meu mundo se tornou um castelo cheio de fantasmas, na verdade uma fortaleza e parecia que nada poderia abalar as estruturas de meu imp�rio espiritual. Apenas parecia, pois existe uma arma que poucas pessoas buscam, uma arma que para possu�-la requer for�a de vontade, muita dedica��o, muitas horas de estudo e, sobretudo coragem. Essa for�a poderosa, que muitos n�o possuem, quase sempre por acomoda��o se chama: CONHECIMENTO.

� atrav�s dele que progredimos e crescemos. � gra�as a ele que chegamos at� aqui. Na hist�ria, sempre que a busca pelo conhecimento foi suprimida, o crescimento foi sufocado. Percebemos ao longo da hist�ria que toda na��o teve seu Deus ou Deuses e que nenhum apresentava caracter�sticas distintas da na��o que o criou. E assim foi com O DEUS DE ISRAEL, criado segundo a ignor�ncia do povo primitivo daquela �poca. � diante desse Deus primitivo, O DEUS JEOV�, que muitos dobram os joelhos. � diante desse Deus que gostava de sacrif�cios, onde o sangue subia at� Ele como um aroma suave que muitos perdem horas e uma vida inteira em ora��o.

Fui percebendo que todos os Deuses s�o frutos da supersti��o, filhos da ignor�ncia, Deuses formados e constru�dos segundo o medo e desconhecimento de cada povo. Existe uma maneira infal�vel de se encontrar os Deuses de um povo: Basta procurar na ignor�ncia, pois � l� que achamos todos os Deuses.

O problema � que muitas pessoas t�m dificuldade em lidar com as d�vidas. Isso � uma forma de ignor�ncia, pois se soubessem o poder que a d�vida t�m, ela n�o seria nenhum problema. A d�vida � flex�vel, a certeza n�o. As pessoas, a maioria, exigem certeza. Quando percebem que uma coisa n�o tem explica��o, elas buscam uma resposta. A maior parte delas s�o vitimadas pelo medo do desconhecido e est�o prontas a aceitar qualquer �verdade� que supra o incomodo do desconhecimento. Da� surgem as religi�es. � como querer organizar a ignor�ncia. � como procurar dar ordem ao absurdo.

Dessa forma fui percebendo que, caso um Deus exista, certamente ele n�o � o Deus de nenhuma das religi�es. Ent�o acabei aprendendo uma coisa muito importante: O DEUS JEOV� QUE TANTO ACREDITEI ERA UMA MENTIRA.

Agora, se o Deus da B�blia era uma mentira, o que a B�blia Sagrada era ent�o? Podia ser v�rias coisas, menos Sagrada. Sendo assim, pela primeira vez na vida passei a ler a B�blia. Na verdade, j� tinha lido a B�blia v�rias vezes, mas dessa vez foi diferente, pois dessa vez estava lendo a B�blia sem os olhos de reverencia. Estava livre pra l�-la e interpreta-la com uma maior neutralidade. Foi uma experi�ncia magn�fica! � muito gostoso sentir que a venda que cegava meus olhos foram tiradas. Come�ava a ler com os olhos da verdade, come�ava a ler com os olhos do bom senso e da raz�o.

E fui percebendo as incoer�ncias e contradi��es da B�blia, suas crueldades, com mulheres e beb�s. A crueldade de Deus com os homens, que a mando Dele ou por Ele mesmo eram mortos. Percebi que o povo escolhido de Deus era um povo que invadia outro povo e Deus matava o povo estrangeiro, sem poupar mulheres e crian�as. Conforme lia a B�blia percebia como tinha sido t�o ignorante, t�o ing�nuo a ponto de aceitar um mostro dos c�us como infinito em miseric�rdia.

Era o Deus Jeov�, Deus do Velho Testamento, o Deus que muitos ainda dobram os joelhos. O Deus da B�blia! Agora, depois do velho vem o novo, e assim me propus a ler o Novo Testamento. A primeira vista, imaginei que o Novo fosse bem mais tranq�ilo que o Velho. N�o vi a ira de Deus se manifestando de forma t�o brutal. N�o vi muito derramamento de sangue inocente. Cheguei a pensar que a ira de Deus tinha se exaurido. Pensei que Deus Jeov� tivesse mudado para melhor. Quase ganhou minha simpatia, quase.

Quase Deus Jeov� me fez pensar que Ele tivesse se tornado num Deus bom, mais humano, mais d�cil. Doce ilus�o. Ele s� adotou uma outra t�tica. Uma t�tica infinitamente mais cruel, uma t�tica que diria: INFERNAL.

No Antigo Testamento Deus punia seus inimigos somente quando eles estavam em vida. O inimigo de Deus era logo morto. Ele saciava sua ira aqui mesmo, na terra. Mas tal Deus � infinito em ira e resolveu adotar uma t�tica diferente: ELE CRIOU O INFERNO. Agora, seus inimigos n�o ser�o mais punidos aqui na terra, pois seria muito pouco para tal Deus. Ele queria maior sofrimento e criando o inferno, seus inimigos sofreriam durante TODA A ETERNIDADE.

O Deus que eu achava que tinha se tornado mais humano, na verdade estava ainda mais enlouquecido.

Agora, como acreditar nesse Deus? Como acreditar nas Santas Escrituras?

Resolvi, com a mais calma e do�ura n�o acreditar nem nesse Deus, nem na B�blia.

Aprendi agora que tanto Deus como a B�blia sempre foram uma fraude.

O problema � que muitas pessoas l�em a B�blia como um livro isento de erros. Elas precisam l�-lo sem ares de rever�ncia, pois assim n�o ser�o escravas de uma mentira.

Agora me restava a figura de Cristo. Seria ele o salvador da humanidade. O verdadeiro filho de Deus. Acredito que n�o. Se o Deus Jeov� n�o � mais um Deus, logo a divindade de Cristo obrigatoriamente tende a desaparecer. No entanto, considero Cristo um grande personagem da hist�ria, que foi assassinado, mas em nenhum momento negou seus ideais. Foi um revolucion�rio da �poca, homem simples que se misturava entre os pobres e confortava a alma dos aflitos. N�o acredito nas alegadas curas, nas alegadas expuls�es de dem�nios, mas acredito na sua humanidade, no seu apego aos necessitados e oprimidos e seu combate n�o violento aos dominadores da �poca. Por outro lado, percebo algo muito problem�tico na personalidade de Cristo. Ele pregava sobre o inferno. Ele dizia que aqueles que n�o o seguirem iram queimar num lugar de fogo e enxofre e que ali haver� pranto e ranger de dentes. Isso � muito problem�tico, pois Cristo aparece na B�blia como aquele que instituiu o inferno, aquele que mant�m aquecido o caldeir�o de fogo.

Sendo assim, observando Cristo num aspecto neutro, vejo com uma certa admira��o e respeito como pessoa, mas nunca poderia admiti-lo como divindade, como nosso Salvador, como pr�ncipe da paz.

Dessa forma, Deus, A B�blia e a figura de Cristo j� n�o tinham tanta import�ncia assim para a minha vida.

Agora, e o Esp�rito Santo? E agora? Onde estaria este vento que sopra aonde quer e n�o sabemos para onde vai?

Como sempre fui um freq�entador de cultos evang�licos, daqueles mais moderados ao mais fan�ticos, pude perceber face a face a a��o do Santo Esp�rito na vida das pessoas. Ele realmente age de formas misteriosas. Ele faz as pessoas rodopiarem em cultos da igreja, Ele permite que as pessoas inventem �l�nguas estranhas� e repitam uma mesma frase v�rias vezes. Ele permite gritos misturados com l�grimas. Ele age de forma muito misteriosa realmente. Eu me perguntava: Para que tudo isso?

Na verdade o que acontece � um gigantesco apelo emocional. As pessoas que chegam a igreja normalmente possuem problemas e querem resolve-los. Podem ser problemas psicol�gicos, problemas sentimentais. Problemas que precisam de um suporte profissional, como terapia, s�o tratados pela f�.

Os l�deres religiosos ficam numa posi��o de f�cil dom�nio. Fica muito f�cil para ele manipularem essas pessoas, pois elas carecem de ajuda, e como carecem de ajuda e eles prometem a cura, elas acabam se tornando pessoas altamente sugestion�veis.

Sendo assim, elas aceitam r�pido tudo aquilo que � ensinado. Elas se apegam f�cil � doutrina. Normalmente, aquela pessoa que teve uma vida mais problem�tica � a que tende a ser mais fan�tica, pois � uma pessoa fraca, n�o se sente capaz de conduzir sua vida decentemente por si mesma, e para preencher a sua incapacidade acaba se revestindo dos freios morais e ps�quicos impostos pela religi�o. S�o pessoas com o ego bastante enfraquecido.

E dentro de todo um contexto de apelo emocional entra a figura do Esp�rito Santo, que serve como um apoio imagin�rio para aqueles que n�o tem a capacidade confiarem em si pr�prios.

Sendo assim, o Esp�rito Santo n�o passa de uma imagina��o, sendo tamb�m fruto da ignor�ncia.

Dessa forma, toda Trindade se desfaz diante dos meus olhos, Deus Pai, Deus filho e Deus Esp�rito Santo. Toda imagem e tudo que eu pensava a respeito desse trio divino n�o passavam de uma ilus�o, uma mera supersti��o.

Enquanto disso, por detr�s dos bastidores, as igrejas continuam crescendo. O imp�rio dos aproveitadores e exploradores da grande massa cresce a cada dia. O imp�rio dos lobos. Pastores ficam cada vez mais ricos e o rebanho cada vez mais pobre. As propriedades dos pastores v�o crescendo a cada dia diante dos nossos olhos enquanto muitas ovelhinhas n�o tem dinheiro nem para comprar o p�o de cada dia.

Agora, fui conduzido a reformular meu par�grafo inicial:

Depois de muitos anos, como poucos, aprendi a questionar. Aprendi a duvidar de Deus, j� que em meu entendimento nada comprovava a sua exist�ncia. Aprendi duvidar da B�blia Sagrada, j� que de Sagrada eu n�o via mais nada. Aprendi tamb�m a respeitar a pessoa de Jesus Cristo e n�o considera-lo mais como um ser divino. Aprendi tamb�m que o Esp�rito Santo � apenas uma cria��o da imagina��o humana, sem nenhum apoio racional.

Agora, o mais importante de todo o meu aprendizado: EU APRENDI A QUESTIONAR.

Pessoalmente n�o sou contra a liberdade religiosa de ningu�m. Aqueles que acreditam que existe um Ser Supremo que os ajuda a conduzir na sua vida di�ria, n�o tenho nada a declarar. Muitas pessoas realmente precisam de uma certa dose de sobrenatural em suas vidas. E nisso, tem todo o meu respeito. Mas, aqueles que acolhem ovelhas para o seu rebanho atrav�s do medo, aqueles que ensinam que quem n�o concordar com determinadas id�ias v�o queimar eternamente no inferno, aqueles que com ares de falsa moralidade pregam preconceito como rela��o a mulheres, id�ias diferentes, homossexuais etc... Quanto a esses, com a maior paz de consci�ncia tem o meu mais puro desprezo, pois nada de �til nos tem a oferecer e sim apenas venenos, frutos da mais bizarra ignor�ncia.

Sou a favor da liberdade de pensamento. Acredito que o ser humano para ser verdadeiramente feliz precisa ser verdadeiramente livre. Sou a favor da humanidade, acredito que n�s seres humanos somos suficientemente capazes de resolver os nossos problemas sozinhos, sem precisar apelar aos c�us. Confio no potencial humano, valorizo o ser humano. N�o o considero um ser depravado em rumo a perdi��o e sim o supra-sumo do Universo, a p�rola mais preciosa da evolu��o, com potenciais grandiosos e capazes de constru�rem um mundo cada vez mais harmonioso e feliz.

Meu Reino n�o � mais no C�u. Meu Reino � aqui e agora, na Terra.

Meu guia n�o � mais o Esp�rito Santo, nem Deus e nem Jesus Cristo. Meu guia agora � a Intelig�ncia, o Equil�brio e o Bom senso: eis minha Trindade.

Minha luz n�o � mais a f� e sim a raz�o.

Quando n�o sei uma de uma coisa, n�o apelo mais para a F� e sim, busco o CONHECIMENTO. Se n�o for o suficiente, tenho a honestidade de admitir que: N�o Sei.

E no fim, volto a repetir: PARA SER FELIZ � PRECISO SER LIVRE.

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