O Poder da mensagem

por Marco Antonio Ribeiro

 

Dizem que a infância é o momento da nossa vida na qual guardamos as melhores recordações. Normalmente elas se expressam em formas de cores, formas, cheiros e sons. Claro, estamos usando nossos 5 sentidos durante o tempo todo. E a nossa memória é um mecanismo ainda a ser muito pesquisado. Quando José Paulo de Andrade anunciou na última Sexta-feira, durante o "Jornal Gente" da rádio Bandeirantes, a morte de José Manglioli, acabou lembrando do velho colega de profissão quase de memória. As informações que possuía sobre sua morte pareciam ser poucas. Afinal, eram 8 e meia da manhã e Manglioli falecera às 6h. Engraçado, José morreu bem na hora em que vai ao ar um programa que ele e Zé Paulo criaram há quase 30 anos, na melhor fase da minha infância: "O Pulo do Gato", que, com certeza, é o programa mais original do radiojornalismo em língua portuguesa. É segundo programa mais antigo da rádio Bandeirantes e líder de audiência em seu horário.

Como se não bastasse, "O Pulo" está há 27 anos sendo apresentado pelo mesmo José Paulo de Andrade, que naquele triste momento se detinha em relembrar boas passagens do bom companheiro que se fora. Ao seu lado, Salomão Esper, esmerava-se em exaltar as qualidades de seu também ex-colega José Manglioli. E não era elogios em vão. José era um gênio porque tinha sensibilidade para fazer rádio e bom senso para dirigir uma emissora, segundo disse Marcelo Parada, também integrante da bancada de apresentadores do "Jornal Gente", que, por sinal, o finado também ajudara a colocar no ar.

Assim como o Parada, não tive a oportunidade de trabalhar com o homem que apresentou um programa igualmente original chamado "O Poder da Mensagem" e que muitos anos depois virou livro. José parecia ter repulsa à fotografia porque não vi muitas imagens de seu rosto enquanto era vivo. Porém, sua voz era inconfundível. Tão inconfundível que virou um dos mais famosos personagens de outro gênio: Chico Anísio. Roberval Taylor foi inspirado no seu estilo de locução que marcou várias gerações.

José Manglioli não era só um gênio do rádio. "Era do ramo", como costumava dizer outro companheiro seu - Jonas Rosa - e soube conduzir a programação da Bandeirantes com seu talento pelos difíceis anos da ditadura militar. Depois de sair da Bandeirantes foi para Nova York, provavelmente ensinar aos americanos como se faz rádio popular e com qualidade. De volta ao Brasil em 95, ele vai para a Rádio Globo de São Paulo onde tem a ingrata missão de substituir Eli Correia, que partira para a Rádio Capital. O público era outro, a época era outra, mas Hélio Ribeiro, nome artístico que José Maglioli adotara em sua vida radiofônica, continuava o mesmo, dando aulas diárias de radiodifusão na prática para quem quisesse ouvir.

Hélio Ribeiro / Zé Manglioli deixou lições que sumiram no ar. Mas o certo que muito de seus colegas, sucessores ou simples ouvintes as aprenderam e as usam até hoje, perpetuando sua obra.

Ouça trechos do programa "O poder da Mensagem", da Rádio Bandeirantes (1978)

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