O diretor artístico da rádio Mix FM, Marcelo Braga, é um colecionador inveterado. No apartamento de 210 metros quadrados onde mora com a mulher e a filha, no Morumbi, ele guarda 220 miniaturas de carros de Fórmula 1 e 320 camisas de times de futebol. Seus 50.000 discos de vinil e os 30.000 CDs foram transferidos para a casa de seu irmão na Chácara Flora. A coleção que Braga cuida com singular devoção, entretanto, não ocupa espaço, mas tira-lhe o sono: é a de altos índices de audiência no rádio. Há um ano e meio, depois de dirigir com sucesso a Transamérica e a Cidade, ele foi contratado para colocar a Mix no topo do chamado segmento pop-rock.

Quando aportou na estação, ela ocupava a 17ª posição. Hoje, segundo o Ibope, está no décimo lugar. Parece pouco, mas esse é o ponto: Braga não disputa os primeiros lugares, que pertencem a emissoras populares, como Cidade, Nativa e Transcontinental. Sua faixa - que compreende as rádios Brasil 2000, Transamérica, Jovem Pan 2 e 89 FM, a maior rival da Mix - concentra jovens das classes A, B e C. Essa é a liderança que ele busca. "O que me interessa é a molecada que tem dinheiro", define.

"Não há segredo: o nome do jogo é trabalho", costuma dizer Braga. O trabalho: catorze horas diárias, incluindo sábados e feriados. O segredo: na verdade, existem muitos. Antes de Braga, a Mix transmitia um apanhado de rocks clássicos, intercalados de pop corrente. O primeiro passo foi redefinir o público. "Uma amostra dele estava no meu quintal", conta, referindo-se aos alunos do Colégio Objetivo da Avenida Paulista, instalado no mesmo prédio da estação (aliás, o dono de ambos é o empresário João Carlos Di Gênio). Braga investiu em promoções e novas atrações, como a turma do Casseta & Planeta e o humorista Felipe Xavier, ex-Sobrinhos do Ataíde, que faz o super-herói Homem-Cueca. Copiou fórmulas da concorrência, como o programa Guilhotina, versão meia-boca do Pressão Total, da 89, uma espécie de teste de conhecimentos gerais. E, para atrair audiência fora do terreno do rock, decidiu lançar mão de babas e acelerou o andamento das canções. "O ouvinte deve ter a sensação de que a música que toca aqui é mais animada", afirma.

Ao tentar unir características tão distintas quanto as da 89, da Pan, da Brasil 2000 e da Transamérica, ele atira em várias direções. A programação é um exemplo disso. Basicamente, há sempre um hit batido (Losing My Religion, do REM, ou qualquer coisa velha do U2), uma música para "conceituar a rádio" (Pet Sematary, dos Ramones), um pop bonitinho (É Proibido Fumar, com Skank), um pop romântico (Miss You Love, do Silverchair) e alguma baba recente (a tenebrosa Tele-fome, do tenebroso Jota Quest). Músicas muito barulhentas são proibidas, a não ser que sejam sucesso comprovado. Duas baladas em seqüência, jamais. "Ele tem inteligência, profissionalismo, paixão pela música e integridade", diz Sérgio Affonso, presidente da Warner Music do Brasil. Roberto Müller Maia, diretor da Brasil 2000, faz outra avaliação. "É fácil criar uma rádio com base em outra que alguém já fez com sucesso", acredita. Luiz Augusto Alper, diretor da 89, também critica os métodos de Braga: "A gente tenta agregar qualidade, entretenimento e ética, o que eu não vejo na Mix. Ele usa uma estratégia marqueteira, sem projeto artístico".

Aos 36 anos, Braga ganha um salário de 35.000 reais. "Eu multipliquei o faturamento da Mix por oito", afirma. De origem relativamente humilde, ele se transformou em um self-made man. Em 1988, quando chegou a São Paulo, pilotava um Dodge Polara branco mais velho que os Titãs. Saía com ele para animar bailinhos na periferia e complementar a renda de locutor. Hoje, desfila em um BMW 2000 ou em uma perua Pathfinder 1998. Filho de um médico da Aeronáutica, nasceu em Porto Alegre e cresceu no Rio de Janeiro. É botafoguense roxo. Sempre que pode, pega um avião para ver seu time jogar. Não freqüenta festas, cinemas nem teatros. Vai muito a shows e viaja para a Europa todo ano. Almofadinha, vive com o cabelo lambuzado de gel e de calça e camisa social (geralmente suada, para conferir uma imagem de trabalhador). Fica ligado na programação como um cão de guarda. Ao menor desvio de suas orientações, interrompe o que está fazendo, corre para o telefone, indignado, e dá uma bronca no responsável. Jura que não ouve outras emissoras, mas apenas se mantém informado sobre elas. "Se seu inimigo estiver fazendo besteira, não o incomode", diz. "Tocamos para o jovem com até 35 anos de idade. Se ele passar a preferir forró a rock, forró é o que vai ouvir."
Frequência modelada
Marcelo Braga, o homem que transformou a Mix FM em sucesso entre os ouvintes de rock
Por Fernando Sousa
Braga, 36 anos, 35 mil reais de salário: "Tocamos para o jovem. Se ele passar a preferir forró, forró é o que vai ouvir"
Truques que alavancam o Ibope
Três jogadas da Mix para conquistar público e subir a audiência
Inspiradíssimo no Pressão Total, da 89 FM, o programa Guilhotina, apresentado por Eliana Chuffi e Fernanda Miranda, põe ouvintes no ar para responder a um teste. "Não vejo problema em adaptar aquilo que é bom e bem-feito", diz Marcelo Braga. "Isso é do jogo"
Xerocar a concorrência
Retalhar hits
Fundir músicas
Para atrair público de outras rádios, Braga faz fusões de canções pesadas e leves. Numa dessas mixagens, juntou uma "baba" da banda adolescente Five com coros grandiloqüentes do Queen. Ficou uma loucura!
Californication, hit da banda Red Hot Chili Peppers, tem dois de seus cinco minutos originais amputados. "Aqui, o público sabe que não será agredido por mais de três minutos"
Veja SP, 22 de novembro de 2.001
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