Lobão errou: abaixo as rádios "comunitárias"

Sem dúvida alguma, o cantor e compositor Lobão já se transformou no personagem mais polêmico da música brasileira nesse fim/começo de milênio. Quer por sua atitude guerrilheira de vender 50 mil cópias sem contar com o esquema de distribuição/divulgação de CDs das grandes gravadoras, quer por suas entrevistas bombásticas em programas como o de Márcia Peltier , na Band e na revista Caros Amigos, nas quais ele chama, os grandes cantores e vendedores de disco do País de "bundões"(ou parafraseando o meu amigo José Nello Marques, artistas fonográficos de ancas largas e gelatinosas). Lobão criticou principalmente aqueles sagrados grandes nomes da tão elogiada MPB que, segundo ele, nada fazem para defender os próprios direitos sobre as vendas de disco.

Porém, o nosso "guerrilheiro" da música ia indo muito bem, até que resolveu falar demais. Não tive o privilégio de ouvir a famosa "entrevista" que ele teria dado a um pool de emissoras "comunitárias" recentemente. O que é de se estranhar, uma vez que até a coluna de rádio da Ilustrada, da Folha de São Paulo, disse há 3 ou 4 semanas, que as grandes líderes de audiência do dial paulistano estão perdendo público para as rádios clandestinas que se aboletam pelo éter. Gostaria de saber se ele foi tão veemente em seus elogios às rádios comunitárias, assim como o foi nas críticas às grandes rádios e gravadoras. Constantemente, o velho e grande Lobo tem elogiado o "trabalho" das rádios piratas que, segundo ele, "divulgam e dão voz à comunidade local".

Seria bom se fosse verdade. Antes de discordar do nosso principal ícone da indignação atual, quero mostrar alguns conceitos que aprendi há muito tempo quando militava no jornalismo radiofônico: rádio pirata, rádio clandestina, rádio livre e rádio comunitária são 4 coisas totalmente diferentes.

De acordo com o famoso livro "Rádios Livres - a reforma agrária no ar" de Arlindo Machado, Marcelo Masagão e Caio Magri (Editora Brasiliense), rádios clandestinas são aquelas emissoras que funcionam sem prévia autorização governamental. Rádios piratas são todas as rádios clandestinas que transmitem com o objetivo puro e simples de ganhar dinheiro. Rádios livres são as estações de rádio clandestinas que se preocupam em criar algo novo, revolucionar a linguagem e o conteúdo, dar voz ao ouvinte, abrir o leque de opiniões, enfim, fazer o veículo de uma maneira geral se tornar realmente vivo sem se preocupar tanto com o vil metal.

Embora o livro não traga a definição do que seja rádio comunitária, qualquer leitor mais ou menos atento perceberá que as emissoras livres e as comunitárias são (ou deveriam ser) mais ou menos a mesma coisa. Porém, as comunitárias, segundo o eufemismo tucano em vigor, teriam o patriótico dever de "prestar serviço à comunidade".

Infelizmente, mas infelizmente mesmo, as nossas rádios ditas comunitárias nada mais são do que rádios piratas. Elas vão sim, unica e exclusivemente, atrás do dinheiro, sem se importar em fazer cópias mal feitas das chamadas rádios "segmentadas" oficiais. Até aí, morreu Neves. Se eles encaram o veículo rádio como um negócio qualquer, azar deles já que poderiam aproveitar o ensejo e colocar um pouco mais de criatividade no ar. Se os ouvintes dão audiência a esta turma, azar dos ouvintes, uma vez que estão dando ouvidos a emissoras mal produzidas e mal copiadas, que não acrescentam coisa nenhuma a nada, atentam contra a inteligência do radioespectador, assasinam a gramática e, ainda por cima, nem sequer geram empregos a técnicos e profissionais competentes do ramo. De quebra, elas ainda interferem na programação das rádios oficiais. Traduzindo: interferem no seu e no meu direito de ouvir ou não as emissoras legalizadas.

Mas o pior de tudo mesmo é que as ditas rádios comunitárias ou estão a serviço da "evangelização" (o que é discutível) ou a serviço de políticos inescrupulosos (o que é inadmissível!). Isto quando não estão a serviço de ambos (o que é o fim da picada!!!!).Quero deixar claro que sou contra emissoras as ditas emissoras "comunitárias". Duvido que elas acrescentem alguma coisa., principalmente à faixa de FM. Os camelôs, os perueiros e os "sem teto" do pedaço inventaram algo que eu chamaria de "direito adquirido na marra". Ou seja, primeiro invadimos, depois exigimos os direitos que não temos.

Com as rádios "comunitárias" é assim também. Eles simplemente se travestem de "democratas", invadem o dial e atrapalham a vida das estações oficias que, pagam impostos, geram empregos, participam da economia e da cultura da cidade e fazem a história do rádio em São Paulo e no Brasil. Além do mais atazanam a vida do ouvinte, interferindo literalmente no direito ou não de ouvir uma emissora devidamente legalizada. Eles alegam de que dão voz e vez ao público de seu "bairro". Isso é conversa mole!!!!!! A única coisa que eles visam é o lucro financeiro ou político, fácil e certo, sem qualquer tipo de ônus ou imposto. Como diria meu amigo Vandir dos Santos: "Desse jeito, até eu!!!!". Se elas fossem boas, alguma rádio clandestina já se sobressairia no meio de milhares que infelizmente invadiram a Grande São Paulo.

É preciso ter critério quando se fala ou se estabelece uma política de radiodifusão. Não se pode ir fazendo as coisas a torto e a direito. Há limitações técnicas e operacionais, principalmente em São Paulo. Vir com discurso "esquerdista" barato não cola mais. Muitos se esquecem de que vida democrática, entre outras coisas, implica cumprir seus deveres e respeitar os direitos de outrem. E é nisso que reside a força da democracia.

Marco Antonio Ribeiro

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