A frustração da Kiss FM (publicado no website Volta, Maldita)

Radialismo rock paulista sofre com a ditadura dos locutores pop

Alexandre Figueiredo

A Kiss FM foi anunciada como uma esperança no radialismo rock de São Paulo, que vive uma fase terrível, de um comercialismo grotesco. A segmentação do rádio paulista já é problemática, bem mais do que se pode supor para uma capital tão famosa por ser cosmopolita, a maior da América Latina.

O rádio paulista mais parece uma versão menos cruel do rádio do Norte / Nordeste em seus tempos generosos. Os interesses comerciais estão acima dos culturais e, por trás deles, interesses políticos respiram independente de sigla partidária. Das 32 FMs paulistas, pelo menos cinco delas perdem tempo retransmitindo, na mesma Grande SP, AMs já existentes e atuantes, o que dá justa causa para FMs piratas entrarem no mesmo espaço das "retransmissoras" de AM entre as FMs. Outras fazem "arremedos" de rádio AM, atrofiando cada vez mais a programação musical, tudo em nome do "bom jornalismo" que agrada políticos do planalto e ouvintes narcisistas que têm medo de ouvir rádio AM e ouvem FM com a "tranquilidade" com que falam pelo celular enquanto dirigem seus carros. Fora elas, o problema está no hit parade viciado que invade até as rádios ditas "classe A".

Em termos de "rádios rock", então, a situação é grave. Predomina a fórmula descartável da rádio pop, bem hit parade, fantasiada de "rádio rock". Há aquele repertório musical repetitivo e limitado, aquela mentalidade comercial, os locutores engraçadinhos preocupados mais em ser "bacanas", mas existe aquela pompa, geralmente transmitida pelas declarações do coordenador da rádio à imprensa, ou através do marketing.

Aparentemente, eram três rádios de rock em São Paulo: 89 FM, Mix FM e Brasil 2000. Hoje em dia nenhuma delas possui uma qualidade considerada boa em termos de radialismo rock. A Kiss FM, que já teve uma experiência entre 1997 e 1999, era uma esperança, por sua proposta privilegiar o rock antigo, no auge da criatividade, ou seja, os anos 60 e 70.

A volta da Kiss FM, tão cobrada pelos ouvintes, uma vez realizada, ganhou alarde na imprensa. Anunciou-se que até discos raros de vinil foram adquiridos pela produção da rádio para serem gravados em CD-R especialmente para execução na emissora. Destes discos, encontravam-se até raros álbuns de bandas psicodélicas. Enfim, a promessa de uma rádio genial foi lançada.

No entanto, passado algum tempo, pouco mais de um mês, a coisa desandou. Locutores pop, alguns engraçadinhos, comprometeram o perfil rock autêntico da emissora, irritando aqueles que apostavam que a Kiss iria revolucionar. Descobriu-se que, no pessoal da emissora, há gente vinda de experiências constrangedoras em outras rádios, como Paulo Mello (Transamérica e Mix FM) e Morcegão (89 FM e Mix FM).

Segundo queixas de ouvintes mais exigentes, na Kiss FM, além da repetição de músicas, hits fáceis como os de Phil Collins, Queen, Dire Straits fase Brothers In Arms estão até dificultando a divulgação do chamado "lado b" do rock, que era o que mais interessava. Além disso, os locutores da chamada programação diária, inclusive Morcegão, erram informações, fazem comentários "engraçadinhos" e trocam o nome das músicas, como se estivessem ainda trabalhando na Mix FM.

A impressão que se tem no radialismo rock paulista é que a 89 FM virou um modelo, aquela fórmula viciada que fica entre o quase alternativo e o quase pop. Problemas na Kiss FM se notam até na emissora homônima da 89 FM em Amparo, interior paulista. A 89 FM de Amparo, apesar de não ser vinculada à xará da capítal, adota a fórmula fácil do quase alternativo e quase pop, na tentativa de agradar de headbangers e punks raivosos até patricinhas riquinhas.

Dessa forma, cabe tudo, de locutor experiente e conhecedor de rock clássico, até aquele locutor mauricinho daquela linha popularesca-romântica, mas que só por ter mais de cinco anos trabalhando com rock pensa ser especialista no gênero. É aquele locutor, que se gaba de ter começado sua carreira numa rádio pop ou popularesca, foi contratado numa "rádio rock" por ser amigo de fulano ou sicrano, ganha experiência e aí, do aspirante a César Filho, passa a ser uma caricatura politicamente correta e pretensamente séria do Leopoldo Rey.

É por isso que as pessoas que moram fora do Estado de São Paulo se dividem entre ingênuas, acreditando que os paulistas gostam de locutores mauricinhos e rock comercial (tipo Guns N'Roses) porque têm uma razão transcendental por trás, ou entre céticos, que acham que os jovens paulistas, salvo uma minoria honrosa, só ouvem rock autêntico para impressionar os amigos, mas no fundo gostam de música brega.

Espera-se que outro erro no radialismo rock não apareça, porque a decadência do radialismo rock se deu porque, ao invés de levar-se em conta o formato criativo e radicalmente alternativo da Fluminense FM, preferiu-se adotar o formato fácil do "quase alternativo e quase pop" da 89 FM, a partir dos anos 80.

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