Maldito general Augusto Pinochet, meu irmão

Régis Antônio Coimbra
14 de janeiro de 2000

Como não repetir o erro que te atribuem
ainda que em menor proporção?
Como entender a truculência extrema
e aceitar a relativa impunidade?
Como julgar-te com justiça
sem te torturar contraditoriamente?

E mesmo te torturando com selvageria
como mudar tua íntima satisfação
teu conceito de certo e prioritário
e não, ao contrário
repetir e reforçar tais convicções e orgulho?
ou a lógica que te levaram a eles?

Aliás, por que é tão difícil ser
realmente melhor do que tu
exceto por não ter tido
o poder e as circunstâncias?

Por que é tão difícil aceitar
que és feito da mesma fibra que eu
que amas, odeias e tens ideais
como eu e os que mataste?

Por que é tão difícil não só perdoar
mas mesmo te entender e acolher
dando o único exemplo que nos redimiria
do vicioso círculo da vingança?

Terrível general Augusto Pinochet
por que te deixaste capturar tão tarde
tão velho e indefeso, sem escapatória?

Tua maior crueldade foi te mostrar tão frágil
diante de meu olhar tão cruel e intolerante
que em teu banal rosto de avô cansado
encontrei nada mais nem menos que um espelho

Mais cruel que este espelho
apenas os olhares dos que nem isso notaram
e atacam com inconsciente fúria
seus reflexos potenciais em tua efetiva biografia
e imagem pública

Por quão pouco não cometi teus erros?
por quão pouco não te condenei
com ainda maior insensibilidade?

Por quão pouco ainda não fui eu mesmo linchado
por esse atávico ódio que nos separa
bons e maus ou vice-versa
como reciprocamente nos julgamos
condenamos e perseguimos?

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