* *A S   R A D I O S * *




RÁDIOS UNIVERSITÁRIAS: ESCOLA OU PASSATEMPO?

Por LUIZ MARANHÃO FILHO

INTRODUÇÃO

           As pesquisas que têm envolvido o meio Rádio, em nosso país, além de representarem diminuta abordagem quantitativa do tema, deixam nos analistas, muito mais dúvidas do que respostas. Há um fator que se torna agravante na área, que é justamente a imprecisão terminológica. Ela é causada, certamente, pelo distanciamento entre a Academia e o meio profissional, pela carência profunda da abordagem histórica e pelas tentativas, sempre infrutíferas, de assimilar, no Brasil, modelos latino-americanos que diferem muito mais do nosso espectro do que as posturas ainda existentes no mundo europeu, onde se fundamentou o nosso Rádio.

           A contribuição que pretendemos oferecer na análise de um segmento que deveria ser identificado como RÁDIOS UNIVERSITÁRIAS, tem por objetivo básico, apresentar referenciais concretos que podem demonstrar a possibilidade de construção de um perfil para esses prefixos. Esses pontos identificáveis tem uma vinculação estreita com o próprio Ensino da Comunicação Social, emborao fenômeno seja anterior ao currículo.

           Não se pode negar que a atualidade radiofônica do país, em termos de arte e cultura, é deplorável. O status quo não resiste ao menor confronto com a memória brasileira. Nem por isso, no entanto, devemos aceitar que as Universidades Brasileiras detenham concessões de freqüências radiofônicas, sem oferecer um projeto ou uma proposta para as mesmas, enredando-se na mesmice e na precariedade do sistema com um todo.

           Para utilizar uma preliminar introdutória, cumpre-nos situar o meio Rádio em sua concepção mais explícita. O Rádio é um sistema de comunicação que utiliza exclusivamente o som, para conduzir uma mensagem definida. Está indissoluvelmente ligado a um suporte eletrônico, como forma de acesso a um espectro internacionalmente reconhecido como tal.

           Ao colocar o conceito encapsulado em parâmetros estreitos e rígidos, revelamos a intenção, também explícita, de analisar o Rádio como sinônimo de Emissora Radiofônica, abstraindo do debate, qualquer sofisma que se queira impor ao público, tal como é o caso de "serviços de alto-falantes", redivivos com o rótulo de Rádio Popular, onde se insere uma demagógica intenção político-partidária. Isto não é Rádio e, portanto, isto não está em análise.


BREVE HISTÓRICO

           Em abordagens anteriores, como é o caso da obra Memória do Rádio (1º Prêmio Roquette Pinto de Monografias, realizado em 1983, pela Funtevê/Conselho Nacional do Direito Autoral), pesquisamos as origens do meio no Brasil, a fim de comprovar o pioneirismo do Rádio Club de Pernambuco, fundado em 06 de abril de 1919. Contrariamos, por uma questão de verdade histórica, o oficialismo que ainda insiste em consagrar a experiência de 7 de setembro de 1922, quando por ocasião do 1º Centenário da Independência do Brasil, como um marco do primeiro contato entre um emissor de Rádio e o público receptor do Rio de Janeiro.

           Não se trata de retomar o debate, mas considerar que o cientista Edgard Roquette Pinto, ao instalar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, no ano de 1923, formulou, de fato, o primeiro projeto de utilização do meio em função de um objetivo educacional. Fugiu do campo exploratório dos iniciantes da Física e da Eletricidade, aspecto que marcou as conquistas pioneiras do sacerdote gaúcho Roberto Landell de Moura, no final do século XIX, do próprio inventor italiano Marconi, dos pernambucanos da Escola de Eletricidade do Recife e de tantos outros que construíram artefatos, identificaram recursos técnicos e romperam a cortina das ondas hertezianas com o advento do som.

           O rádio de Roquette Pinto foi educativo, sem ser instrutivo, foi complementar da formação do povo sem ser acadêmico, foi, no dizer do próprio líder, "a escola dos que não sabem ler". No entanto, a sua iniciativa envollveu a participação de particulares, limitando-se o Estado de então - a nascente República de pouco mais de três decênios - a figurar como doador dos transmissores exibidos nas festividades do Rio, cabendo aos donatários o ônus da efetivação e manutenção do projeto.

           A postura da iniciativa privada se repetiu em Pernambuco, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, onde quer que nascesse uma mensagem sonora, caracterizada como Radiofonia ou Radiodifusão, dois caminhos diversos trilhados pelos pioneiros. Isto quer dizer que o rádio estatal esteve ausente no nascedouro do meio, pois nos anos vinte, não houve uma só prefeitura de capital ou interior que levasse avante um projeto semelhante.

           Em termos de História, uma ênfase se faz necessária para situar os dois pólos: Estado e Rádio. São unânimes os historiadores em apontar o fato de que, salvo por ocasião da festa promovida no Rio pelo presidente Epitácio Pessoa, em 1922, o Estado brasileiro só veio a tomar conhecimento do rádio, quando os patriotas chefiados por Isidoro Dias Lopes em São Paulo, no levante de 1932 com fins constitucionalistas, utilizaram as ondas da Rádio Record e as vozes de César Ladeira e Renato Macedo para conclamar os concidadãos a pegar em armas contra Getúlio Vargas. O governo não possuía um canal ou uma freqüência para enfrentar a revolta, porque todas as emissões pertenciam à iniciativa privada.

           Para resguardar, historicamente, mais um primeiro lugar nordestino, é preciso mencionar que a primeira emissora de rádio, erigida no país com dinheiro público, foi a RÁDIO TABAJARA DA PARAÍBA, inaugurada em 1937, com a incrível coincidência de ser contemporânea das intenções políticas do ministro José Américo de Almeida em suceder o chefe da Revolução de 1930 no governo da Nação. Mas a emissora paraibana, mesmo estatal, não nasceu educativa nem jamais exerceu tal papel.

"AD ARGUMENTANDUM"

           Se o Estado da Paraíba investiu recursos, em 1937, para implantar uma rádio estatal, dois anos antes o governo da República começara a dar igual destinação a uma verba pública, para a manutenção da recém-criada RÁDIO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - na modernidade, conhecida por Rádio MEC. Mas, tal canal não foi implantado, posto que ele estivera no ar, por doze anos consecutivos, na condução de Roquette Pinto que, tocado pelo desencanto de constatar a indiferença do poder público e pela falta de participação da comunidade, devolvera ao Estado, os equipamentos doados e um sistema já instalado, com a condição de se prosseguir na tarefa de manter uma emissora não comercial e de cunho educativo.

           O novo rótulo da emissora que substituiu a RÁDIO SOCIEDADE DO RIO DE JANEIRO, mesmo usando um Ministério do Estado, não conseguiu fazê-la educativa, no sentido popular sonhado por Roquette Pinto. Forjou-se uma emissora elitista, voltada para o erudito, sem conseguir jamais o seu espaço. Assim, o país ficou órfão da propalada educação pelo rádio, limitada a palestras de figurões nas datas cívicas, pois faltou-lhe uma sistematização na programação e um caráter realmente instrutivo stricto sensu.

CARENCIA DE DADOS

           Com a imposição dos governos militares a partir de 1964 e a normatização das posturas vinculadas à Comunicação, procuraram as autoridades educacionais do país, voltar os olhos para os veículos de massa que, de uma forma ou outra, construíam a opinião pública. O Rádio foi o alvo das primeiras investigações, porque uma emissora estatal, encampada em 1937 por Getúlio Vargas subtraindo-a ao grupo empresarial do jornal A Noite, destacava-se no cenário radiofônico como um veículo que impunha respeito e cuidados: a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

           Os dados colhidos foram vagos e imprecisos, por isso que é temeroso afirmar, salvo prova em contrário, ter sido a UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, a primeira instituição de ensino superior, da órbita do poder público, a requerer a concessão de um canal radiofônico. Mas, como subsídio a uma historiografia que poderá ser consolidada mais tarde, poderemos assegurar, com toda a certeza, que a RÁDIO UNIVERSITÁRIA DO RECIFE foi a primeira do segmento, na região nordestina. A sua concessão é de 1963, ano do seu funcionamento com um transmissor "Telefunken" de 1 quilowatt, instalado no "campus" do Engenho do Meio, enquanto seus estúdios e setores de produção funcionavam na rua do Hospício, na parte posterior do prédio da Reitoria da instituição que se chamara anteriormente Universidade do Recife.

           A concessão foi dada para Onda Média, na freqüência de 870 quilociclos, espremida no "dial" entre a pioneira Rádio Club de Pernambuco e o canal do poderoso grupo Pessoa de Queirós, proprietário do Jornal do Commercio, do Recife. Sofrendo todas as pressões dos harmônios de estações de maior potência, o prefixo conseguia ser sintonizado por uma elite à qual se destinava a sua programação, fundada no erudito e nos registros científicos e culturais dos eventos. Cinco anos depois, com a conquista de um canal de televisão pela Universidade Federal de Pernambuco - este, de fato e de direito, o primeiro canal de televisão educativa do país - a Rádio Universitária do Recife teve deslocadas as suas atividades de produção para o mesmo edifício da TV, na avenida Norte, mantendo o seu transmissor no "campus", onde permaneceu até a sua retirada do ar, em meio a um episódio que precisa ser contado.

           A Universidade Federal de Pernambuco, com o desenvolvimento técnico da eletrônica, desejou estreitar as distâncias entre os seus estúdios e o transmissor. Para tanto, requereu ao Ministério das Comunicações, a necessária autorização para promover este enlace, na forma adotada em todo o país, a freqüência modulada. Qual não foi a sua surpresa ao receber a concessão de uma freqüência aberta no espectro, para operar em FM que era novidade no país. Esta concessão foi a primeira outorga para o Estado de Pernambuco e, simplesmente por questões burocráticas que retardaram a instalação, a nova emissora ficou sendo a segunda do Recife, ultrapassada pela Rádio Transamérica que inaugurou primeiro.

           O que ficou de inaceitável no episódio foi a pressão que veio em seguida, por parte dos órgãos do Ministério das Comunicações, para que a onda média fosse ampliada para 5 quilowatts, no mínimo, o que implicaria na aquisição de um novo transmissor e de um novo sistema irradiante para a torre. O Ministério da Educação socorreu a instituição, através da sua "Fundação de Televisão Educativa" - FUNTEVÊ - doando um novo transmissor, mas a solução não veio, diante do descompasso - ou das más intenções do MINICOM e do Ministério da Aeronáutica, que negaram a aprovação da continuidade da torre no mesmo lugar, alegando-se incompatibilidade jamais explicada, com o cone de descida dos aviões no Aeroporto dos Guararapes. Todos os projetos de relocalização da torre, apresentados pela Universidade, foram indeferidos e muitas vezes até ignorados pelos órgãos do governo. Na área do Grande Recife ou em municípios vizinhos, a instituição obteve oferecimentos de terrenos, mas a palavra oficial sempre foi negativa, como se a real intenção do Governo fosse a reconquista do canal, para nova concessão a terceiros.

           Até nossos dias, a situação não se resolveu, pois um novo projeto de redimensionamento da torre e de instalações já concluídas no mesmo "campus" da UFPE ainda esbarra na morosidade das autorizações estatais. A onda média está fora do ar, já no segundo decênio e o projeto para a emissora trafega nos corredores da Reitoria.

ALGUMAS CONSTATAÇÕES

           O Nordeste obteve outros canais universitários, após a instalação da freqüência modulada em Pernambuco. O caso da Paraíba é digno de análise, posto que, dada a concessão à Universidade Federal da Paraíba, a instalação da emissora só foi possível com a criação de uma entidade mista, a Fundação Virginius da Gama e Melo, que tem a participação inclusive de uma universidade confessional privada e da prefeitura da capital.

           Com um quilowatt de potência e instalações precárias no "campus" da UFPB, a simples transferência de local dos estúdios desencadeou uma crise sem precedentes, o que levou à total inatividade da emissora. A concessão não foi renovada, havendo referências à tentativa dos últimos reitores da instituição em recuperar o seu canal radiofônico.

           A Universidade Federal do Ceará também conquistou a sua Freqüência Modulada que é operada em um sistema ligado ao gabinete da Reitoria e desvinculada do próprio sistema de ensino. O que se registra, também em relação a este canal, é uma sucessão de reformas, modificações de filosofia, crises internas e externas.

FALTA DE DEFINIÇÃO

           A utilização, reconhecemos que extensa, de dados concretos da existência dos canais, para fundamentar a análise, tem uma justificativa. A própria história de cada emissora comprova a descontinuidade interna e o distanciamento externo do segmento.

           Torna-se difícil, no emaranhado que é a legislação brasileira de comunicações, distinguir uma RÁDIO UNIVERSITÁRIA. O texto legal que normatiza o funcionamento do rádio como um todo - Código Brasileiro de Telecomunicações - não especifica a característica da rádio estatal. Tanto é assim que a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, as emissoras satélites, que os governos militares instalaram na Amazônia, os canais que são propriedade dos governos estaduais, como é o caso da Tabajara, todos se regem pelo mesmo modelo das emissoras comerciais privadas; recebem anúncios, não tem compromisso com o educativo, assumem um perfil próprio e assistemático.

           As emissoras ditas educativas são disciplinadas pelo Decreto nº 236 que, na sua essência, trata exclusivamente de televisão e não aborda especificamente o rádio. Chega-se ao extremo de utilizar o art. 13 e seu parágrafo único, que proíbe a TV-Educativa de ter acesso à propaganda comercial, para proibir também o rádio.

           A rede educativa de rádio e televisão, coordenada pela Fundação Roquette Pinto, do Ministério da Educação, viola a autonomia das Universidades, ao integrar os seus canais ao seu sistema de repetição. A única tentativa havida de integração, tendo na cabeça da rede, a Rádio Ministério da Educação, fracassou há mais de dez anos; o sistema não conseguiu gerar para o país, um jornal radiofônico sob a forma de intercâmbio. Sua efetivação se resumiu a dois projetos de curta duração.

           Não há um só texto legal que utilize a expressão RÁDIO UNIVERSITÁRIA. Legisla-se para o rádio educativo, atualmente todo voltado para uma postura supletiva de primeiro e segundo graus, o que não é atribuição da Universidade, destinada ao terceiro grau.

O PORQUE DOS FRACASSOS

           Há uma característica que marcou todas as emissoras universitárias em seu advento: a desvinculação do ensino, da pesquisa e até da extensão. Canais concedidos foram, de imediato, atrelados aos gabinetes de Reitores e passaram a figurar como instrumento de "marketing político" dos dirigentes. Nos seus tempos ociosos, que representam a maioria da programação, ficam à mercê do dirigente nomeado que não sofre a obrigação legal de ter seu nome submetido à aprovação ministerial.

           Via de regra, o dirigente, que não é radialista profissional, adota a postura elitista. Dirige a emissora para a música clássica, para os gêneros eruditos, põe a informação e a notícia em segundo plano e hostiliza a música popular brasileira e a programação ao vivo.

           Há, na longa existência desses canais, privilegiados pela concessão do poder público, sem obedecer à concorrência, alguns aspectos que apontam para as causas do fracasso do modelo. O ponto crucial é a descontinuidade administrativa. Sucede-se a falta de um projeto e a semelhança com os canais comerciais, faltando-lhes apenas a publicidade.

           Sem dispor de orçamento para modernização e sem um quadro definido de pessoal, a Rádio Universitária joga no ar, uma salada mista de programas que não são condizentes com o perfil da Universidade a que pertencem.

O CONFLITO DA JURISDIÇÃO

           Em todos os momentos em que se debateu o rádio educativo no Brasil, houve um clamor por parte dos Cursos de Comunicação Social no sentido de obter o comando e o controle das emissoras pertencentes às Universidades. Entendem professores da área que esses canais devem ser vistos como laboratórios experimentais de seus alunos. Dentro do seu projeto, o universitário produz o texto do programa, executa a sua operação artística e deixa a cargo de uma equipe de apoio, integrada por profissionais da área técnica, a manipulação dos aparelhos. Em alguns casos, vai-se ao extremo de pedir para o aprendiz, a tarefa de gravar, de executar a sonoplastia e demais missões do rádio.

           O que sempre se alegou como óbice a essa pretensão foi o fato de que uma emissora de rádio não pode ficar sujeita a períodos de recesso escolar e nem deve dispensar pessoal nas primeiras horas da manhã nem nas últimas da noite. O que nunca se perguntou aos professores foi a respeito de sua polivalência. Estaria ele habilitado a ensinar a fazer uma locução, a realizar uma reportagem, a executar uma contra-regra e uma sonoplastia, a ministrar uma redação de texto, ora jornalístico, ora musical, ora humorístico, ora científico, enfim?

           Devemos ter em mente que a RÁDIO UNIVERSITÁRIA não é ESCOLA. Não se pode "ensinar a fazer" com a emissora no ar, posto que a legislação brasileira impõe padrões, isto é, o repórter que vai às ruas terá que ter, obrigatoriamente, além do diploma, um registro de jornalista. O profissional do rádio tem um horário a cumprir, genericamente de seis horas corridas para um locutor que está na cabine. Em que momento este misto de radialista-estudante teria, de fato, disponibilidade para a sala de aula? Na verdade, uma análise do currículo mostrará que o aluno cumpre, no máximo, uma disciplina de rádio por semestre, com duas aulas semanais. Como faria a direção da emissora para preencher todos os seus horários, sabido que as normas de telelcomunicações do país exigem um mínimo de 18 horas de operação de uma emissora, incluindo sábados e domingos.

           O que compete à Escola é a formação de quadros, para operar não apenas as rádios do mercado, mas os estúdios de produção e de dublagem de filmes para a televisão. Se a escola não oferecer profissionais do som às empresas, em breve não teremos mais dubladores para os desenhos animados, por exemplo. O rádio-teatro foi extinto das emissoras, mas não pode ser ignorado pelas escolas.

           Pergunta-se mais: como enquadrar o estudante nas responsabilidades civil e penal de quem colhe, elabora e transmite informação, se ele executa uma terefa pedagógica pela qual se responsabiliza o seu professor. Além disso, o aprendizado de radialismo, na Comunicação Social, não se limita nem se restringe às rádios ditas educativas. O estudante tem que aprender o rádio comercial e isto ele não faz em um canal cuja outorga proíbe a menção publicitária.

           A missão dos cursos de comunicação social é formar quadros, é realizar a pesquisa da mensagem radiofônica que vem desde ontem, dos modelos do passado e da experimentação do futuro. Será que o local de tal pesquisa é uma Rádio Universitária?

           Há momentos em que se confunde a necessidade de estágio profissional com a operação de uma emissora. O rendimento da aprendizagem seria muito maior, se tais emissoras, integradas por profissionais, oferecessem ao estudante, a oportunidade de atuar e viver o estúdio ao lado de quem tem experiência no mister, como ocorria nos tempos em que o amador do rádio, do teatro, do cinema, convivia com a classe, a fim de aplicar na prática, o que a teoria lhe mostrará.

RÁDIO, PARA QUE?

           Se a função da Rádio Universitária não é ser escola, terá ela, no mundo real, um lugar para ser passatempo? A iniciativa privada tem, perante os poderes públicos, obrigações legais de contribuir para a cultura, para a ampliação do conhecimento, para a valorização das tradições da terra e do povo. Se os que detém as outorgas, não cumprem as suas missões, o erro é do Estado que não as cobra. Não se justificaria a vontade do poder público em também descumprir suas próprias normas, fazendo um rádio de lazer, descomprometido e ausente.

           Não está na alçada da Universidade, o descompromisso com as verbas públicas que administra. Muito pelo contrário; existe um padrão que avalia o desempenho de uma instituição de ensino. Se há obrigações das escolas superiores em relação aos profissionais a quem concede um diploma, essa obrigação está implícita na Rádio Universitária.

           Para ser passatempo, ela não deveria ter existido. O Estado não encontra respaldo legal para conceder canal a quem não tem estatuto nem regimento. Assim como a concessão comercial impõe controle de faixas etárias, de participação percentual de estrangeiros, de cessão de horários para a divulgação oficial e eleitoral, a outorga estatal deveria ser subordinada a uma normatização própria.

           Permitir que os reitores de Universidades nomeiem dirigentes de emissoras que não possuem os registros profissionais previstos em lei é contribuir para a desobediência civil dos particulares que omitem de seus noticiários, o nome do redator responsável, tal qual determina o código competente.

TRAÇOS DE UM PERFIL

           Se a universidade congrega, em seu perfil, a formação de médicos, a sua emissora de rádio tem o dever ético e moral de abrir espaços à área da saúde, para realizar a extensão desse ensinamento à comunidade a que serve. O "Alô, Doutor" tem sido exemplo esparso da rádio comercial. Por que não ser uma constante na rádio oficial? É mais fácil fazer com que o clínico saiba dominar a técnica do microfone, do que transformar o repórter em informante de saúde.

           Se o curso de letras aborda a literatura brasileira e seus autores, na sala de aula, por que não cobrar dos cursos de artes cênicas, a transposição desses autores e suas obras para o espetáculo radiofônico da teatralização, tão presente no rádio europeue e de há muito ausente do rádio brasileiro.

           O acesso à justiça, cada vez mais difícil no país, teria no rádio, um caminho opcional, se as universidades soubessem usar os seus cursos de Direito, na transmissão de julgamentos de repercussão ou nos programas de consulta de direitos trabalhistas e familiares.

           O perfil da Universidade faz o perfil de sua rádio. É um órgão multifacetado, com uma capacidade imensa de integração e de efeito multiplicador. O seu lugar é numa fundação aberta para todos os ofícios, ministrados nas salas de aula e não nas assessorias de reitorias.

CONCLUSÕES QUE NÃO SE ESGOTAM

           Será leviano ou, simplesmente, teórico, aquele que propuser um modelo para uma Rádio Universitária. O traçado de uma programação envolve aspectos díspares e esses aspectos devem estar em consonância com a comunidade onde se insere o prefixo.

           Não se realiza um Concerto, se não possuirmos uma Sinfônica. Se a Universidade a possui, deve estar na sua Rádio, ao vivo, em local público, enfrentando a platéia como uma avaliação e duplicando o seu esforço pela onda sonora. Mas se a comunidade é interiorana, será o momento de explorar a sua banda de música, mostrar com a filarmônica, o encanto da música.

           O rádio comercial de hoje tem compromisso e vinculação com o mundo fonográfico. A repetição faz parte do jogo do mercado. A irradiação do disco, sem maiores explicações, tem uma estratégia sublimar. A Rádio Universitária é diferente, não pode tocar a música pelo simples fato de tocar. Para tanto, a Era de Ouro do Rádio vivia da legenda que antecedia a irradiação. Dizia-se quem fez, quem criou, em que momento surgiu, qual era o clima da época. Tudo isso para que o ouvinte entendesse a modinha que Carlos Gomes fez ao seu tempo. Ou a música de protesto que levantou uma geração.

           O descompromisso não tem nem pode ter lugar numa emissora de rádio que saiu do bolso do contribuinte e que abriu um espaço no orçamento de uma instituição cujo dever primeiro é ensinar. Ensina-se na sala de aula, no laboratório. Também se ensina com um microfone, para aqueles que sabem e também para os que não sabem ler.

           Se o cientista Roquette Pinto fosse vivo e escutasse hoje uma Rádio Universitária, quem sabe se ele não comentaria: "como se utiliza mal um bom instrumento didático-pedagógico"?

           Em tempo:

           A obra, de autoria do professor LUIZ MARANHÃO FILHO, foi editada pela EDITORIAL JANGADA, Rua São Miguel, 918 ap.201, Olinda-PE, CEP 53120-030, e faz parte da:

           COLEÇÃO "RÁDIO"

           I - Evolução do "Script" no Rádio

           II - As vozes do Rádio - 1996

           III - Uma pedagogia para o Rádio

           IV - Humor no Rádio

           V - Modelo matricial para a retomada do Rádio-teatro

           VI - Documentário Radiofônico - Releitura de antigas fórmulas

           VII - Como adaptar para o Rádio

           VIII - Rádios Universitárias: Escola ou Passatempo? - 1996.



PERFIL

           EDITORIAL JANGADA selecionou, para a sua série de fascículos dedicados à Radiodifusão, o autor pernambucano LUIZ MARANHÃO FILHO que completou, em 1997, o seu cinquentenário profissional.

           Foi em 1947 que a Rádio Club de Pernambuco irradiou a sua primeira novelinha policial - "Uma Família Sinistra", em 5 capítulos.

           A sua experiência radiofônica que se iniciou na PRA-8, onde o Radioeatro era dirigido por seu pai, o pioneiro Luiz Maranhão, desdobrou-se depois pela Rádio Tamandaré, Rádio Jornal do Commercio e Rádio Continental, todas do Recife, Rádio Borborema, de Campina Grande, Rádio Verdes Mares e Rádio Dragão do Mar, de Fortaleza e, finalmente, Rádio Universitária do Recife, pela qual se aposentou em 1992.

           Atualmente é professor adjunto do Departamento de Comunicação Social, da Universidade Federal de Pernambuco e concluiu Doutorado na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo - USP - com a defesa da tese "SÃO PAULO - O RÁDIO DE IDÉIAS".


Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail:[email protected]  



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Publicado em 04 de agosto de 2006
Atualizado em 04 de agosto de 2006

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