* *A S   R A D I O S * *




O RÁDIO EM PASSO FUNDO-RS

RÁDIO PASSO FUNDO - ZYF5

           Em 7 de agosto de 1945, a convite, Maurício Sirostsky Sobrinho, locutor da Rádio Gaúcha, voltou à sua terra natal para inaugurar e gerenciar a Rádio Passo Fundo - ZYF5, emissora fundada por Arnaldo Ballvé e que pertencia ao Grupo "Emissoras Reunidas Rádio Cultura Ltda., com sede em Porto Alegre.

           Em 1947 ingressou na recém inaugurada Rádio Passo Fundo, o Sr. Gildo Alves Flores, na ocasião com 16 anos e todo o entusiasmo próprio da adolescência. Gildo dedicou-se a tudo que a profissão oferecia na época.

          Foi cobrador, discotecário, redator, locutor e até agenciador de publicidade. "Nos dois primeiros anos, tive orientação e estímulo do gerente da emissora, Sr. Maurico Sirostsky Sobrinho e, nas lidas técnicas, de Alcides Krebs", recorda.

           Em 1955, Gildo Alves Flores chegou à posição de gerente, onde permaneceu por 10 anos, sendo responsável, em 1964, pela construção da sede da emissora.

           Gildo Alves Flores conta que, no início, a Rádio Passo Fundo, prefixo ZYF-5, operava na freqüência de 580 KHz, com uma potência de 250 watts.

           Todo o equipamento levava a marca de um fabricante nacional, a Sociedade Técnica Paulista - STP.

           O sistema irradiante seguia os procedimentos em voga. Ocupava a praça central da cidade, em local cedido pela Prefeitura, e suas duas torres de madeira, com 22 metros de altura, sustentavam uma antena horizontal.

           No estúdio atapetado, grossas cortinas de lã cobriam todas as paredes, e um piano de cauda era utilizado durante os programas musicais que buscavam talentos locais.

           A mesa de som sustentava dois pesados pratos, que giravam em rotação 78. Os discos eram grossos e frágeis e só possuiam uma música em cada um dos lados. Os braços do toca-discos sustentavam cápsulas magnéticas igualmente pesadas.

           As agulhas de aço com dois centímetros pareciam pregos sem cabeças e precisavam ser substituídas a cada duas músicas, ficavam "rombudas" com o atrito e estragavam o sulco da gravação, comprometendo a reprodução do som.

           Assim, os discos com músicas de sucesso tinham um único fim: ficavam brancos e emitiam muitos chiados. Os operadores, de tanto trocarem a agulha, tinham calosidades nas pontas dos dedos polegar e indicador.

           As primeiras gravações não industriais eram em disco de vidro. Só depois é que passaram a utilizar o alumínio com cobertura de acetato. Os gravadores em fio de aço magnético apareceram na emissora em 1948. Em seguida, chegaram os gravadores em fita magnética, cada vez menores e melhores.

           O equipamento para transmissões externas incluíam uma extensão de fio, que era ligado à tomada mais próxima, às vezes, uma residência distante. Um benjamim, maleta à luz, ferro com ponta, para conectar o fio terra, e todas as ferramentas próprias para um eletricista.

           As externas dependiam da colaboração da Companhia Telefônica Riograndense e eram feitas por um único fio, sendo o neutro do equipamento ligado diretamente à terra.

           Para levar a energia até os campos de futebol, através de distâncias superiores a 400 metros, amarrava-se um fio em ganchos de arame, na ponta de listões de madeira com cinco metros, até que se pudesse alcançar os fios de iluminação pública do poste mais próximo. Então, a Força & Luz (usina municipal) ligava a iluminação daquela zona e fornecia a energia para a transmissão.

           Quando não havia fontes de energia elétrica, as externas dependiam de um fio para o som e de um amplificador à bateria de automóvel, que tinha poucos minutos de duração.

           O link ainda não existia, e o som do estúdio chegava ao transmissor através de dois fios desencapados e paralelos.

           Quando a rádio irradiava comícios ou programas políticos com candidatos locais, era comum que membros de outros partidos atirassem boleadeiras de arame, com pedras na ponta, na linha de transmissão. O sistema entrava em curto e a rádio saía do ar. Às vezes, os sabotadores apelavam para o radicalismo e cortavam os fios.

           Aproveitando os artistas amadores da região, organizavam-se programas de calouros e rádio-teatro com a participação dos principais colégios e entidades, cujos integrantes possuissem qualidades para atuar no rádio. Orquestras e conjuntos contratados pelos clubes da cidade tinham espaço garantido na programação, sem qualquer custo.

           Durante o aniversário da emissora, era de praxe oferecer um coquetel para as autoridades, anunciantes e amigos. Um show no cinema apresentava artistas de projeção nacional. A festa entrava noite à dentro e encerrava-se com o Baile do Rádio.

           A comercialização dos espaços e eventos organizados por um ou mais angariadores de publicidade (não havia agências), as dedicatórias, homenagens musicais que celebravam aniversários, noivados, casamentos, formaturas e o que mais permitisse a imaginação, bem como os recados, principalmente para o interior, garantiam o faturamento.

           A Rádio Passo Fundo, sempre em sintonia com a história, fazia questão de marcar presença. Realizava uma série de promoções que contavam com a participação da cidade, como corridas de motos, antes mesmo da era das lambretas.

           Organizava pesquisas eleitorais e muitas delas mudaram o rumo das eleições municipais. Produzia também uma série de programas locais. Gildo Alves Flores apresentava pessoalmente dois deles: "Quando o Natal vem Chegando", uma seqüência de rádio-teatros que encenavam histórias infantis, pouco antes do Natal, e o "Clube do Titio", que, uma vez por ano, deixava o auditório da emissora, para ocupar o cinema da cidade e eleger, em uma grande festa, as suas rainha e princesa.

           Nos 18 anos em que esteve na Rádio Passo Fundo, Gildo Alves Flores participou do dia-a-dia de uma emissora que, além de oferecer lazer e informação, foi protagonista de vários fatos que marcaram a história do município.

           Em 1965, Gildo Alves Flores, gaúcho, nascido em Passo Fundo, deixou sua terra natal e passou a gerenciar a Rádio Caxias do Sul, outro veículo das "Emissoras Reunidas Rádio Cultura Ltda."


O RÁDIO EM PASSO FUNDO-RS

           Até 1946, em Passo Fundo-RS, ouviam-se emissoras de rádio de outros lugares, principalmente de Porto Alegre e Rio de Janeiro, comumente com bastante dificuldade. Foi com enorme alegria que, nesse ano, os passo-fundenses receberam os primeiros sons de uma emissora de rádio local, transmitindo notícias recentes de sua cidade e arredores.

           Muito emocionante era, às 18 horas, ouvir o programa Ave-Maria, quando um texto religioso era apresentado, tendo ao fundo os sons melodiosos de alguma "Ave-Maria" conhecida, em geral, de Franz Schubert ou C. Gounod sobre um Prelúdio de J. S. Bach.

           Também agradavam a muitos os programas mais românticos, com músicas e alguma poesia, principalmente ao final da noite, dos quais bastante ouvido era o Salão Grenat. Sem dúvida, os programas esportivos, como até hoje, concentravam uma grande audiência.

           A primeira emissora de rádio de Passo Fundo foi inaugurada em agosto de 1946, com o nome Rádio Passo Fundo - ZYF-5. Esse foi um fato de grande importância para a Capital do Planalto e, sob o ponto de vista artístico-cultural, permitiu uma ampla divulgação, contribuindo também para o desabrochar e o desenvolvimento de muitas vocações musicais.

           Foi esta emissora que, na noite de 19 de junho de 1952, transmitiu a instalação do Conservatório de Música de Passo Fundo. Também transmitiu, em anos posteriores, em frias noites de 19 de junho, algumas audições de alunos comemorativas ao aniversário do conservatório.

           Sem dúvida, os passo-fundenses que eram crianças na década de 1950 têm viva a lembrança do programa Clube do Titio, irradiado nas manhãs de domingo. O programa era realizado no auditório da rádio, que funcionava em cima ou nos fundos da Drogaria Birmann, na Rua Morom, em frente à praça Marechal Floriano. Pessoas de todas as idades, ligadas à música tradicionalista, recordam também o famoso programa do CTG Lalau Miranda, transmitido no domingo à tarde.

           A segunda emissora foi a Rádio Municipal - ZYU-38, que surgiu em 1954, funcionando na rua Coronel Chicuta, entre a Morom e a Independência. Essa emissora criou o programa Clube do Papai, no qual os menores, através da música, se divertiam, desenvolviam sua expressão e aprendiam a enfrentar o público.

           Em 1969, entrou no ar a Rádio Planalto, dirigida pelo Padre Paulo Augusto Farina e instalada nas dependências da diocese, próximo à esquina das ruas Coronel Chicuta e Morom. Mais tarde, já no Bosque Lucas Araújo, começou a funcionar a Planalto FM.

           Mais recentes são as rádios Diário da Manhã, Uirapuru e Atlântida FM.

A RÁDIO PASSO FUNDO E SUA INFLUÊNCIA NA MÚSICA DA CIDADE

           Nos idos de 1946, mais precisamente em agosto daquele ano, surgia em Passo Fundo a primeira emissora de rádio. De propriedade da família Balvé, que conseguiu formar uma cadeia de 15 emissoras, todas no interior do estado, a Rádio Passo Fundo - ZYF-5, levava ao ar os primeiros sinais sonoros de informações e música captados no reduzido número de radiorreceptores existentes na cidade e localidades próximas. Com ela, nasceram oportunidades para os valores artístico-musicais locais, predominando os conjuntos de música gauchesca.

           O primeiro conjunto a ser formado e que atuou, inclusive, nas festividades de inauguração da emissora era composto por Ivo Paim, sua filha e o violonista Iraí Varella. Apresentava-se em programas musicais aos finais de semana e em espetáculos públicos. Vieram após outros que ficaram na lembrança de todos, como a dupla Orlando e Alfredinho, que foi a primeira a gravar discos de 78 rotações. Também o trio Cartucho, Cartola e Cartolina adonou-se de um espaço radiofônico e conseguiu por muitos anos se manter no ar com grande público a ouvi-lo e aplaudi-lo.

           Célio Barbosa e sua orquestra também viveram momentos de grande destaque no rádio, abrilhantando bailes e reuniões dançantes, além de se apresentarem em programas de estúdio.

           Dino Bertóglio, o menino acordeonista que maravilhou o público, era uma atração especial, um verdadeiro menino-prodígio, vindo, com o passar dos anos, a formar um conjunto musical que passou a atuar em várias cidades e até fora do estado.

           Como pianistas, tivemos o então jovem Ruy Barros, hoje promotor público aposentado, e sua prima, Mary Caetano, ambos díscipulos e netos do professor Ormino de Freitas Ubaldo, que também lecionava violino, conseguindo revelar vários concertistas, tanto pelo violino como pelo piano.

           Com o surgimento da segunda emissora, a já extinta Rádio Municipal, em 1954, vieram os programas infantis, como o Clube do Titio, que oferecia a meninos e meninas a oportunidade de exibirem seus dotes artísticos. Ben-Hur Silva, Gildo Flores e Carlos Alberto Valadares eram os animadores desses programas.

           Finalmente, juntaram-se às emissoras os incontáveis valores artísticos de nossos CTG, como Nelson Rômulo Goelzer, Nelson Petry, Luiz Feldmann e tantos outros que ainda hoje são ouvidos aos domingos nas programações radiofônicas mantidas pelas emissoras locais. Muito contribuiu o rádio para estimular e revelar valores artísticos de Passo Fundo.


JAIME FREITAG E OS PROGRAMAS DE AUDITÓRIO

           Transcorria a década de 1960, quando predominavam os programas de auditório. Espelhada no Clube do Guri, da Rádio Farroupilha de Porto Alegre, a ZYF-5 - Rádio Passo Fundo mantinha aos domingos pela manhã, no horário das 10 horas ao meio dia, o programa Clube do Titio. Após teste realizado pelo então apresentador do programa, Carlos Alberto Valadares, Jaime Freitag passou a participar como locutor mirim. Posteriormente, com José de Mello Freitas, hoje advogado em Passo Fundo, Jaime Freitag formou a dupla Freitas & Freitag.

           A Rádio Municipal ZYU-38, embora mais popular e denominada a "emissora da família passo-fundense", aos domingos, no horário do Clube do Titio, perdia em audiência. O diretor da emissora, Túlio Fontoura, juntamente com o chefe da equipe de locutores e responsável artístico Benhur Silva, pensavam em montar um programa semelhante, porém esbarravam num problema: quem iria ensaiar os calouros? A professora Mercedes Simon e seu esposo, maestro Jaques, eram contratados pela ZYF-5 - Rádio Passo Fundo e, à noite, tocavam no Restaurante Maracanã e no Café Haity.

SURGIMENTO DO CLUBE DO PAPAI

           Divergências internas com o gerente Gildo Flores, da Rádio Passo Fundo, vieram a calhar. Sabendo da rescisão do contrato, Benhur Silva foi buscar Mercedes e Jaques e fundou o então Clube do Papai na Rádio Municipal. O programa estreou, se não me falha a memória, em abril de 1961. nas novas dependências da emissora, na rua Morom, defronte à Casa Batistti e na parte superior do prédio onde ficava o auditório da ZYU-38 - Rádio Municipal que possuía fachada toda de vidro e passou a ser denominado "Palácio de Cristal".

           Os estúdios da emissora foram montados pelo engenheiro de som Mario Rigotto (falecido), auxiliado pelo técnico em eletrônica Antônio Ferri. O programa Clube do Papai, comandado por Benhur Silva e, às vezes, auxiliado por Meirelles Duarte, passou a contar, além da professora Mercedes e do maestro Jaques, com o casch dos músicos que os acompanhavam, dos quais lembro apenas os apelidos: Serrote, que tocava contrabaixo; Raposão (não é o Tropeiro dos Pampas) na bateria; Sarará no cavaquinho e Maça no pandeiro. Jaime Freitag foi convidado pela Tia Mercedes, como era conhecida e que muito o incentivara no rádio, juntamente com Freitas para o Clube do Papai, tendo ficado no Clube do Titio para ensaiar os calouros o maestro Alfredo Custódio (Alfredinho, da dupla Orlando e Alfredinho) e, como locutor mirim, o estreante Jorge Antônio Guerardth.

AS BRINCADEIRAS DO PROGRAMA

           Além da brincadeira conhecida como "Pare a música", na qual os participantes circulavam cadeiras e, quando a música parava, tinham que sentar, mas como o número das cadeiras era menor que os dos participantes, alguém sempre ficava de fora, havia também a "Dança da maçã", em que os pares dançavam com uma maçã na testa sem poder derrubar; se isso viesse a acontecer, deixavam a brincadeira. Existia a prova de encher balões: aquele que inflasse o balão mais rapidamente, sem estourar, era o vencedor.

           Ainda, nas brincadeiras do programa, "O Cantor Misterioso", no qual o operador de som colocava um disco fora de rotação para os ouvintes adivinharem a voz, e outras. A novidade introduzida no programa "Clube do Papai" por Benhur Silva era a "Tarefa de Itu", onde os participantes deviam, por exemplo, levar o maior chapéu, e aí apareciam sombreiros e os mais diversos tipos e modelos de chapéus; a maior tesoura, e os participantes levavam tesouras de cortar grama, crina de cavalos, lã de ovelhas, e outras. No concurso de maior lápis, um participante, certa feita, levou um cabo de vassoura pintado onde introduziu um grafite na ponta. Em todas, os vencedores ganhavam ótimos prêmios.

           Uma outra tarefa consistia em trazer um papagaio que falasse. Muitos louros, que em casa falavam, diante do microfone ficavam no mais absoluto silêncio, o que provocava irritação nos seus proprietários e risos do auditório. Os speakers eram considerados verdadeiros artistas, todos trabalhavam com gravata ou tope (borboleta), geralmente adquiridos na Casa Jandir.


CACHÊ E FUNCIONÁRIOS DA ZYU-38 - RÁDIO MUNICIPAL
Depoimento de Jaime Freitag

           Como era menino, tinha 13 anos apenas, recebia ao final do programa um pequeno cachê, geralmente um cruzeiro (Tamandaré), o qual dava para ir à matinê com a nomorada e ainda comprar balas e uma caixa de "Mentex". Figura sempre presente no programa Clube do Papai era o Lauro Nunes (Inháio), hoje no Diário da Manhã.

           Dentre os operadores que levavam o som do programa do "Éter", recordo: Luiz Carlos Silva; José Euclides Aires, conhecido como Secretário; Adão Lemos (hoje na Secretaria Municipal da Agricultura); Flávio Cornélio, conhecido pelo apelido de Bandido, delegado de polícia aposentado; Terras Pilar, chefe dos operadores de som, e Ricardo Dadia Richard (desculpem se deixei alguém de fora). Os locutores eram: Benhur Silva, Meirelles Duarte, Jarbas Sampaio Correia, Leopoldino Rosa, Dino, que possuía o programa "Quem comanda são os brotos"; Carlos Weisseimer (redator), pai da Angélica, da RBSTV, e Ezevir da Silva (falecido).

           O Clube do Papai chegou a obter bons índices de audiência devido à dedicação da professora Mercedes Simon. Muitos calouros mirins e adultos do Clube do Titio, da Rádio Passo Fundo, se inscreviam para cantar também no Clube do Papai.

FINAL DO CLUBE DO PAPAI
Depoimento de Jaime Freitag

           Não recordo em que época exata o Clube do Papai terminou, porque saí antes e voltei para a Rádio Passo Fundo - ZYF-5, sempre sem receber salário fixo.

           Muitas vezes carreguei escada para ajudar Pedro Rien (técnico de som) a consertar as linhas de transmissão ou levei aparelhagem durante as transmissões externas em clubes e campos de futebol. Em 1964, durante a revolução, a Rádio Municipal foi transferida para a rua Capitão Eleutério ao lado da Foto Moderna e, posteriormente, para a rua Independência, onde encerrou suas atividades.

INGRESSO DEFINITIVO COMO PROFISSIONAL
Depoimento de Jaime Freitag

           Bem mais tarde, surgiu a oportunidade para o ingresso definitivo como funcionário. Indicado pelo Meirelles na década de 1970, quando assumiu a direção da Rádio Passo Fundo José Carlos Sica, passei a apresentar o Reporter Crhisler e os noticiosos da emissora: Panorama de Notícias ao meio-dia, e, à tarde, o jornal falado O Globo em Foco, juntamente com Josué Duarte (primo do Meirelles, falecido).

           Os noticiários eram redigidos em parte no local, por Hélio Gonçalves Dias (falecido), e as notícias nacionais e internacionais, por João Roman Vieda (hoje no Diário da Manhã de Chapecó). Na década de 1980, então na Rádio Uirapuru, surgiu um programa fundado pelo Biluca, o qual passei a comandar posteriormente, intitulado Domingo Alegre no Ginásio Maggi de Césaro, aos domingos à tarde.

          Aproveitei para introduzir e lembrar os bons tempos do Clube do Papai. Atualmente, encontro- me na Rádio Planalto onde, além de noticiarista, desempenho a função de coordenador de programação da emissora. Quero aqui fazer um agradecimento pela lembrança e convite para recordar um pouco da história do rádio em Passo Fundo.

RÁDIO PLANALTO

           Antes de mais nada, é preciso situar o momento histórico em que a Rádio Planalto começou a realizar seu trabalho. Em 1969, no Brasil, vivíamos a fase radical da ditadura militar que, entre outros instrumentos de coação política, dispunha do AI-5, que tolhia toda e qualquer possibilidade de manifestação contra o regime em vigência no país.

           Assim, diferindo da década anterior (que foi uma época de engajamento, de polêmicas e de críticas), a cultura brasileira da década de 1970 foi marcada pelo endurecimento do regime pós-64 e pela ação da censura. Todo um setor da inteligência brasileira foi cassado ou abandonou o país, em exílio voluntário ou não.

           Obviamente, todos os veículos de comunicação passaram a ser intensamente vigiados pela censura oficial, o que fez com que as correntes mais independentes do sistema se voltassem para a contracultura e a reflexão sobre o passado. Na área musical os compositores retrataram em suas canções o Brasil do "milagre econômico", da tortura, do arbítrio e da censura. Chico Buarque, Luiz Gonzaga Jr., João Bosco, Aldir Blanc, Geraldo Vandré, Paulo Cesar Pinheiro, Ivan Lins, Belchior, Vítor Martins e outros se transformaram em verdadeiros cronistas, retratando em suas músicas o Brasil da ditadura militar.

           Nesse contexto, em Passo Fundo-RS, a Rádio Planalto surgiu com uma programação musical inovadora, calcada nos sucessos internacionais da época (Beatles, Rolling Stones, etc.) e, principalmente, na música popular brasileira, enfatizando os compositores da canção de protesto de cunho político e social. Enquanto as demais emissoras da região e da cidade mantinham a linha musica l de cunho gauchesco (de forte influência positivista e, por isso mesmo, alheia à realidade em que vivíamos), a Planalto inovou e até irritou alguns setores mais conservadores da época. Para ilustrar, basta lembrar que, em determinada ocasião, a emissora foi obrigada a entregar às autoridades militares um disco de Geraldo Vandré.

           Dessa forma, a programação da Rádio Planalto trouxe um acréscimo cultural fundamental, passando a ser vista como verdadeiro ponto referencial para o rádio da época nessa região. A Planalto promoveu também apresentações de artistas famosos na década de 1970: Benito di Paula, Martinha, Antônio Marcos.

           Por outro lado, através de programas especiais de entrevistas, a emissora trouxe para os ouvintes da região nomes da maior expressão na MPB da época, como Gilberto Gil, Raul Seixas, Dominguinhos, Simone, Toquinho,Jair Rodrigues, Roberto Carlos, Alceu Valença, Luiz Gonzaga Jr., Ivan Lins, João Nogueira, Cartola e outros mais.

           Na música local, a Rádio Planalto valorizou a atuação dos conjuntos musicais da época. Como na época proliferavam os grupos de música jovem em função da influência dos Beatles, a emissora promovia apresentações dos grupos The Cats, Os Diferentes, etc.

           A programação da Rádio Planalto era variada e aberta a todos os estilos, sem os preconceitos xenófobos que observamos hoje em algumas emissoras. A grande preocupação era com a qualidade do que era levado ao público. Lembra Maria Elisabete Piana que o lançamento ou divulgação do primeiro compacto de Tiaraju foi pela Planalto.


RÁDIO UIRAPURU

           Na noite do dia 26 de novembro de 1981, entrou no ar em caráter oficial a Rádio Uirapuru - ZYK-359, 1.170 KHz. Na época, predominava em outras emissoras de rádio de Passo Fundo-RS a música estrangeira. A Rádio Uirapuru, com base em pesquisa previamente realizada, adotou como filosofia veicular a música nacional; privilegiou como linha musical a música popular brasileira, sertaneja e nativista. Após a solenidade oficial de inauguração, a primeira música rodada foi "Uirapuru", gravada pelos Pequenos Cantores de Ébano.

           As músicas que estouraram e que tiveram maior solicitação dos ouvintes em diferentes épocas foram: "Fuscão Preto", Gilberto e Gilmar; "CB 400", Francisco de Paula; "A Bailarina", João Mineiro e Marciano; "Minha Serenata", João Mineiro e Marciano; "Panela Velha", Moraizinho; "Ela deu tudo", Sidnei Lima; "Pintadinha", Sidnei Lima; "Pedido de Amigo", Zé Moreno; "Toalha de Banho", Bob e Robson; "Barco do Amor", Os Atuais; "Paixão Proibida", Teodoro e Sampaio; "A Cunhada", Teodoro e Sampaio; "A Carta", Musical Hawaí; "Dengosa", Júnio e Júlio; "Entre tapas e beijos", Leandro e Leonardo.

           Com relativa solicitação, podemos citar: "Boêmio", Nelson Gonçalves; "O Portão", "Cavalgada", "Detalhes", Roberto Carlos; "Os verdes campos", Altemar Dutra; "Segura na mão de Deus" (atual), Carmen Silva.

           A música recordista, a mais executada nos primeiros anos de atividade da emissora, foi "Fuscão Preto", que determinou fosse realizada a entrega do Disco de Ouro do LP pela gravadora, ao vivo, nos estúdios da Rádio Uirapuru.



Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail:[email protected]  



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Publicado em 20 de maio de 2005
Atualizado em 10 de setembro de 2005

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