Nos idos de 1946, mais precisamente em agosto daquele ano, surgia em Passo Fundo a primeira emissora de rádio. De
propriedade da família Balvé, que conseguiu formar uma cadeia de 15 emissoras, todas no interior do estado, a Rádio Passo
Fundo - ZYF-5, levava ao ar os primeiros sinais sonoros de informações e música captados no reduzido número de
radiorreceptores existentes na cidade e localidades próximas. Com ela, nasceram oportunidades para os valores artístico-musicais
locais, predominando os conjuntos de música gauchesca.
O primeiro conjunto a ser formado e que atuou, inclusive, nas festividades de inauguração da emissora era composto por Ivo Paim,
sua filha e o violonista Iraí Varella. Apresentava-se em programas musicais aos finais de semana e em espetáculos públicos.
Vieram após outros que ficaram na lembrança de todos, como a dupla Orlando e Alfredinho, que foi a primeira a gravar discos de
78 rotações. Também o trio Cartucho, Cartola e Cartolina adonou-se de um espaço radiofônico e conseguiu por muitos anos se
manter no ar com grande público a ouvi-lo e aplaudi-lo.
Célio Barbosa e sua orquestra também viveram momentos de grande destaque no rádio, abrilhantando bailes e reuniões dançantes,
além de se apresentarem em programas de estúdio.
Dino Bertóglio, o menino acordeonista que maravilhou o público, era uma atração especial, um verdadeiro menino-prodígio, vindo,
com o passar dos anos, a formar um conjunto musical que passou a atuar em várias cidades e até fora do estado.
Como pianistas, tivemos o então jovem Ruy Barros, hoje promotor público aposentado, e sua prima, Mary Caetano, ambos
díscipulos e netos do professor Ormino de Freitas Ubaldo, que também lecionava violino, conseguindo revelar vários concertistas,
tanto pelo violino como pelo piano.
Com o surgimento da segunda emissora, a já extinta Rádio Municipal, em 1954, vieram os programas infantis, como o Clube do
Titio, que oferecia a meninos e meninas a oportunidade de exibirem seus dotes artísticos. Ben-Hur Silva, Gildo Flores e Carlos
Alberto Valadares eram os animadores desses programas.
Finalmente, juntaram-se às emissoras os incontáveis valores artísticos de nossos CTG, como Nelson Rômulo Goelzer, Nelson
Petry, Luiz Feldmann e tantos outros que ainda hoje são ouvidos aos domingos nas programações radiofônicas mantidas pelas
emissoras locais. Muito contribuiu o rádio para estimular e revelar valores artísticos de Passo Fundo.
JAIME FREITAG E OS PROGRAMAS DE AUDITÓRIO
Transcorria a década de 1960, quando predominavam os programas de auditório. Espelhada no Clube do Guri, da Rádio Farroupilha
de Porto Alegre, a ZYF-5 - Rádio Passo Fundo mantinha aos domingos pela manhã, no horário das 10 horas ao meio dia, o
programa Clube do Titio. Após teste realizado pelo então apresentador do programa, Carlos Alberto Valadares, Jaime Freitag
passou a participar como locutor mirim. Posteriormente, com José de Mello Freitas, hoje advogado em Passo Fundo, Jaime Freitag
formou a dupla Freitas & Freitag.
A Rádio Municipal ZYU-38, embora mais popular e denominada a "emissora da família passo-fundense", aos domingos, no horário
do Clube do Titio, perdia em audiência. O diretor da emissora, Túlio Fontoura, juntamente com o chefe da equipe de locutores e
responsável artístico Benhur Silva, pensavam em montar um programa semelhante, porém esbarravam num problema: quem iria
ensaiar os calouros? A professora Mercedes Simon e seu esposo, maestro Jaques, eram contratados pela ZYF-5 - Rádio Passo
Fundo e, à noite, tocavam no Restaurante Maracanã e no Café Haity.
SURGIMENTO DO CLUBE DO PAPAI
Divergências internas com o gerente Gildo Flores, da Rádio Passo Fundo, vieram a calhar. Sabendo da rescisão do contrato,
Benhur Silva foi buscar Mercedes e Jaques e fundou o então Clube do Papai na Rádio Municipal. O programa estreou, se não
me falha a memória, em abril de 1961. nas novas dependências da emissora, na rua Morom, defronte à Casa Batistti e na parte
superior do prédio onde ficava o auditório da ZYU-38 - Rádio Municipal que possuía fachada toda de vidro e passou a ser
denominado "Palácio de Cristal".
Os estúdios da emissora foram montados pelo engenheiro de som Mario Rigotto (falecido),
auxiliado pelo técnico em eletrônica Antônio Ferri. O programa Clube do Papai, comandado por Benhur Silva e, às vezes, auxiliado
por Meirelles Duarte, passou a contar, além da professora Mercedes e do maestro Jaques, com o casch dos músicos que os
acompanhavam, dos quais lembro apenas os apelidos: Serrote, que tocava contrabaixo; Raposão (não é o Tropeiro dos Pampas)
na bateria; Sarará no cavaquinho e Maça no pandeiro. Jaime Freitag foi convidado pela Tia Mercedes, como era conhecida e que
muito o incentivara no rádio, juntamente com Freitas para o Clube do Papai, tendo ficado no Clube do Titio para ensaiar os calouros
o maestro Alfredo Custódio (Alfredinho, da dupla Orlando e Alfredinho) e, como locutor mirim, o estreante Jorge Antônio Guerardth.
AS BRINCADEIRAS DO PROGRAMA
Além da brincadeira conhecida como "Pare a música", na qual os participantes circulavam cadeiras e, quando a música parava,
tinham que sentar, mas como o número das cadeiras era menor que os dos participantes, alguém sempre ficava de fora, havia
também a "Dança da maçã", em que os pares dançavam com uma maçã na testa sem poder derrubar; se isso viesse a acontecer,
deixavam a brincadeira. Existia a prova de encher balões: aquele que inflasse o balão mais rapidamente, sem estourar, era o
vencedor.
Ainda, nas brincadeiras do programa, "O Cantor Misterioso", no qual o operador de som colocava um disco fora de
rotação para os ouvintes adivinharem a voz, e outras. A novidade introduzida no programa "Clube do Papai" por Benhur Silva era
a "Tarefa de Itu", onde os participantes deviam, por exemplo, levar o maior chapéu, e aí apareciam sombreiros e os mais diversos
tipos e modelos de chapéus; a maior tesoura, e os participantes levavam tesouras de cortar grama, crina de cavalos, lã de ovelhas,
e outras. No concurso de maior lápis, um participante, certa feita, levou um cabo de vassoura pintado onde introduziu um grafite
na ponta. Em todas, os vencedores ganhavam ótimos prêmios.
Uma outra tarefa consistia em trazer um papagaio que falasse. Muitos louros, que em casa falavam, diante do microfone ficavam no
mais absoluto silêncio, o que provocava irritação nos seus proprietários e risos do auditório. Os speakers eram considerados
verdadeiros artistas, todos trabalhavam com gravata ou tope (borboleta), geralmente adquiridos na Casa Jandir.
CACHÊ E FUNCIONÁRIOS DA ZYU-38 - RÁDIO MUNICIPAL
Depoimento de Jaime Freitag
Como era menino, tinha 13 anos apenas, recebia ao final do programa um pequeno cachê, geralmente um cruzeiro (Tamandaré), o
qual dava para ir à matinê com a nomorada e ainda comprar balas e uma caixa de "Mentex". Figura sempre presente no programa
Clube do Papai era o Lauro Nunes (Inháio), hoje no Diário da Manhã.
Dentre os operadores que levavam o som do programa do
"Éter", recordo: Luiz Carlos Silva; José Euclides Aires, conhecido como Secretário; Adão Lemos (hoje na Secretaria Municipal
da Agricultura); Flávio Cornélio, conhecido pelo apelido de Bandido, delegado de polícia aposentado; Terras Pilar, chefe dos
operadores de som, e Ricardo Dadia Richard (desculpem se deixei alguém de fora). Os locutores eram: Benhur Silva, Meirelles
Duarte, Jarbas Sampaio Correia, Leopoldino Rosa, Dino, que possuía o programa "Quem comanda são os brotos"; Carlos
Weisseimer (redator), pai da Angélica, da RBSTV, e Ezevir da Silva (falecido).
O Clube do Papai chegou a obter bons índices de
audiência devido à dedicação da professora Mercedes Simon. Muitos calouros mirins e adultos do Clube do Titio, da Rádio Passo
Fundo, se inscreviam para cantar também no Clube do Papai.
FINAL DO CLUBE DO PAPAI
Depoimento de Jaime Freitag
Não recordo em que época exata o Clube do Papai terminou, porque saí antes e voltei para a Rádio Passo Fundo - ZYF-5, sempre
sem receber salário fixo.
Muitas vezes carreguei escada para ajudar Pedro Rien (técnico de som) a consertar as linhas de
transmissão ou levei aparelhagem durante as transmissões externas em clubes e campos de futebol. Em 1964, durante a
revolução, a Rádio Municipal foi transferida para a rua Capitão Eleutério ao lado da Foto Moderna e, posteriormente, para a rua
Independência, onde encerrou suas atividades.
INGRESSO DEFINITIVO COMO PROFISSIONAL
Depoimento de Jaime Freitag
Bem mais tarde, surgiu a oportunidade para o ingresso definitivo como funcionário. Indicado pelo Meirelles na década de 1970,
quando assumiu a direção da Rádio Passo Fundo José Carlos Sica, passei a apresentar o Reporter Crhisler e os noticiosos da
emissora: Panorama de Notícias ao meio-dia, e, à tarde, o jornal falado O Globo em Foco, juntamente com Josué Duarte (primo
do Meirelles, falecido).
Os noticiários eram redigidos em parte no local, por Hélio Gonçalves Dias (falecido), e as notícias nacionais
e internacionais, por João Roman Vieda (hoje no Diário da Manhã de Chapecó). Na década de 1980, então na Rádio Uirapuru,
surgiu um programa fundado pelo Biluca, o qual passei a comandar posteriormente, intitulado Domingo Alegre no Ginásio Maggi
de Césaro, aos domingos à tarde.
Aproveitei para introduzir e lembrar os bons tempos do Clube do Papai. Atualmente, encontro-
me na Rádio Planalto onde, além de noticiarista, desempenho a função de coordenador de programação da emissora. Quero aqui
fazer um agradecimento pela lembrança e convite para recordar um pouco da história do rádio em Passo Fundo.
RÁDIO PLANALTO
Antes de mais nada, é preciso situar o momento histórico em que a Rádio Planalto começou a realizar seu trabalho. Em 1969,
no Brasil, vivíamos a fase radical da ditadura militar que, entre outros instrumentos de coação política, dispunha do AI-5, que tolhia
toda e qualquer possibilidade de manifestação contra o regime em vigência no país.
Assim, diferindo da década anterior (que foi
uma época de engajamento, de polêmicas e de críticas), a cultura brasileira da década de 1970 foi marcada pelo endurecimento do
regime pós-64 e pela ação da censura. Todo um setor da inteligência brasileira foi cassado ou abandonou o país, em exílio voluntário
ou não.
Obviamente, todos os veículos de comunicação passaram a ser intensamente vigiados pela censura oficial, o que fez com que as
correntes mais independentes do sistema se voltassem para a contracultura e a reflexão sobre o passado. Na área musical os
compositores retrataram em suas canções o Brasil do "milagre econômico", da tortura, do arbítrio e da censura. Chico Buarque,
Luiz Gonzaga Jr., João Bosco, Aldir Blanc, Geraldo Vandré, Paulo Cesar Pinheiro, Ivan Lins, Belchior, Vítor Martins e outros se
transformaram em verdadeiros cronistas, retratando em suas músicas o Brasil da ditadura militar.
Nesse contexto, em Passo Fundo-RS, a Rádio Planalto surgiu com uma programação musical inovadora, calcada nos sucessos
internacionais da época (Beatles, Rolling Stones, etc.) e, principalmente, na música popular brasileira, enfatizando os compositores
da canção de protesto de cunho político e social. Enquanto as demais emissoras da região e da cidade mantinham a linha musica
l de cunho gauchesco (de forte influência positivista e, por isso mesmo, alheia à realidade em que vivíamos), a Planalto inovou e até
irritou alguns setores mais conservadores da época. Para ilustrar, basta lembrar que, em determinada ocasião, a emissora foi
obrigada a entregar às autoridades militares um disco de Geraldo Vandré.
Dessa forma, a programação da Rádio Planalto trouxe um acréscimo cultural fundamental, passando a ser vista como verdadeiro
ponto referencial para o rádio da época nessa região. A Planalto promoveu também apresentações de artistas famosos na década
de 1970: Benito di Paula, Martinha, Antônio Marcos.
Por outro lado, através de programas especiais de entrevistas, a emissora trouxe para os ouvintes da região nomes da maior
expressão na MPB da época, como Gilberto Gil, Raul Seixas, Dominguinhos, Simone, Toquinho,Jair Rodrigues, Roberto Carlos,
Alceu Valença, Luiz Gonzaga Jr., Ivan Lins, João Nogueira, Cartola e outros mais.
Na música local, a Rádio Planalto valorizou a atuação dos conjuntos musicais da época. Como na época proliferavam os grupos de
música jovem em função da influência dos Beatles, a emissora promovia apresentações dos grupos The Cats, Os Diferentes, etc.
A programação da Rádio Planalto era variada e aberta a todos os estilos, sem os preconceitos xenófobos que observamos hoje em
algumas emissoras. A grande preocupação era com a qualidade do que era levado ao público. Lembra Maria Elisabete Piana que
o lançamento ou divulgação do primeiro compacto de Tiaraju foi pela Planalto.
RÁDIO UIRAPURU
Na noite do dia 26 de novembro de 1981, entrou no ar em caráter oficial a Rádio Uirapuru - ZYK-359, 1.170 KHz. Na época,
predominava em outras emissoras de rádio de Passo Fundo-RS a música estrangeira. A Rádio Uirapuru, com base em pesquisa
previamente realizada, adotou como filosofia veicular a música nacional; privilegiou como linha musical a música popular brasileira,
sertaneja e nativista. Após a solenidade oficial de inauguração, a primeira música rodada foi "Uirapuru", gravada pelos Pequenos
Cantores de Ébano.
As músicas que estouraram e que tiveram maior solicitação dos ouvintes em diferentes épocas foram: "Fuscão Preto", Gilberto e
Gilmar; "CB 400", Francisco de Paula; "A Bailarina", João Mineiro e Marciano; "Minha Serenata", João Mineiro e Marciano;
"Panela Velha", Moraizinho; "Ela deu tudo", Sidnei Lima; "Pintadinha", Sidnei Lima; "Pedido de Amigo", Zé Moreno; "Toalha de
Banho", Bob e Robson; "Barco do Amor", Os Atuais; "Paixão Proibida", Teodoro e Sampaio; "A Cunhada", Teodoro e Sampaio;
"A Carta", Musical Hawaí; "Dengosa", Júnio e Júlio; "Entre tapas e beijos", Leandro e Leonardo.
Com relativa solicitação, podemos citar: "Boêmio", Nelson Gonçalves; "O Portão", "Cavalgada", "Detalhes", Roberto Carlos;
"Os verdes campos", Altemar Dutra; "Segura na mão de Deus" (atual), Carmen Silva.
A música recordista, a mais executada nos primeiros anos de atividade da emissora, foi "Fuscão Preto", que determinou fosse
realizada a entrega do Disco de Ouro do LP pela gravadora, ao vivo, nos estúdios da Rádio Uirapuru.
Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail:[email protected]