* *A S   R A D I O S * *




LEE DE FOREST - II

           Lee De Forest, quando perguntado qual a razão que ele considerava o rádio mais importante do que a telegrafia sem fio, respondeu:

           "Por uma coisa, não precisa de operador especializado. Tudo que você precisa fazer é apertar um botão e falar num microfone ou ouvir no fone. Tampouco os distúrbios atmosféricos afetam o rádio tanto quanto o telégrafo, pois o rádio é capaz de transmitir distintamente a voz humana através de uma grande soma de estática".

           Disse também: "A principal vantagem da telefonia sem fio não está em que uma pessoa possa falar com outra sem fio, embora isto seja também muito importante, especialmente para os navios. A coisa verdadeiramente fascinante era que uma só transmissão podia ser ouvida por centenas e até milhares de pessoas com receptores individuais.

           Chama-se broadcasting, isto é, radiodifusão. Pense só! Notícias, música e mesmo peças dramáticas podiam ser ouvidas por uma multidão que de outro modo jamais teria esta oportunidade. O rádio pode encurtar as distâncias e transformar o país inteiro e metade do planeta em um só e imenso auditório".

           No início de fevereiro de 1907, Lee De Forest começou uma série de experiências em radiodifusão no laboratório do edifício Parker a fim de testar a qualidade do novo transmissor de arco de carvão.

           Como existissem muitas estações de telégrafo sem fio espalhados pela cidade, pediu aos ouvintes que o avisassem caso recebessem suas emissões de rádio. Nos dias e semanas imediatos, foi chamado várias vezes ao telefone por operadores do Arsenal de Marinha de Brooklyn e outros que tinham recebido com surpreendente nitidez sinais de voz nos seus receptores eletrolíticos.

           A princípio, as transmissões constavam de conversas informais e leituras de antigos discursos. Depois Lee De Forest teve a idéia de transmitir música de fonógrafo. Isto levou-o a outra idéia: construiu um segundo transmissor de arco e levou-o à Companhia Telharmonium Cahill, uma pequena firma independente especializada na transmissão de música pelo fio para salões e restaurantes em toda a cidade. Os irmãos Cahill, proprietários da companhia, consentiram que ele instalasse um fio de antena no mastro do telhado e adaptaram seu aparelho ao circuito de música existente.

           Deste modo, Lee pode experimentar os efeitosde duas estações transmitindo simultâneamente. Descobriu que ajustando cuidadosamente cada transmissor a fim de irradiar ondas de diferente freqüência os sinais ficavam a salvo de interferência recíproca, semelhante à que ocorrera nas Corridas Internacionais de Iate.

           Em pouco tempo as transmissões de rádio começaram a atrair a atenção dos jornais. E, mais importante do que isso, foram publicados artigos em revistas científicas saudando os esforços pioneiros de Lee De Forest no campo da telefonia sem fio.

           A Companhia de Radiotelefone De Forest foi em breve transformada numa organização maior conhecida como Companhia de Radiotelefone com um capital de dois milhões de dólares.

           A partir daí Lee começou a produção industrial dos radiotelefones para instalação em barcos e atender solicitação da Marinha, que recomendou a adoção do equipamento para uma esquadra que estava prestes a partir num cruzeiro ao redor da terra.

           A esquadra compreendia seis cruzadores, seis destróieres e dois navios auxiliares. Lee trabalhava dia e noite, quase sem dormir, a fim de entregar as encomendas. Logo depois o Exército encomendou aparelhos de radiotelefones para duas unidades do Corpo de Sinaleiros. Os progressos tinham sido tão rápidos que pareciam fazer parte de um sonho confuso.

           A extraordinária publicidade de que Lee foi alvo pelo fato de ter equipado a esquadra do Almirante Evans despertara grande interesse no exterior. Oficiais franceses, alemães e italianos solicitaram a realização de demonstrações com o Audion e o transmissor de arco. De modo que a bagagem de Lee De Forest incluía duas aparelhagens completas de transmissores e receptores de radiotelefone.

           Depois da Inglaterra, Lee foi a Paris onde conseguiu, graças a oficiais do Exército Francês, dar uma demonstração do novo equipamento na Estação Militar da Torre Eiffel. O Cel. Ferrié, chefe de Rádio do governo francês, instalara uma antena gigantesca no alto da torre. O fio principal estava ligado a um barracão de madeira localizado a 65 metros, no lado sudeste da mundialmente famosa estrutura de aço. Assistido por sua assistente Nora e vários homens do Cel. Ferrié, Lee instalou o transmissor de arco de carvão no barracão.

           Um pequeno batalhão de oficiais franceses e uma meia dúzia de representantes de outras nações européias estavam a postos para testemunhar a experiência. Operadores de telégrafo sem fio em toda a França foram alertados para que deixassem seus receptores ligados. Jornais e serviços de comunicações pelo fio mandaram repórteres a fim de cobrir o acontecimento tanto no barracão quanto nas diversas estações receptoras.

           O plano era transmitir música de fonógrafo, colocando um microfone de carvão junto ao alto-falante, tal como nas primeiras irradiações realizadas em Nova York. Finalmente, estava tudo pronto. Lee ligou o transmissor ao tempo em que pediu a sua assistente Nora que pusesse o fonógrafo em funcionamento. A música saía do alto-falante e inundava o pequeno barracão apinhado de gente.

           Durante toda a noite, Lee e Nora revezaram-se na tarefa de por os discos no fonógrafo. Por fim, perto do amanhecer, desligaram o transmissor e voltaram exaustos para o hotel a fim de aguardar os resultados.

           Às nove horas, o Cel. Ferrié apareceu trazendo no rosto um sorriso largo. Pediram o café da manhã e sentaram-se para ouvir o relato.

           " As notícias são excelentes", disse-lhes. " Tantas tinham sido as estações de sem fio que telegrafaram dizendo que haviam recebido o seu sinal que era difícil guardar o número. Sem dúvida alguma, muitas outras comunicarão o resultado pelo correio. Já sabemos, no entanto, que a música foi ouvida em estações situadas a cerca de duzentos e cinqüenta quilômetros de Paris! Temos bastante razões para júbilo".

           Dois dias depois, Lee e Nora receberam um novo relatório de Ferrié. Estações localizadas na costa do Mediterrâneo, próximo a Marselha, numa distância de aproximadamente oitocentos quilômetros, haviam captado a transmissão da Torre Eiffel!

           Em virtude do êxito da demonstração efetuada na França, o governo italiano encomendou quatro aparelhagens de equipamento radiofônico do Lee De Forest.

           Ao se aproximar o fim da década de 1930, Lee estava totalmente atraído por um novo campo das comunicações eletrônicas - a televisão. A partir de 1935 registrou dez patentes de invenções relacionadas com transmissão e recepção em televisão. Uma delas, um dispositivo de exploração radial, veio a ser o pai de um novo sistema vital para a navegação aérea e marítima conhecida como radar.

           Apesar das novas conquistas da ciência, o Audion de três elementos inventado por Lee De Forest permanece sendo a base sobre que repousam a eletrônica e as comunicações modernas.

           Lee De Forest fulgura como um símbolo da coragem, da determinação e da inabalável fé de um homem que acreditava na sua estrela pessoal.


Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
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Publicado em 01 de setembro de 2006
Atualizado em 14 de setembro de 2006

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