* *A S   R A D I O S * *




LEE DE FOREST - I

           Desde o princípio, Lee De Forest sempre considerara a telegrafia sem fio como apenas uma aplicação limitada da monumental descoberta de Hertz. Estava certo de que o verdadeiro potencial daquelas ondas invisíveis seria revelado nos anos vindouros.

           Em 1901, baseado em seus primeiros testes bem sucedidos de transmissão de bordo para a praia no lago Michigan, declarara aos jornais que no futuro a voz humana seria conduzida através do espaço do mesmo modo por que já vinham sendo transmitidos pontos e traços do código Morse. No fim do ano de 1903, achou que já era tempo da predição se converter em realidade.

           O problema da utilização das ondas hertezianas para transmitir música ou voz em lugar de código Morse não era diferente do enfrentado por Alexandre Graham Bell quando procurou aplicar o princípio da telegrafia à transmissão da voz através de fios.

           Bell percebera logo que fosse o sinal a ser enviado uma simples seqüência de pontos e traços do Morse ou as vibrações mais complexas da voz ou da música, o princípio era o mesmo.

           A transmissão de código resultava de uma série de impulsos produzidos por um transmissor que estabelecia e interrompia o circuito. O telefone era fundamentalmente um circuito telegráfico em que um transmissor sensível a vibrações sonoras substituía o transmissor de telégrafo.

           Graças a seu trabalho na Western Company, Lee De Forest conhecia intimamente os princípios que regulavam a transmissão telefônica. Apercebia-se de que, em muitos aspectos, o problema da telefonia sem fio era semelhante. Um transmissor que produzisse continuamente uma boa faísca de alta freqüência podia ser construído para radiar ondas hertzianas refletindo a voz humana. Mas ao invés de usar um transmissor de telégrafo para estabelecer e interromper o circuito de faísca e controlar a radiação de onda, ele colocaria um bocal transmissor de telefone.

           À semelhança do telefone comum, as ondas sonoras ao atingir o fino diafragma de metal fariam-no vibrar. Desde que as vibrações controlassem o volume de corrente variável podia ser produzida, que, por sua vez, faria variar a faísca do transmissor.

           As ondas seriam recebidas por um receptor sem fio e novamente convertidas em som através de um fone de telefone. No papel tudo parecia simples. Contudo, Lee De Forest sabia que em matéria de sem fios havia uma grande distância entre a teoria e a prática.

           À diferença do telefone comumente usado, que simplesmente enviava impulsos elétricos de força variável através de um fio diretamente ao fone a sinalização sem fio exigia que as ondas hertzianas fossem captadas por um receptor e convertidas em corrente elétrica.

           No caso dos sinais do código Morse, o reator eletrolítico era satisfatório. Mas receber ondas hertzianas que reproduzissem os matizes da voz humana era algo de mais novo.

           Havia necessidade de um receptor muito mais sensível. A idéia de transmitir a voz pelo sem fio não era nova. Antes mesmo que Lee De Forest houvesse prenunciado a possibilidade de tal proeza, cientistas já se vinham entretendo com a idéia e o genial inventor brasileiro, gaúcho, o Padre-cientista Roberto Landell de Moura já tinha conseguido esta façanha, a transmissão e recepção da fonia, por ondas eletromagnéticas e luminosas (1893/1894), com aparelhos de sua invenção, e, a 3 de junho de 1900, Landell de Moura voltaria a fazer novas experiências, com amplo sucesso, do alto da Avenida Paulista para o alto de Sant´Ana, na Capital Paulista, numa distância aproximada de oito quilômetros em linha reta, assistidas entre outras pessoas, pelo senhor P. C. P. Lupton, representante do Governo Britânico. Os jornais da época noticiaram o evento.

           Também em 1900, o físico americano professor Reginald Fessenden tinha usado um transmissor de faísca e um detector eletrolítico para transmitir música de uma a outra extremidade do seu laboratório, embora o resultado lembrasse muito mais o coaxar de sapos do que propriamente uma obra-prima sinfônica, mesmo assim, Fessenden demonstrara que era possível radiar ondas hertzianas reproduzindo diversas tonalidades de som.

           Lee De Forest passou imediatamente a trabalhar na construção de um rudimentar transmissor de arco de carvão que seria alimentado por uma corrente contínua de 220 volts. O aparelho incluiria também um circuito de microfone para a transmissão da voz.

           Enquanto trabalhava no novo transmissor, Lee De Forest explicava ao jovem Jack Hogan, seu assessor, como funcionava o aparelho. O princípio era o mesmo da telegrafia sem fio, assinalava, com a diferençca de que o arco de carvão substituiria a abertura da faísca. Dado que um arco gerava uma sucessão contínua de ondas hertzianas, a voz no microfone mudaria constantemente a resistência do circuito. Assim, uma maior ou menor parte da corrente da voz formaria um arco através do elétrodo a qualquer momento. O resultado seria a emissão de ondas hertzianas de força variável, ou amplitude.

           Quando as ondas eram captadas pela antena receptora e elevadas para o elétrodo de grade no Audion, elas regulavam o fluxo da corrente através do tubo, continuou Lee. Essa corrente variando constantemente era então convertida em ondas sonoras nos fones. De modo que tudo era bastante simples.

           Em 31 de dezembro de 1906, o transmissor e o receptor foram terminados. Lee De Forest e o jovem Jack Hogan colocaram as duas peças do equipamento nas extremidades opostas do pequeno laboratório. Jack Hogan colocou os fones e ligou o aparelho de recepção do Audion.

           No transmissor, situado no lado oposto da sala, Lee De Forest limpou a garganta nervosamente e falou ao microfone. " Jack, eu gostaria que você fosse buscar alguns sanduíches e café para o almoço". Olhou de relance para o rosto do jovem no outro lado do laboratório.

           O Jack Hogan tinha os olhos esbugalhados e o queixo caído. Lee falou de novo, inquirindo acerca da clareza do sinal. O rapaz estava atônito diante do milagre que estava testemunhando que levou algum tempo para entender a pergunta de Lee. Afinal, retirou os fones e gritou do outro lado do laboratório: " Funciona, Sr. De Forest! Funciona! Ouvi sua voz perfeitamente."

           Lee De Forest acalmou o jovem e os dois trocaram de posição. Jack falava ao microfone. Lee escutava claramente sua voz nos fones: " Estou ansioso para contar o fato a meu pai e minha mãe. O senhor acha que eu posso trazê-los aqui algum dia para escutarem nessa máquina?"

           Passaram o resto do dia entretidos com o novo aparelho que haviam construído. Era impressionante a nitidez com que era ouvida a voz humana. Ao cair da tarde, Lee De Forest pôs para funcionar o seu velho fonógrafo Colúmbia, colocou um disco no prato e aproximou o microfone do alto-falante. Ele e Jack Hogan revezaram-se em seguida no receptor. Distinguia-se perfeitamente cada nota!

           Quando afinal fecharam o laboratório, desceram as escadas e saíram para a noite de inverno, Lee sentia-se fatigado e entusiasmado pelos acontecimentos daquele dia. Deu boa noite a seu assistente e desejou-lhe um feliz Ano Novo. " Este ano que ora se inicia será muito importante", disse. " Mas por enquanto vamos descansar."

           Creio que foi realmente um inesquecível Final de Ano para o ilustre cientista Lee De Forest.


Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
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Publicado em 01 de setembro de 2006
Atualizado em 14 de setembro de 2006

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