África - Rumo a
uma nova humanidade - Resistindo à OMC. Por Isaac Osuoka, Chikoko, Niger Delta
De forma
verdadeiramente excitante, segmentos de pessoas dos países do Norte, em
solidariedade com as massas de explorados do Sul, mostram o poder popular nas
ruas e expõem a mentira dos governos, da OMC, do Banco Mundial, do FMI e das
grandes multinacionais que representam, que diz que a liberalização comercial
irá beneficiar os pobres do mundo. A realidade, com a qual vivemos como
cidadãos do "terceiro mundo", é que a nossa participação no comércio
global resultou na venda do grosso dos nossos recursos ao Norte e na
conseqüente deterioração progressiva dos níveis de vida dos nossos povos.
Na Nigéria, como
noutras partes do mundo, novos tipos de movimentos sociais emergem das ruínas
da ordem existente, para recriar a luta para a transformação social. Emergem,
acima de tudo, dos grupos étnicos marginalizados, que reclamam autodeterminação
e põe em causa a legitimidade da classe dirigente para o controlo contínuo sobre
as suas vidas. Estes movimentos populares, que arranjam apoios na juventude,
nos desprivilegiados dos esgotos das cidades e das vilas, devem ser vistos como
os produtos das contradições do estado nigeriano - um instrumento violento ao
serviço do capital transnacional, com um recorde mundial no que diz respeito a
impor dor aos seus súditos. Encontrando expressão em organizações de massa,
tais como o Movimento para a Sobrevivência do Povo Ogum (MOSOP), o Conselho da
Juventude Ijaw, o Movimento Chikoko, etc., as vítimas da ordem estão
respondendo à altura, fechando instalações petrolíferas e desobedecendo a leis
injustas.
Em Dezembro 1998,
mais de 5000 jovens Ijaw convergiram para a vila de Kaiama para pedir às
multinacionais petrolíferas que abandonassem as suas terras e rios, depois de
deixarem de reconhecer a injusta legislação federal que lhes nega os seus
direitos naturais de posse e controlo sobre as suas terras e os seus destinos.
Mais uma vez, os agentes do estado assassinaram os Ijaws nas ruas.
Nós vemos, nos
movimentos populares emergentes, a esperança numa expressão da vontade do povo.
O desafio é o de clarificar a sua missão, uma vez que, na falta de um
fundamento ideológico coerente, correm o risco de ser empurrados para
plataformas nacionalistas estreitas, pelos mesmos elementos da classe dirigente
que se escondem sob a capa das "nações étnicas". Os ativistas jovens
que constituem o grosso destes movimentos emergentes, enfrentam a morte, graças
a uma militância que é característica dos que se sentem sem nada, que não têm
nada a perder. Porque não têm quaisquer esperanças em desenvolver as suas
potencialidades humanas no sistema presente.
Com movimentos de
pessoas independentes, com missões coerentes de reclamar as ruas e os rios,
podemos unir forças com movimentos similares, como os sem-terra no Brasil, os
zapatistas, etc., que, de formas diferentes, preparam o terreno para derrubar a
atual ordem de exploração e para a construção de uma nova humanidade.
É por isso que os
acontecimentos de Seattle são encorajadores. As pessoas exploradas estão
identificando e atacando as forças e as estruturas econômicas que criam as
condições para o empobrecimento da maioria da população mundial e que induzem à
violência na nossa sociedade. Nas ruas de Seattle estão ativistas de vários
países, em representações de camponeses, desempregados e subempregados, dos
indígenas cujas terras são devassadas em busca de lucro, da igreja, etc. Da
esquerda, do centro e mesmo da direita. A coligação conseguida para Seattle
talvez seja demasiado abrangente para se manter por muito tempo, uma vez que há
muitas alternativas divergentes propostas. Algumas revolucionárias, algumas
reformistas. Algumas reacionárias. Mas o impacto, de momento, tem sido potente,
mostrando indicadores de que, à medida que nos aproximamos do próximo século,
as fronteiras da resistência à ordem da exploração se vão expandir.
Sabemos que Seattle
pode ser considerado um terreno estranho para esta luta. A resistência, que irá
levar ao desmantelamento da ordem existente e à criação de uma sociedade mais
humana será levada a cabo onde os segmentos explorados estão baseados. O
terreno é grande.
Contato: Chikoko,
Yenagoa, Bayelsa State, Nigeria; Tel/fax: +234 84 236 365; e-mail:
[email protected]; [email protected]