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Pelo filósofo francês Jean Baudrillard,
Na Europa,
todas as minorias étnicas estão em vías de extinção.
Todos os estados europeus, embora neguem, são nada menos
que cúmplices de Milosevic. É necessário mais que
nunca, expor as razões cínicas desta "guerra",
as razões inconfessadas desta intervenção que se diz
ser um fracasso, mas que é catastrófica em todos os
sentidos. Principalmente neste momento em que nos
assaltam as dúvidas mais cruéis sobre toda esta trágica
encenação. Tantos erros acumulados, tantas tangiversações
e fracassos tem que fazer algum sentido, e esta
persistencia na confusão tática, na guerra veleidosa
que erra deliberadamente (falo dos ocidentais: Milosevic
não errou sozinho), tudo isso traz dúvida sobre a própria
natureza dessa guerra: a continuação da política por
outros meios. Se esta definição é válida, então
todas nossas estratégias e nossos políticos ocidentais
são idiotas, o que em certo sentido, não está longe de
ser verdade. Mas antes de chegar a este extremo, nos
peguntamos se não estão, pelo contrário, levando a bom
têrmo uma operação perfeitamente programada. Comenta-se
sobre as falhas da OTAN e da incapacidade política européia.
Mas NÃO, é exatamente o contrário. Que faz Milosevic?
Elimina as minorias, em especial a minoria muçulmana, e
toda a Yugoslavia "branca", católica ou
ortodoxa, o apóia. Mas não somente a Yugoslavia. Toda
Europa é cúmplice. Todos os estados nacionais europeus
tem problemas com suas minorias de origem, ou com
imigrantes, e estão longe de solucioná-los. Desgraçadamente,
por todos os lados, as minorías étnicas, lingüísticas,
e todas as singularidades estão em vías de
desaparecimento ou de eliminação. Milosevic aparece
como a suprema bandeira da depuração étnica. Mas em
toda a Europa os estados "depuram" veladamente,
pisoteando os mais básicos princípios da autonomía e
dos direitos do homem, todos os estados europeus (não
falo das populações, mas, o que elas podem fazer sem a
caixa de ressonância ideológica e humanitária da
informação?) não podem ser mais do que cúmplices
fundamentais de Milosevic. Se o vomitam com sua conciência
pesada e fingem castigá-lo é porque sabem fazer (ou
seja, muito mal, muito brutalmente) o trabalho sujo. Por
isso lhe deram todo o tempo do mundo para fazê-lo. Por
quê lamentar incansavelmente não haver efetuado uma
intervenção um, dois, tres anos antes? E por quê o
desconhecimento assombroso da situação ao envolver a
OTAN em ataques aéreos sem pensar nas consequências em
terra? E por quê não paralizar imediatamente as fôrças
sérvias em terra, em Kosovo, em lugar de despejar uma
logística aérea mais ou menos inútil? Bem, a resposta
salta aos olhos. Tudo se clarifica quando alguém se dá
conta de que os ataques aéreos estão aí não para
intervir em terra mas para atrazar o mais possível a
intervenção, até quando tudo estiver terminado. Solana
disse bem (sem pensar que atraiçoava cruelmente a
verdade política desta guerra): "Nós não
retomaremos as negociações com Milosevic (mas, não se
trata mais de livrar-se dele)? Se ele não por fim à
limpeza étnica". Entendam bem: até quando ela
houver acabado. O que sucede inexoravelmente. Nesse
sentido, esta guerra, ou pelo menos a operação que
abarca esta guerra que assistimos com indignação, se
efetua de maneira ótima, quase programática. Porque
Milosevic é o executor da política européia, a
verdadeira, a única, a da Europa branca, limpa,
purificada de todas as minorias. Política negativa, política
exclusiva e integrista. Por quê ter ilusões? A Europa não
tem nenhuma idéia positiva de si mesma. Nada atormenta
mais a Europa que seu próprio espectro. Por todos estes
motivos nós fingimos que o combatemos, mas sempre tarde
e mal. De qualquer maneira, a sordidez continua. Depois
de Kosovo, Montenegro, Kurdistão, etc., na Palestina e
Timor Leste, prossegue o tragicômico "processo de
paz" respondendo exatamente a este mesmo "atraso"
indefinido e calculado. Extraído do Libération
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