TEXTO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

PROF.ADHEMAR BERNARDES ANTUNES

TEMA 05

O SOCIALISMO NA CHINA: A REVOLUÇÃO CHINESA

 

No decurso do século XIX a China sofreu duramente a exploração econômica por parte das nações européias e dos Estados Unidos. A reação a esta situação demorou, mas aconteceu com o surgimento, em 1905, do Kuomintang (Partido Popular Nacional), organizado pelo médico Sun Yat-sen. O novo partido pretendia transformar a China através de uma revolução econômica e social.

Em 1912, sob a liderança de Sun Yat-sen, foi proclamada a República. A partir de 1917 o comunismo passou a fazer um grande número de adeptos entre os jovens, com o apoio da União Soviética, que pretendia formar na China um grande partido. E de fato, em 1922 era fundado o Partido Comunista Chinês.

Entre seus fundadores estava um jovem chamado MaoTse-tung. O futuro da China estaria nas mãos deste homem.

Com a morte de Sun Yat-sen, em 1925, seu substituto, o general Chiang Kai-chek, assumiu a liderança do Kuomintang. Mas como o recém-fundado Partido Comunista Chinês estava crescendo enormemente, passando a representar uma ameaça ao seu governo, Chiang Kai-chek voltou-se contra os comunistas, seus antigos aliados, e mandou massacrá-los. Milhares deles foram mortos, sobretudo em Shangai. Os acontecimentos relativos ao massacre de Shangai, em 1927, são magistralmente descritos no romance "A condição humana", do grande escritor francês André Malraux.

A partir daí Chiang Kai-chek declarou guerra sem tréguas aos comunistas, que foram obrigados a fugir para o norte do país. Sob a liderança de Mao Tse-tung, cerca de 300 mil soldados, além de mulheres, crianças, camponeses, empreenderam a chamada Longa Marcha, um avanço de 10 000 km em direção à província de Shensi.

Em 1937, aproveitando a situação de conflito interno, o Japão invadiu a China. Na verdade, já em 1931 os japoneses haviam ocupado a Manchúria, aproveitando-se exatamente das divisões internas existentes no país.

 

JAPÃO, O INIMIGO COMUM

Diante do inimigo comum, os comunistas e o Kuomintang se uniram, devendo os comunistas participar do governo que se organizaria em Nanquim.

A guerra contra o Japão foi decisiva para a formação do Exército Popular de Libertação, pois os comunistas recrutavam seus soldados entre os camponeses, os quais, em meio às operações militares, ajudavam os agricultores em sua tarefa; não precisavam, assim, viver à custa dos camponeses. Ao contrário, o exército do Kuomintang, organizado com base em tropas profissionais, dependia da exploração dos trabalhadores. Por essa razão, o exército comunista tornou-se extremamente popular.

Ao terminar a II Guerra Mundial, o Japão estava derrotado e retirou-se da China. Chiang Kai-chek deu-se conta então do crescimento das forças comunistas e preparou-se para exterminá-las. Contava com um exército oito vezes maior e excelente material militar americano. Suas tropas eram, porém, mal preparadas e não contavam com o apoio da população. Os conselheiros americanos pressentiram que não haveria chance de vitória sem a realização de uma reforma agrária. Mas Chiang, apoiado pelas classes mais ricas da China, os grandes proprietários, os comerciantes e os banqueiros, temia uma mudança tão profunda.

 

A VITÓRIA COMUNISTA

Os comunistas, pelo contrário, ligavam-se aos camponeses. Nas regiões por eles ocupadas ocorriam revoltas. Mao ordenou então a distribuição das terras de antigos grandes proprietários, enquanto os pequenos proprietários deixavam de sofrer os confiscas costumeiros da produção. Mesmo não sendo muito profunda, essa mudança provocou o aumento do número de camponeses alistados no Exército Vermelho. Em fins de 1947 seu poderio eqüivalia ao das forças de Chiang.

Pressentindo que seu aliado seria incapaz de reverter a situação, os americanos o abandonaram, permitindo o avanço rápido dos comunistas liderados por Mao.

Em 1949 Chiang procura refúgio na ilha de Formosa, de onde pretendia retornar ao continente. Mas a 1 de outubro de 1949, com o país inteiramente dominado pelo Exército Vermelho, foi proclamada a República Popular da China.

 

A TRANSFORMAÇÃO POLÍTICA, SOCIAL E ECONÔMICA DA CHINA

As diretrizes que Mao impôs à China, depois da tomada do poder, já estavam previstas em seu texto Sobre a Nova Democracia, de 1940. As tarefas iniciais para a construção do Estado socialista na China envolviam a derrota dos grandes proprietários e o combate ao imperialismo.

A Nova Democracia, estabelecida pela Constituição de 1954, criava uma hierarquia de assembléias locais e o Congresso Nacional do Povo. A esse Congresso, eleito por quatro anos, cabia a eleição do presidente da República; era ele também que delegava o poder ao Conselho Governamental Popular, constituído pelos ministros.

O poder, na realidade, apesar do pluralismo aparente dos partidos políticos, pertencia exclusivamente ao Partido Comunista, que mobilizava o interesse popular com muita habilidade, realizando enormes manifestações em Pequim. As minorais étnicas e religiosas gozavam de uma relativa autonomia. As relações entre Pequim e a Igreja católica foram totalmente rompidas, com a prisão e a expulsão de padres, até a criação, em 1958, de um bispado separado de Roma.

No plano social, o novo governo dedicou-se à eliminação da antiga classe social dominante, considerada "parasita", ocorrendo numerosas execuções em 1951

Os elementos que não foram executados foram submetidos a humilhações, privados do direito de voto e obrigados a passarem por um processo de "reeducação".

O comunismo chinês libertou as mulheres da sua antiga dominação, estabelecendo a igualdade entre os sexos, liberdade de casamento, o acesso às mais altas funções públicas, o que representava para a China uma enorme revolução nos costumes milenares.

O governo civil, por longo tempo hostil à limitação da natalidade, defrontou-se com o grave problema da explosão de m o gráfica, forçando a tomada de decisões de controle populacional.

 

A NOVA ECONOMIA

No plano econômico, a fase entre 1949 e 1952 foi marcada pela reconstrução e estabilização da economia. Nesse período coexistiam empresas estatais, empresas mistas, empresas privadas, pequenos produtores e as grandes cooperativas dirigidas pelo Estado.

A reforma agrária foi instituída em 1949, tendo inicio a expropriação dos grandes latifúndios. Assim, de um total de 107 milhões de hectares cultivados, 47 milhões foram confiscados e distribuídos entre 70 milhões de famílias.

Mais tarde, em 1953, esses pequenos proprietários foram agrupados em cooperativas agrícolas, tendo perdido a propriedade individual da terra e passado à condição de assalariados.

Já em 1958, nova modificação foi introduzida, surgindo as comunas populares, que resultavam da fusão das cooperativas. Os anos que se seguiram (de 1958 a 1962) foram de crise. A queda brutal da produção levou os dirigentes chineses à centralização do sistema de comunas, obtendo-se daí melhores resultados.

Em 1958 todas as indústrias foram nacionalizadas, passando para o controle do Estado ou das cooperativas. Nessa fase inicial, o desenvolvimento da indústria contou com o apoio técnico e financeiro da União Soviética. A partir de 1960, porém, por razões de ordem política, sobretudo distanciamento ideológico entre China e União Soviética, essa ajuda terminou.

 

A EVOLUÇÃO POLÍTICA

A evolução política da China, durante e após a revolução, foi guiada pelas idéias de Mao Tse-tung. As idéias políticas contidas no seu Livro Vermelho dominaram o pensamento socialista chinês na fase de implantação da revolução.

Para Mao, a revolução não termina com a tomada do poder. Ela é permanente. É preciso manter a chama da luta ideológica sempre acesa.

Mas o fracasso de um pretensioso plano econômico baseado nessas idéias, idealizado por Mao em 1958 e denominado de Grande Salto para a Frente, fez surgirem divisões no interior da liderança do Partido Comunista.

Fortaleceram-se os opositores de Mao, principalmente o Presidente da República, Liu Shao-chi, que passou a orientar a economia chinesa novamente segundo os modelos soviéticos.

Mao e seus partidários revidaram desencadeando, em 1966, a Grande Revolução Cultural Proletária, movimento de mobilização de massas, sobretudo estudantes. Sua finalidade era combater a política econômica pragmática baseada em incentivos materiais e individuais. Pretendia também promover uma depuração dos quadros existentes, com o aproveitamento principal mente dos jovens. Formaram-se batalhões de "guardas vermelhos", recrutados entre estudantes e camponeses.

Os chamados direitistas, como Liu Shao-chi, foram depostos. Depois de muitos excessos, Mao decidiu interromper a Revolução Cultural, antes que ela fosse longe demais. Isto provocou o descontentamento de lideres mais radicais coma Lin Piao, ministro da Defesa. Ele tentou um golpe, mas foi descoberto e teve de fugir, ocasião em que seu avião caiu na Mongó1ia.

 

DENG XIAOPING

A luta pelo poder, na China, foi renovada em 1976, com a morte de Mao Tse-tung e de Chu En-lai. Destacou-se então o chamado "Grupo Radical", liderado pela mulher de Mao, Jiang Qing, contra os partidários de Deng Xiaoping e Hua Guofeng, considerados direitistas. 0 grupo radical foi derrotado e da crise emergiu como figura máxima Deng Xiaoping.

Com a ascensão de Deng Xiaoping, uma nova fase na vida da China se iniciava. Deng percebeu que o país estava perdendo a corrida pela modernizaçao e decidiu mudar os rumos da economia. Passou a incentivar a iniciativa privada e a permitir a entrada de empresas e de capitais estrangeiros.

Essas medidas acarretaram mudanças enormes no pais. Empresas do mundo inteiro, sobretudo do Japão e dos Estados Unidos, passaram a investir bilhões de dólares no pais. 0 aspecto das grandes cidades começou a mudar. Surgiram imensos prédios modernos, hospitais, fábricas, partes. Em 1995 a China já ocupava no cenário mundial um papel de grande destaque, aparecendo coma um dos gigantes econômicos e mercado privilegiado dos grandes investidores.

A abertura econômica promovida pelo governo chinês trouxe como conseqüência também um grande movimento popular que exigia liberdades democráticas.

Em maio de 1989, milhões de pessoas saíram às ruas exigindo liberdade de manifestação e o fim da corrupção e dos privilégios dos altos funcionários. O movimento recebeu o nome de Primavera de Pequim.

Recusando-se a fazer qualquer mudança, o governo reprimiu com extrema violência o movimento: em junho, tropas fortemente armadas e tanques avançaram sobre a multidão reunida na praça da Paz Celestial, em Pequim, matando muitas pessoas.

Os conservadores venceram. Perderam os reformistas.

A abertura política que varria a Europa foi rejeitada e o Partido Comunista chinês recusava-se a abrir mão do poder.

 

 

 

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