A ERA GORBATCHEV – O FIM DA GUERRA FRIA

 

 

De 1917 até 1990, o povo soviético viveu sob um regime de partido único, que exercia um estreito controle sobre a vida dos cidadãos. A partir da ascensão de Gorbatchev, em 1985, a União Soviética experimentou uma fase de transição rumo a uma nova ordem política, ao modelo de economia de mercado e a uma nova orientação nas relações internacionais. Com as reformas liberalizantes de Gorbatchev, surgiram na União Soviética as organizações políticas e sindicais independentes e o pluripartidarismo. Nós vamos acompanhar essa trajetória do Estado soviético até o momento da tentativa de golpe militar, em 1991. Vamos falar de glasnost e perestroika, dois conceitos que se tornaram muito conhecidos nos anos 80 e que lançaram as bases daquilo que mais tarde se convencionou chamar de Nova Ordem Mundial.

 

URSS NOS ANOS 80: CRISE ECONÔMICA

No início dos anos 80, a economia soviética, inteiramente controlada pelo Estado, encontrava-se à beira do colapso. O parque industrial, em sua maior parte, estava obsoleto.
Os níveis de produção caíam a cada ano e a qualidade de vida tornava-se insatisfatória para a maioria da população. Oficialmente não havia desemprego na União Soviética. O governo não divulgava informações sobre a verdadeira situação do Estado. Na verdade, em algumas regiões, como no Cáucaso, mais de um terço da população economicamente ativa estava sem trabalho.

A crise chegou a alguns bairros de Moscou. Os moradores enfrentavam a falta de alimentos e produtos básicos e a precariedade de serviços, como o fornecimento de luz, água e telefone. A população formava grandes filas para comprar pão, leite e outros produtos essenciais.

Essa realidade contrastava com o dia-a-dia de um reduzido grupo de cidadãos com acesso a todo tipo de privilégios. A opulência dos altos funcionários do Partido Comunista, uma das mais notórias distorções dos ideais marxistas, ficava ainda mais visível num momento de crise econômica. Os funcionários da burocracia estatal, moradores de amplos apartamentos, faziam suas compras em lojas especiais, longe das filas. Possuíam carros novos ou andavam em limusines, viajavam sempre ao exterior e se refugiavam em confortáveis casas de campo, as famosas datchas. Os cidadãos comuns, de modo quase oposto, moravam em pequenos apartamentos, muitas vezes com outras famílias, viajavam para as colônias de férias determinadas pelo governo, e aguardavam alguns anos na lista de espera para adquirir um carro popular.

 

A KGB E A BUROCRACIA SOVIÉTICA

De um modo geral, um quadro como esse, de desequilíbrio econômico e injustiça social, costuma estimular o surgimento de grupos de oposição. Mas, na União Soviética, as tentativas de oposição organizada eram logo reprimidas com rigor pela KGB, a temida polícia política que não media esforços para eliminar os focos de resistência ao regime.

De 1964 a 1982, mais do que nunca, a KGB foi utilizada para preservar os privilégios dos burocratas de alto escalão do PCUS. Durante esse período o homem forte da União Soviética era Leonid Brejnev, que chegou ao poder em outubro de 64, em substituição a Nikita Khruschev.

Considerado nos meios políticos ocidentais um dirigente de linha dura e pouco afeito às formalidades da diplomacia, Brejnev marcou seu governo com medidas graves como a invasão da Checoslováquia, em 1968, para pôr fim ao período liberal conhecido como "Primavera de Praga". Onze anos depois, em dezembro de 79, outra medida dura e de grande repercussão: o líder ordenou a ocupação militar do Afeganistão, para preservar o domínio de Moscou na região centro-oeste da Ásia. Na era Brejnev, a KGB lançou mão de métodos duros para combater os focos de oposição a este quadro de privilégios dos burocratas, e aos rumores de envolvimento do governante e de sua filha Galina com episódios de corrupção e contrabando. Muitos oposicionistas foram presos, enclausurados em hospitais psiquiátricos ou confinados em localidades determinadas pelo governo. Alguns dissidentes tornaram-se célebres no Ocidente, como o escritor Alexander Soljenítsin e o físico Andrei Sakharov, prêmio Nobel da Paz em 1975.

 

O FIM DA ERA BREJNEV

Na época da morte de Brejnev, em 1982, o único setor em boas condições, além da burocracia do Partido Comunista, era o militar. A indústria bélica e espacial manteve a produção de mísseis e foguetes de alto nível de sofisticação, apesar do elevado custo social.

O novo Secretário-geral do Partido Comunista era Yuri Andropov, uma figura enigmática que assumiu o poder com fama de linha dura, por ter sido chefe da KGB durante 15 anos. Essa imagem foi reforçada com a derrubada, em 83, de um avião de passageiros da Korean Air Lines, por invasão do espaço aéreo soviético.

Por outro lado, Andropov iniciou um processo de pequenas mudanças liberalizantes na economia, estimulou uma campanha contra a corrupção na máquina administrativa do Estado e reuniu em seu governo alguns auxiliares que mais tarde estariam envolvidos nas reformas de Mikhail Gorbatchev. Andropov ficou no poder até a morte, em fevereiro de 1984.

Para alguns historiadores, Andropov estava bem informado sobre a precária situação econômica do país, em virtude de suas ligações com a KGB. Assim, teria decidido antecipar algumas reformas para evitar a eclosão de movimentos sociais e trabalhistas que poderiam abalar a estrutura de poder na União Soviética. O sucessor de Andropov, Konstantin Tchernenko, assumiu o poder já em condições precárias de saúde. Governou por 11 meses, até morrer em março de 1985. Hoje, sabe-se que sua indicação pelo partido foi um modo de adiar por algum tempo a questão sucessória, até que os dois grupos em disputa chegassem a um acordo. De um lado, os herdeiros políticos de Brejnev não queriam saber de reformas. De outro lado, a ala mais jovem do partido pretendia levar adiante as mudanças políticas e econômicas no país. No final, deu Gorbatchev.

 

COMEÇA A ERA GORBATCHEV

 

Mikhail Sergueievitch Gorbatchev assumiu a Secretaria-geral do Partido Comunista em março de 85, aos 54 anos. Sua ascensão ao cargo foi resultado de uma trajetória rápida e brilhante dentro da estrutura do partido. Membro desde 1980 do Politburo, a instância máxima do Comitê Central do PCUS, Gorbatchev demonstrava uma habilidade diplomática incomum, e quando assumiu o poder já era uma figura conhecida nos meios políticos ocidentais.

Em agosto de 85, Gorbatchev surpreendeu o mundo ao suspender os testes nucleares subterrâneos, declarando uma moratória nuclear unilateral. A medida, no entanto, soou como mais uma peça de propaganda soviética. O líder reservava mais surpresas para o 27.º Congresso do Partido Comunista, em fevereiro de 86, quando expôs um audacioso programa de reformas políticas e econômicas. No plano político, Gorbatchev queria enterrar a corrida armamentista e estabelecer um projeto de colaboração entre as nações. No plano econômico, a meta era revitalizar todos os setores de produção, estagnados desde a época de Leonid Brejnev.


GLASNOST E PERESTROIKA

As expressões glasnost e perestroika começaram a se popularizar na imprensa ocidental. Glasnost, em russo, quer dizer transparência. Com esse conceito, Gorbatchev queria expressar uma nova relação entre o poder e a sociedade. Para ele a censura deveria ser abolida, para que os problemas pudessem ser discutidos abertamente pela população. Perestroika significa reconstrução. Indicava a necessidade de reformulação da economia soviética, sobre novas bases. Em 1986, Gorbatchev mostrava-se um defensor do estatismo socialista e do igualitarismo econômico, mas afirmava também que seria bem-vinda a iniciativa empreendedora de cada cidadão. Para ele, o Estado não deveria ser um obstáculo para o progresso individual. As propostas eram consideradas muito avançadas dentro da própria União Soviética. Observadores acreditavam que Gorbatchev poderia ter o mesmo fim de Nikita Khruschev, deposto em 64 ao tentar introduzir reformas vistas com antipatia pelos burocratas do Partido Comunista.

 

CHERNOBYL: SINAIS DE ABERTURA POLÍTICA

O primeiro grande teste do novo líder aconteceu em abril de 86, quando um vazamento na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, liberou uma nuvem radiativa que contaminou diversas regiões da União Soviética e da Europa. O aumento dos níveis de radiatividade na atmosfera foi detectado pela Suécia, que pressionou o governo soviético por mais informações.

Depois da relutância no primeiro momento, as autoridades de Moscou admitiram a responsabilidade pelo acidente e passaram a tratar do assunto com uma abertura sem precedentes. A imprensa internacional recebeu todas as informações que procurava, e iniciou-se um amplo debate sobre o programa nuclear e as condições das usinas instaladas na Europa.

Outro exemplo dos novos tempos foi a libertação, em dezembro de 86, do físico Andrei Sakharov, confinado por quase sete anos na cidade de Gorki, a 400 quilômetros de Moscou. O célebre dissidente havia sido condenado por Brejnev em razão de sua luta pelos direitos humanos e por suas críticas à invasão do Afeganistão. Em pouco tempo, Gorbatchev deu ao mundo provas de que falava sério ao propor reformas substanciais no Estado soviético. Essa disposição começou a inquietar setores do Partido Comunista. No final de 87, o governante lidava com duas alas antagônicas dentro de seu partido. Não demorou para que essas divergências fossem de conhecimento público.

 

CONFLITOS INTERNOS NO PARTIDO COMUNISTA

Em seu segundo ano de governo, Mikhail Gorbatchev enfrentava duas correntes formalmente inconciliáveis. Uma delas, adversária das mudanças, acreditava que a saída para a crise estava no aprofundamento dos traços coletivistas da União Soviética. Liderada por Igor Ligatchov, a ala tinha o apoio dos burocratas da época de Brejnev. O outro grupo, ao contrário, queria acelerar as reformas. Defendia a limitação dos privilégios usufruídos pela cúpula do poder e maior apoio à iniciativa privada. Essa corrente, formada pelos setores mais jovens, tinha a liderança de Bóris Ieltsin, chefe do partido em Moscou. Gorbatchev tentou o caminho da conciliação. Em vez de adotar um dos pontos de vista e combater o outro, escolheu uma política de compromissos e concessões. Num certo momento, cedia às pressões dos reformistas. Em outro momento, criticava os excessos e satisfazia a chamada "ala burocrática". A primeira grande vítima desse processo foi Bóris Ieltsin, que no final de 87 caiu em desgraça e perdeu todos os cargos de chefia do Partido Comunista. O ano de 1988 foi decisivo para a implantação da glasnost e da perestroika. Gorbatchev autorizou a Igreja Ortodoxa Russa a celebrar seu milésimo aniversário em todo o país. A medida contribuiu para criar um clima inédito de festa e de liberdade espiritual. Além disso, em maio de 88, o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, visitou Moscou numa atmosfera de descontração política que prenunciava importantes acordos sobre desarmamento.

 

COSTUMES SOVIÉTICOS TORNAM-SE MAIS LIBERAIS

As mudanças chegaram aos costumes, que tornaram-se mais liberais. Em junho, o primeiro concurso de Miss Moscou mostrava que a preocupação com a beleza frívola já não era mais considerada um sinal de decadência burguesa ou um desvio do socialismo.

O cinema soviético logo refletiu a liberalização dos costumes. O filme "A Pequena Vera", por exemplo, mostrava o comportamento dos jovens na era da glasnost e as relações sociais e familiares na União Soviética no fim dos anos 80. Foi nesse clima que se instalou, em junho e julho de 88, a 19.ª Conferência do Partido Comunista. Gorbatchev anunciou sua determinação de permitir o pluralismo político no país, respeitando as particularidades do regime socialista. A partir dessa data, os membros do partido precisariam disputar para valer, através do voto, os cargos eletivos do Estado e as vagas do Soviete Supremo, o órgão máximo de poder do país. Na mesma conferência, Gorbatchev condenou abertamente, pela primeira vez, a natureza do socialismo soviético, classificada por ele de arbitrária. Defendeu a criação de um sistema de garantias dos direitos dos cidadãos, o estado de direito. Com essa postura, o dirigente entrou em confronto direto com Igor Ligatchov, o líder dos burocratas do partido. Os ventos da mudança começavam a soprar mais rapidamente sobre Moscou. A primeira decisão importante depois da conferência do Partido Comunista foi tomada em agosto de 88: as tropas do exército soviético começaram a deixar o Afeganistão depois de nove anos de ocupação e guerra.

 

SURGEM AS FRENTES POPULARES

Outro fato significativo foi o surgimento das Frentes Populares nas repúblicas que formavam a União Soviética. Eram organizações não partidárias, mas com uma plataforma política definida, que reuniam milhares de membros do Partido Comunista, especialmente os mais jovens. De um modo geral, essas frentes lutavam pelo fim da opressão exercida durante décadas pelo poder central. Faziam denúncias dos crimes da era stalinista e lutavam contra o descaso do governo em relação às questões ambientais. Nas repúblicas de maioria islâmica, as frentes populares impulsionavam movimentos religiosos, como no Tadjiquistão. Muitas dessas frentes, desde o início de suas atividades, enfatizavam a necessidade da proclamação da independência em relação à União Soviética.

No final de 88, a paisagem cultural estava substancialmente diferente, como se podia observar nas ruas de Moscou. Mas verificava-se um vácuo no sistema político soviético. Com tantas mudanças em curso, não havia ainda um novo sistema definido, em substituição ao antigo.

A economia do país não ia bem. Sem medo de punições, funcionários públicos procuravam fortuna fácil no mercado negro, tirando mercadorias de circulação para revendê-las a preços mais altos. Além disso, uma resolução da 19.ª Conferência do Partido Comunista permitiu a criação de cooperativas privadas, com objetivos claros de lucro. Com elas surgiu uma casta de prósperos negociantes, em geral antigos burocratas do Estado ou integrantes de grupos mafiosos internacionais. Enquanto isso, a maioria da população sofria os efeitos da desordem administrativa.

"A situação da economia soviética durante o período da perestroika foi resultado de dois movimentos contraditórios e assimétricos no tempo. O primeiro foi aquele que resultou no desmanche dos ministérios e no desmanche do aparelho de planificação. O outro foi aquele que pretendia introduzir um novo sistema, de relações de mercado, descentralizando decisões, desestatizando as empresas estatais. O primeiro se fez muito rapidamente. O segundo levou mais tempo. E, exatamente por tomar mais tempo, está sendo introduzido na Rússia até hoje. Era inevitável que esses movimentos gerassem a desorganização econômica que se refletiu numa série de dificuldades, entre elas o abastecimento. Cabe acrescentar que esse problema no abastecimento foi agravado pelo comportamento da própria população, que, ainda sob o trauma da guerra, resolveu estocar mantimentos em suas casas. (Lenina Pomeranz economista)

Todos os setores da sociedade foram sacudidos pelas reformas de Gorbatchev. As pressões políticas e econômicas sobre Moscou vinham de todos os lados. Nas repúblicas, movimentos nacionalistas queriam a independência. Na economia, a população temia a instabilidade, a inflação e os abusos do mercado negro. Na política, o Partido Comunista estava cada vez mais dividido, enquanto as frentes populares cresciam.

 

ELEIÇÕES AGITAM A UNIÃO SOVIÉTICA

Nesse cenário de incertezas, Gorbatchev precisou enfrentar um novo teste, em março de 1989: as eleições para o Congresso dos Deputados do Povo, também chamado de Assembléia do Povo, que escolheria o novo presidente da República. Pela primeira vez na União Soviética, muitos candidatos concorriam ao Parlamento. As ruas se encheram de faixas e cartazes de campanha. Os eleitores compareciam aos comícios e faziam questão de manifestar apoio aos seus candidatos.

Embora só o PC estivesse legalizado, qualquer pessoa podia se candidatar, bastando o aval de quinhentos moradores do bairro. As eleições, realizadas em clima de liberdade, marcaram o retorno triunfal de Bóris Ieltsin, o deputado mais votado do país. E também liquidaram o monopólio do poder exercido pelo Partido Comunista. Inúmeros candidatos reformistas conseguiram se eleger, ampliando a base de apoio de Gorbatchev.

Nessa época, Mikhail Gorbatchev era identificado, no Oriente e no Ocidente, como um estadista empenhado no fim da corrida armamentista, que levaria o mundo a uma nova era de paz. Em maio de 89, a visita de Gorbatchev a Pequim acendeu o estopim do movimento dos jovens pela democratização da China, que resultaria no massacre da Praça da Paz Celestial, no começo de junho.

 

A QUEDA DO MURO DE BERLIM

Em outubro do mesmo ano, na Alemanha Oriental, o dirigente advertiu o líder comunista Erich Honecker de que a União Soviética não toleraria uma repressão violenta ao movimento pela democracia, cada vez mais forte naquele país. A visita de Gorbatchev à capital do país fez deslanchar o movimento popular que resultaria, no mês seguinte, na queda do Muro de Berlim. A queda do muro representou o fim do socialismo no mais rico, próspero e politicamente fechado país da Europa Oriental. Em pouco tempo, o processo se alastrou por todos os países do bloco socialista. Os episódios mais violentos foram vividos na Romênia, em dezembro de 89. A luta popular pelo fim da ditadura custou a vida de pelo menos 10 mil pessoas, que tombaram diante das forças da Securitate, a polícia política do ditador Nicolai Ceaucescu. O processo terminou quando o Exército, que se voltou contra o governo, prendeu e realizou o julgamento sumário e a execução de Ceaucescu e de sua mulher Helena, no Natal de 89.

 

PACTO DE VARSÓVIA DEIXA DE EXISTIR

Na prática, com esses acontecimentos deixava de existir o Pacto de Varsóvia, um acordo de cooperação econômica e militar entre os países do bloco socialista criado em 1955 e formalmente extinto em julho de 91. No entanto, o tratado dos países ocidentais, a OTAN, seguia firme e forte. Foi nesse contexto que Gorbatchev reuniu-se pela primeira vez com o presidente norte-americano George Bush na ilha de Malta, no finalzinho de 89. Para muitos historiadores, esse encontro representa o início do que se convencionou chamar de Nova Ordem Mundial, uma fase da história contemporânea marcada pela existência de uma única superpotência. O bloco socialista estava em ruínas e o Ocidente dava as cartas. Na volta a Moscou, o líder da perestroika ainda precisou enfrentar novos obstáculos, na difícil condução da União Soviética à normalidade institucional.

No início de 1990, Gorbatchev organizou o 28° Congresso do Partido Comunista, que viria a ser o último da história soviética. O encontro tornou-se especialmente importante por duas razões. Bóris Ieltsin, recém-eleito presidente da Rússia pelo Congresso do Povo, rompeu definitivamente com o comunismo. Além disso, o Partido Comunista aprofundou suas divergências internas, determinando o fim da política conciliatória de Gorbatchev.

 

TENTATIVA DE GOLPE CONTRA GORBATCHEV

O acelerado processo de desmantelamento do socialismo no leste europeu estimulava as especulações sobre o futuro da própria União Soviética. Para tentar evitar o colapso, Gorbatchev concedeu mais autonomia às repúblicas, procurando mantê-las unidas em um só país. Ofereceu insumos econômicos a preços mais baixos e garantias de proteção militar. Num esforço final, o líder preparou o Tratado da União, para ser assinado por todas as repúblicas soviéticas em 21 de agosto de 1991. O golpe de Estado do dia 19, no entanto, frustrou as negociações.

"A data do golpe de agosto não foi escolhida ao acaso. Dois dias depois que o golpe foi desfechado, seria assinado o tratado da união que, pela primeira fez, asseguraria uma certa horizontalidade de poder entre a Rússia e as demais repúblicas que constituíam a União Soviética. Pela primeira vez haveria uma certa democracia, uma certa repartição de poderes, e a Rússia perderia seu caráter centralizador de um império solidamente ancorado em Moscou. Por isso o golpe foi desfechado: porque as pessoas que deram o golpe não toleravam a possibilidade de que a Rússia deixasse de ser o grande império, a grande mãe Rússia" .(José Arbex Júnior. jornalista)

Os golpistas permaneceram menos de 72 horas no poder. O presidente da Rússia, Bóris Ieltsin, que havia sido reconduzido ao cargo em maio de 1991 pelo voto direto, liderou a resistência ao golpe. Gorbatchev ainda tentou manter a estratégia do Tratado da União, mas era tarde demais. Em poucos dias, as repúblicas do Báltico conquistaram a independência. Nos meses seguintes, todas as repúblicas soviéticas seguiram o mesmo caminho.

 

O FIM DA UNIÃO SOVIÉTICA

No dia 8 de dezembro de 91, Bóris Ieltsin proclamou a independência da Rússia e a formação da Comunidade dos Estados Independentes, integrada também pela Bielo-Rússia e pela Ucrânia. As demais repúblicas foram ratificando a decisão, com exceção das bálticas - Letônia, Estônia e Lituânia. Na prática, a União Soviética não existia mais.

Mikhail Gorbatchev renunciou no dia 25 de dezembro de 1991, por não concordar com a forma como se concretizou o fim da União Soviética. De qualquer modo, em 6 anos e nove meses o líder da perestroika esteve à frente de acontecimentos que conduziram o planeta a uma nova ordem mundial, às vésperas do século XXI.

Com o fim do militarismo exacerbado e da política de amedrontamento da Guerra Fria, o jogo geopolítico deixou de estar diretamente relacionado ao poderio nuclear deste ou daquele país. O fator econômico passou para o primeiro plano, desencadeando a formação de blocos supranacionais que disputam interesses num cenário cada vez mais competitivo. As mudanças que resultaram no fim da União Soviética e do bloco socialista aconteceram com uma rapidez vertiginosa. Ao mesmo tempo em que o mundo se reorganiza sem a polarização da Guerra Fria, os países que abandonaram o socialismo estão construindo seus próprios modelos políticos e de relacionamento com as demais nações do planeta. Um processo que o mundo deve acompanhar ainda nos primeiros momentos do próximo século.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

BERNER, Jayme.O Mundo pós-guerra fria. São Paulo: Scipione, 1994.

KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

MAGNOLI, Demétrio.O Mundo contemporâneo: relações internacionais. São Paulo: Moderna, 1996.

OLIC, Nelson Bacic. A Desintegração do leste; URSS, Iugoslávia, Europa Oriental. São Paulo: Moderna, 1993.

RUFIN, Jean-Christophe. O Império e os novos bárbaros. Rio de Janeiro: Record, 1991.

VICENTINO, Cláudio. Rússia, antes e depois da URSS. São Paulo: Scipione, 1995.

LINK PARA ASSUNTOS CORRELATOS:

* http://www.onuportugal.pt/ Principais acontecimentos - Página da ONU em português (Portugal)

* http://www.tvcultura.com.br/aloescola/historia da TV Cultura

 

FILMOGRAFIA

* Bandoleiros (Brigands, Geórgia, 1996) Direção: Otar Iosseliani. Elenco: Amiran Amiranachvili, Dato Gogibedachvili, Guio Tzintsadze.

* Moscou Não Acredita Em Lágrimas (Moscow Does Not Believe in Tears, URSS, 1979) Direção: Vladimir Menshov. Elenco: Vera Alentova, Irina Muravyova, Raisa Ryazanova.

* A Pequena Vera (Malenkaya Vera, URSS, 1988) Direção: Vassili Pitchul. Elenco: Natalya Begoda, Andrei Sokolov, Lyudmila Zaitseva.

* Poucos de Nós (Few of Us, Lituânia, 1996) Direção: Sharunas Bartas. Elenco: Katerina Golubeva, Sergei Tulayev, Minoru Hideshima.

* Salada Russa em Paris (Salades Russes, França/Rússia, 1994) Direção: Yuri Mamin. Elenco: Sergei Dontsov, Viktor Gogolev, Natalya Ipatova.

* Tão Longe, Tão Perto (Faraway So Close, Alemanha, 1993) Direção: Wim Wenders. Elenco: Bruno Ganz, Nastassja Kinski, Willem Dafoe.

* Taxi Blues (Taxi Blues, URSS/França, 1990) Direção: Pavel Lounguine. Elenco: Piotr Mamonov, Piotr Zaitchenko, Vladimir Kachpour.

* A Tragédia de Chernobyl (Final Warning, EUA/URSS/Inglaterra, 1991) Direção: Anthony Page. Elenco: Jon Voight, Jason Robards, Sammi Davis.

* O Último Bonde Em Moscou (Un Tramway à Moscou, França, 1996) Direção: Jean-Luc Leon. Elenco: Ludmilla Gavrilova, Nicolaï Pastoukhov, Evgueny Mironov

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