TEXTO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

PROF.ADHEMAR BERNARDES ANTUNES

TEMA 02

O TERRORISMO

 

O TERRORISMO

 

Sempre que ouvimos falar em terrorismo, lembramos logo dos atentados a bomba, dos seqüestros de avião e de outras ações violentas praticadas por extremistas. E pensamos nas vítimas, em geral pessoas inocentes, muitas vezes mulheres e crianças, que apenas estavam no lugar errado na hora errada. O método básico do terrorismo é a destruição da vida humana, em nome de certos princípios ideológicos, políticos ou religiosos

O terrorismo não surgiu em nosso século, mas seu auge aconteceu durante os anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial. Não foi por acaso.

A Guerra Fria pode ser descrita como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror. Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie humana.

Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à multiplicação de grupos terroristas.

 

O QUE É TERRORISMO?

Formalmente, terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo isso com desespero e ódio.

Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado, em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul, responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do apartheid, no início dos anos 90.

Na América Latina, as ditaduras militares dos anos 60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e matando milhares de pessoas.

No Oriente Médio, os palestinos de cidadania israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993.

O terrorismo de extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80.

Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 1945, foram o maior atentado terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força para a União Soviética.

 

VIOLÊNCIA E TERRORISMO

Muitas vezes ouvimos dizer que todo ato de violência é terrorismo, mas isso é força de expressão. Nem sempre um ato de violência é terrorista, mesmo quando a vítima é uma personalidade política.

A tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981, é um exemplo de violência sem conotação política. O autor dos disparos, John Hinckley Jr., agiu isoladamente, motivado por questões pessoais.

Já o assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em 1995, este sim, foi um ato terrorista.

O atentado contra Reagan não teve o objetivo de fazer propaganda política ou ideológica, ao passo que a morte de Rabin fazia parte da estratégia política de uma organização radical. O objetivo era interromper o processo de paz no Oriente Médio. De qualquer modo, atentados contra chefes de Estado fazem parte de uma longa história de práticas terroristas mundo afora.

 

TERRORISMO NA ERA CONTEMPORÂNEA

Na era contemporânea, a França conheceu o regime de terror implantado pelos jacobinos de Robespierre a partir de 1793, pouco depois da Revolução Francesa.

Quase um século depois, em 1881, o czar Alexandre Segundo, da Rússia, foi assassinado pela organização terrorista "Vontade do Povo".

E, no início do século XX, o estopim que deflagrou a Primeira Guerra Mundial foi o atentado contra o arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando, em 1914. Ele foi morto pelo estudante Gavrilo Prinzip, do grupo terrorista sérvio "Mão Negra".

"Até os anos 20, o terrorismo era um fenômeno no tempo e no espaço, de dimensões relativamente pequenas, transitórias e restritas. Ele começou a ganhar maior abrangência e importância com o surgimento dos regimes totalitários de Josef Stalin e Adolf Hitler. Já no final dos anos 20, Stalin enviava aos campos de concentração centenas de milhares de opositores ao seu regime, sem contar os treze milhões de camponeses executados por resistirem à coletivização de suas terras, entre 1929 e 1932. Na Alemanha dos anos 30, Hitler iniciou a perseguição aos comunistas, judeus, ciganos e outras minorias étnicas. Até o final da Segunda Guerra, em 1945, seriam assassinados seis milhões de seres humanos pela máquina nazista. Os dois regimes de terror tinham algumas características muito semelhantes: o culto à personalidade do dirigente, no caso Stalin e Hitler, e os poderes absolutos da polícia política, no caso a KGB e a GESTAPO." (José Arbex, jornalista)

 

TERRORISMO E PODERIO NUCLEAR

O desenvolvimento da tecnologia nuclear, a partir do fim da Segunda Guerra, causou uma importante mudança na mentalidade das pessoas, do ponto de vista psicológico e cultural. A morte deixou de ser uma conseqüência natural da vida para se tornar uma questão política. A preservação da espécie humana passou a depender da decisão das superpotências de iniciar ou não um confronto nuclear fatal para o planeta.

O mundo dos anos 50 não apresentava perspectivas muito animadoras. Na primeira metade do século, guerras, revoluções e conflitos localizados haviam consumido a vida de pelo menos 150 milhões de pessoas. Além disso, a tragédia atômica em Hiroshima e Nagasaki havia colocado o mundo sob a sombra permanente de um holocausto nuclear.

 

GUERRILHA E TERRORISMO: VERTENTES DISTINTAS

No final dos anos 50, o êxito da revolução cubana abriu novos horizontes para uma juventude desiludida. A vitória de Fidel Castro, contra uma ditadura corrupta sustentada pelos Estados Unidos, representou para muitos jovens a vitória do idealismo.

Militantes de todo o mundo ganharam nova disposição de luta. Muitos jovens optaram pela vida clandestina, que oferece dois caminhos: a guerrilha e o terrorismo.

A guerrilha, de um modo geral, realiza ataques contra objetivos militares e alvos estratégicos. Tenta conquistar a simpatia da população para formar seu próprio exército e, eventualmente, tomar o poder.

Os grupos terroristas utilizam o método inverso, intimidando pessoas inocentes para alcançar seus objetivos.

 

VIOLÊNCIA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA

No Brasil, a reação civil ao golpe militar de 64 desencadeou uma luta armada que faria muitas vítimas até o início de abertura política, em 1977. Muitos oposicionistas decidiram-se pela guerra de guerrilha, inspirados na revolução cubana.

Um dos líderes mais célebres da luta armada nos anos 60 foi o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária, morto por soldados no interior da Bahia, em 1971.

Um ano especialmente conturbado foi o de 1968. Ações terroristas sacudiram o país. Grupos de extrema-direita atacaram artistas, lançaram bombas contra entidades civis e intimidaram personalidades de perfil humanista, como o arcebispo Dom Hélder Câmara, que teve sua casa metralhada em Recife, em outubro de 68.

Agentes dos órgãos de segurança e dos serviços de informação das Forças Armadas agiam à margem da lei com prisões arbitrárias, torturas e o assassinato de opositores do regime militar.

Em contrapartida, os grupos clandestinos de esquerda financiavam suas atividades com dinheiro obtido em assaltos a banco e furtos de automóveis. E praticavam seqüestros de diplomatas para negociar sua libertação em troca de armas e da soltura de presos políticos.

Uma das ações mais espetaculares foi o seqüestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em setembro de 1969. No início da década de 70, seriam seqüestrados também o cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo Okuchi, e os embaixadores da Alemanha, Ehrenfried von Holleben, e da Suíça, Giovanni Bücher.

Processos semelhantes ao brasileiro aconteceram em toda a América Latina. No Chile, em 1973, um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet depôs o presidente eleito Salvador Allende, inaugurando uma sangrenta ditadura militar. Na Argentina, os militares implantaram a ditadura em 1976, dando início a uma "guerra suja" contra os oposicionistas, com um saldo de 30 mil desaparecidos em sete anos.

 

ANOS 60 E 70: DESILUSÃO

Em diversos países havia, além da repressão oficial, a tolerância dos regimes autoritários em relação às ações ilegais de grupos paramilitares.

Por outro lado, nos anos 70 a atividade dos grupos terroristas atingia seu ponto máximo. Era uma época de questionamento dos valores tradicionais e do "velho modo" de fazer política, nos dois blocos.

O escândalo de Watergate, em 1972, e a derrota dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, reconhecida em 1975, acentuaram a decadência da ordem política internacional.

Na África, a independência havia sido conquistada em diversos países. Inúmeras guerras tribais estimularam o tráfico de armas e a formação de grupos paramilitares.

Na Europa, grupos separatistas, como o IRA e a ETA, radicalizavam as formas de luta. E no Oriente Médio o fervor religioso estimulava o surgimento de grupos extremistas.

 

EXTREMISMO ISLÂMICO

Apesar da violência em comum, existem diferenças entre os grupos terroristas.

O fundamentalismo islâmico, por exemplo, não tinha caráter terrorista na época em que surgiu. A Irmandade Muçulmana apareceu em 1929, no Egito, com preocupações sociais e propósitos religiosos. Mas a partir dos anos 30 foi perseguida pelo rei Fuad e por seu sucessor, o rei Faruk, favoráveis à dominação britânica. A Irmandade partiu para a radicalização e o terrorismo no início dos anos 50, com a ascensão do líder nacionalista Gamal Abdel Nasser, acusado de defender interesses ocidentais.

A ação mais espetacular da Irmandade Muçulmana foi o assassinato do presidente egípcio Anuar Sadat, em 1981. Sadat foi considerado traidor por ter assinado os acordos de Camp David, em 78, que reconheciam o direito de existência do Estado de Israel.

 

OLP VERSUS ISRAEL

A crise no Oriente Médio também fez surgir, em 1964, a Organização Para a Libertação da Palestina, uma frente reunindo diversos grupos. A OLP, que tinha como base a Al Fatah, facção liderada por Yasser Arafat, foi criada em decorrência de um quadro político cada vez mais conturbado. Os ânimos na região estavam acirrados desde a criação de Israel, em 1948.

Com o apoio político, econômico e militar de soviéticos e americanos, Israel promoveu guerras com alguns vizinhos árabes para expandir seu território. Centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas terras. Organizações terroristas judaicas, como a Irgun, a Stern e a Haganah tiveram um papel importante na intimidação da população palestina, chegando a massacrar aldeias inteiras.

O problema palestino era um distúrbio indesejável na Guerra Fria. O Oriente Médio, como quase todo o planeta, estava dividido em esferas de influência das superpotências. Israel e alguns países árabes passaram para a esfera dos Estados Unidos, enquanto outros países árabes ficaram sob influência soviética. A questão palestina não se encaixava bem nesse jogo de equilíbrio.

O isolamento dos palestinos no Ocidente e a hostilidade dos países árabes acabaram fortalecendo a OLP e a opção de grupos radicais pelo terrorismo. Mas nem todos os atos terroristas reivindicados pelos palestinos eram de autoria da OLP.

 

 

 

TERRORISMO INTERNACIONAL

Um dos atentados mais violentos aconteceu em setembro de 72, durante os Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha. Nove atletas israelenses foram feitos reféns pela organização palestina "Setembro Negro". Os seqüestradores exigiam a libertação de cem palestinos presos em Israel e dos terroristas internacionais Andreas Baader e Ulrike Meinhoff, da Alemanha, e Kozo Okamoto, do Japão.

Forças de segurança alemãs cercaram e mataram os seqüestradores. Os atletas também foram todos mortos, o que deixou a opinião pública estarrecida. O episódio de Munique preocupou as autoridades, porque ficou evidente o vínculo entre diversas organizações clandestinas internacionais.

Esse intercâmbio seria percebido novamente em 1976, com o seqüestro de um Boeing da Air France que fazia um vôo entre Tel Aviv e Paris. O avião, com 242 passageiros e 12 tripulantes, foi levado para Entebe, em Uganda, país africano que vivia sob a ditadura de Idi Amin Dada.

Os seqüestradores diziam pertencer à Frente Popular para a Libertação da Palestina, um dos grupos mais radicais da OLP. Mantendo como reféns somente os 93 passageiros judeus, os terroristas exigiam a libertação de 53 palestinos presos em Israel. O governo israelense ordenou uma operação de resgate, enviando a Uganda uma força de elite. Em menos de 15 minutos os terroristas foram mortos e os reféns, libertados.

 

TERRORISMO NA EUROPA

Outra organização que se especializou em ataques terroristas nos anos 70 foi o Exército Republicano Irlandês, o IRA. Ele foi formado em 1919 por grupos da minoria católica que lutavam pela união da Irlanda do Norte à República da Irlanda.

Na década de 60, os católicos foram às ruas pacificamente, contra leis discriminatórias impostas pela maioria protestante. Aproveitando o clima de insatisfação, um grupo de militantes relançou o IRA, dessa vez com um verniz ideológico marxista. A fase pacífica do movimento terminou num domingo de janeiro de 1972, quando tropas britânicas dispararam suas armas contra os manifestantes, matando 13 pessoas. O incidente, que passou à história como "Domingo Sangrento", desencadeou uma escalada do terrorismo.

Durante os anos 70, mais de duas mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas em atentados a bomba patrocinados pelo IRA e nos choques de rua entre manifestantes e forças de segurança.

Outros grupos surgiram com fins pacíficos e também foram empurrados para o terror. É o caso da ETA, organização que luta pela autonomia do País Basco em relação à Espanha.

ETA, no idioma basco, são as iniciais de "Pátria Basca e Liberdade". Criada em 1959 para difundir a cultura e os valores tradicionais do povo basco, a ETA foi perseguida pela ditadura de Francisco Franco e entrou para a clandestinidade e o terrorismo em 1966.

O atentado mais ousado foi realizado em 73, quando a organização explodiu no centro de Madri o carro em que viajava o primeiro-ministro franquista Luís Carrero Blanco.

Na década de 70 houve também a ação de grupos terroristas sem vínculos com lutas democráticas ou de libertação nacional, como o grupo Baader-Meinhoff, na Alemanha, e as Brigadas Vermelhas, na Itália. Eram organizações formadas por intelectuais e universitários que adotaram a violência em nome de uma genérica "guerra contra a burguesia". Em setembro de 77, o Baader-Meinhoff ganhou as manchetes dos jornais com o seqüestro do industrial Hanss-Martin Schleyer, como pressão pela libertação de presos políticos.

Em março de 78, outra ação espetacular na Europa: o seqüestro do primeiro-ministro italiano Aldo Moro, uma ação audaciosa que surpreendeu o mundo. Moro acabou executado pelos terroristas, apesar dos apelos do Papa e da opinião pública internacional.

 

TERRORISMO XIITA

No final dos anos 70, o terrorismo ganhou um novo ingrediente religioso, com a ascensão dos muçulmanos xiitas no Irã, em janeiro de 79. Sob o comando do aiatolá Khomeini, os xiitas derrubaram a ditadura do xá Reza Pahlevi e implantaram um sistema que fugia à lógica dos dois blocos econômicos, liderados por Estados Unidos e União Soviética.

A partir da revolução iraniana, foi implantado um sistema de governo guiado por convicções religiosas radicais e inflexíveis. Khomeini inaugurou a chamada "Jihad" em nossos dias, a Guerra Santa contra o Grande Satã, representado pelo mundo não xiita. Daí para a prática do terrorismo foi um passo.

O inédito nessa história era o caráter oficial do terror, assumido claramente pelo regime dos aiatolás. A primeira demonstração radical de Khomeini foi em novembro de 79.

Com apoio do governo, estudantes iranianos invadiram a embaixada norte-americana em Teerã, fazendo 66 reféns. Eles queriam a extradição do xá Reza Pahlevi, em tratamento de saúde nos Estados Unidos.

Foi o início de uma longa crise entre os dois países. Mesmo com a morte de Pahlevi em julho de 1980, vítima de câncer, os estudantes não desocuparam a embaixada. O impasse prejudicou a campanha de reeleição do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que acabou derrotado pelo candidato republicano Ronald Reagan. Foram 444 dias de expectativa. Em 20 de janeiro de 1981, dia da posse do novo presidente dos Estados Unidos, os iranianos finalmente libertaram os reféns norte-americanos. Até hoje são obscuras as condições sob as quais o presidente Reagan negociou o fim da crise.

Além da vitória de Khomeini no Irã, outro elemento viria a fortalecer a causa dos xiitas: a reação à invasão do Afeganistão pelos soviéticos, em dezembro de 79. Os afegãos, em sua maioria de fé muçulmana, sentiram sua religião ameaçada pela presença do exército soviético. Vários grupos guerrilheiros proclamaram uma 'guerra santa' contra o invasor.

Com a revolução no Irã e a resistência dos rebeldes afegãos, a "Jihad" ficou conhecida no Ocidente e ganhou força junto à população muçulmana de todo o mundo.

O apelo foi reforçado, em fevereiro de 89, com a sentença de morte proferida por Khomeini contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, autor do livro "Versos Satânicos", considerado blasfemo pelos aiatolás do Irã. Caçado pelos xiitas, Rushdie passou a viver escondido na Inglaterra, sob proteção da Scotland Yard.

 

TERRORISMO NO LÍBANO

No começo dos anos 80, o Líbano tornou-se palco de inúmeros atentados. Várias facções disputavam o poder apoiadas por países vizinhos, especialmente Síria e Israel. A existência de áreas de refugiados palestinos na capital Beirute aumentava a tensão e o clima de guerra civil.

Uma das organizações acusadas com mais freqüência de terrorismo era a OLP. Na tentativa de capturar ou eliminar o líder Yasser Arafat e destruir bases militares palestinas, forças israelenses invadiram o Líbano, em junho de 82. Durante vários dias, a capital libanesa transformou-se num inferno. Milhares de civis foram mortos, entre eles mulheres, velhos e crianças. Os israelenses não encontraram Arafat, mas expulsaram a OLP e deixaram o Líbano em ruínas.

Em setembro de 82, falanges cristãs libanesas, apoiadas por Israel, atacaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos arredores de Beirute. Mais de 2.500 civis palestinos e libaneses desarmados foram mortos. O massacre chocou a opinião pública internacional.

Foi nesse clima extremamente tenso que se multiplicaram os grupos terroristas no Líbano nos anos 80. A ação terrorista mais famosa dessa época aconteceu em 83, quando dois atentados simultâneos mataram mais de 250 fuzileiros navais americanos e mais de 50 soldados franceses, em Beirute.

Mas os xiitas de Khomeini e os militantes de grupos fanáticos, como o Hamas e o Hezbollah, não limitaram seus ataques ao Oriente Médio: em nome da Guerra Santa, eles organizaram vários atentados na Europa e nos Estados Unidos.

 

 

FIM DA GUERRA FRIA: O TERRORISMO REFLUI

No início dos anos 90, o fim da Guerra Fria e a abertura do diálogo no Oriente Médio e na Irlanda do Norte fizeram o terrorismo refluir um pouco, abrindo mais espaço para a negociação. Um sintoma dessa trégua foi a prisão, em 94, de Carlos, o Chacal, o terrorista mais procurado do mundo.

O venezuelano Ilitch Ramirez Sanchez, nome verdadeiro do Chacal, foi preso em agosto de 94 por agentes do serviço secreto francês. O terrorista, que agia por dinheiro, é acusado da morte de 93 pessoas e de ferimentos em outras duzentas, em 20 anos de atividades.

Infelizmente, a prisão de terroristas famosos e até mesmo o término da Guerra Fria não puseram um fim ao terrorismo internacional, que continua transformando a vida de pessoas inocentes num pesadelo, em diversos lugares do mundo.

No Oriente Médio, extremistas matam e ferem para tentar atrapalhar as negociações de paz entre Israel e os palestinos. Na Grã-Bretanha, grupos radicais do IRA também apavoram inocentes, procurando reacender a violência dos anos 70.

E aqui e ali, fanáticos religiosos passam dos limites em nome do apocalipse. Talvez a conclusão mais importante a que podemos chegar é a de que "o terror gera o terror..."

Muitas vezes os governos gostam de taxar seus inimigos de terroristas, mas se esquecem de suas próprias responsabilidades. O terror existe e cresce sempre que o diálogo é impossível. E nunca o diálogo foi tão sufocado como no período da Guerra Fria.

 

 

 

RENASCE O TERROR NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

 

OS ATENTADOS TERRORISTAS ATACAM O CENTRO DO PODER FINANCEIRO E MILITAR NOS EUA

O mundo é surpreendido na manhã de 11 de setembro de 2001, quando a CNN transmite diretamente dos Estados Unidos, ao vivo, imagens do maior atentado terrorista registrado pela História.

As duas torres do World Trade Center, um dos mais altos prédios do mundo, em Nova York, e, parte do Pentágono, sede do Departamento de Defesa norte-americano, em Virginia, foram destruídas em menos de duas horas por aviões de carreira seqüestrados e jogados contra os alvos – símbolos do poder econômico e militar do país.

A ação começou por volta das 9:45 horas (horário de Brasilia), quando um avião se chocou com uma das torres de 110 andares do World Trade Center, na região de Wall Street, centro financeiro do país. Menos de 20 minutos depois, outra aeronave atingiu a segunda das torres , que formavam o quinto prédio mais alto do mundo.

Um terceiro avião atingiu o Pentágono, sede do Departamento de Defesa do Governo dos Estados Unidos, perto de Washington, destruindo uma de suas alas às 10h48.

Cerca de uma hora após serem atingidas, as torres gêmeas do World Trade Center desabaram, soterrando ocupantes, bombeiros e voluntários, que tentavam retirar vítimas. No final da tarde ruiu também um prédio menor , de 47 andares, que fazia parte do complexo.

Estima-se que cerca de 50 mil pessoas trabalhassem diariamente nas torres. Pelo Pentágono circulam mais de 20 mil pessoas, entre civis e militares.

Pelo menos 266 pessoas estavam nos quatro aviões seqüestrados – dois da American Air Lines e dois da United. Além dos três que atingiram o alvos, um caiu no Estado da Pensilvânia, porque, provavelmente, os passageiros entraram em luta corporal com os seqüestradores.

As conseqüências do atentado foram imediatas e muito violentas. A Bolsa de Nova York e a Nasdaq suspenderam as operações por alguns dias. Em todo o mundo houve uma corrida dos investidores para comprar ouro. O preço do petróleo disparou e houve a necessidade da intervenção dos países mais poderosos intervirem através de medidas saneadoras. O dólar, no Brasil, atingiu o recorde do Plano Real: chegou a ser negociado a R$2,677. Uma sensação inédita de vulnerabilidade atingia o centro político e militar dos Estados Unidos. O Presidente norte-americano, George Bush, que estava na Flórida no momento do atentado, declarou: "Não tenha dúvida: Os Estados Unidos vão perseguir e punir os responsáveis por esses atos covardes". ( Folha de São Paulo, edição de 12 de setembro de 2001, página A1).

 

DESDOBRAMENTOS INICIAIS DOS ATAQUES TERRORISTAS AOS EUA

O terrorista Osama Bin Laden foi acusado pelos Estados Unidos de ser o responsável pelos ataques terroristas. O FBI, a polícia federal norte-americana constatou durante investigações que foram terroristas ligados a Bin Laden e à Qaeda, (organização , em árabe), grupo por ele liderado, os responsáveis pelos ataques terroristas. Osama Bin Laden, milionário saudita, foi responsabilizado pelo Governo norte-americano de planejar e comandar os ataques e segundo consta refugiou-se no Afeganistão, protegido pelo regime do movimento extremista islâmico Taleban, que controla mais de 90% do país. O governo dos EUA ofereceu US$5 milhões de dólares a quem der notícias sobre o seu paradeiro, e a extradição do terrorista foi solicitada diversas vezes ao Taleban, sem sucesso. Em razão disso os EUA aliados a Grã-Bretanha iniciaram a Guerra no Afeganistão, bombardeando cidades e pontos estratégicos do Taleban e áreas onde suspeitam estejam Osama Bin Laden e o Qaeda, grupo que acham ter seus campos de treinamento e esconderijos subterrâneos nas montanhas do sudeste do país.

 

 

ANÁLISE DO SIGNIFICADO DA AÇÃO DO TERROR NOS EUA, DIANTE DO MUNDO ATUAL

Especialistas em terrorismo e analistas políticos não acreditam que a conclusão a que chegou o governo norte-americano seja definitiva. Os atentados podem ter sido obra de grupos ligados ao Oriente Médio, insatisfeitos com a posição norte-americanos nos conflitos que opõem árabes e israelenses, ou de movimentos extremistas dos EUA, como os que defendem a supremacia branca.

O psicólogo e pesquisador norte-americano Clark McCauley, autor do livro "Pesquisando o terrorismo", afirmou que "grupos extremistas em geral acreditam que valores ameaçados são mais importantes do que a vida" e que vale a pena correr o risco de retaliações.

Para o xeque Jihad Hassan Hammadeh, representante na América Latina da Wamy (Assembléia Mundial da Juventude Islâmica), " ...atentados suicidas só são válidos em campos de batalha. Nesses locais quem faz isso é visto como mártir. Em lugar que não é campo de batalha, a ação não é válida, apenas onde há uma guerra declarada. Aí a violência está estabelecida. A religião quer que a pessoa resgate seu direito da melhor forma possível. Se for através do diálogo, que seja através do diálogo. É proibida outra atitude.

Se não houver outra opção, a religião islâmica lamenta, mas permite isso. É a forma da pessoa resgatar a dignidade".

Robert Rotberg, Presidente da Fundação para a Paz Mundial, concorda com a opinião geral dos especialistas norte-americanos que não acreditam que haja uma rede de terrorismo internacional e assim se expressa: - "Não creio na existência organizada de terroristas. Há diversos pequenos grupos independentes com objetivos e inimigos diferentes. Os grupos são fragmentados. O problema em relação ao terrorismo é que não há centralização, trata-se de um inimigo em constante transformação. Osama Bin Laden, por exemplo, não deve ter mais que algumas centenas de homens sob seu comando".

Manuel Castells, sociólogo espanhol, membro do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde é catedrático desde 1979, questiona: - "Qual é essa guerra? De quem contra quem? Como se prevê que ela vai se desenrolar? Só compreendendo em que guerra nos metemos poderemos agir sobre ela a partir de nossos diferentes valores e interesses".

Castells faz algumas observações muito interessantes quando analisa o tema em questão, por exemplo, quando afirma que : - " Não é um choque de civilizações – essa é uma idéia falsa difundida por aqueles que reduzem o multiculturalismo de nossa espécie à oposição etnocêntrica entre Ocidente e os ‘outros’" " Não é um choque de religiões, porque a maioria dos muçulmanos e a quase totalidade dos governos dos países islâmicos se opõe ao terrorismo e, em grande medida , apostam na integração na economia mundial e na comunidade internacional." Tampouco é um choque entre pobres e o capitalismo mundial, embora a exclusão social leve ao desespero do qual se alimenta o fanatismo. É essencial distinguir essa guerra da oposição ao modelo neoliberal representada pelo movimento antiglobalização, já que traçar paralelos ou aproximações entre as duas coisas levaria à criminalização do movimento antiglobalização e ao sufocamento do grande debate democrático sobre os conteúdos da globalização, debate que apenas começou."

Conclui Castells com um longo discurso que assim se inicia: - "Estamos diante de uma guerra definida em termos mais precisos : - é a guerra das redes fundamentalistas islâmicas terroristas contra as instituições políticas e econômicas dos países ricos e poderosos, em particular dos Estados Unidos , mas também da Europa ocidental – países estreitamente vinculados em sua economia, em suas formas de democracia e em sua aliança militar. Na raiz dessa guerra, existe uma rejeição da marginalização dos muçulmanos e uma afirmação da supremacia dos princípios religiosos do islamismo como sustentáculo da sociedade. A identidade humilhada e o menosprezo cultural e religioso dedicado ao islamismo pelas potências ocidentais conduzem à resistência e à convocação à guerra santa."

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

ARBEX JR, José. "Guerra fria: terror de Estado, política e cultura". São Paulo: Moderna, 1997.

BARROS, Edgar de. "A Guerra fria". São Paulo/ Campinas: Atual, UNICAMP, 1984.

BRIGAGÃO, Clóvis. "A Corrida para morte". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.

CHIAVENATO, Júlio José. "O Golpe de 64 e a ditadura militar". São Paulo: Moderna, 1997.

DIAS JR, José Augusto & ROUBICEK, Rafael. "Guerra fria. A era do medo". São Paulo: Ática. 1996. (História em Movimento).

FENELON, Déa. "A Guerra fria". São Paulo: Brasiliense, 1984. (Tudo é História, 64).

FOLHA DE SÃO PAULO, edições de setembro e outubro de 2001.

"GUERRA ao tirano do terror." Veja. São Paulo: n.920, p.36-50. 23/04/1986.

MAGNOLI, Demétrio. "O Mundo contemporâneo". São Paulo: Moderna, 1996.

THOMPSON, Edward. et alii. "Exterminismo e guerra fria". São Paulo: Brasiliense, 1985.

 

 

FILMOGRAFIA

* "O Caso Aldo Moro" (Il Caso Moro, Itália, 1987) Direção: Giuseppe Ferrara. Elenco: Gian Maria Volonté, Margherita Lozano, Danielle Dupino.

* "Danton - O Processo da Revolução" (Danton, França, 1982) Direção: Andrzej Wajda. Elenco: Gérard Depardieu, Wojciech Pszoniak, Patrice Chéreau.

* "O Dia do Chacal" (The Day of the Jackal, Inglaterra, 1973) Direção: Fred Zinnemann. Elenco: Edward Fox, Michael Lonsdale, Alan Badel.

* "Em Nome do Pai" (In the Name of the Father, Irlanda/Inglaterra/EUA, 1993) Direção: Jim Sheridan. Elenco: Daniel Day-Lewis, Emma Thompson, Pete Postlethwait.

* "Lamarca" (Brasil, 1994) Direção: Sérgio Rezende. Elenco: Paulo Betti, Carla Camuratti, José de Abreu.

* "Missing - O Desaparecido" (Missing, EUA, 1982) Direção: Costa-Gavras. Elenco: Jack Lemmon, Sissy Spacek, Melanie Mayron.

* "A Noite de Varennes" (La Nuit de Varennes, Itália/França, 1991) Direção: Ettore Scola. Elenco: Marcello Mastroianni, Hanna Schygulla, Jean-Louis Barrault.

* "Traídos pelo Desejo" (The Crying Games, Irlanda, 1992) Direção: Neil Jordan. Elenco: Stephen Rea, Miranda Richardson, Jaye Davidson.

 

FONTE: www.tvcultura.com.br/aloescola/historia

Adaptado e atualizado pelo Prof. Adhemar Bernardes Antunes:

www.adhemar.cjb.net

--- [email protected]

Hosted by www.Geocities.ws

1