TEXTO DE ATUALIDADES

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA ATUAL

PROF.ADHEMAR BERNARDES ANTUNES

TEMA 07

REVOLUÇÃO CHINESA – O CINQUENTENÁRIO

CARACTERÍSTICAS GERAIS

A República Popular da China, cuja capital é Pequim, situa-se no leste da Ásia e é o país mais populoso do planeta. Seu território, de quase nove milhões e seiscentos mil quilômetros quadrados, comporta uma população estimada, em 1996, de 1,2 bilhão de pessoas. O país é um grande produtor de arroz, milho, trigo, batata-doce e verduras.

A China possui uma cultura milenar. Por volta de 3000 a.C., os chineses já usavam corantes para tingir tecidos, e, no ano 1000 a.C., o carvão era utilizado como combustível. Os chineses inventaram, durante o período histórico anterior ao nascimentos de Cristo, o arreio, o moinho à água e o papel. Na era d.C., foram inventadas a pólvora, a porcelana, a bússola, o papel-moeda, etc.

No campo político, o Partido Comunista Chinês (PCCh) governa a República desde 1949. Em 1999, ano no qual a China comemora os cinqüenta anos da Revolução, o país foi apontado, por analistas econômicos, como o principal candidato a maior rival dos Estados Unidos no século XXI.

 

O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO DE 1949

Após a Segunda Guerra Mundial, muitos países asiáticos, dentre eles a China, passaram a fazer parte do bloco socialista. O processo revolucionário chinês foi um pouco longo, e, para entendê-lo melhor, precisamos analisar com cuidado um pouco da história da China ao longo do século XIX.

Durante a "Era do Imperialismo", a China foi disputada pelos Estados Unidos, pelo Japão e pelas grandes potências capitalistas européias. Tal disputa impediu que o país se tornasse colônia de apenas uma potência imperialista. Prevaleceu a "política de portas abertas" (open doors), com as diversas potências obtendo inúmeros privilégios comerciais, financeiros e políticos no território chinês (foi o break up do decadente império oriental).

Em 1839, comerciantes ingleses, pretendendo "abrir" o mercado chinês, provocaram a Guerra do Ópio (a dinastia Ching desejava limitar o comércio realizado pelas grandes potências ocidentais, restringindo a atividade ao porto de Cantão e proibindo a comercialização do ópio). O Reino Unido derrotou a China, conquistou a ilha de Hong Kong, abriu alguns portos ao Ocidente e passou a monopolizar o comércio do produto. Em 1844, comerciantes franceses e norte-americanos obtiveram vantagens semelhantes às dos ingleses. Assim, de forma gradual, a China se transformou em "área de influência" das várias potências imperialistas.

Em 1900, foi fundado o Kuomintang (Partido Nacionalista), um partido de oposição à monarquia e contrário à influência estrangeira. Em 1911, republicanos, liderados por Sun Yat-sen, o fundador do Partido Nacionalista, proclamaram a República da China, em Nanquim. No ano seguinte, o imperador renunciou e Yuan Che-kai, também nacionalista, instaurou em Pequim um outro regime republicano. A fim de preservar a unidade do país, Sun Yat-sen renunciou ao cargo de presidente da República da China em favor de Yuan.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Yuan Che-kai tentou restaurar a monarquia no país e, por essa razão, foi obrigado a renunciar. Teve início, então, o período do "duplo governo". O país foi dividido e dois governos foram instaurados: um em Cantão, sob o comando de Sun Yat-sen, e o outro em Pequim. Após a guerra, a China ainda continuava com estatuto semi colonial, sob o domínio das potências estrangeiras. Em 1922, foi fundado o Partido Comunista Chinês (PCCh).

Em 1927, a repressão a uma insurreição operária pelo Partido Nacionalista foi o "estopim" para o início de uma guerra civil envolvendo nacionalistas e comunistas.

Em decorrência da guerra civil, a China não ofereceu resistência à invasão da Manchúria pelo Japão, em 1931. Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, ocorreu o reinício da guerra civil. Os comunistas ocuparam o norte do país e os nacionalistas a parte sul. O líder do Kuomintang, Chiang Kai-shek, não conseguiu deter as ofensivas do PCCh, liderado por Mao Tsé-tung. Os comunistas entraram em Pequim em janeiro de 1949, e, no dia 1º de outubro proclamaram a República Popular da China, comunista. As forças nacionalistas se refugiaram em Formosa (hoje Taiwan) e proclamaram a República da China.

 

A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO

Mao Tsé-tung firmou um tratado de amizade com a URSS em 1950 e, no mesmo ano, apoiou a Coréia do Norte na Guerra da Coréia (1950-1953). Dessa forma, a China definiu a sua posição pró-socialismo e tornou-se coadjuvante na Guerra Fria, o embate entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Em 1958, o governo chinês lançou a campanha do "Grande Salto para Frente", um programa de crescimento econômico com ênfase na industrialização. O grande objetivo do programa era acelerar o processo de desenvolvimento chinês. O programa fracassou e milhões de camponeses pereceram nesse período. Mao foi afastado da condução dos assuntos internos do país pela cúpula do PCCh, mas continuou no comando da política externa.

O ano de 1961 foi marcado pelo rompimento entre comunistas chineses e soviéticos. O PCCh criticou o "revisionismo" da União Soviética, que passava por um período de aproximação com os países capitalistas. Em resposta, o PCUS suspendeu a ajuda econômica e militar à China.

Em 1966, Mao, já afastado do poder, lançou a idéia da "Grande Revolução Cultural Proletária", ou simplesmente "Revolução Cultural". Tratava-se de uma ofensiva contra seus adversários do PCCh, em especial Deng Xiaoping, pois estimulava a rebelião da população contra as lideranças constituídas, acusadas de pragmatismo e burocratização. Estudantes e operários maoístas ("guardas vermelhos") se uniram para derrubar as lideranças mais moderadas do partido. Como conseqüência desse apoio, Mao acabou recuperando o controle político do país. Quando Mao Tsé-tung morreu, em 1976, a Revolução Cultural chegou ao seu fim e o país passou por confrontos pela tomada do poder. O comando foi entregue ao primeiro-ministro Hua Guo-feng.

Já no fim da década de 70, Deng Kiaoping consolidou o seu poder e o país começou a organizar-se baseado nas propostas de abertura para o Ocidente. Era o início da "Política das Quatro Modernizações" (indústria, agricultura, ciência e tecnologia, e forças armadas). Em 1978, foram criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEE), com os seguintes objetivos:- promover uma abertura gradual da economia; - atrair o capital estrangeiro para promover o desenvolvimento industrial.

De acordo com o planejamento do governo chinês, tal desenvolvimento se efetivaria através do estímulo às exportações, do aprendizado dos métodos ocidentais de administração industrial e comercial, da incorporação de inovações tecnológicas e da divulgação dos bens e serviços produzidos em outras regiões da China.

De fato, o ano de 1978 foi marcado pela "decolagem" econômica, iniciada com as reformas pró-capitalismo. A fórmula de Deng pode ser resumida na estranha conciliação de uma economia aberta com um sistema político fechado.

Em 1979, os Estados Unidos e a China estabeleceram relações diplomáticas e, em 1984, a Inglaterra acertou a transferência de Hong Kong para a China em fevereiro de 1997.

Em 1989, um movimento estudantil pró-democracia realizado na praça da "Paz Celestial" (ou praça Tiananmen), apesar de Ter sido violentamente reprimido, abalou os alicerces do regime comunista. A questão central do movimento era a contradição existente entre a manutenção de um regime político "fechado" internamente e a "abertura" econômica para o ocidente.

O PCCh, ciente do perigo da pressão pela democracia, manteve o monopólio do poder e a perseguição a dissidentes políticos ou religiosos. Os seus dirigentes elegeram como prioridade a "manutenção da estabilidade", ou, em outras palavras, a sobrevivência do partido no poder.

 

A CHINA HOJE

A China, que comemora os cinqüenta anos da revolução em 1999, é um país que procura unir um sistema econômico baseado no capitalismo a uma estrutura política apoiada no comunismo.

O regime político continua a ser o de partido único e o Estado exerce o controle dos meios de comunicação através da censura. As manifestações populares "antipartido" são violentamente reprimidas. Apenas para exemplificar, em 1998 o governo admitiu a existência de mais de dois mil presos acusados de atividades "contra revolucionárias". Até o momento, não existe nenhum projeto de abertura política.

Na área econômica, a abertura para os investimentos estrangeiros já é uma realidade e os chineses adquiriram liberdade para possuir o seu próprio negócio. A participação estatal na economia ainda é bastante forte, com destaque para os setores de energia, transporte, siderurgia e telecomunicações. O setor privado é incipiente e é financiado, principalmente, pelo capital estrangeiro. As "companhias", que contam com a participação dos trabalhadores em sua administração, ainda se fazem presentes em diversas áreas produtivas.

O lado negativo do capitalismo também já se "mostrou" na China. Observa-se um aumento das diferenças sociais e um crescimento dos índices de desemprego. Segundo dados divulgados pelo Banco Mundial, os 20% mais pobres detém 5,5% da renda nacional, enquanto que os 20% mais ricos concentram 47,5% da riqueza produzida no país. O governo já admitiu que 42 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza.

Entretanto, alguns outros dados nos revelam a consolidação da economia chinesa. As reservas internacionais da China cresceram de 22,5 bilhões de dólares, em 1987, para 147 bilhões em 1997. A inflação, que era de 7,3% ao ano em 1987, passou a ser de –0,8% em 1998.

Juntamente com o capitalismo, chegaram á China alguns costumes ocidentais, que têm contribuído para uma gigantesca "onda de consumismo". Na área de fast-food, atuam na China a rede McDonald’s (com mais de duzentas lojas no país), a Pizza Hut e a Kentucky Fried Chiken; mais de quatro milhões de chineses são usuários da Internet, a rede mundial de computadores; lojas sofisticadas de griffes estrangeiras no campo da moda são abertas nos shoppings, oferecendo roupas sofisticadas para homens e mulheres; etc.

Jian Zemin, o atual presidente da República Popular da China, é também secretário – geral do Partido Comunista. Um dos principais desafios de seu governo para os próximos meses é o estabelecimento de uma aproximação com o Taiwan (República da China). A crise com a ilha teve início durante a guerra civil. Os nacionalistas, derrotados pelas tropas comunistas de Mao, refugiram-se na ilha e mantiveram, desde então, o sistema capitalista contando com o apoio dos Estados Unidos.

Em 1993, tiveram início as conversações entre os governos da China e de Taiwan, objetivando a reunificação das "duas Chinas". Entretanto, cada um dos lados tenta impor condições, dificultando o processo de reunificação. Taiwan condicionou a unificação à democratização da China. A China exigiu que o poder político seja concentrado em Pequim, mas permitindo que a ilha mantenha o sistema capitalista.

A rivalidade entre as "duas Chinas" preocupa o mundo, pois ela se constitui em um dos principais focos de tensão político-militar na Ásia, especialmente agora, quando Pequim ameaçou invadir Taiwan, caso a ilha desista da reunificação. No dia 1º de outubro, durante as comemorações do aniversário da revolução, o presidente Jiang Zemin afirmou, em discurso transmitido ao vivo pela televisão, que a reunificação política com a ilha "significa a base para o grande rejuvenescimento da nação chinesa".

 

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