SÍNTESE DE HISTÓRIA DO BRASIL-REPÚBLICA

PROF. ADHEMAR BERNARDES ANTUNES

TEMA XIX.

MOVIMENTOS SOCIAIS DA PRIMEIRA REPÚBLICA

A REPÚBLICA VELHA NO BRASIL ( DE 1889 ATÉ 1930 )

 

MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL

CARACTERÍZAÇÃO

· A aristocracia rural brasileira dominava a vida política do país, especialmente os fazendeiros de café (paulistas) e os de leite (mineiros).

· As camadas marginalizadas da população (classe média e baixa) manifestam seu descontentamento contra o regime político, através de várias formas de protesto:

· FORMAS DE PROTESTO contra a discriminação, a pobreza e condição de vida da maior parte da população:

· Pela imprensa, utilizada pelas camadas urbanas, exigindo participação política;

· Pelas greves, manifestadas pelos movimentos operários de 1917;

· Pelos movimentos rurais religiosos e místicos, ocorridos no Nordeste e no Sul do Brasil, conseqüência da miséria, abandono e exploração que eram vítimas;

· Pelo cangaço, fenômeno nordestino que demonstrou a revolta de uma população pobre, violentada pela força dos "coronéis".

 

OS MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS

 

A REVOLTA DA VACINA

· Revolta do povo da cidade do Rio de Janeiro contra a vacinação obrigatória contra a varíola, devido a Lei baixada por Oswaldo Cruz, Ministro da Saúde de Rodrigues Alves.

· A Revolta foi causada pela ignorância do povo e por culpa da Imprensa. A população desconfiava da vacina, achando que em lugar de imunizar causava a doença.

· A Revolta foi provocada também pelas medidas violentas tomadas pelas Brigadas sanitárias, que fechavam as ruas e protegidas por soldados, utilizando a força, vacinavam o povo de casa em casa.

· A Revolta estourou em 10 de novembro de 1904, no Rio de Janeiro, construindo barricadas nas ruas, incendiando bondes, depredando e saqueando lojas.

· Os alunos da Escola Militar e os positivistas republicanos (afastados do poder) juntaram-se ao povo, protestando contra o governo e contra o custo de vida.

· A Revolta foi facilmente controlada, a população foi vacinada e a varíola deixou de ser doença epidêmica no Rio de Janeiro.

 

AS GREVES DE 1917

· As primeiras revoltas de operários contra as más condições de trabalho e os baixos salários foram as GREVES DE 1917, que estouraram em São Paulo e se espalharam pelo resto do país.

· Os operários de São Paulo, em boa parte imigrantes: italianos, espanhóis e portugueses, traziam consigo a ideologia socialista e anarquista, organizaram-se em sindicatos e, ainda em 1908 organizaram a Confederação Operária Brasileira (COB), que reunia os sindicatos de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco.

· As idéias anarquistas são as idéias que visam pôr fim ao Governo do Estado Capitalista, por ser um mal que deve ser extinto e em seu lugar instalar uma sociedade igualitária, sem classes sociais, onde todos são iguais, abolindo toda forma de governo.

· A GRANDE GREVE GERAL estourou em 12 de junho de 1917, que praticamente parou a cidade de São Paulo, obrigando o governo a negociar com os grevistas, pois o movimento se estendeu por mais de um mês, mobilizando mais de 40000 trabalhadores, espalhando-se para o interior. A repressão desencadeada pela polícia foi violenta, sendo vários operários mortos.

· Entre 1918 e 1920, as greves se espalharam pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Porto Alegre, Recife e Salvador.

· Os grevistas reivindicavam o fim do massacre capitalista sobre o seu trabalho: turnos de 14 a 16 horas diárias, não existia salário mínimo, as férias não eram remuneradas, não havia indenização nos casos de acidente de trabalho, etc.

· O fim dessa época de greves foi alcançado pelo atendimento de muitas reivindicações dos trabalhadores. Mas muito ainda estava para ser alcançado. Não havia justiça social.

 

OS MOVIMENTOS SOCIAIS RURAIS RELIGIOSOS E MÍSTICOS

 

CARACTERIZAÇÃO

· Foram movimentos rurais que ocorreram para enfrentar a super exploração, a miséria e a fome, através da luta pela sobrevivência e pela salvação.

· Foram movimentos que contestavam a modernização. O Brasil era um país agrário, atrasado e subdesenvolvido, cuja agricultura e agroindústria era baseada na monocultura, latifúndio e técnicas rudimentares de fabricação, estruturadas numa sociedade estratificada e dependente da aristocracia rural. Com a modernização resultante da instalação de grandes usinas de açúcar no Nordeste, milhares de camponeses foram expulsos de suas terras, ao mesmo tempo em que a seca propiciou uma grande migração de nordestinos.

· Surgiram assim os movimentos rurais conhecidos como: - O CANGAÇO e a GUERRA DE CANUDOS e do CONTESTADO.

 

O CANGAÇO

· Eram grupos de cangaceiros ou de jagunços que se opunham à estrutura fundiária nordestina, buscando lutar contra a exploração imposta pelos grandes fazendeiros e contra a miséria e a fome que dominava o sertão da Região Nordeste.

· Os cangaceiros e jagunços tiveram origem nos grupos ou bandos de jagunços contratados e mantidos pelos grandes fazendeiros do Nordeste, no papel de "coronéis" ou "chefes locais" que usavam esses capangas para impor sua lei e sua vontade na região por eles dominada.

· O domínio do sertão por esses coronéis foi quebrado pelo aparecimento dos "Bandos de Cangaceiros", resposta do "Sertão", da população pobre e violentada, contra a exploração que sofriam por parte desses grandes fazendeiros.

· Os Cangaceiros, grupos nômades que passaram a dominar o sertão nordestino, surgiram a partir dos finais do século passado (século XIX) e início do século XX, nas regiões do Cariri (Ceará), oeste de Pernambuco e sertão da Paraíba, espalhando-se por todo o sertão do Nordeste.

· Os principais grupos de Cangaceiros foram os de:

· Antônio Silvino, o Rei do Cangaço;

· Virgulino Ferreira da Silva, o famoso "Lampião" (morto em 1938);

· "Corisco", sucessor de "Lampião" (desaparecido em 1940);

· O apogeu do Cangaço ocorreu entre 1925 e 1935 e seu desaparecimento ocorreu na década de 1940.

· Os Cangaceiros roubavam fazendas, tomavam terras, auxiliavam chefes políticos, lutavam contra chefes políticos ao sabor de seus interesses e necessidades. A população das fazendas e cidades se dividia, havia os que auxiliavam os cangaceiros (chamavam-se "coiteiros") e os que auxiliavam "os volantes", a polícia do sertão (chamada de "os macacos") criada para caçar os cangaceiros, destacamentos policiais móveis.

· Apesar de terem desaparecidos os Cangaceiros, as disputas no Sertão continuam até os dias de hoje.

 

A GUERRA DE CANUDOS (1896-1897)

· Canudos é uma região situada no nordeste da Bahia, às margens do Rio Vaza – Barris, em pleno sertão baiano.

· Canudos foi um movimento popular rural de cunho religioso e místico, que foi a forma de contestar a miséria, através da luta pela salvação e a maneira de contestar o rígido catolicismo que não respondia aos anseios de uma população marginalizada pelo abandono e pela fome.

· O líder de Canudos foi Antônio Conselheiro, um Beato, com forte base cultural, leitor inveterado de grandes clássicos, conhecedor de formas de organização socialistas e profundo conhecedor da Bíblia e da teologia cristã, preparou-se para pregar a salvação entre os humildes e abandonados à própria sorte. Pregava contra a República e pela volta da Monarquia e pelo fim da exploração dos grandes latifundiários.

· Em 1893, Antônio Conselheiro criou uma comunidade agrária, chamada de Arraial de Canudos, com um pequeno número de famílias de camponeses que o seguiam.

· Em 1896, Canudos possuía 20.000 habitantes, organizados numa comunidade agrícola, adotando o sistema coletivista, cultivando a terra e criando animais e a produção organizada para atender às necessidades de alimentação básica de todas as famílias que recebiam do Conselho dirigente sua parte da produção. Todos os setores da vida em comum foram organizados de foram a prover as necessidades da Comunidade. Inclusive a segurança, a polícia interna, o exército preparado para a defesa contra inimigos externos, construções de habitações, serviços da Igreja, etc. Canudos sobrevivia e prosperava mantendo-se inclusive pelas trocas com as comunidades vizinhas.

· A Guerra de Canudos ocorreu porque Canudos representava uma ameaça à aristocracia rural nordestina. Sua expansão era inevitável, mais e mais famílias nordestinas fugiam para Canudos, rareando a mão-de-obra barata dos fazendeiros. As terras vizinhas a Canudos eram o alvo próximo da comunidade vitoriosa em expansão. A ameaça deu um pretexto aos inimigos de Canudos, Antônio Conselheiro era inimigo da República e precisava ser destruído.

· A Guerra de Canudos compreendeu quatro expedições militares mandadas pelos Governos Estadual e Federal para destruir a Comunidade. A resistência de Canudos foi "milagrosa" e notável até 1897, quando a Quarta e última expedição contou com o reforço de dois Regimentos do Exército, deslocados por mar do Rio de Janeiro com mais de 10.000 soldados, contando com armamento pesado e canhões de grosso calibre arrasou Canudos.

· A destruição de Canudos constituiu-se numa vergonha nacional, documentada por Euclides da Cunha, enviado do jornal "O Estado de São Paulo", que constatou que a expedição militar não fez um só prisioneiro, "degolou 8.000 caboclos, incluindo mulheres e crianças". No Rio de Janeiro, o Presidente Prudente de Morais preparava a festa da vitória.

· Canudos foi temática do livro "Os Sertões", documento da época, relatado pelo engenheiro militar e correspondente do jornal "O Estado de São Paulo", Euclides da Cunha, com sua visão de militar da classe média.

 

GUERRA DO CONTESTADO

· Contestado era uma região que abrangia parte dos Estados do Paraná e de Santa Catarina, contestada, ou seja, reclamada ou disputada por esses Estados e ignorada pelo Governo Federal.

· Contestado foi um movimento semelhante ao de Canudos. Essa região foi ocupada por posseiros e foram concedidas pela União a uma serraria. Os posseiros eram camponeses expulsos de suas terras e que se reuniram em torno de um líder messiânico, o "Monge" João Maria.

· Contestado foi uma região criada pelos camponeses pelo incentivo do "Monge" João Maria, que após sua morte tornou-se figura lendária entre os sertanejos, possibilitando o aparecimento da figura de seu suposto irmão "João Maria" que passou a liderar um movimento de caráter religiosos, fundando uma comunidade rural "santa".

· Os Governos Estadual e Federal enviaram tropas para destruírem a comunidade, e, após o fracasso de várias expedições, uma expedição de 7.000 soldados destruiu a comunidade sertaneja, no Governo do Presidente Venceslau Brás .

 

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