TEXTO DE ATUALIDADES

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA ATUAL

PROF.ADHEMAR BERNARDES ANTUNES

TEMA 09

A GUERRA CIVIL EM ANGOLA

CARACTERÍSTICAS GERAIS

A República da Angola está localizada no sudoeste da África. A sua capital é Luanda e o seu território é de aproximadamente um milhão e duzentos mil quilômetros quadrados. Com uma população de cerca de 11,5 milhões de habitantes, Angola ocupa 160ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento da ONU, que mede o desenvolvimento do País com base na expectativa de vida, no nível educacional e na renda per capita). O idioma oficial é o português, e o país é um grande produtor de petróleo e de diamantes.

 

A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

Portugal foi o país europeu que conseguiu sustentar por mais tempo o regime colonial no continente africano. As lutas em prol da independência de Angola foram duramente reprimidas durante todo o período ditatorial em Portugal (1926-1968). Apesar da repressão, vários conflitos armados, envolvendo milícias contrárias ao colonialismo e o exército português, irromperam em território angolano no início da década de 60.

Na década de 70, o movimento pela emancipação de Angola estava dividido. Três grupos, que representavam diferentes etnias e ideologias, colocavam-se na condição de "legítimo representante dos interesses do povo angolano".

O primeiro era o MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola), uma frente multirracial e marxista, apoiada pela União Soviética através de Cuba. O segundo era a FNLA (Frente Nacional para a Libertação de Angola), de oposição à ideologia marxista. O terceiro era a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), inicialmente maoísta e, posteriormente, anticomunista. A FNLA e a UNITA eram apoiadas pelos Estados Unidos por intermédio da África do Sul.

A Revolução dos Cravos, de 1974, responsável pela derrubada da ditadura em Portugal, propiciou o processo de emancipação de Angola. O Tratado de Alvor, assinado em janeiro de 1975, entre o novo governo português e os três grupos pró-independência de Angola, previa a instalação de um governo provisório em Luanda, que ficaria encarregado de conduzir o processo de emancipação do país. As divergências políticas e ideológicas existentes entre as três frentes não permitiram que o governo provisório fosse instalado. O resultado do fracasso do acordo foi o início de uma sangrenta guerra civil. O norte do país foi ocupado pelos guerrilheiros da FNLA, enquanto que o sul foi dominado pela UNITA.

O MPLA conseguiu dominar a capital (Luanda), assumindo o poder. Em novembro de 1975, o governo português renunciou ao controle de Angola, mas não reconheceu nenhum dos três grupos como "legítimo representante dos interesses do povo angolano". Agostinho Neto, líder do MPLA, foi proclamado presidente da República Popular de Angola.

 

A GUERRA CIVIL APÓS A INDEPENDÊNCIA

Após a independência, a guerra entre as três frentes prosseguiu, transformando o país em um verdadeiro "inferno". A Guerra Fria mobilizou as grandes potências, que apoiavam as frentes que se identificavam com a sua ideologia.

A FNLA, enfraquecida militarmente, acabou sendo dissolvida no final da década de 70. A UNITA, apoiada pelos Estados Unidos, prosseguiu com os combates contra o governo do MPLA. A guerra entre o governo e os rebeldes dividiu (e ainda divide) o país. Todos esses anos de guerra civil foram responsáveis pela destruição da infra-estrutura econômica do país, pelo deslocamento de milhares de refugiados e pelo surgimento de campos de refugiados com condições precárias de higiene.

Angola, considerado um dos países mais ricos da África em recursos minerais, passou a conviver com a fome e com a expansão de moléstias.

Em 1994, o MPLA e a UNITA assinaram em Lusaka, capital da Zâmbia, um acordo de paz. Um dos pontos principais do acordo era o desarmamento dos guerrilheiro rebeldes e a integração dos chefes militares da UNITA às Forças Armadas angolanas. A ONU, a fim de implementar o acordo e observar as etapas do processo de paz", que contou, inclusive, com a participação de soldados brasileiros. Entretanto, o não cumprimento do acordo por parte da UNITA, que continuou a combater, levou ao reinício da guerra civil.

Em dezembro de 1998, o conflito entre as forças do governo e a UNITA foi oficialmente retomado, depois de o Exército angolano ter atacado a guerrilha por causa do não cumprimento do acordo de 1994.

 

OS REFLEXOS DA GUERRA

A UNITA domina, atualmente, cerca de 70% do território angolano, inclusive as áreas produtoras de diamantes. O reinício da guerra civil, em 1998, impediu que mais de duzentos mil angolanos refugiados em outros países fossem repatriados, e forçou cerca de 1,5 milhão de pessoas a deixarem as suas casas.

Segundo a UNICEF, o fundo das Nações Unidas para a Infância, Angola é, em 1999, o pior país do mundo para uma criança viver. A fome, segundo várias entidades internacionais de defesa dos direitos humanos, tem matado, aproximadamente, duzentas pessoas por dia.

As condições de vida são péssimas, sendo que o país tem hoje os piores índices de mortalidade entre menores de cinco anos. Apenas um terço da população tem acesso à água potável, e a expectativa de vida é de apenas quarenta e seis anos. Luanda, uma cidade que foi concebida para uma população de quinhentas mil pessoas, conta hoje com um contingente de três milhões de habitantes. Uma grande parte dessa população é composta por refugiados, que chegam à capital sem dinheiro, sem roupas e sem trabalho. A malária tem se alastrado com facilidade devido à onda de fome, que enfraquece os mecanismos de defesa do organismo, e as péssimas condições de saneamento.

Apesar de todo esse quadro caótico, os líderes das duas facções em guerra não vêm demonstrando interesse em restabelecer o processo de negociação da paz, apesar de estarem conscientes de que nenhum dos dois lados tem condições de obter uma vitória militar.

Para encerrar esse texto sobre a atual situação de Angola, achamos pertinente reproduzir um trecho de um poema escrito por Agostinho Neto. A mensagem que ele nos transmite através de seus versos poderia contribuir para o entendimento entre as forças rivais que hoje lutam pelo poder em Angola.

 

 

 

 

 

 

De Agostinho Neto

DO POVO BUSCAMOS A FORÇA

Não basta que seja pura e justa

a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça

existam dentro de nós.

Dos que vieram

E conosco se aliaram

Muitos traziam sombras no olhar

Intenções estranhas.

Outros viemos.

Lutar para nós é ver aquilo

Que o povo quer realizado.

É ter a terra onde nascemos.

É sermos livres para trabalhar.

É ter para nós o que criamos.

Lutar para nós é um destino,

É uma ponte entre a descrença

E a certeza do mundo novo.

Na mesma barca nos encontramos.

Todos concordam – vamos lutar [...]

Na mesma barca nos encontramos.

Quem há de ser o timoneiro?

Ah as tramas que eles teceram!

Ah as lutas que aí travamos!

Mantivemo-nos firmes: no povo buscáramos

A força e a razão.

Inexoravelmente

Como uma onda que ninguém trava

Vencemos.

O Povo tomou a direção da barca.

Mas a lição lá está, foi aprendida:

Não basta que seja pura e justa

A nossa causa.

É necessário que a pureza e a justiça

Existam dentro de nós.

 

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