Velho carreiro ao parar de carrear/ Pra sua filha o
comando ele entregou
E aqueles bois se acostumaram com a moça/ De tal maneira
que jamais ele encalhou
Podia estar no lamaçal mais perigoso/ Bastava a ela dar
apenas um sinal
Para se ouvir gemer cocão dentro do barro/ E os bois
tirava o carro do terrível pantanal
Somente a moça a boiada obedecia
Sem o seu grito o velho carro não saía
Um dia a moça adoeceu e aqueles bois/ Outro carreiro
não queria respeitar
Era preciso que ela viesse a janela/ E desse ordens prá
boiada carrear
Até que um dia sem ouvir a voz da moça/ Puxaram o carro
a passos lentos pela estrada
É que levavam o seu corpo num caixão/ Qual a flor de
estimação prá sua última morada
Esse mistério ninguém sabe se não foi
A voz da moça do além tocando os bois
Daquele dia tudo se modificou/ Tanta tristeza tomou
conta do lugar
O velho carro que era dela silenciou/ E a boiada nunca
mais quiz carrear
De sentimento por perder a companheira/ Foram morrendo um
a um pelos currais
Quem somos nós prá entender tamanha dor/ Como cabe
tanto amor no coração dos animais
Esse mistério ninguém sabe se não foi
A voz da moça do além chamando os bois.