Raul
Montes Torres, cantor e compositor, nasceu em Botucatu SP (11/7/1906) e
faleceu em São Paulo SP (12/7/1970). Filho de espanhóis, nasceu e foi criado
na cidade paulista de Botucatu, onde participava de pagodes e quermesses com
amigos, cantando modas-de-viola. Para ingressar profissionalmente na vida
artística, foi para São Paulo, arranjando de início emprego de cocheiro, com
ponto no Jardim da Luz, mas cantava sempre que surgisse oportunidade, em
cabarés, circos, teatros e bares. Ouvindo os sucessos da época, como Augusto Calheiros, Turunas da Mauricéia e Jararaca e Ratinho, mudou o
estilo de cantar, adotando o gênero nordestino,
principalmente as emboladas, que faziam grande sucesso.
Em 1927 entrou para a Rádio Educadora Paulista (depois Gazeta), que pela
primeira vez reunia um elenco popular, em que figuravam Paraguaçu, Pilé, o violonista Canhoto e Arnaldo Pescuma,
entre outros. No ano seguinte, com a inauguração da Rádio
Cruzeiro do Sul (depois Piratininga), foi convidado a atuar no
seu elenco, ao lado de Paraguaçu e Arnaldo Pescuma.
Em 1927 gravou seu primeiro disco no selo Brasilphone, de São
Paulo, com a embolada Segura o coco, Maria e o samba Verde e
amarelo, ambos de sua autoria. Na Columbia lançou, de sua
autoria, Olha o rojão, além de Mauricéia (A. Portela e
Marabá), com o Regional do Canhoto, Belezas de minha terra
(com José Val) e O que tem o cotia e A festa do sapo (ambas de
sua autoria). Nessa gravadora, em 1930 e 1931, na série
caipira de Cornélio Pires, gravou com o pseudônimo de Bico
Doce, acompanhado de Sua Gente do Norte, Galo sem crista, de
sua autoria, e mais três composições.
No mesmo período, gravou também na Parlophon, com o nome de
Raul Torres e os Turunas Paulistas, no gênero moda-de-viola,
várias de suas composições, entre as quais Rola rolinha (com
Atílio Grany), Oi Juvená, Caipira no mercado (com Atílio Grany
e Arnaldo Pescuma), e o grande sucesso Olhos de morena, com
acompanhamento do conjunto Os Chorões. Além dessas, a
consagrada embolada Jacaré no caminhão, Saudade de Rio Pardo,
interpretada em dupla com Azulão (Artur Santana), também
apresentada na cena cômica de Genésio Arruda Uma festa no
arraial. Destacaram-se ainda interpretações suas como o
cateretê Não zanga comigo não (Nair Mesquita), gravado em
dupla com a autora, pela Columbia, que passou a Continental
posteriormente. Em 1933
gravou pela Odeon Sereno cai, toada, com coro de Francisco
Alves, Castro Barbosa, Moreira da Silva, Jaime Vogeler e
Jonjoca, e a embolada Pisei no rabo do tatu. Lançou ainda a
embolada Sururu no galinheiro e o jongo A morte de um cantador
(ambas de sua autoria), interpretadas em dueto com Nestor
Amaral. No mesmo ano conheceu João Pacífico, com quem formou
dupla vocal, gravando, na Odeon, acompanhado pelo seu conjunto
Embaixada, a embolada Seu João Nogueira, de autoria da dupla.
Com a Embaixada lançou ainda Balança os cacho, sinhá, embolada
do compositor e caricaturista cearense Manuel Queirós, e o
clássico da música sertaneja Mestre carreiro (de sua autoria).
Depois, formou um duo com seu velho amigo, de Botucatu,
Joaquim Vermelho, com quem gravou na Odeon as modas-de-viola A
codorninha e Sistema americano, composições da nova dupla, e
Caninha verde (com Luís Machado). Com Florêncio, lançou em
disco Apelido dos jogadores (com Palmeira).
Em 1935 gravou na Columbia a marchinha Dona Boa (Adoniran
Barbosa e J. Aimberê) e, na Odeon, sua composição A cuíca tá
roncando, batucada, sucesso no Carnaval carioca desse ano e
premiada em Portugal. Transferiu-se em 1937 para a Victor, na
qual, em dupla com seu sobrinho Antenor Serra, o Serrinha,
gravou Cigana, moda-de-viola de sua autoria, com João
Pacífico, a toada Chico Mineiro (Tonico e Tinoco e Francisco Ribeiro) e a
moda-de-viola Adeus campina da serra (com Cornélio Pires).
Depois, novamente em dupla com Serrinha, lançou a
moda-de-viola Boiada cuiabana (de sua autoria), que se
transformou em grande sucesso da dupla Tonico e Tinoco. Gravou
ainda a famosa valsa Saudades de Matão (com Jorge Gallatti e
Antenógenes Silva), em que formou trio com Serrinha e
Mariano. Em 1938, em dupla com
Serrinha, gravou sua composição Balanceiro da usina, embolada,
sendo, no mesmo ano, contratado pela Rádio Record de São
Paulo. No ano seguinte, a dupla lançou em disco as toadas Do
lado que o vento vai e Meu cavalo zaino (ambas de sua
autoria). Em 1940, com João
Pacífico, gravou Cabocla Teresa, Minas Gerais, toada, e A
mulher e o trem, moda-de-viola, todas de autoria da dupla, o
cateretê de sua autoria Trem de ferro, e a marcha Tem boi na
linha (com Rui Martins). No ano seguinte, com Serrinha, lançou
sua composição Mingirinha, de grande sucesso, e, em 1942 na
Odeon, suas composições Mourão da porteira (com João
Pacífico), grande sucesso, Campo Grande, Mulambaia, Conceição
(com Aparício Cerqueira), Sexta-feira 13 (com Capitão
Furtado), O rei mandou me chamar (autoria da dupla), Cadê
minha morena (com João Pacífico) e Vamos pra São Manuel, entre
outras. No ano seguinte, foram feitas na Continental as
últimas gravações da dupla Raul Torres e Serrinha, como A Copa
do Mundo, Meus padecimentos, Moda do viaduto e Quero vê...
quero oiá (todas de sua autoria).
Depois de separados, tio e sobrinho ainda vieram a gravar as
composições de sua autoria Cheguei na casa da véia, Eu fui
passiá em São Paulo e Quando eu cantei no rádio. Formou então
nova dupla, com João Batista Pinto, o Florêncio (Barretos SP
1910-), com quem já havia gravado dez anos antes, lançando em
disco, em 1944, Pingo d'água e depois
Moda da mula preta, clássicos da música sertaneja (ambas
com João Pacífico). A partir de
1945 fez poucas gravações, como Feijão queimado (com José
Rielli), arrasta-pé de grande sucesso, principalmente nas
festas caipiras, e posteriormente Enquanto a estrela brilhar
(com João Pacífico). Deixou em 78
rotações cerca de 204 discos com 398 gravações. Passou a
dedicar-se mais ao rádio e fez na Rádio Record, de São Paulo,
o programa Os Três Batutas do Sertão, formando o trio de mesmo
nome inicialmente com Florêncio e José Rielli, e a partir de
1947, com Florêncio e Rielli Filho (Emílio Rielli).
Sua consagrada composição Mestre carreiro foi interpretada no
filme Sertão em festa (Osvaldo de Oliveira, 1970), por Tião
Carreiro e Pardinho. Em 1970, gravou com Os Três Batutas do
Sertão, pela gravadora Vitória, o LP O maior patrimônio da
música sertaneja, vindo a falecer alguns dias depois.
|
|
|
|