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Artigo: A CONCEPÇÃO ESTRATÉGICA DE GRAMSCI | |
Assunto: Gramscismo | Fonte: Sérgio Augusto de Avelar Coutinho |
Remetido por: Miguel Netto Armando | Email: [email protected] |
A CONCEPÇÃO ESTRATÉGICA
DE GRAMSCI Os comentadores e intérpretes da obra gramsciana geralmente se restringem à discussão de seus fundamentos e conceitos políticos-ideológicos. Não revelam com maior clareza descritiva a atuação e a prática revolucionária que Gramsci propõe e que passa necessariamente pela crise orgânica ( institucional), pela “ruptura”, pela tomada do poder, pela destruição do estado burguês e fundação do “Estado-Classe”(totalitário e “estatolatria”) e pela implantação da nova ordem socialista marxista. Assim, o conhecimento da concepção revolucionária gramscista fica incompleto para as pessoas comuns. Grasci foi um convicto marxista-leninista. Em que pesem as idéias inovadoras que propõe, Gramsci permanece sempre ligado, intelectual e ideologicamente, ao marxismo; não é um dissidente nem um “herético” mas um inovador. No momento em que constatou o fato histórico de que a estratégia marxista-leninista de tomada do poder, vitoriosa na Rússia, em 1917 não teve êxito nos países europeus ( entre 1921 e 1923 na Alemanha, Polônia, Hungria, Estônia e Bulgária) de economia capitalista e de sociedade democrática,passou a considerar outro modelo revolucionário. Fez assim, a distinção entre a sociedade “oriental” e sociedade “ocidental”,compreendendo que a “transição para o socialismo” teria que ter concepções diferentes numa e noutra condição político-social. O ataque frontal ao Estado para a tomada imediata do poder, com o emprego da violência revolucionária, foi comparada por Gramsci à “guerra de movimento”. É a concepção estratégica leninista que teve êxito na Rússia em 1917 e que se tornou o modelo revolucionário universal da Internacional Comunista soviética. Esta estratégia fracassou em outros países de tipo Ocidental. Nestas sociedades, a luta teria que ser semelhante à “guerra de posição”, longa e obstinada, conduzida no seio da sociedade civil para conquistar cada “trincheira” e cada defesa da classe dominante burguesa. Em outras palavras, disputar com a classe dominante a hegemonia e hegemonia sobre a sociedade civil e conquista-la como prelúdio da conquista da sociedade política ( o Estado) e do poder. A partir desta visão original, Gramsci desenvolve seu conceito estratégico de transição para o socialismo. A grande invenção contida na concepção revolucionária de Gramsci está na mudança de direção estratégica de tomada do poder. Em vez de realizar o assalto direto ao Estado e tomar imediatamente o poder, como na concepção de Lenine, a sua manobra é de envolvimento, designando a sociedade civil como primeiro objetivo a conquistar, ou melhor, a dominar. Isto será feito predominantemente pela guerra psicológica ou penetração cultural para minar e neutralizar as “trincheiras” e defesas da sociedade e do Estado burgueses.Nesta longa luta de desgaste se incluem a “neutralização do aparelho de hegemonia” da burguesia e do “aparelho de coerção” estatal e “superação” dos valores intelectuais e morais das classes subalternas e das classes burguesas, fazendo-as aceitar ( ou a se conformar) a transição para o socialismo como coisa natural, evolutiva e democrática. Superando Lenine, sem o negar, entretanto, Antônio Gramsci propôs uma nova estratégia de “transição para o socialismo”. Após o colapso do comunismo soviético em 1991, suas idéias passaram a ter especial interesse em todo o mundo como um alternativa e como um modelo revolucionário próprio, para as sociedades do tipo “Ocidental”. Por isso, a estratégia gramscista é hoje acolhida por uma importante parcela da esquerda marxista brasileira e vem tendo um significativo êxito na sua aplicação prática, particularmente a partir de 1980. Os avanços revolucionários chegaram a um ponto tal que alguns intelectuais democratas acham que já é irreversível. Entretanto o movimento revolucionário apresenta deficiências e vulnerabilidades que, exploradas inteligentemente, permitem ainda a sua contenção e reversão. Mas se a sociedade nacional permanecer como espectadora impassível, complacente e até mesmo simpática à reforma intelectual e moral que vem sofrendo, certamente a revolução marxista-gramscista será vitoriosa a médio prazo. E, assim, o Brasil será o exemplo histórico de ter sido o primeiro país do mundo onde a concepção gramscista de tomada do poder terá tido êxito. Sérgio
Augusto de Avelar Coutinho |
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