VITOR
MATOS E SÁ
Biografia
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Poesias Eternas
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O que eu te diria tem o
nome dos instantes suspensos
como há depois da música,
nas flores,
e no começo da noite...
O que eu te diria só
podias ouvi-lo com a última nudez;
minhas palavras têm a
claridade dos corpos que se dão
sem pertencerem.
O que eu te diria tem-te
esperado muito.
Por isso te sabe de cor e
te perco tanto;
e dos longos diálogos
que é não chegares
vais morrendo, excessiva,
de ti mesma.
Se nalgum lugar do
destino nos encontrarmos
olharás em mim o teu
rosto com os olhos brancos,
como se olhasses tua
morte mais pura.
HORIZONTE DOS DIAS, LÍRICAS
PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA. PAG. 433
Fui procurar-te para ser
contigo
quando colhi das horas
que invadias.
Colhi da própria dor um
nome anigo
que fosse o nome exacto
em que virias.
Da límpida substância
dos teus risos
fui-te inventando dentro
dos meus braços
e os sóis mais densos
puros e precisos
vieram dar-me a sombra
dos teus passos.
E já não eram meus senão
de erguê-los,
a tua face e os lábios e
os cabelos
e o teu olhar para ninguém
voltado.
Mas quem, o pleno amor de
que nascias
se o deus que a ti igual
encontrarias
ficou, pelo teu olhar,
desabitado?
O SILÊNCIO E O TEMPO,
LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, PAG. 436
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.