A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

VITORINO NEMÉSIO

Biografia

 

Poesias Eternas

Arte Poética

Indício Velado

 

 

 

 

 

 

 

Arte Poética

 

A poesia do abstracto...

Talvez.

Mas um pouco de calor,

A exaltação de cada momento

É melhor.

Quando sopra o vento

Há um corpo na lufada;

Quando o fogo alteou

A primeira fogueira,

Apagando-se fica alguma coisa queimada.

É melhor...

Uma ideia

Só como sangue de problemas;

No mais, não,

Não me interessa.

Uma idéia

Vale como promessa

E prometer é arquear

A grande flecha.

O flanco das coisas só sangrando me comove,

E uma pergunta é dolorida

Quando abre brecha.

Abstracto!

O abstracto é sempre redução,

Secura;

Perde -

E diante de mim o mar que se levanta é verde:

Molha e amplia...

Por isso, não:

Nem o abstracto nem o concreto

São propriamente poesia.

A poesia é outra coisa.

Poesia e abstracto, não.

 

O BICHO HARMONIOSO, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 261

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Indício Velado

 

Não toques, distância, no seu cabelo molhado;

Não lhe mexas. Rosto puro, às aguas posto e preso,

Uma imagem será o seu único peso,

Um pensamento o único beijo que me há dado.

 

Que o Índico persiga o indício velado;

Decore o Mar Vermelho o forte rosto aceso -

Mas não para morrer: para menos desprezo;

E eu próprio fique em meu amor atenuado.

 

Oh! platónico amor de ninguém e de alguma,

Espectro que criei e rodeei de lágrimas,

Vénus ainda ao longe no aro da minha espuma!

 

Imagem, força de vontade, imagem

Viva ou morta, não sei; imagem acre... mas

Verdadeira e suave, isso mais que nenhuma!

 

O BICHO HARMONIOSO, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 262

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