VISCONDE DE CARNAXIDE
Biografia 1847-1935
|
Poesias Eternas
|
Amavam-se um ao outro ardentemente
na sua bela e casta mocidade
mas nunca se encontraram à vontade,
por estarem sempre os dois com outra gente.
Um dia viram-se ambos de repente,
a sós em toda a sua liberdade,
numa sala onde apenas, em verdade,
tinha olhos um Cristo lá pendente.
Em transporte de amor sem se conter,
ele turbado ali com esse ensejo,
febrilmente lhe deu candente beijo.
Ela por si, sem nada lhe dizer,
só o afastou com o peito alvoroçado,
pra ir Jesus voltar pra outro lado.
Do príncipe perfeito era tudo sabido:
o governo do reino e a defesa do trono;
da nobreza o algoz e do povo o patrono,
não sendo grande rei, seria só bandido.
Com ferro e com veneno a matar vingativo,
impune cá na terra, até das vidas dono,
só do favor de Deus temendo o abandono,
pra o vir a assegurar se torna precavido.
Surdindo o que em vida a todos ocultara,
a corte v'rificou, logo que ele expirara,
aberto um rico cofre e já despido o morto,
Que para a sua alma el-rei poder salvar,
usava pra depois ali o conservar,
um cilício com que mortificava o corpo.
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.