A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

ALMADA NEGREIROS

Biografia

1893-1970

 São Tomé e Príncipe São Tomé e Príncipe

José de Almada Negreiros, artista polivalente.Amigo de Fernando Pessoa com ele pertenceu à geração de "Orpheu". O seu Manifesto Anti-Dantas gerou grande polémica.

Almada Negreiros nasceu em 1893, na roça da Saudade em S. Tomé e veio a falecer em 1970.

Enquanto criança veio viver para Portugal, tendo feito os seus estudos em Lisboa e em Coimbra. Frequentou a Escola Nacional de Belas Artes em Lisboa e entre 1919 e 1920 estudou pintura em Paris. Entre 1927 e 1932 viveu em Espanha e em 1934 casou com a pintora Sara Afonso. Almada Negreiros foi poeta, ensaísta, artista plástico, coreógrafo, romancista e dramaturgo. Juntamente com Fernando Pessoa e Mário Sá Carneiro pertenceu ao grupo Orpheu, tendo escrito alguns manifestos futuristas, nomeadamente o Manifesto Anti-Dantas.

Almada Negreiros foi uma das grandes figuras da cultura portuguesa do séc. XX, tendo mantido grande actividade artística a vários níveis durante toda a sua vida o que foi reconhecido através da atribuição de vários prémios.

 

Obra:


A Cena do Ódio, 1915
A Engomadeira, 1917
A Invenção do Dia Claro, 1921
Nome de Guerra, 1938
 

Sítios:

A Scena do Ódio, de Almada Negreiros
   http://ltodi.est.ips.pt/mmoreira/alm_neg.htm

Almada Negreiros
   http://www.instituto-camoes.pt/bases/literatura/almada.htm

Almada Negreiros, biografia – Projecto Vercial -
   http://alfarrabio.um.geira.pt/vercial/almada.htm

Almada Negreiros: vida e obra
   http://www.setubalnarede.pt/conectarte/figuras/7/almada.html

Almada Negreiros: vida e obra – Vidas Lusófonas
   http://www.vidaslusofonas.pt/almada_negreiros.htm

Biografia
   http://www.ipn.pt/literatura/almada.htm

Catálogo de obras de Almada Negreiros
   http://www.uc.pt/artes/6spp/jose_almada.html

Esperança
   http://viriato.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/almada.html

Orpheu – revista portuguesa consagrada ao futurismo
   http://www.citi.pt/cultura/artes_plasticas/pintura/almada/orpheu.html

 

    

Poesias Eternas

 Mãe Vem Ouvir

A Flor

A Noite Rimada

Rondel do Alentejo

 

 

 

 

 

Mãe Vem Ouvir

 

Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero Ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

 

A INVENÇÃO DO DIA CLARO, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, P. 95

 

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 A Flor

 

 

Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção , outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.

Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.

Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!

As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!

Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

 

A INVENÇÃO DO DIA CLARO, LIRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, P. 95

 

 

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A Noite Rimada

 

Pela serra ao luar

ia um menino sozinho

sem sono pra se deitar.

 

Ia o menino a pensar

porque seria ele só

sem sono pra se deitar.

 

Ia o menino a pensar

que há tanto por pensar

e a cidade a descansar.

 

Ia o menino a pensar

porque seria ele só

sem sono pra se deitar.

 

Quem dorme sem ter pensado

deve ter sono emprestado

não é sono bem ganhado.

 

Ia o menino a pensar

como poder arranjar

muita força pra pensar.

 

Ia o menino a arranjar

muita força pra pensar

o próprio sonho ganhar

 

 

OBRAS COMPLEATAS

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Rondel do Alentejo

 

Em minarete

mate

bate

leve

verde neve

minuete

de luar.

 

Meia-noite

do Segredo

no penedo

duma noite

de luar.

 

Olhos caros

de Morgada

enfeitada

com preparos

de luar.

 

Rompem fogo

pandeiretas

morenitas,

bailam tetas

e bonitas,

bailam chitas

e jaquetas,

são as fitas

desafogo

de luar.

 

Voa o xaile

andorinha

pelo baile,

e a vida

doentinha

e a ermida

ao luar.

 

Laçarote

escarlate

de cocote

alegria

de Maria

la-ri-rate

em filia

de luar.

 

Giram pés

giram passos

girassóis

e os bonés,

e os braços

destes dois

giram laços

ao luar.

 

O colete

desta Virgem

endoidece

como o S

do foguete

em vertigem

de luar.

 

Em minarete

mate

bate

leve

verde neve

minuete

de luar.

 

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