A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

RUI CINATTI

Biografia

Ruy Cinatti nasceu em Londres, em 1915 e faleceu em 1986.

 

Em criança veio para Lisboa onde se formou em Agronomia. Foi meteorologista, secretário do governador de Timor, onde viveu durante alguns anos após a II Guerra Mundial, e chefe dos Serviços Agronómicos de Timor e investigador da Junta de Investigação do Ultramar. Estudou na Universidade de Oxford onde se doutorou, em 1961, em Antropologia Social e Etnografia.

 

Foi co-fundador em 1940 de Os Cadernos de Poesia e em 1942

da revista Aventura. Recebeu o Prémio Antero de Quental em 1958,

pela obra O Livro do Nómada Meu Amigo, o Prémio Nacional de

Poesia, em 1968, pela obra Sete Septetos e o Prémio

Camilo Pessanha, em 1971,com Uma Sequência Timorense.

 

 

Obra:

Poesia
56 Poemas, 1981
 


Nós Não Somos Deste Mundo, 1941
Anoitecendo, A vida Recomeça, 1942
O Livro do Nómada Meu Amigo, 1958
Ossobó, 1967
O Tédio Reocmpensado, 1968
Sete Septetos, 1968
Memória Descritiva, 1971
Uma Sequência Timorense, 1971
Borda D’Alma, 1972
Paisagens Timorenses com Vulto, 1974
 

Sítios:

Alguns poemas de Ruy Cinatti
   http://www.secrel.com.br/jpoesia/cina.html

Biobibliografia
   http://www.ipn.pt/literatura/cinatti.htm

Linha de rumo
   http://sites.uol.com.br/palavrarte/Poesia_Mundo_Trad/poepelomun_portugal_modernos.htm#poeta9

Os vínculos portugueses; Os vínculos timorenses
   http://www.ciberduvidas.com/antologia/cinatti.html

Ruy Cinatti, o poeta agrónomo
   http://www.isa.utl.pt/campus/4_cinatt.htm

Um aceno amicíssimo
   http://www.ipn.pt/literatura/navarr10.htm#cinatti

 

Poesias Eternas

Linha de Rumo

Meditação

Não Sei Se Dor

Quando Eu Partir

 

 

 

 

 

 

Quando eu partir...

 

Quando eu partir, quando eu partir de novo,

A alma e o corpo unidos,

Num último e derradeiro esforço de criação;

Quando eu partir...

Como se um outro ser nascesse

De uma crisálida prestes a morrer sobre um muro estéril,

E sem que o milagre lhe abrisse

As janelas da vida...

Então pertencer-me-ei.

Na minha solidão, as minhas lágrimas

Hão-de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência,

E eu serei o senhor da minha própria liberdade.

Nada ficará no lugar que eu ocupei.

O último adeus virá daquelas mãos abertas

Que hão-de abençoar um mundo renegado

No silêncio de uma noite em que um navio

Me levar para sempre.

Mas ali

Hei-de habitar no coração de certos que me amaram;

Ali hei-de ser eu como eles próprios me sonharam;

Irremediavelmente...

Para sempre

 

NÓS SOMOS DESTE MUNDO

LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P. 217

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Não Sei se Dor

 

Não sei se dor

Ou muito amor

Eu sinto.

 

Mas isto é maior do que a morte;

Não posso mais.

Eu minto.

 

ANOITECENDO, A VIDA RECOMEÇA

LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P. 216

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Meditação

 

Tudo imaterial na praia rasa

Cheia de sol, ao fim da tarde.

Proa ao vento quebrada,

A vaga, entre rochedos, se ilumina.

 

É tudo imaterial, tudo neblina

Ténue que aos poucos arde,

Ao fim da tarde se desfaz, flutua;

Nave de outros tempos se insinua

E voo de ave desliza

Ao longe linha pura.

Tudo imaterial na praia rasa.

 

Aqui ninguém me vê: amo a ternura.

 

O LIVRO DE NÓMADA MEU AMIGO

LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P.219

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Linha de Rumo

 

Quem não me deu Amor, não me deu nada.

Encontro-me parado...

Olho em redor e vejo inacabado

O meu mundo melhor.

 

Tanto tempo perdido...

Com que saudade o lembro e o bendigo:

Campo de flores

E silvas...

 

Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.

Penso o futuro a haver.

E sigo deslumbrado o pensamento

Que se descobre.

 

Quem não me deu Amor, não me deu nada.

Desterrado,

Desterrado prossigo.

E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,

Adrede.-

 

O LIVRO DO NÓMADA MEU AMIGO

LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P.220

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