Biografia Ruy Cinatti nasceu em Londres, em 1915 e faleceu em 1986.
Em criança veio para Lisboa onde se formou em Agronomia. Foi meteorologista, secretário do governador de Timor, onde viveu durante alguns anos após a II Guerra Mundial, e chefe dos Serviços Agronómicos de Timor e investigador da Junta de Investigação do Ultramar. Estudou na Universidade de Oxford onde se doutorou, em 1961, em Antropologia Social e Etnografia.
Foi co-fundador em 1940 de Os Cadernos de Poesia e em 1942 da revista Aventura. Recebeu o Prémio Antero de Quental em 1958, pela obra O Livro do Nómada Meu Amigo, o Prémio Nacional de Poesia, em 1968, pela obra Sete Septetos e o Prémio Camilo Pessanha, em 1971,com Uma Sequência Timorense.
Obra:
Sítios:
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Poesias Eternas |
Quando eu partir, quando eu partir de novo,
A alma e o corpo unidos,
Num último e derradeiro esforço de criação;
Quando eu partir...
Como se um outro ser nascesse
De uma crisálida prestes a morrer sobre um muro estéril,
E sem que o milagre lhe abrisse
As janelas da vida...
Então pertencer-me-ei.
Na minha solidão, as minhas lágrimas
Hão-de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência,
E eu serei o senhor da minha própria liberdade.
Nada ficará no lugar que eu ocupei.
O último adeus virá daquelas mãos abertas
Que hão-de abençoar um mundo renegado
No silêncio de uma noite em que um navio
Me levar para sempre.
Mas ali
Hei-de habitar no coração de certos que me amaram;
Ali hei-de ser eu como eles próprios me sonharam;
Irremediavelmente...
Para sempre
NÓS SOMOS DESTE MUNDO
LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P. 217
Não sei se dor
Ou muito amor
Eu sinto.
Mas isto é maior do que a morte;
Não posso mais.
Eu minto.
ANOITECENDO, A VIDA RECOMEÇA
LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P. 216
Tudo imaterial na praia rasa
Cheia de sol, ao fim da tarde.
Proa ao vento quebrada,
A vaga, entre rochedos, se ilumina.
É tudo imaterial, tudo neblina
Ténue que aos poucos arde,
Ao fim da tarde se desfaz, flutua;
Nave de outros tempos se insinua
E voo de ave desliza
Ao longe linha pura.
Tudo imaterial na praia rasa.
Aqui ninguém me vê: amo a ternura.
O LIVRO DE NÓMADA MEU AMIGO
LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P.219
Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Encontro-me parado...
Olho em redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.
Tanto tempo perdido...
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campo de flores
E silvas...
Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver.
E sigo deslumbrado o pensamento
Que se descobre.
Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
Desterrado prossigo.
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,
Adrede.-
O LIVRO DO NÓMADA MEU AMIGO
LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, S.D., 3ª SÉRIE, P.220
A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.