ROBERTO
DE MESQUITA
Biografia
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Poesias Eternas
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Por esta noite de céu baço
e sem luar
a alma das coisas é viúva
e taciturna.
Nada na opressiva estagnação
nocturna
um sofrimento esparso, um
avulso pesar...
Que profunda tristeza o
Imóvel acomete
sob este céu de chumbo!
Eu sinto suspirar
e julgo ouvir-lhe a voz
dorida murmurar:
"Minh'alma está
desamparada no Olivete!"
Deserto todo o burgo. Eu
divago através
de quelhas negras, duma tétrica
mudez,
sob o agoiro dos céus
cinzentos e pesados,
a alma afogada na maré
de desesp'rança
anínima, que inunda a
noite brusca e mansa
e me oprime como os sinos
a finados...
...almas cativas, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 3ª SÉRIE, PA´G.
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Aves do mar que em ronda
lenta
giram no ar, à ventania
gritam na tarde macilenta
a sua bárbara alegria.
Incha lá fora a vaga
escura,
uiva o nordeste
aflitamente.
Que mágoa anónima
satura
este ar de Inverno, este
ar doente?
Alma que vogas a gemer
na tarde anémica, de
vento,
como se infiltra no meu
ser
o teu esparso sofrimento!
Que viuvez desamparada
chora no ar, no vento
frio,
por esta tarde macerada
em que a esperança se
esvaiu...
... almas cativas, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, 3ª SÉRIE, PÁG.
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A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.